Não confie na Liderança de Tsipras! Mobilizar para a luta nos locais de trabalho, nas escolas, e nas ruas Agora!
Declaração da Corrente Comunista Revolucionária Internacional (em inglês-RCIT), 27/01/2015/, www.thecommunists.net
1. As eleições na Grécia resultaram em uma tremenda vitória para o partido da esquerda reformista SYRIZA, o qual aumentou a sua votação em quase 10% e não ganhou a maioria absoluta dos assentos parlamentares por apenas 2%. O antigo partido do governo, o conservador ND, foi claramente derrotado e se tornou o segundo maior partido. PASOK, o outro ex-partido do governo, foi trucidado e reduzido a cerca de 1/3 de sua antiga força. DIMAR, outro partido reformista anteriormente no governo, foi completamente esmagado e nem sequer chegou a 0,5% de todos os votos expressos! Os resultados oficiais são:
Partido Partido votes votos cadeiras porcentagem
+/- comparado às eleições
de Junho de 2012 votos/cadeiras
SYRIZA 2,246,064 36.34% 149 +9.45%/+78
New Democracy (ND) 1,718,815 27.81% 76 -1.85%/-53
Golden Dawn (XA) 388,447 6.28% 17 -0.64%/-1
To Potami 373,868 6.05% 17 New/+17
Communist Party of Greece (KKE) 338,138 5.47% 15 +0.97%/+3
Independent Greeks (ANEL) 293,371 4.75% 13 -2.76%/-7
PASOK-DP 289,482 4.68% 13 -7.60%/-20
ANTARSYA-MARS) 39,455 0.64% 0 +0.32%/±0
Greens–Democratic Left (DIMAR) 30,074 0.49% 0 -5.76%/-17
KKE (m-l)/M-L KKE 8,033 0.13% 0 +0.01%/±0
Workers' Revolutionary Party (EEK) 2,441 0.04% 0 New/±0
Organisation of Internationalist
Communists of Greece (OKDE) 2,206 0.04% 0 New/±0
2. A vitória eleitoral do SYRIZA reflete, em primeiro lugar e acima de tudo, uma grande mudança para a esquerda. Ela demonstra que a classe trabalhadora não está mais disposta a seguir os partidos burgueses tradicionais e que eles querem o fim das ofensivas de austeridade sem fim. Ao todo, as eleições produziram um aumento maciço de votos para os partidos dos movimentos dos trabalhadores. Nas eleições de junho de 2012, SYRIZA, KKE, e ANTARYSA juntos receberam 31,7% dos votos, enquanto nas eleições desta semana eles tiveram 42,5%. Esta é a primeira vez que um governo liderado por um partido à esquerda da social-democracia toma o poder na Europa.
3. Enquanto as ligeiras perdas do partido fascista Amanhecer Dourado-XA são bem-vindos, não há nenhuma razão para a esquerda se sentir satisfeito consigo mesma sobre isso. O fato deste partido reacionário ser agora o terceiro maior na Grécia, apesar de sua liderança estar na prisão, demonstra que construiu e consolidou uma base significativa. No momento em que SYRIZA vier por desacreditar em si e as condições na Grécia só vierem a piorar à medida em que a crise capitalista se aprofundar, o XA estará em uma boa posição de partida para se tornar uma grande força nas ruas, assim como no parlamento.
4. O stalinista KKE recebeu menos de 5,5% dos votos. Isso é um pouco acima do resultado das últimas eleições (Junho de 2012), ainda é muito abaixo do 8,5% com que ficou em Abril de 2012. Da mesma forma, enquanto a aliança centrista ANTARSYA (que inclui a seção Cliffitista IST) conseguiu duplicar a sua quota dos votos para 0,64%, este ainda é apenas metade dos votos expressos para ele em abril de 2012. Os grupos trotskistas EEK e OKDE participaram nas eleições, principalmente para espalhar a sua propaganda, e tiveram um pouco mais de 2.000 votos. Na análise final, tanto o stalinista KKE, bem como a centrista ANTARSYA foram completamente incapazes de aumentar o seu apoio perante a classe trabalhadora durante um período de quatro anos de intensa luta de classes, em que houve mais de 30 greves gerais! Este último fato é uma lição tremendamente importante, pois demonstra como o sectarismo estéril do KKE com relação ao SYRIZA e com as mobilizações de massa independentes, combinada com suas manobras arqui-oportunista, terminaram em fracasso completo. Da mesma forma, o centrismo do ANTARSYA provou-se incapaz de explorar os quatro anos de luta de classes no sentido conquistar setores significativos da vanguarda operária.
5. Em nossa última declaração antes das eleições gregas, o RCIT pediu voto crítico para o SYRIZA, que caracterizamos como sendo-esquerda reformista - e certamente não uma formação centrista como alguns confusos pseudo-trotskistas estupidamente reivindicaram em 2012! – juntamente com uma parte do ex-stalinista Partido da Esquerda Europeia. De maneira nenhuma deve passar despercebido que este Partido da Esquerda Europeia recentemente se juntou ao coro reacionário de solidariedade com a revista racista Charlie Hebdo e pediu "unidade nacional" com o governo imperialista após o ataque aos escritórios da revista em Paris. O Partido irmão francês do SYRIZA ainda não votou no parlamento contra a participação do país na guerra imperialista no Iraque! O caráter de classe do SYRIZA é um partido operário-burguês, o que significa que ele tem suas principais raízes e base social no movimento da classe trabalhadora (é uma coligação de uma divisão do KKE, chamada Sinapismos, bem como uma série de pseudo-trotskistas e grupos maoístas). O SYRIZA também conseguiu conquistar um número significativo de burocratas sindicais e ativistas de esquerda. No entanto, é essencialmente um partido burguês, a partir do momento em que a sua burocracia segue um programa burguês projetado para salvar o capitalismo no atual período de crise. O principal objetivo desta casta burocrática é o de garantir a sua participação no poder burguês. Em troca da garantia de um lugar na mesa da classe dominante, a liderança Tsipras do SYRIZA fará tudo ao seu alcance para desmobilizar a resistência da classe trabalhadora. Por isso, como já advertimos em nossa última declaração RCIT sobre a Grécia: "O RCIT adverte que uma melhoria sustentável para os trabalhadores gregos e os jovens não será possível sob um governo SYRIZA. Um governo Tsipras inevitavelmente trairá as esperanças da classe trabalhadora, porque ele não quer nem é capaz de romper com a elite da Grécia e da UE para tirar o país da sua cela de prisão capitalista. "Não é de surpreender que a reação dos mercados de ações da Europa pela vitória eleitoral do SYRIZA foi descontraída.
6. Nossa advertência é bem fundamentada, como já testemunhamos no primeiro dia após o triunfo eleitoral. A liderança do SYRIZA anunciou a formação de uma coalizão com a extrema-direita, o partido chauvinista denominado ANEL. Este partido foi criado num rompimento do conservador ND, e defende um programa nacionalista, pró-capitalista, e possui uma agenda anti-racista e anti-imigrante. Ele representa os interesses de classe de um setor da burguesia grega anti-UE, assim como representa a classe média chauvinista. Isso se manifesta, em particular, por sua defesa de um programa nacionalista-capitalista, pela sua oposição à imigração e ao chamado "multiculturalismo", bem como o seu apoio reacionário para um sistema de educação de orientação religiosa cristã ortodoxa.
7. Por conseguinte, o novo governo grego não é um governo operário-burguês ", o que seria o caso se SYRIZA tivesse formado um governo de minoria ou um governo de coalizão com o KKE). Em vez disso, o governo que Tsipras formou é um governo de Frente Popular. No entanto, em contraste com as clássicas Frentes Populares (por exemplo, em França ou no Chile 1970-1973), onde as forças as burguesas são aberta e geralmente liberais de esquerda ou de partidos verdes, a liderança de Tsipras escolheu um partido chauvinista de direita para ser seu parceiro governamental.
8. É por demais evidente que a liderança de Tsipras foi para uma coligação com a ANEL precisamente porque quer enviar uma mensagem para a classe dominante, de que é um partido "sério” que não irá mover o país para a "esquerda radical", mas pelo contrário governar a Grécia "a sério", no interesse dos patrões. Ao mesmo tempo, o SYRIZA está propositadamente empilhando o baralho contra o seu próprio interesse para que, quando chegar a hora, ele ser capaz de dar como desculpa para sua própria base de trabalhadores que não pôde executar o seu programa por causa de "compromissos necessários "com o seu parceiro de coligação de direita. Ao contrário das justificativas da liderança do SYRIZA, formar uma tal coalizão não era necessária, mesmo de um ponto de vista reformista, uma vez que o partido poderia ter recorrido aos deputados do KKE ou do PASOK para apoiar o seu governo minoritário. Dado o fato de que SYRIZA precisou de apenas mais dois assentos para formar um governo de maioria, é claro como o dia que a formação de um governo de minoria com o apoio tácito de alguns KKE e / ou deputados do PASOK por fora, sem necessariamente participar do governo, teria tido sucesso. Mas, é claro, tal manobra teria feito com que a classe dominante ficasse nervosa, e evitar tal preocupação dos patrões é o objetivo principal de Tsipras.
9. O RCIT considera crucial para os socialistas agora trabalhar pela transformação das ambiciosas esperanças dos trabalhadores gregos para barrar a ofensiva de austeridade através de um governo do SYRIZA em mobilizações de massa e pela formação de órgãos independentes de luta de classes. Os socialistas devem convocar o SYRIZA para anular imediatamente a sua coligação com a ANEL e formar um governo minoritário. Eles devem chamar o KKE para dar a um tal governo o apoio crítico contra os partidos burgueses, ou seja, para apoiar as medidas progressistas levadas perante o parlamento e para defender um governo minoritário do SYRIZA contra as tentativas da oposição burguesa para derrubá-lo.
10. Os próximos dias vão trazer um primeiro teste para a ala esquerda dentro do SYRIZA. Seus deputados terão que decidir se a sua lealdade é principalmente para a reformista liderança de Tsipras, caso em que eles vão votar para um governo de Frente Popular. Como alternativa, eles devem estar preparados para defender os princípios fundamentais da classe trabalhadora e votar contra o governo, o qual inclui reacionários chauvinistas. Socialistas gregos devem fazer campanha para colocar pressão sobre o setor esquerda do SYRIZA. De acordo com fontes do IMT, o assunto de formar um governo de coalizão seja com o ANEL ou o partido neo-liberal Potami já havia sido discutida e decidida em uma reunião do Comité Central do SYRIZA antes das eleições. Sem surpresa, a facção majoritária de Tsipras pressionou pela aprovação por uma tal aliança de Frente Popular. Desgraçadamente, com exceção dos representantes corrente do pro-IMT no SYRIZA, a oposição de esquerda do SYRIZA descaradamente não votou contra tal coalizão, e realmente preferiu abster-se! A coalizão vergonhosa de Tsipras com o ANEL demonstra mais uma vez a necessidade urgente para os socialistas dentro SYRIZA de preparar um rompimento para fundar um novo partido dos trabalhadores com base em um programa revolucionário.
11. Os socialistas na Grécia devem chamar o SYRIZA em não contar com a aritmética do sistema parlamentar - porque este não é o lugar onde o verdadeiro poder reside no capitalismo -, mas no poder de mobilização da classe trabalhadora. Os socialistas devem agitar por uma ofensiva nas ruas e nos locais de trabalho instituindo uma onda de greves que levam a greves gerais, bem como a ocupação de locais de trabalho.
12. A questão agora é formar comitês de ação nos locais de trabalho, nas escolas e nos bairros, a fim de organizar a luta a partir de baixo. Tais comitês de luta devem lutar para - e colocar pressão sobre o SYRIZA para implementar - uma série de mínimas e transitórias reivindicações, a fim de libertar a Grécia do trauma da crise capitalista, e para preparar o caminho para uma revolução socialista. Estes comitês de ação também podem formar a base para um governo dos trabalhadores cuja missão será a de expropriar a classe capitalista e substituir o aparelho repressivo do Estado pelas milícias populares.
13. O RCIT repete que é urgente criar uma organização revolucionária pré-partido de luta por um programa socialista autêntico e para unir ativistas nesta base. O RCIT procura colaborar com os revolucionários gregos para apoiá-los na concretização deste objetivo.
O RCIT propõe aos socialistas da Grécia em lutar pelos seguintes slogans:
* Nenhum apoio para o governo do SYRIZA / ANEL! Forçar o SYRIZA a romper a coligação de Frente Popular com ANEL! Por um governo minoritário do SYRIZA baseado no apoio às lutas de massa nos locais de trabalho e nas ruas!
* Cancelar todas as dívidas!
* Expropriar os capitalistas e, em especial, a chamada "50 famílias"!
* Nacionalizar as principais corporações sem pagamento de indenizações e colocá-las sob controle operário!
* Romper todas as ligações com as instituições da UE e deixar a zona euro!
* Aumentar significativamente o salário mínimo!
* Por um programa de obras públicas, a fim de reconstruir o país!
* Pelo direito de auto-determinação nacional para as minorias nacionais! Igualdade para os imigrantes (direitos de cidadania plena, direito de uso de sua língua nativa, salários iguais, etc.)!
* Por um «governo baseado em conselhos de ação que irá organizar os trabalhadores e as massas populares e estabelecer milícias armadas dos trabalhadores!
* Por uma república dos trabalhadores na Grécia! Pela formação dos Estados Unidos Socialistas da Europa!
Secretariado Internacional da RCIT
Para nossas análises sobre a Grécia, nos referimos leitores:
* RCIT: Eleições na Grécia: Vote SYRIZA, mas não confiar na Liderança Tsipras! Organizar a luta nos locais de trabalho, escolas e nas ruas! Lutar por um governo dos trabalhadores! 2015/01/22, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/greece-election-statement/
* RCIT: Grécia: Honor Pavlos Fyssas! Esmagar o fascista Aurora Dourada, 2013/09/21, http://www.thecommunists.net/worldwide/europe/greece-smash-golden-dawn/
* RCIT: Grécia: Abaixo o julgamento contra Savas Michael-Matsas! 2013/07/23, www.thecommunists.net/worldwide/europe/greece-solidarity-with-savas-matsas
* Nina Gunić: Solidariedade com a greve de fome na Grécia! Encaminhar para um Movimento Migrante Revolucionário! Abril de 2013, www.thecommunists.net/worldwide/europe/greece-solidarity-with-migrant-strike
* Michael Pröbsting: Após as eleições no dia 17 de Junho: Uma nova fase da revolução grega está começando! 19.6.2012, www.thecommunists.net/worldwide/europe/greece-after-17-6-elections
* Michael Pröbsting: Grécia: Por um governo dos trabalhadores! Apoio eleitoral crítico para SYRIZA e KKE! Trabalhadores: Organizar e preparar-se para a luta pelo poder! 6.6.2012, www.thecommunists.net/worldwide/europe/greece-for-a-workers-government
* Michael Pröbsting: Após a vitória de SYRIZA nas eleições gregas: A questão do Servidor Público e do caminho revolucionário para a frente, em maio de 2012, www.thecommunists.net/worldwide/europe/after-the-greek-elections
* Michael Pröbsting: Perspectivas sobre a revolução grega, 10.11.2011, www.thecommunists.net/worldwide/europe/greece-revolution-or-tragedy