Corrente Comunista Revolucionária (Seção do RCIT no Brasil), 4 de novembro de 2016, http://elmundosocialista.blogspot.com.br
Após o encerramento das votações no primeiro turno das eleições para prefeito em 2016 foi possível constatar o que já era previsível: uma vitória em quase todas as cidades dos partidos de direita e derrota quase completa de todas as candidaturas dos partidos de esquerda. Com um fator a mais: Um aumento considerável de ausências (abstenções) junto com um grande crescimento dos votos brancos e nulos. Os votos nulos são aqueles em que o eleitor digita e confirma um número inexistente na urna eletrônica. Já os votos brancos são aqueles em que o eleitor escolhe a opção "branco" na urna, e eles não são considerados votos válidos. No Brasil o voto é obrigatório e a ausência gera multa ao cidadão. São considerados eleitos para cargos como prefeito, governador e presidente aqueles que obtiverem mais da metade dos votos válidos.
O processo de avanço das forças conservadoras e reacionárias que levou ao golpe do impeachment de Dilma Roussef também teve efeito no calendário eleitoral. O tempo de propaganda eleitoral foi reduzido de 90 dias para apenas 45. Os partidos legalizados de esquerda como PSOL, PSTU e PCO tiveram seu tempo de propaganda gratuita na televisão a poucos segundos. Obviamente que os partidos de direita mais fortes como o PMDB, PSDB, DEM, com mais recursos financeiros e mais tempo de televisão tiveram uma enorme e desleal vantagem. Além disso, o processo de demonização do Partido dos Trabalhadores a partir de 2014, tendo como disfarce a falsa luta contra a corrupção, teve como efeito colateral atingir todos os partidos e agrupamentos considerados esquerdistas , socialistas ou progressistas. Hoje, nas ruas das grandes cidades brasileiras como São Paulo, Rio de janeiro, vestir uma simples camiseta de cor vermelha, mesmo sem o logotipo do PT, é correr o risco de ser agredido verbalmente ou fisicamente. As redes sociais estão lotadas de mensagens anti-comunistas, junto com manifestaçoes de racismo, xenofobia, misoginia, anti-imigrantes, violência contra a mulher e aos grupos de LGBT.
É nesse contexto que os partidos de direita obtiveram amplas vitórias em todo país. O exemplo mais simbólico dessa vitória da direita foi a eleição em primeiro turno do empresário Joao Dória do PSDB, considerado como o Donald Trump brasileiro, tendo comandado a versão brasileira do programa “O Aprendiz”. Apesar de sua origem ser oligarca e inclusive tendo ocupado cargos políticos, ele se apresentou na campanha eleitoral como um homem “não político” , enfatizando seu lado de empresário de sucesso, ao mesmo tempo se declarando o “Joao Trabalhador”. O detalhe que chama a atenção é que mesmo eleito no primeiro turno a prefeito de São Paulo, com 34,72% dos votos válidos, João Doria perdeu para a soma dos votos brancos, nulos e abstenções, que totalizaram 34,84% dos votos válidos. Doria teve 3.085.187 votos, enquanto os votos em branco, nulos e abstenções somaram 3.096.304. Isso significa que um terço do eleitorado paulistano optou por não votar em nenhum candidato, um percentual recorde em eleições na cidade – na eleição de 2012, esse percentual foi de 28,89%.
Na cidade de Sao Paulo, o derrotado atual prefeito do Partido dos Trabalhadores, Fernando Hadadd, concorrendo a reeleição obteve somente 17% do votos. Nas grandes cidades industriais vizinhas à São Paulo, que fazem parte da maior concentração industrial da América do Sul, berço político do PT, até agora considerada como um cinturão vermelho, houve derrotas consideráveis do partido de Lula da Silva, como por exemplo em São Bernardo do Campo e Diadema. Em âmbito nacional o O PT obteve a sua menor votação desde a sua fundação na década de 1980 ao eleger apenas 255 dos 638 prefeitos eleitos nas últimas eleições, em 2012, um perda de 40%.
Ao contrário do PT, o PSOL, com estrutura bem menor, está lentamente crescendo. Está no segundo turno em duas capitais de Estado, Belém do Pará com Edmilson Rodrigues e cidade do Rio de Janeiro com Marcelo Freixo, e disputa o segundo turno na grande cidade de Sorocaba. Em relação aos vereadores, o PSOL passou de 49 eleitos em 2012 para 53 neste ano. O crescimento tímido, porém, veio com o partido tendo o vereador mais votado em capitais como Belém, Belo Horizonte e Porto Alegre. A avaliação de dirigentes do partido, no entanto, é de que o desempenho nacional foi "uma vitória dentro de uma grande derrota", em referência ao crescimento de siglas que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff. Juliano Medeiros, presidente da fundação Lauro Campos, ligada ao PSOL declarou que "ter ampliado nosso tamanho é um feito. Os partidos conservadores estavam na ofensiva, eles retomaram o protagonismo após o impeachment”. “Para a esquerda como um todo foi ruim, mas o PSOL não sai derrotado, até cresceu em números absolutos", diz Pedro Ekman, publicitário responsável pela campanha de Edmilson Rodrigues em Belém e de Luiza Erundina em São Paulo. "Somos um oásis no avanço rápido da direita."
A desastrosa política do PSTU em apoiar o golpe de estado e colocar nas ruas o slogan de “Fora Todos!” cobrou seu preço. Além de antes das eleições ter perdido mais de 600 militantes, viu sua única vereadora, Amanda Gurgel, perder a eleição, mesmo tendo obtido boa votação. Com essa política, o PSTU não conseguiu dialogar com as várias milhares de pessoas que tomaram as ruas contra o impeachment e deu ainda mais força ao slogan da direita reacionária no processo de despolitização do processo eleitoral. A tendência do PSTU e da sua ruptura o “MAIS” é se aproximar ainda mais do centrista PSOL.
O Partido da Causa Operária-PCO jogou peso na denúncia de que o que houve foi um golpe de Estado com o impeachment de Dilma Roussef e que estamos vivendo já a alguns meses um regime de exceção e alertando sobre as reformas neoliberais do governo golpista de Michel Temer. O tempo de propaganda gratuita do PCO na televisão era de apenas 6 segundos diários, nem o velocista Usain Bolt, recordista mundial seria capaz de conseguir o objetivo.
A nossa candidatura do CCR, abrigada no Partido da Causa Operária, manteve a sua coerência revolucionária em não jogar peso numa eleição dentro da democracia burguesa. Denunciamos em nossa campanha que toda eleição dentro do sistema capitalista não passa de uma farsa, e chamamos a classe trabalhadora e os oprimidos a se organizarem de forma independente nos comitês de Bairro e nos locais de trabalho. Alertamos que em um contexto de golpe de estado, as eleições estariam muito mais controladas pela grande burguesia e que era necessário acumular forças contra os pacotes de austeridade comandados pelo governo Michel Temer. Em resumo, foi uma campanha em que aproveitamos para denunciar as próprias eleições como uma ilusão para a classe trabalhadora.
* Pela construção da mobilização e resistência autônoma dos trabalhadores e pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte!
* Por uma greve geral contra o regime dos golpistas! Por mobilizações de massa contra a ofensiva pró-austeridade da extrema-direita! Pela a criação de comitês de ação nas fábricas, sindicatos, bairros, favelas e regiões periféricas em defesa dos nossos direitos e contra o governo dos golpistas!
* Para uma conferência nacional de delegados de todas as organizações de massas anti-golpistas para discutir e adoptar um plano contra o novo regime!
* Para um governo da classe operária em aliança com os camponeses pobres urbanos e os sem-terra! Nós só podemos garantir o nosso futuro e nossos direitos se derrubarmos o capitalismo, a fonte de nossa miséria!
* Por um partido operário revolucionário- um novo partido mundial da revolução socialista!