O GRANDE ROUBO DO SUL

Continuidade e mudanças na superexploração do mundo semicolonial pelo capital monopolista

 

Consequências para a teoria marxista do imperialismo

 

Livro por Michael Pröbsting, Secretário Internacional da Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI), www.thecommunists.net

 

Tradutor: Joao Evangelista

 

Nota do Conselho Editorial: Os capítulos a seguir contêm vários quadros. Por razões técnicas, eles só podem ser visualizadas na versão pdf do livro.

 

 

"... a definição mais precisa possível e completa  de imperialismo"

 

A visão de Trotsky da teoria do imperialismo de Lênin

 

A divisão do mundo em nações opressoras e oprimidas

 

Os países semicoloniais: uma forma modificada de subjugação imperialista ou Estados capitalistas independentes?

 

O papel da superestrutura e sua relação com a base econômica

 

Imperialismo e estado semicolonial

Imperialismo como política ou monopólio baseado em leis econômicas?

 

O Monopolismo e o Lucro do Monopólio

 

O crescente poder dos monopólios na economia mundial

Os clássicos marxistas sobre a industrialização do Sul

 

Valor e Preço no Mercado Mundial: A grande distorção da criação de valor no Sul

 

A crescente importância do proletariado no Sul e nos países imperialistas emergentes

Marx e o rebaixamento dos salários abaixo do Valor da Força De trabalho

 

Empobrecimento e precarização mundial da classe trabalhadora  nas últimas décadas

 

O aumento da taxa de exploração

Intercâmbio Desigual

 

Exportação de Capital

 

Migração e super-exploração

 

Objeções centristas

 

O Papel do mercado externo

Uma visão geral sobre a transferência  financeira líquida

 

Importância das Matérias-Primas e dos  Alimentos

 

O Papel da exportação de capital imperialista para o mundo semicolonial

 

Um parêntese: Exportação de capital entre países imperialistas e entre países imperialistas e semicoloniais não é a mesma coisa

i) Lucros extras via exportação de capital como investimento produtivo

 

Subestimação do valor excedente e extra-lucros extraídos do Sul

 

ii) Lucros extras via exportação de capital como capital monetário (empréstimos, reservas cambiais, especulação, etc.)

 

Perdas da Bolsa de Valores

 

Evasão de capitais

 

iii) Transferência de valor do Sul semicolonial para o norte imperialista: uma  troca desigual

 

iv) Transferência de Valor do Sul Semicolonial para o Norte Imperialista: Imigração

 

Efeitos dramáticos para semicolônias: Fuga de Cérebros e Remessas de valores para países de origem

 

Exploração Direta e Indireta dos Migrantes

 

Tentativa do Cálculo Total do Saque Imperialista

 

Um Parêntese: O papel do saque das colônias para a formação do capitalismo na Europa ocidental no século XVI ao XVIII

A Essência do Centrismo

 

Negação do Conceito de Semicolônias

 

Lenin e Trotsky tinham conhecimento das semicolônias?

 

Quando começou a Época do Imperialismo?

 

"Às vezes, a criação de Estados 'independentes' leva a um fortalecimento do imperialismo." (Lênin)

 

Países atrasados sem Indústria e sem  Proletariado?

 

O CWI e a Argentina "imperialista"

 

O Exemplo da Argentina

 

O  SWP/IST e a Dependência da Dívida

 

Ainda existe uma questão nacional dos países semicoloniais?

 

A nova Teoria do Sub-Imperialismo

 

O Exemplo da Turquia

 

"Sub-Imperialismo" ou Semicolônias avançadas?

 

Rejeição do Conceito de Aristocracia Do Trabalho

 

Liga pela Quinta Internacional-LQI-LFI: Uma defesa formal da Teoria de Lênin que rompe com  seu conteúdo revolucionário

Quais são os critérios para um estado imperialista?

 

O Avanço da China para se tornar uma grande economia no mundo

 

Monopólios da China

 

Exploração e superexploração da classe trabalhadora

 

Proporção da indústria da força de trabalho total (em  porcentagem)

 

Exportação de capital como capital de títulos e empréstimos

 

Exportação de capital como investimento estrangeiro direto

 

Uma nota sobre o papel de Hong Kong no investimento estrangeiro direto

 

Onde a China está investindo no exterior?

 

Super-exploração das semicolônias

 

Forças Militares da China

 

A Luta pelo controle sobre o Mar do Sul da China (ou Leste)

 

Qual deve ser a posição da Classe Trabalhadora em possíveis guerras envolvendo o imperialismo americano e chinês e as nações do Sudeste Asiático?

 

Por que os governantes da China conseguiram se tornar imperialistas onde outros falharam?

i) Guerras Reacionárias e Conflitos entre Estados Imperialistas

 

ii) Guerras Justas e Resistência dos Oprimidos

 

Pela Destruição do Estado do Apartheid Israel!

 

Um parêntese: O Capitalismo como unidade de esferas econômicas, políticas e ideológicas

 

iii) A Luta pela Independência de Classe e a Tática da Frente Única Anti-Imperialista

 

iv) Lutas de Libertação, Interferência Imperialista e as duais Táticas Militares  

 

A opinião pública no mundo imperialista não deve ser o ponto de partida para o desenvolvimento de uma posição em direção à guerra!

 

Como abordar as várias formas de intervenção militar imperialista?

 

Consequências para a tática militar

 

Os clássicos marxistas sobre fatores contraditórios nas guerras

i) A Guerra das Malvinas em 1982

 

ii) A Guerra do Golfo em 1991

 

iii) A Guerra Imperialista ao Terror desde 2001

 

Sociais-imperialistas Ex-Stalinistas

 

A Forma Específica de Oportunidade do IST

 

Como lutar pela posição anti-imperialista e como não lutar por ela 

 

Política do IST: Dê-nos alguns cargos e paramos de lutar por nossos princípios

 

O CIT e Sua Capitulação ao Imperialismo

 

Sionismo Socialista à la CIT

 

É Demais para a Classe Trabalhadora a Política do Derrotismo Revolucionário?  Sobre a Falsificação do Método de Lênin e Trotsky por Parte do CIT e do TMI

 

CRM / TMRI: Rejeição ao Anti-imperialismo com Roupagens Ultra-esquerdistas

i) Um período revolucionário mundial  histórico

 

ii) O atual período histórico e suas consequências para o mundo semicolonial

 

A Mudança para o Sul

 

A mudança para a Ásia

 

Aumento da migração e internacionalização da classe trabalhadora no Norte

 

A Rivalidade das Grandes Potências e a crescente influência imperialista e guerras de agressão contra as semicolônias

 

Tendência ao colonialismo ou mais espaço de manobra para a burguesia semicolonial?

 

Globalização, regionalização e protecionismo

 

As Perspectivas da revolução e a crise da liderança da classe trabalhadora

Prefácio para a tradução em Português de “O Grande Roubo do Sul”

 

 

Por Michael Pröbsting, 14 de março de 2021

 

 

 

É um grande prazer ver a tradução em português de “O Grande Roubo do Sul”! Há muito tempo está claro para nós que a superexploração do Sul pelos monopólios imperialistas se tornou uma característica cada vez mais importante do capitalismo global. Tem sido assim porque os imperialistas não só exploraram os recursos naturais dos países (semi-)coloniais (que fizeram isso desde séculos), mas também porque a produção de valor capitalista se deslocou cada vez mais para o Sul.

 

Outra característica correspondente do mesmo desenvolvimento fundamental foi a crescente Imigração desde o Sul e a consequente importância crescente dos migrantes para a luta de classes nos países imperialistas. Este tema desempenhou um papel importante na luta das facções em nossa organização predecessora e em nossa expulsão burocrática resultante em abril de 2011. Nosso livro “Theses on Migration” (Teses sobre a Imigração) se tornou uma das primeiras obras importantes da CCRI/RCIT, organização que fundamos logo após nossa expulsão.

 

Como dito acima, estava claro para nós que o crescente papel da Imigração e o crescente deslocamento da produção de valor capitalista para o Sul eram duas faces da mesma moeda. Portanto, logo decidimos aprofundar nossa compreensão teórica do segundo aspecto deste tópico principal. O resultado foi, após vários meses de escrita e discussões, a publicação de “O Grande Roubo do Sul” em abril de 2013.

 

Naturalmente, algumas dados do livro podem ser substituídos por dados mais atualizados. Mas, basicamente, o livro não perdeu sua atualidade porque todos os principais desenvolvimentos com os quais o tratou, sua análise teórica, bem como as questões de programa e tática, permanecem de importância crucial para uma adequada compreensão marxista da situação mundial.

 

Neste breve prefácio não iremos resumir o conteúdo deste livro, até porque seu último capítulo já contém tal resumo. Chamaremos aqui apenas duas questões que, a nosso ver, são particularmente relevantes para o público brasileiro (mas também para outros públicos).

 

Em primeiro lugar, o livro trata criticamente, entre outros, da chamada teoria do sub-imperialismo (ver capítulo 9). Essa teoria foi desenvolvida inicialmente pelo socialista brasileiro Ruy Mauro Marini na década de 1960. Rejeitando a concepção de Lênin que divide o mundo em nações opressoras e oprimidas, países imperialistas e (semi-)coloniais, esta teoria afirma que uma terceira categoria de países ("sub-imperialistas") emergiu. Na verdade, ele via o Brasil como um país sub-imperialista. Como mostramos neste livro, tal visão está totalmente errada, uma vez que o Brasil foi e continua sendo basicamente um país semicolonial - embora avançado e industrializado - dominado por potências imperialistas.

 

No entanto, desde os dias de Marini, esta teoria do sub-imperialismo tornou-se cada vez mais popular - principalmente entre acadêmicos marxistas, mas também entre algumas organizações socialistas. Todos os tipos de países são agora caracterizados como “sub-imperialistas”: China, Coreia do Sul, Rússia, Irã, Grécia, Turquia, África do Sul, Argentina, etc.

 

Naturalmente, os marxistas são inimigos intransigentes da burguesia nacional de seu país. Consequentemente, quando o governo capitalista conduzir uma operação militar reacionária no exterior, os revolucionários se oporão a ela com rigor. Por exemplo, quando os socialistas do Brasil se opuseram ao papel de liderança do exército brasileiro na missão da MINUSTAH no Haiti (“Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti”) em 2004-2017, compartilhamos totalmente essa posição. Todos os socialistas e anti-imperialistas sinceros tiveram que se opor ao que era efetivamente uma força de ocupação militar a serviço das Grandes Potências.

 

Portanto, se os socialistas, sob tais condições, flertam com a aplicação da teoria do sub-imperialismo com relação a seu próprio país como uma expressão de sua abordagem antipatriótica, isso poderia refletir - até certo ponto - um instinto de classe saudável.

 

No entanto, a teoria do sub-imperialismo como tal está errada e só pode resultar em confusão total e pode até levar a consequências práticas perigosas. A negação do caráter semicolonial de um país pode facilmente resultar na recusa de defendê-lo contra uma potência imperialista. Veja o exemplo das correntes pseudo-trotskistas associadas aos nomes de Ted Grant, Peter Taaffe e Alan Woods (uma vez unidos no Comitê por uma Internacional de Trabalhadores- CIT, eles se dividiram ao longo dos anos em diferentes organizações internacionais como o Comitê por uma Internacional de Trabalhadores-CIT, a International Socialist Alternative-ISA e a Tendência Marxista Internacional-TMI com as organizações Liberdade , Socialismo e Revolução e Esquerda Marxista - ambas correntes dentro do PSOL -como seções brasileiras destas duas últimas internacionais). Esta tradição abertamente ou, de forma disfarçada, utilizou o conceito de sub-imperialismo para recusar a defesa da Argentina contra a Grã-Bretanha em 1982 ou do Iraque contra o imperialismo ocidental em 1991.

 

Por outro lado, o conceito de sub-imperialismo também pode ser aplicado a estados que são de fato estados imperialistas (por exemplo, China, Rússia ou Coréia do Sul). Em tal caso, isso pode resultar na recusa de tomar uma posição revolucionária derrotista em um conflito entre tal estado e um rival imperialista (por exemplo, os EUA ou o Japão).

 

Infelizmente, essa abordagem é muito popular entre muitos esquerdistas - na América Latina e também no mundo todo. Muitas correntes reformistas e populistas - da social-democracia como o PT, o chavismo / bolivarianismo ao stalinismo - todas consideram a China um aliado bem-vindo contra o imperialismo ianque. Não deve passar despercebido que a maioria das forças do trotskismo latino-americano compartilham tal negação do caráter imperialista da China. O PO argentino (ambas as facções) até imagina que a restauração capitalista ainda não foi concluída na China! Outros - como o PTS / FT, PSTU / LIT e UIT - reconhecem seu caráter capitalista, mas também rejeitam categoricamente as teses sobre imperialismo chinês.

 

Isso nos leva também à segunda questão para a qual gostaria de chamar a atenção neste breve prefácio. Como o leitor pode ver, lidamos extensivamente com o processo de restauração capitalista na China no início dos anos 1990 e sua subsequente transformação em uma potência imperialista no final dos anos 2000. Podemos afirmar, não sem orgulho, que CCRI/RCIT foi quase a única organização a reconhecer esse processo desde o início. Assumimos tal posição já no verão de 2010 e, dois anos depois, publicamos nossa análise em um estudo substancial. O capítulo 10 do presente livro é baseado neste estudo. Desde então, publicamos uma série de trabalhos analíticos adicionais sobre o caráter de classe da China, todos compilados na página especial em nosso website.

 

Como disse, naquela época éramos quase os únicos a reconhecer o caráter imperialista da China. Hoje, um número crescente de ativistas, assim como de intelectuais, reconhece esse fato fundamental que é a base para entender o caráter da Guerra Fria entre os EUA e a China como uma forma de rivalidade inter-imperialista. Na verdade, o exemplo do imperialismo chinês demonstra como é importante para uma organização marxista realizar um trabalho teórico sério para reconhecer os novos desenvolvimentos - e reconhecê-los quando eles estão ocorrendo e não apenas uma década depois, quando todos podem ver!

 

Esse reconhecimento do caráter imperialista da rivalidade entre as Grandes Potências (EUA, China, UE, Rússia e Japão) é particularmente crucial hoje. Como dissemos repetidamente, é impossível compreender a dinâmica dos desenvolvimentos políticos mundiais sem compreender o papel fundamental dos interesses e conflitos antagônicos entre as Grandes Potências imperialistas.

 

Isso é tanto mais verdadeiro quanto entramos em um período caracterizado pela Terceira Depressão, ou seja, a pior recessão econômica da economia capitalista mundial desde 1929, uma virada global antidemocrática em direção ao chauvinismo e ao bonapartismo estatal; e a pandemia COVID-19, as classes dominantes em todo o mundo estão determinadas a se fortalecer às custas de seus rivais. Nesse contexto, uma aceleração da rivalidade entre as Grandes Potências imperialistas - em particular entre as duas mais fortes, EUA e China - é inevitável.

 

Nesse período, os socialistas - na América Latina e também no mundo - não devem apoiar nenhuma burguesia imperialista. Eles precisam lutar contra a dominação imperialista por qualquer Grande Potência - os EUA, China ou outras. Em qualquer conflito político, econômico ou militar entre estados imperialistas, os socialistas devem assumir uma posição derrotista revolucionária contra cada um desses inimigos reacionários. A América Latina só pode se tornar livre na luta contra todas as potências imperialistas e não em aliança com uma delas!

 

Por fim, gostaria de aproveitar a oportunidade para expressar minha profunda gratidão ao camarada João Evangelista. Como o leitor pode ver, este é um livro extenso, e é fácil imaginar que trabalho árduo deve ter sido esta tradução! É um prazer trabalhar ao lado de um camarada tão talentoso em falar várias línguas!

 

 

 

[1] Sobre a história da RCIT e sua organização antecessora vemos livro de Michael Pröbsting: Construindo o Partido Revolucionário na Teoria e Na Prática. Olhando para trás e para frente após 25 anos de luta organizada pelo bolchevismo, dezembro de 2014, https://www.thecommunists.net/theory/rcit-party-building/

 

[2] Michael Pröbsting: Thesen zu Rassismus, Migration, der Lage der MigrantInnen em Österreich und der Strategie der revolutionären Integration (2011), https://www.thecommunists.net/publications/werk-7/. Infelizmente, este trabalho só existe na língua alemã. No entanto, publicamos um resumo dele em inglês: marxismo, migração e integração revolucionária, https://www.thecommunists.net/theory/revolutionary-integration/.

 

[3] Veja nesta edição também o ensaio de Michael Pröbsting: Poderes Intermediários Semi-Coloniais e a Teoria do Sub-Imperialismo. Uma contribuição para um debate contínuo entre os marxistas e uma proposta para enfrentar um problema teórico, 1 de agosto de 2019, https://www.thecommunists.net/theory/semi-colonial-intermediate-powers-and-the-theory-of-sub-imperialism/

 

[4] Veja, por exemplo, Ruy Mauro Marini: "Interdependência" brasileira e Integração Imperialista, em: Revisão Mensal Vol. 17, Nº 7 (dezembro de 1965); Ruy Mauro Marini: Sub-Imperialismo Brasileiro, em: Monthly Review Vol. 23, No. 9 (fevereiro de 1972)

 

[5] Elaboramos uma análise concreta desses países em inúmeras obras. Veja sobre isso – além dos capítulos relevantes do presente livro – o seguinte: Sobre a China e a Rússia vejam a extensa literatura mencionada na subseção especial em nosso site: https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/chinese-and-russian-imperialism; Sobre a China veja também o ensaio de Michael Pröbsting: Imperialismo Chinês e a Economia Mundial, na segunda edição da Enciclopédia Palgrave do Imperialismo e Anti-Imperialismo, Palgrave Macmillan, Cham 2020, https://link.springer.com/referenceworkentry/10.1007%2F978-3-319-91206-6_179-1; Sobrea Coreia do Sul ver, por exemplo, nosso panfleto: Coreia do Sul como uma Potência Imperialista. Sobre a natureza do capital monopólio sul-coreano e as seguintes tarefas programáticas da vanguarda dos trabalhadores, dezembro de 2019, https://www.thecommunists.net/theory/study-on-south-korea-as-an-imperialist-power/; na Índia ver nosso panfleto O Conflito China-Índia: Suas Causas e Consequências, Agosto de 2017, Comunismo Revolucionário nº 71, https://www.thecommunists.net/theory/china-india-rivalry/ (capítulo V); veja também Michael Pröbsting: A Índia é uma nova grande potência emergente? In: Crítica: Journal of Socialist Theory, Vol. 48, Edição 1 (2020), https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/03017605.2019.1706783; sobre o Irã: RCIT: Irã: Abaixo as sanções e ameaças militares de Trump! Mas nenhum apoio político para o reacionário Regime Mullah em Teerã! 11 de maio de 2019, https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/down-with-trump-s-sanctions-and-military-threats-against-iran/; na Grécia veja nosso livro de Michael Pröbsting: Grécia: Uma Semi-Colônia Moderna. O Desenvolvimento Contraditório do Capitalismo Grego, suas tentativas fracassadas de se tornar um poder imperialista menor, e sua situação atual como um país semi-colonial avançado com algumas características específicas, livros RCIT, Viena 2015, https://www.thecommunists.net/theory/greece-semi-colony/; Na análise da RCIT sobre a Turquia como uma semi-colônia avançada ver: Michael Pröbsting: Perspectivas Mundiais 2018: Um Mundo Grávida de Guerras e Revoltas Populares. Teses sobre a Situação Mundial, as Perspectivas para a Luta de Classes e as Tarefas dos Revolucionários (Capítulo V), RCIT Books, Viena 2018, https://www.thecommunists.net/theory/world-perspectives-2018/.

 

[6] Veja sobre este, por exemplo, o livro de Michael Pröbsting: Anti-Imperialismo na Era da Rivalidade das Grandes do Potências. Os fatores por trás da rivalidade acelerada entre os EUA, China, Rússia, UE e Japão. Uma crítica à análise da esquerda e um esboço da perspectiva marxista, RCIT Books, Viena 2019, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/livro-o-anti-imperialismo-na-era-da-rivalidade-das-grandes-potencias-conteudo/; veja também Michael Pröbsting: Como é possível que alguns marxistas ainda duvidem que a China se tornou capitalista? (Crítica do PTS/FT). Uma análise do caráter capitalista das Empresas Estatais da China e suas consequências políticas, 18 de setembro de 2020, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/como-e-possivel-que-alguns-marxistas-ainda-duvidem-que-a-china-se-tornou-capitalista/; pelo mesmo autor: Incapaz de ver a madeira para as árvores. Empirismo eclético e o fracasso do PTS/FT em reconhecer o caráter imperialista da China, 13 de agosto de 2020, https://www.thecommunists.net/theory/pts-ft-and-chinese-imperialism/

 

[7] Michael Pröbsting: a transformação da China em uma potência imperialista. Um estudo dos aspectos econômicos, políticos e militares da China como grande potência, em: O Comunismo Revolucionário nº 4 (agosto de 2012), http://www.thecommunists.net/publications/revcom-number-4

 

[8] Veja: https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/chinese-and-russian-imperialism/ e https://www.thecommunists.net/theory/china-russia-as-imperialist-powers/

 

 

 

Capítulo 1. Teoria do imperialismo de Lênin

 

 

Neste capítulo, elaboramos o entendimento de Lênin sobre o imperialismo e a avaliação de Trotsky sobre o tema. Também explicaremos a visão de Lênin e Trotsky sobre a relação entre os países semicoloniais e as potências imperialistas.

 

 

 

"... a definição mais precisa possível e completa de imperialismo"

 

 

 

Em sua definição mais abrangente de imperialismo, Lênin resumiu seus principais aspectos em 1916 da seguinte maneira:

 

Temos que começar com uma definição mais precisa e completa do imperialismo possível. O imperialismo é um estágio histórico específico do capitalismo. Seu caráter específico é triplo: o imperialismo é o capitalismo monopolista; capitalismo parasita ou em decomposição; capitalismo moribundo. A substituição da livre concorrência pelo monopólio é a característica econômica fundamental, a quintessência do imperialismo.” 1

 

Ele continua a explicar a essência monopolista do imperialismo:

 

"O monopolismo manifesta-se em 5 tipos principais: 1) os cartéis, consórcios e trusts; a concentração da produção alcançou o nível que gerou estas associações monopolistas de capitalistas; 2) a situação monopolista dos grandes bancos: 3-5 bancos gigantescos comandam toda a vida económica da América, da França, da Alemanha; 3) a apropriação das fontes de matérias-primas pelos trusts e pela oligarquia financeira (o capital financeiro é o capital industrial monopolista que se fundiu com o capital bancário); 4) a partilha (económica) do mundo pelos cartéis internacionais começou. Contam-se já para cima de cem desses cartéis internacionais, que dominam todo o mercado mundial e o dividem «amistosamente» — enquanto a guerra não o redividir. A exportação do capital, como fenómeno particularmente característico, diferentemente da exportação de mercadorias no capitalismo pré-monopolista, está em estreita ligação com a partilha económica e político-geográfica do mundo; 5) a partilha territorial do mundo (colónias) está concluída"

 

Lênin então concretiza a virada para o século XX como os anos em que ocorreu a transição do capitalismo para seu estágio final:

 

O imperialismo, como estágio superior do capitalismo da América e da Europa, e depois também da Ásia, formou-se completamente em 1898-1914. As guerras hispano-americana (1898) (N22), anglo-bóer (1899-1902), a russo-japonesa (1904-1905) e a crise económica na Europa em 1900 — tais são os principais marcos históricos da nova época da história mundial.

 

Ele continua elaborando a segunda característica essencial do imperialismo - seu caráter parasitário e decadente:

 

Que o imperialismo é capitalismo parasitário ou em decomposição, isso manifesta-se, em primeiro lugar, na tendência para a decomposição que distingue todo o monopólio sob a propriedade privada dos meios de produção. A diferença entre a burguesia imperialista republicano-democrática e monárquico-reacionária apaga-se precisamente porque uma e outra apodrecem vivas (o que de modo nenhum elimina o desenvolvimento espantosamente rápido do capitalismo em alguns ramos da indústria, em alguns países, em alguns períodos). Em segundo lugar, a decomposição do capitalismo manifesta-se na criação de uma enorme camada de rentistas, de capitalistas que vivem de «cortar cupões». Nos quatro países capitalistas avançados, a Inglaterra, a América do Norte, a França e a Alemanha, o capital em títulos ascende em cada um de 100 a 150 milhares de milhões de francos, o que significa um rendimento anual de pelo menos de 5 a 8 milhares de milhões por país. Em terceiro lugar, a exportação do capital é o parasitismo ao quadrado. Em quarto lugar, «o capital financeiro aspira à dominação e não à liberdade». A reação política em toda a linha é uma característica do imperialismo. Corrupção, suborno em proporções gigantescas, fraudes de todos os tipos. Em quinto lugar, a exploração das nações oprimidas, indissoluvelmente ligada às anexações e particularmente a exploração das colônias por um punhado de «grandes» potências, transforma cada vez mais o mundo «civilizado» num parasita no corpo de centenas de milhões de pessoas dos povos não civilizados.”

 

Nesse contexto, Lênin destaca a importância da aristocracia trabalhista como sendo os estratos superiores da classe trabalhadora subornados pelo capital monopolista e, portanto, a base social do reformismo:

 

O proletariado romano vivia à custa da sociedade. A sociedade atual vive à custa do proletariado moderno. Marx sublinhou particularmente esta profunda observação de Sismondi. O imperialismo modifica um pouco a situação. Uma camada privilegiada do proletariado das potências imperialistas vive parcialmente à custa de centenas de milhões de pessoas dos povos não civilizados

 

Finalmente, Lênin explica a terceira característica do imperialismo como capitalismo moribundo:

 

Está claro por que o imperialismo é o capitalismo moribundo, em transição para o socialismo: o monopólio, que cresce do capitalismo, é já a agonia do capitalismo, o começo da sua passagem para o socialismo. A gigantesca socialização do trabalho pelo imperialismo (aquilo a que os apologistas, os economistas burgueses, chamam «entrelaçamento») significa a mesma coisa. "

 

A teoria do imperialismo de Lênin se tornou um dos fundamentos teóricos mais importantes do Partido Bolchevique e da Internacional Comunista. Também serviu de base ao programa comunista e à estratégia revolucionária no mundo semicolonial e, posteriormente, à teoria da revolução permanente de Trotsky.

 

 

 

A visão de Trotsky da teoria do imperialismo de Lênin

 

 

 

Como Trotsky via a definição teórica de imperialismo de Lênin? Isso é interessante, pelo menos porque o fundador da Quarta Internacional sobreviveu ao líder central do Partido Bolchevique por mais de 16 anos e, assim, foi capaz de comparar desenvolvimentos posteriores do capitalismo monopolista com a teoria de Lênin.

 

Trotsky expressou repetidamente explicitamente seu acordo com a teoria do imperialismo de Lênin. Em seu balanço dos desenvolvimentos desde que Marx e Engels escreveram seu Manifesto Comunista, Trotsky avaliou em 1937 as conquistas teóricas de Lênin como base para uma compreensão científica da época:

 

"Foi Lênin quem deu uma caracterização científica do capitalismo monopolista e seu Imperialismo'". 2

 

Ele também declarou seu acordo com a teoria de Lênin em vários escritos. Por exemplo, a famosa tese de Trotsky sobre a guerra imperialista em 1934 começou com o parágrafo enfatizando a confirmação do entendimento de Lênin sobre a época imperialista:

 

A catastrófica crise comercial, industrial, agrária e financeira, o rompimento dos laços econômicos internacionais, o declínio das forças produtivas da humanidade, o aumento insuportável das contradições de classe e internacionais marcam o crepúsculo do capitalismo e confirmam plenamente a caracterização leninista de nossa época. como uma época de guerras e revoluções." 3

 

Essa avaliação da teoria de Lênin foi repetida por Trotsky em inúmeras ocasiões. Veja, por exemplo, seu artigo “Lênin sobre o Imperialismo”, publicado em 1939, no qual os editores do Jornal da Quarta Internacional - porta-voz teórico da principal seção trotskista, o Partido Socialista dos Trabalhadores nos EUA - escreveram sua introdução:

 

Lênin atingiu sua maturidade no período da Primeira Guerra Mundial. Sua análise das guerras imperialistas e as conclusões que ele tirou dessa análise estão entre os maiores triunfos do marxismo. Foi o programa leninista contra o imperialismo que abriu o caminho para a vitória das massas russas em outubro de 1917.” 4

 

 

 

A divisão do mundo em nações opressoras e oprimidas

 

 

 

Como mostramos, a análise comunista parte do entendimento de que, na virada para o século 20, o capitalismo se transformou em capitalismo de monopólio. Um pequeno número de monopólios domina a economia mundial e algumas potências imperialistas - geralmente os países de origem desses monopólios - dominam a política mundial.

 

A partir disso, segue uma característica essencial da análise do imperialismo de Lênin e Trotsky: a caracterização da relação entre as nações imperialistas e a grande maioria das pessoas que vivem nos países capitalistas menos desenvolvidos como uma relação de opressão. De fato, Lênin, e depois dele também Trotsky, chegou à conclusão de que essa divisão das nações do mundo em nações opressoras e oprimidas é uma das características mais importantes da época imperialista:

 

O programa da socialdemocracia (era assim que os marxistas se chamavam então), como contrapeso a essa utopia oportunista pequeno-burguesa, deve postular a divisão das nações em opressora e oprimida como básica, significativa e inevitável sob o imperialismo." 5

 

Em outro artigo, Lênin repete essa ideia, que mais tarde se tornou um pilar fundamental do programa da Internacional Comunista:

 

Imperialismo significa a crescente opressão das nações do mundo por um punhado de Grandes Potências (…) É por isso que o ponto focal do programa social-democrata deve ser a divisão das nações entre opressor e oprimido, que forma a essência do imperialismo, e é enganosamente evitada pelos social-chauvinistas e Kautsky. Essa divisão não é significativa do ponto de vista do pacifismo burguês ou da utopia filistina da competição pacífica entre nações independentes sob o capitalismo, mas é mais significativa do ponto de vista da luta revolucionária contra o imperialismo.”6

 

A base econômica disso é o que Lênin chamou de superexploração dessas nações oprimidas pelos monopólios imperialistas. Devido a essa superexploração, o capital monopolista pode adquirir - além da taxa de lucro média - um lucro extra. Esses lucros extras são importantes adições aos lucros que o capital monopolista já extrai dos trabalhadores dos países ricos. Eles são uma fonte essencial para subornar os setores aristocráticos superiores da classe trabalhadora e, em especial, a burocracia trabalhista nos países imperialistas, e isso ajuda a fortalecer o domínio do capital monopolista. Lênin escreveu sobre isso em 1915:

 

Porque o monopólio gera superlucros, ou seja, um excedente de lucros além dos lucros capitalistas, que são normais e habituais em todo o mundo. Os capitalistas podem dedicar uma parte (e não um pouco disso!) desses superlucros para subornar seus próprios trabalhadores, para criar algo como uma aliança (lembre-se das celebradas “alianças” descritas pelos Webbs dos sindicatos e empregadores ingleses) entre os trabalhadores de uma nação e seus capitalistas contra os outros países.”7

 

O mesmo pensamento foi defendido no programa do Partido Bolchevique, adotado em seu Oitavo Congresso em 1919:

 

Essa tendência (oportunismo e social-chauvinismo, parlamentarismo, MP) foi criada pelo fato de que nos países capitalistas progressistas a burguesia, roubando as nações coloniais e fracas, conseguiu, dos lucros excedentes obtidos por esse assalto, colocar os estratos superiores de o proletariado em seus países em uma posição privilegiada, suborná-los, garantir-lhes condições de vida toleráveis e pequeno-burguesas, toleráveis em tempo de paz, e levar a seu serviço os líderes desse estrato”. 8

 

Da mesma forma, a Internacional Comunista enfatizou a importância dos lucros imperialistas em uma de suas principais resoluções de seu Segundo Congresso em 1920:

 

Uma das principais causas que dificultam o movimento revolucionário da classe trabalhadora nos países capitalistas desenvolvidos é o fato de que, devido às suas posses coloniais e aos superlucros obtidos pelo capital financeiro, etc., os capitalistas desses países foram capazes de criar uma aristocracia trabalhista relativamente maior e mais estável, um setor que faz parte de uma pequena minoria da classe trabalhadora.”9

 

 

 

Os países semicoloniais: uma forma modificada de subjugação imperialista ou Estados capitalistas independentes?

 

 

 

Como veremos mais adiante, um dos principais argumentos dos centristas contra a atualidade da teoria do imperialismo de Lênin é a afirmação de que ele foi projetado para o mundo anterior à Segunda Guerra Mundial, no qual os países imperialistas ocupavam e exploravam colônias diretamente. Essa teoria - de acordo com os críticos - não é relevante para um mundo onde quase não existem colônias e onde a maioria dos países pobres são de estados formalmente independentes.

 

O que esses centristas ignoram é o fato de que, embora a questão da soberania formal seja, é claro, uma questão importante, em essência os países colonizados e semicoloniais (ou seja, formalmente independentes) compartilham o destino de serem nacionalmente oprimidos e super-explorados pelos monopólios e potências imperialistas.

 

Essa era definitivamente a opinião de Lênin e Trotsky. De maneira alguma eles limitaram a opressão e a superexploração imperialistas apenas às colônias. Muito pelo contrário: eles frequentemente falavam dos países colonizados e semicoloniais juntos quando se referiam às nações oprimidas. Por quê? Porque em ambos os tipos de países as tarefas de libertação nacional, de concluir a revolução democrático-burguesa, não foram cumpridas, ou seja, sua realização ainda está pela frente. Ambos os tipos de países sofrem sob o domínio da política mundial e do mercado mundial pelos monopólios e pelas potências imperialistas. Como resultado, eles têm em essência muito mais em comum do que o que os separa.

 

Assim, Lênin escreveu em um documento em 1916 - publicado como tese oficial do Conselho Editorial do órgão central bolchevique - sobre os países semicoloniais:

 

Terceiro, os países semicoloniais, como China, Pérsia, Turquia e todas as colônias, que juntos têm uma população de um bilhão. Nesses países, os movimentos democrático-burgueses mal começaram ou estão longe de terem sido concluídos. Os socialistas devem não apenas exigir a libertação incondicional e imediata das colônias sem indenização - e essa demanda em sua expressão política significa nada mais nem menos do que o reconhecimento do direito à autodeterminação - mas deve dar um apoio determinado aos elementos mais revolucionários aos movimentos democrático-burgueses de libertação nacional nesses países e auxiliem sua rebelião - e se necessário, sua guerra revolucionária - contra as potências imperialistas que os oprimem."10

 

Em seu famoso livro sobre imperialismo, Lênin se referia explicitamente aos países semicoloniais como "formalmente independentes, mas de fato, enredados na rede de dependência financeira e diplomática":

 

Quanto aos estados" semicoloniais ", eles fornecem um exemplo das formas de transição que podem ser encontradas em todas as esferas da natureza e da sociedade. O capital financeiro é uma força tão grande, decisiva, por assim dizer, em todas as relações econômicas e internacionais, que é capaz de sujeitar, e de fato sujeita para si mesma, mesmo os estados que gozam da mais completa independência política; veremos em breve exemplos disso. Certamente, o capital financeiro considera mais "conveniente" e obtém o maior lucro de uma forma de sujeição que envolve a perda da independência política dos países e povos sujeitos. A esse respeito, os países semicoloniais são um exemplo típico do "estágio intermediário”. É natural que a luta por esses países semi-dependentes tenha se tornado particularmente amarga na época do capital financeiro, quando o resto do mundo já está dividido."11

 

E ele continuou algumas páginas depois:

 

Como estamos falando de política colonial na época do imperialismo capitalista, deve-se observar que o capital financeiro e sua política externa, que é a luta das grandes potências pela divisão econômica e política do mundo, dão origem a vários de formas transitórias de dependência do estado. Não são apenas os dois principais grupos de países, os que possuem colônias e as próprias colônias, mas também as diversas formas de países dependentes que, politicamente, são formalmente independentes, mas, de fato, estão enredados na rede de dependência financeira e diplomática, típico desta época. Já nos referimos a uma forma de dependência - a semicolônia. Um exemplo de outro é fornecido pela Argentina.”12

 

A mesma opinião foi defendida mais tarde por Trotsky e a Quarta Internacional. Eles também entenderam que os países semicoloniais - embora reconhecendo a forma diferente em comparação com as colônias - compartilham essencialmente uma opressão semelhante do imperialismo. Portanto, eles têm basicamente a mesma tarefa: lutar pela libertação nacional, juntamente com as outras tarefas da revolução democrática (revolução agrária, abolição de todas as formas de ditadura etc.) e combiná-las com a perspectiva da revolução socialista e da ditadura do proletariado.

 

Em um artigo sobre a teoria do imperialismo e da guerra de Lênin, Trotsky foi claro ao incluir países semicoloniais no sistema de opressão imperialista e, portanto, na perspectiva anti-imperialista:

 

O mundo, no entanto, ainda permanece muito heterogêneo. O imperialismo coercitivo das nações avançadas só pode existir porque nações atrasadas, nacionalidades oprimidas, países coloniais e semicoloniais permanecem em nosso planeta. A luta dos povos oprimidos pela unificação nacional e pela independência nacional é duplamente progressista, porque, por um lado, isso prepara condições mais favoráveis para o seu próprio desenvolvimento, enquanto, por outro lado, trata do imperialismo. Essa é, em particular, a razão pela qual, na luta entre uma república civilizada, imperialista e democrática e uma monarquia bárbara e atrasada em um país colonial, os socialistas estão completamente do lado do país oprimido, apesar de sua monarquia e contra o país opressor, apesar de sua 'democracia'.”13

 

Trotsky repetiu essa ideia em sua introdução ao resumo popular de Otto Rühle do "O Capital" de Marx:

 

Enquanto destrói a democracia nos antigos países natais d0 capital, o imperialismo ao mesmo tempo impede a ascensão da democracia nos países atrasados. O fato de que, na nova época, nenhuma das colônias ou semicolônias concretizou sua revolução democrática - sobretudo no campo das relações agrárias - se deve inteiramente ao imperialismo, que se tornou o principal freio nas atividades econômicas e do progresso político. Saqueando a riqueza natural dos países atrasados e deliberadamente restringindo seu desenvolvimento industrial independente, os magnatas monopolistas e seus governos concedem simultaneamente apoio financeiro, político e militar aos grupos mais reacionários, parasitários e semifeudais de exploradores nativos. A barbárie agrária artificialmente preservada é hoje a praga mais sinistra da economia mundial contemporânea. A luta dos povos coloniais por sua libertação, passando pelos estágios intermediários, transforma-se necessariamente em uma luta contra o imperialismo e, assim, alinha-se com a luta do proletariado nos países mãe, revoltas e guerras coloniais, por sua vez, abalam as fundações do mundo capitalista mais do que nunca e tornar o milagre de sua regeneração menos do que possível.” 14

 

Em uma entrevista que ele deu em 1938, Trotsky falou sobre a luta anti-imperialista em especial dos países latino-americanos que já eram semicolônias formalmente independentes há mais de 100 anos:

 

No primeiro período de guerra, a posição dos países fracos pode ser muito difícil. Mas os campos imperialistas se tornarão cada vez mais fracos a cada mês que passa. A luta mortal entre eles permitirá que os países coloniais e semicoloniais levantem suas cabeças. Isso se refere, é claro, também aos países latino-americanos; eles serão capazes de alcançar sua libertação total, se à frente das massas houver verdadeiramente sindicatos e partidos anti-imperialistas e revolucionários.” 15

 

Essa compreensão dos países semicoloniais como países essencialmente oprimidos semelhantes às nações coloniais foi repetida nos dois documentos programáticos mais importantes que a Quarta Internacional adotou na vida de Trotsky - o Programa de Transição em 1938 e o Manifesto da Guerra Imperialista em 1940. Primeiro, damos algumas citações do Programa de Transição:

 

Mas nem todos os países do mundo são países imperialistas. Pelo contrário, a maioria é vítima do imperialismo. Alguns dos países coloniais ou semicoloniais tentarão, sem dúvida, utilizar a guerra para evitar o jugo da escravidão. A guerra deles não será imperialista, mas libertadora. Será dever do proletariado internacional ajudar os países oprimidos em sua guerra contra os opressores. O mesmo dever se aplica ao auxílio à URSS ou a qualquer governo de outros trabalhadores que possa surgir antes da guerra ou durante a guerra. A derrota de todo governo imperialista na luta com o estado dos trabalhadores ou com um país colonial é o mal menor.” 16

 

“Os países coloniais e semicoloniais são países atrasados por sua própria essência. Mas os países atrasados fazem parte de um mundo dominado pelo imperialismo.”17

 

“A tarefa central dos países coloniais e semicoloniais é a revolução agrária, ou seja, liquidação de heranças feudais e independência nacional, ou seja, a derrubada do jugo imperialista. Ambas as tarefas estão intimamente ligadas entre si.18

 

"A bandeira na qual está estampada a luta pela libertação dos povos coloniais e semicoloniais, ou seja, uma boa metade da humanidade, definitivamente passou para as mãos da Quarta Internacional." 19

 

Esse entendimento foi repetido dois anos depois na Conferência de Emergência da Quarta Internacional, onde o Manifesto se referia às colônias, mas também às semicolônias como a China ou a Turquia.

 

Nos países coloniais e semicoloniais a luta por um estado nacional independente, e em consequência a “defesa da pátria”, é em princípio diferente da luta dos países imperialistas. O proletariado revolucionário de todo o mundo apoia incondicionalmente a luta da China ou da Índia por sua independência, porque esta luta “ao fazer romper os povos atrasados com o asiatismo, o sectarismo ou os laços com o estrangeiro [...] golpeia poderosamente aos estados imperialistas.”

 

Ao mesmo tempo a Quarta Internacional sabe desde já, e adverte abertamente às nações atrasadas, que seus estados nacionais tardios já não poderão contar com um desenvolvimento democrático independente. Rodeada pelo capitalismo decadente e submergida nas contradições imperialistas, a independência de um país atrasado será inevitavelmente semifictícia. Seu regime político, sob a influência das contradições internas de classe e a repressão externa, inevitavelmente cairá na ditadura contra o povo. Assim é o regime do Partido “do Povo” na Turquia; e do Kuomitang na China; assim será amanhã o regime de Gandhi na Índia. A luta pela independência nacional das colônias é, desde o ponto de vista do proletariado, somente uma etapa transicional no caminho que levará os países atrasados à revolução socialista internacional”. 20

 

 

 

O papel da superestrutura e sua relação com a base econômica

 

 

 

Nesta fase, é útil olhar mais de perto para as considerações dos marxistas porque eles não viam os países semicoloniais como algo qualitativamente diferente das colônias. A razão é que eles viam a forma de Estado – colônia ou estado formalmente independente – como uma característica da superestrutura. Por mais importantes que sejam os diferentes personagens da superestrutura, eles devem ser integrados e subordinados a uma análise do caráter de classe das relações de produção subjacentes. Devemos – em parafrasear uma observação dos estudos filosóficos de Lênin sobre Hegel – passar da aparência para a essência e da essência menos profunda para a mais profunda. 21

 

Como sabemos, tanto os países capitalistas avançados quanto os menos desenvolvidos têm passado por várias formas de regimes políticos na história da época imperialista. Temos testemunhado colônias e semicolônias, inclusive até semicolônias mais independentes como mais dependentes, ditaduras abertas, incluindo o fascismo, bem como regimes burgueses relativamente democráticos e também várias formas transitórias e combinadas entre tudo isso. Obviamente, esses fatores políticos devem ser levados em conta para estratégias e táticas concretas. No entanto, eles não devem ser vistos de forma independente. Eles devem ser integrados em uma análise das relações de produção que formam o fundamento para a superestrutura específica.

 

Marx tem apontado repetidamente que a forma de extração de mão-de-obra excedente é essencial para o caráter do modo de produção. Ele explicou que, sob o capitalismo, os trabalhadores criam valor cambial que é apropriado pelos capitalistas. Eles recebem em troca um salário para reproduzir sua força de trabalho que equivale a apenas uma parte do valor que produzem. A outra parte desse valor produzido é o valor excedente apropriado pelos capitalistas. Tal atividade forma a base tanto para o consumo improdutivo da classe burguesa como para o reinvestimento no ciclo de produção e – no caso do posterior – forma, assim, a base para o acúmulo de capital.

 

Assim, para Marx, o modo capitalista de produção com a lei do valor como seu núcleo constitui a base para a formação social burguesa – independente da forma específica do regime político (monarquia, democracia etc.).

 

Ele explicou a relação entre a base e a superestrutura no Volume III do Capital:

 

"A forma econômica específica em que o trabalho excedente não pago é extraído do produtor direto determina a relação de dominação e servidão, da mesma forma que surge diretamente da própria produção e, por sua vez, reage de forma decisiva sobre ela. Mas toda a configuração da entidade da comunidade econômica é baseada nisso, emanando das próprias relações de produção e, portanto, ao mesmo tempo, de sua figura política específica. Em todos os casos, a relação direta entre os donos das condições de produção e os produtores diretos é uma relação cuja forma eventual corresponde sempre naturalmente a uma determinada fase de desenvolvimento do modo de trabalho e, portanto, à sua força produtiva social onde encontraremos o segredo mais íntimo, fundamento oculto de toda a estrutura social e, consequentemente, também da forma política que apresenta a relação de soberania e dependência, enfim, da forma específica do Estado existente em cada caso. Isso não impede que a mesma base econômica, de acordo com as condições principais, em virtude de inúmeras circunstâncias empíricas diferentes, condições naturais, relações raciais, influências históricas operando de fora, etc., possa apresentar variações e nuances infinitas em suas manifestações. , que só são compreensíveis analisando essas circunstâncias empiricamente dadas." 22

 

Em seu estudo sobre o surgimento do Estado e da família, Engels enfatizou que o Estado geralmente é o estado da classe economicamente mais poderosa. Esta é uma observação muito importante, pois veremos que nos países semicoloniais a burguesia imperialista é a classe hegemônica – ao lado, mais e às vezes em contradição temporária com a classe capitalista doméstica. Engels elabora que, independentemente da forma exata do Estado, a classe economicamente dominante normalmente governa. Isso também é e particularmente verdadeiro para a república democrática, apesar do sufrágio universal formal para todos os cidadãos – incluindo a classe trabalhadora.

 

"Como o Estado surgiu da necessidade de manter em xeque os antagonismos de classe, mas por se levantar, ao mesmo tempo, em meio ao conflito dessas classes, é, via de regra, o estado da classe mais poderosa e economicamente dominante, que, através do meio do Estado, torna-se também a classe politicamente dominante, e assim adquire novos meios de segurar e explorar a classe oprimida. (...) Na maioria dos estados históricos, os direitos dos cidadãos são, além disso, repartidos de acordo com suas riquezas, expressando diretamente o fato de que o Estado é uma organização da classe detentora de sua proteção contra a classe não possuidora. (...) No entanto, esse reconhecimento político das distinções de propriedade não é de forma alguma essencial. Pelo contrário, marca um baixo estágio de desenvolvimento estatal. A forma mais alta do Estado, a república democrática, que sob nossas condições modernas da sociedade está cada vez mais se tornando uma necessidade inevitável, e é a forma de Estado em que só a última luta decisiva entre proletariado e burguesia pode ser travada — a República Democrática oficialmente não sabe mais nada de distinções de propriedade. Nele a riqueza exerce seu poder indiretamente, mas ainda mais certamente. Por um lado, na forma da corrupção direta dos funcionários, da qual a América fornece o exemplo clássico; por outro lado, na forma de uma aliança entre governo e bolsa de valores, que se torna mais fácil de alcançar quanto mais a dívida pública aumenta e mais as empresas de ações conjuntas se concentram em suas mãos não só o transporte, mas também a própria produção, usando a bolsa de valores como seu centro. A última república francesa, bem como os Estados Unidos, é um exemplo marcante disso; e a boa e velha Suíça contribuiu com sua participação neste campo. Mas que uma república democrática não é essencial para que esta aliança fraternal entre governo e bolsa de valores seja provada pela Inglaterra e também pelo novo Império Alemão, onde não se pode dizer quem foi mais elevado pelo sufrágio universal, Bismarck ou Bleichröder. E, por último, as regras de classe que possuem diretamente através do meio do sufrágio universal." 23

 

Na era do imperialismo – ou seja, a época do capital monopólio – a aderência da burguesia dominante sobre o aparato estatal torna-se ainda mais forte, independente da forma específica da máquina estatal. Esta máquina estatal é uma poderosa força política que, em sua essência, não é alterada pela forma específica da superestrutura política:

 

"Em geral, a democracia política é apenas uma das formas possíveis de superestrutura acima do capitalismo (embora seja teoricamente a normal para o capitalismo "puro"). Os fatos mostram que tanto o capitalismo quanto o imperialismo se desenvolvem no quadro de qualquer forma política e subordinam todos eles." 24

 

Da mesma forma, Lênin observa em seu famoso estudo sobre a teoria marxista do Estado:

 

"O imperialismo — a era do capital bancário, a era dos gigantescos monopólios capitalistas, do desenvolvimento do capitalismo monopólio no capitalismo monopólio do Estado — mostrou claramente um extraordinário fortalecimento da "máquina do Estado" e um crescimento sem precedentes em seu aparato burocrático e militar em conexão com a intensificação de medidas repressivas contra o proletariado tanto nos países monárquicos quanto nos países mais livres e republicanos." 25

 

 

 

Imperialismo e estado semicolonial

 

 

 

As observações de Lênin sobre a relação entre a burguesia monopolista e as máquinas estatais são de grande importância para a nossa compreensão do aparato estatal no mundo semicolonial. Devemos começar com uma análise econômica do sistema imperialista. Para isso, não devemos começar com a economia nacional, mas com o mundo como um todo. Trotsky ressaltou corretamente a importância do mercado mundial. Para entender corretamente o imperialismo e a direção de seu desenvolvimento, é indispensável vê-lo como um sistema mundial político e econômico. Por que? Porque as relações políticas e econômicas de cada país nunca podem, do ponto de vista marxista, ser derivadas simplesmente de fatores internos. O imperialismo não constitui um conjunto de estados nacionais e economias que estão unidos. 26 É sim o caso de que a economia mundial e a política mundial são as forças motrizes decisivas. Elas atuam como um caldeirão para fatores nacionais, formando uma totalidade independente levantada por cima e imposta aos estados nacionais. O desenvolvimento combinado e desigual do capitalismo mundial coincide com as peculiaridades locais de um país e se funde com a dinâmica nacional específica das relações políticas e econômicas daquele Estado.

 

"O marxismo toma seu ponto de partida da economia mundial, não como uma soma de partes nacionais, mas como uma realidade poderosa e independente que foi criada pela divisão internacional do trabalho e do mercado mundial, e que em nossa época domina imperiosamente os mercados nacionais."27

 

O sistema mundial imperialista não é uma formação social composta por classes capitalistas nacionais iguais. Temos uma realidade cheia de capitalistas e potências monopolistas dominantes. Eles governam o mundo economicamente, politicamente e militarmente.

 

Por isso, estão em posição de dominar países capitalistas mais pobres que são formalmente independentes, mas não têm recursos para evitar de ter um papel subordinado no sistema mundial. Lênin apontou isso em sua polêmica contra Pyatakov em 1916:

 

"Economicamente, o imperialismo é o capitalismo monopolista. Para adquirir o monopólio total, toda a concorrência deve ser eliminada, e não apenas no mercado doméstico (de um determinado estado), mas também nos mercados externos, em todo o mundo. É economicamente possível, "na era do capital financeiro", eliminar a concorrência mesmo em um estado estrangeiro? Certamente é. Isso é feito através da dependência financeira de um rival e aquisição de suas fontes de matérias-primas e, eventualmente, de as suas empresas." 28

 

Hoje podemos dizer que, apesar de a classe capitalista nativa ser a classe formalmente dominante nos países semicoloniais, é apenas parcialmente, apenas até certo ponto, a força dominante. Assim, não basta afirmar que este ou aquele país mais pobre é capitalista. Devemos perguntar que tipo de capitalismo é nessas semicolônias: houve um desenvolvimento forte o suficiente de seu capital nacional para que criasse um capital monopolista ou chegou tarde demais no mercado mundial (ou foi empurrado para trás) e, portanto, tem apenas uma classe capitalista mais fraca e semicolonial? Em outras palavras, os marxistas devem dar uma resposta precisa às questões relativas ao caráter de classe: o respectivo país tem um caráter imperialista-capitalista ou um caráter capitalista semicolonial (ou colonial)? Estamos lidando com uma burguesia imperialista ou uma burguesia semicolonial (ou colonial), uma força pequeno-burguesa em um país imperialista-capitalista ou uma força pequeno-burguesa em um país capitalista semicolonial (ou colonial)?

 

Trotsky considerou essa diferenciação de classe entre os diferentes tipos de estados como essencial para uma orientação correta da vanguarda proletária na luta de classes políticas mundiais:

 

"Ensinar os trabalhadores a entender corretamente o caráter de classe do Estado imperialista, do estado colonial, do estado operário e as relações recíprocas entre eles, assim como as contradições internas em cada um deles, permite que os trabalhadores tirem conclusões práticas corretas em situação." 29

 

Para esclarecer que essas questões são de extrema importância, uma vez que a burguesia do país semicolonial é apenas até certo ponto uma classe dominante. Dada a sua posição dominante no mercado mundial, o capital monopolista é capaz de se apropriar de um lucro extra. Isso não significa nada além de que os capitalistas monopolistas se apropriam – além do valor excedente extraído de sua "própria" classe trabalhadora nos países avançados – de uma parte do valor excedente criado pela classe trabalhadora nos países semicoloniais e que, sob circunstâncias capitalistas "normais", passariam para os bolsos da burguesia nacional semicolonial. A burguesia nacional semicolonial, portanto, é apenas até certo ponto uma classe dominante. Ao mesmo tempo, é até certo ponto também uma classe oprimida. Trotsky apontou esta análise há muito tempo:

 

"O regime interno nos países coloniais e semicoloniais tem um caráter predominantemente burguês. Mas a pressão do imperialismo estrangeiro altera e distorce a estrutura econômica e política desses países que a burguesia nacional (mesmo nos países politicamente independentes da América do Sul) só atinge parcialmente o auge de uma classe dominante. A pressão do imperialismo sobre os países atrasados não muda, é verdade, seu caráter social básico, uma vez que o opressor e oprimido representam apenas diferentes níveis de desenvolvimento em uma e na mesma sociedade burguesa. No entanto, a diferença entre Inglaterra e Índia, Japão e China, Estados Unidos e México é tão grande que diferenciamos estritamente entre países opressores e oprimidos burgueses e consideramos nosso dever apoiar o segundo contra os primeiros. A burguesia dos países coloniais e semicoloniais é uma classe semi-dominante e semi-oprimida." 30

 

Resumindo: Para caracterizar politicamente um país específico no mundo, não basta declarar que é capitalista e governado por uma classe capitalista. Também não é suficiente descrever o regime político específico do determinado país (ditadura, teocracia, democracia burguesa, bonapartismo de esquerda etc.). Deve-se sim começar com a caracterização de classe e isso inclui sua posição na ordem mundial imperialista.

 

 

 

1 V. I. Lenin: Imperialismo e a divisão no socialismo (1916); in: LCW Vol. 23, p. 105 (ênfase no original). As seguintes citações neste subcapítulo são deste artigo. Em seu "Cadernos sobre o imperialismo" (Ver Volume 39) ele dá um resumo semelhante da definição do imperialismo (V. I. Lenin: "Imperialismo e a Atitude em relação a ele"; em: LCW 39, p. 758):

 

Definição:

 

{política econômica

 

{reação

 

{opressão naiconal

 

{Anexações

 

Imperialismo= capitalismo

 

a) monopolista

 

{1.cartéis

 

{2.grandes bancos

 

{3.oligarquias financeiras

 

{4.colônias e exportação de capitais

 

b) Parasítico

 

{1.exportação de capital

 

{2. 100 bilhões de capital social

 

c) Capitalismo Moribundo (“ em transição”)

 

2 Leon Trotsky: Noventa Anos do Manifesto Comunista (1937); in: Escritos de Leon Trotsky 1937-38, p. 23

 

3 Leon Trotsky: Guerra e a Quarta Internacional (1934); in: Escritos de Leon Trotsky 1933-34, p. 299 (ênfase no original)

 

4 Partido Socialista dos Trabalhadores (EUA): Introdução ao "Lênin sobre o Imperialismo"; em: Quarta Internacional, Vol. III, Nº 1 (janeiro de 1942), p. 19

 

5 V. I. Lenin: A Revolução Socialista e o Direito das Nações à Autodeterminação (1916); in: LCW 22, p. 147

 

6 V. I. Lenin: O proletariado revolucionário e o direito das nações à autodeterminação (1915); em: LCW 21, p. 409

 

7 V. I. Lenin: Imperialismo e a Divisão no Socialismo (1916); in: LCW Vol. 23, pp.114-115

 

8 Programação der Kommunistischen Partei Rußlands (Bolschewiki) (1919); in: Boris Meissner: Das Parteiprogramm der KPdSU 1906-1961, Köln 1962, p. 124. Em inglês: Programa do Partido Comunista Russo (Bolcheviques) (1919)

 

9 Comunista Internacional: Teses sobre as Tarefas Básicas da Internacional Comunista (1920). Resolução do Segundo Congresso da Internacional Comunista; Em. John Riddell (Editor): Trabalhadores do Mundo e Pessoas Oprimidas, Unam-se! Procedimentos e Documentos do Segundo Congresso, 1920, New York 1991, p. 755

 

10 V. I. Lenin: A Revolução Socialista e o Direito das Nações à Autodeterminação (1916); in: LCW Vol. 22, pp. 151-152

 

11 V. I. Lenin: Imperialismo. O Estágio Superior do Capitalismo (1916); in: LCW Vol. 22, pp. 259-260

 

12 V. I. Lenin: Imperialismo. O Estágio Superior do Capitalismo (1916) ; in: LCW Vol. 22, p. 263 (ênfase no original)

 

13 Leon Trotsky: Guerra Lenina e Imperialista (1938); in: Escritos de Leon Trotsky 1938-39, p. 165

 

14 Leo Trotzki: Marximus em unserer Zeit (1939), Wien 1987, p. 20; em inglês: Leon Trotsky: Marxismo Em Nosso Tempo, http://www.marxists.org/archive/trotsky/1939/04/marxism.htm

 

15 Leon Trotsky: Luta Anti-Imperialista é a chave para a libertação. Uma Entrevista com Mateo Fossa (1938); in: Escritos de Leon Trotsky 1938-39, p. 35

 

16 Leon Trotsky: A Agonia da Morte do Capitalismo e as Tarefas da Quarta Internacional. O Programa transitório (1938); em: Documentos da Quarta Internacional, Nova Iorque 1973, pp. 199-200 (ênfase em original)

 

17 Leon Trotsky: A Agonia da Morte do Capitalismo..., p. 205

 

18 Leon Trotsky: A Agonia da Morte do Capitalismo ..., p. 205 (ênfase no original)

 

19 Leon Trotsky: A Agonia da Morte do Capitalismo ..., pp. 206-207

 

20 Quarta Internacional: Guerra Imperialista e a Revolução Mundial Proletária; Manifesto adotado pela Conferência de Emergência da Quarta Internacional em maio de 1940; em: in: Documentos da Quarta Internacional. Os Anos Formativos (1933-40), Nova Iorque 1973, pp. 330-331; http://www.marxists.org/history/etol/document/fi/1938-1949/emergconf/fi-emerg02.htm

 

21 V.I. Lenin: Conspectus do Livro de Hegel A Ciência da Lógica. Seção Três: A Ideia (1914); in: LCW 38, p. 221

 

22 Karl Marx: Das Kapital, Dritter Band; em MEW, Bd. 25, pp. 799-800; Em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III, Capítulo 47.

 

23 Friedrich Engels Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staats (1884); in: MEW 21, pp. 166-168; Em inglês: Frederick Engels: A Origem da Família, Propriedade Privada e do Estado, Chippendale 2004, pp. 159-160

 

24 V. I. Lenin: A Discussão sobre Autodeterminação resumiu; in: LCW Vol. 22, p.326 (Ênfase no original)

 

25 V. I. Lenin: O Estado e a Revolução. A Teoria Marxista do Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução (1917); in: LCW Vol. 25, p.326

 

26 Este falso entendimento foi uma característica da social-democracia e, posteriormente, do stalinismo, com base no qual este último desenvolveu a teoria do socialismo em um país em 1924.

 

27 Leo Trotzki: Die permanente Revolution (1930), Frankfurt a. M. 1971, p. 7; em inglês: Leon Trotsky: A revolução permanente, Introdução à edição alemã (1930)

 

28 V. I. Lenin: Uma caricatura do marxismo e do economismo imperialista (1916); in: LCW Vol. 23, p.43 (Ênfase no original)

 

29 Quarta Internacional: Guerra Imperialista e a Revolução Mundial Proletária, p. 327

 

30 Leon Trotsky: Não é um Estado Operário e Não Burguês? (1937); in: Escritos de Leon Trotsky 1937-38, p. 70

 

 

 

Capítulo 2. O monopolismo e o crescente papel dos monopólios na economia mundial

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No primeiro capítulo, demos uma visão geral das ideias fundamentais da teoria do Imperialismo de Lênin. Uma vez que o objetivo deste documento é analisar o papel das semicolônias na ordem mundial imperialista, passemos agora para um olhar mais atento ao que é a essência do imperialismo. Por isso, elaboramos sobre os monopólios na teoria marxista e olhamos para o papel crescente dos monopólios na economia mundial. Também lidaremos com as objeções abertas ou ocultas de várias organizações centristas contra ela. Ao argumentar contra essas rejeições centristas, vamos neste contexto, elaborar ainda mais a teoria leninista do imperialismo integrando as contribuições dos marxistas depois de Lênin.

 

Em geral, há uma forte tendência entre a maioria das correntes centristas de reduzir a teoria marxista do imperialismo a uma confusão eclético que descreve a discriminação e violação do chamado "Terceiro Mundo", a desigualdade e a injustiça e mistura tudo com uma denúncia do imperialismo. Desta forma, eles caminham pelo caminho do kautskyianismo na medida em que reduzem o imperialismo ao nível de uma política reacionária das Grandes Potências. Eles ignoram consciente ou inconscientemente ver que o Imperialismo é uma época distinta – o estágio final do capitalismo, seu declínio – que tem como base econômica a transformação das leis capitalistas, ou digamos melhor sua modificação, pelo monopolismo. A partir disso, surgem as distorções da lei de valor por diversos mecanismos; como os monopólios extraem um lucro extra dos setores dos trabalhadores, como enganam a pequena burguesia e até mesmo outros grupos de capital por cartelização, preços de monopólio etc., a formação de uma taxa média monopolista de lucro, a tendência de super-acumulação estrutural, o crescente fluxo de capital para a exportação de capital, para especulação financeira etc, o crescimento estrutural do exército de reserva de trabalhadores, etc.

 

Em outras palavras, eles não entendem e, respectivamente, não colocam as leis econômicas que são a base do imperialismo e a necessidade e a inevitabilidade das contradições internas da época imperialista no centro de sua análise.

 

 

 

Imperialismo como política ou monopólio baseado em leis econômicas?

 

 

 

Em sua introdução ao livro "Imperialismo e economia mundial" de Bukharin, Lênin enfatizou a natureza do Imperialismo não como um conjunto de políticas, mas como uma relação econômica:

 

"... uma análise das propriedades e tendências essenciais do imperialismo, como o sistema de relações econômicas do capitalismo moderno altamente desenvolvido, maduro e podre.". 1

 

Ele ainda notou:

 

"Em tudo isso, é extremamente importante ter em mente que essa mudança (a abertura da época imperialista, não foi provocada de outra forma, mas o desenvolvimento imediato, a expansão e a continuação das tendências mais profundas e básicas do capitalismo e da produção de commodities em geral." 2

 

Mas inúmeros centristas rejeitam abertamente ou de forma implícita essa compreensão do imperialismo como uma época separada que tem a transformação de sua economia em capitalismo monopolista como base e, portanto, a base econômica da relação entre o capital imperialista e os países semicoloniais é uma super-exploração econômica. Embora não neguem necessariamente o fato de que, sob o imperialismo, o chamado Terceiro Mundo é economicamente discriminado, vários centristas veem o imperialismo como uma política específica, ou seja, agressiva e militarista.

 

Daremos alguns exemplos de tal entendimento errado. Em uma análise recente do conceito teórico da revolução permanente de Trotsky, o Partido Socialista Dos Trabalhadores Britânicos (em inglês-SWP, a organização "mãe" da IST) escreveu:

 

"Como o capitalismo é um sistema internacional, conectado tanto pelo imperialismo quanto pelo mercado mundial, as crises que provocam situações revolucionárias provavelmente seriam regionais ou globais em escala." 3

 

Portanto, temos o imperialismo como o nível político e o mercado mundial como o nível econômico deste sistema.

 

Em outro longo artigo sobre o imperialismo, o então líder do Socialist Workers Party-SWP e hoje articulista da organização socialista Counter-Fire na Grã-Bretanha, John Rees, descreve o imperialismo como um fenômeno de longo prazo de expansão colonial:

 

"O imperialismo é um sistema em evolução. Desde os primeiros dias do capitalismo, a expansão internacional foi escrita em sua estrutura. A união com a Escócia e a colonização da Irlanda formaram um dos primeiros estados capitalistas, a Grã-Bretanha. Ambos os eventos foram decisivamente moldados pela revolução do século XVII. E uma das primeiras guerras pós-revolucionárias da Grã-Bretanha foi com o segundo grande estado capitalista da época, a República Holandesa. Estados capitalistas emergentes e impérios pré-capitalistas em declínio lutaram pelo domínio na América, África, Ásia e Extremo Oriente. Durante dois séculos, as potências britânicas, holandesas, francesas, alemãs, italianas e outras grandes potências lutaram para conquistar o globo, e subjugar as populações indígenas e as pequenas potências.

 

O apogeu foi alcançado no século XX à medida que potências totalmente capitalistas se confrontaram em duas guerras mundiais, e de novo e de novo em inúmeros conflitos coloniais. No início do século, Lênin e Bukharin esboçaram os dois impulsos contraditórios que ainda dominam o sistema capitalista moderno. Bukharin escreveu: "Juntamente com a internacionalização da economia e a internacionalização do capital, está em curso um processo de "nacional", entrelaçamento de capital, um processo de "nacionalização", repleto de grandes consequências. A globalização, por um lado, e a enorme rede militar-industrial do Estado moderno, por outro, são a forma moderna dessa contradição. O resultado é que a concorrência econômica e a desigualdade e instabilidade que cria reproduzem constantemente a competição militar e a guerra. O impulso à guerra se desfez e reconstituiu o sistema imperialista ao longo do século XX.

 

Desde a Segunda Guerra Mundial, as colônias formais ganharam sua independência. Nações oprimidas vieram e se foram, lutaram sua batalha, e se juntaram ao sistema internacional de Estados em fileiras mais ou menos subordinadas. Esse processo começou com as colônias americanas na década de 1770 e ocorreu para a libertação da Irlanda e da Índia, entre muitos outros, no século XX." 4

 

Ou, como vemos no caso da organização centrista Comitê por uma Internacional de Trabalhadores-CIT/CWI (Partido Socialista na Grã-Bretanha), eles reduzem primitivamente a política imperialista ao desejo de obter lucros. Diante desse critério, todos os capitalistas do mundo seriam imperialistas – uma posição que transforma todo o conceito de imperialismo de Lênin como a divisão dos países mundiais em opressivo e oprimido em uma caricatura ridícula. Alguns anos atrás, o CWI escreveu em um artigo que tratava da guerra das Malvinas em 1982:

 

"Mas a guerra da Junta Argentina sobre as Malvinas não é uma guerra de libertação nacional contra o imperialismo. Pelo contrário, ao tomar as Malvinas, a Junta Argentina está perseguindo objetivos imperialistas por parte do capitalismo argentino.

 

Galtieri invadiu as Ilhas por razões políticas, para evitar a revolução e salvar seu regime. Mas, em segundo plano, estão os financiadores e capitalistas argentinos que estão ansiosos para colocar as mãos nos lucros potencialmente a serem extraídos do petróleo antártico e de outros recursos naturais. Tal desenvolvimento da Antártida, é verdade, seria quase certamente em conjunto com os multinacionais americanos, a quem os capitalistas argentinos seriam sócios juniores. O capitalismo argentino ainda está subordinado aos grandes negócios internacionais, especialmente o capitalismo americano, como suas enormes dívidas externas testemunham." 5

 

Lênin polemizou fortemente contra tal separação do imperialismo de suas raízes do capitalismo monopolista e sua amálgama a todas as formas de política agressiva. Em seus dias, o líder social-democrata alemão Karl Kautsky era um dos principais defensores de tal posição. Lênin escreveu contra Kautsky:

 

"O avanço dessa definição de imperialismo nos coloca em completa contradição com K. Kautsky, que se recusa a considerar o imperialismo como uma "fase do capitalismo" e o define como uma política "preferida" pelo capital financeiro, uma tendência dos países "industriais" de anexar países "agrários". A definição de Kautsky é completamente falsa do ponto de vista teórico. O que distingue o imperialismo é a regra não do capital industrial, mas do capital financeiro, a luta para anexar não países agrários, particularmente, mas todo tipo de país. Kautsky diferencia política imperialista da economia imperialista, ele diferencia política do monopólio do monopólio na economia, a fim de abrir caminho para seu reformismo burguês vulgar, tais como "desarmamento", "ultra-imperialismo" e absurdos semelhantes. Todo o propósito e significado dessa falsidade teórica é obscurecer as contradições mais profundas do imperialismo e, assim, justificar a teoria da "unidade" com os apologistas do imperialismo, os francamente social-chauvinistas e oportunistas." 6

 

 

 

O Monopolismo e o Lucro do Monopólio

 

 

 

Essa confusão do imperialismo como política e como sistema baseado em "relações econômicas" tem – no nível teórico – suas raízes na negação dessas relações econômicas.

 

Resumimos brevemente a essência e as consequências da monopolização. O surgimento de monopólios na economia capitalista tem como base a lei fundamental do movimento do capitalismo – o processo de criação de valor excedente através da exploração das forças de trabalho. Esse processo inevitavelmente resulta na reprodução do capital em larga escala, ou seja, no acúmulo de capital. Isso leva – como explicou Marx no Volume de Capitais I no famoso capítulo "Tendência Histórica da Acumulação Capitalista" – ao processo de centralização e concentração de capital, à criação de um mercado mundial, à intensificação da exploração, etc.:

 

"Essa expropriação é realizada pela ação das leis imanentes da própria produção capitalista, pela centralização do capital. Um capitalista sempre mata muitos. De mãos dadas com essa centralização, ou essa desapropriação de muitos capitalistas por poucos, desenvolvem, em escala cada vez maior, a forma cooperativa do processo de trabalho, a aplicação técnica consciente da ciência, o cultivo metódico do solo, a transformação dos instrumentos de trabalho em instrumentos de trabalho apenas utilizáveis em comum, a economia de todos os meios de produção por seu uso como meio de produção combinado, trabalho socializado, o emaranhado de todos os povos na rede do mercado mundial, e com isso, o caráter internacional do regime capitalista. Juntamente com o número constantemente reduzido dos magnatas do capital, que usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação, cresce a massa de miséria, opressão, escravidão, degradação, exploração; mas com isso também cresce a revolta da classe trabalhadora, uma classe sempre aumentando em número, e disciplinada, unida, organizada pelo próprio mecanismo do processo de produção capitalista em si. O monopólio do capital torna-se um grilhão sobre o modo de produção, que surgiu e floresceu junto com, e sob ele. A centralização dos meios de produção e socialização do trabalho finalmente chega a um ponto em que se tornam incompatíveis com seu invólucro capitalista. Este invólucro está rasgado. O dobre de finados da propriedade privada capitalista está a tocar. Os expropriadores são expropriados." 7

 

Essa reprodução contínua do capital em escala estendida leva a uma mudança em sua composição orgânica, ou seja, na relação entre capital constante (máquinas, matéria-prima etc.) e capital variável (trabalho). A participação do capital constante – que apenas transmite valor, mas não cria novo valor – está aumentando enquanto a participação do capital variável – que cria novo valor – fica relativamente menor. Com a diminuição da participação do capital variável, a fonte para a criação de um novo valor e, portanto, a fonte de valor excedente também diminui. Como resultado, a parcela do valor excedente – que é a única base de lucro – diminui em relação ao capital total investido (constante e variável) no longo prazo.

 

"À medida que o processo de produção e acumulação avança, portanto, a massa de mão-de-obra disponível e adequada e, portanto, a massa absoluta de lucros se apropriada pelo capital social, deve crescer. Junto com o volume, porém, as mesmas leis de produção e acumulação aumentam também o valor do capital constante em uma progressão de montagem mais rapidamente do que a da parte variável do capital, investida como está no trabalho vivo. Assim, as mesmas leis produzem para o capital social uma massa absoluta crescente de lucro, e uma taxa de lucro em queda." 8

 

Marx caracterizou a lei da tendência da taxa de lucro cair como a lei mais importante do capitalismo:

 

"Esta é, em todos os aspectos, a lei mais importante da economia política moderna, e a mais essencial para entender as relações mais difíceis. É a lei mais importante do ponto de vista histórico. É uma lei que, apesar de sua simplicidade, nunca foi compreendida e, muito menos, articulada conscientemente." 9

 

Como já elaboramos no livro "The Credit Crunch - A Marxist Analysis", o salto qualitativo no processo de concentração e centralização do capital e o surgimento de monopólios no final do século XIX foi uma expressão da obsolescência histórica do sistema capitalista. 10 As contradições entre as forças produtivas e os grilhões do modo de produção baseado na propriedade privada de um lado e entre o mercado mundial e a política internacional e o Estado nacional do outro lado abriram a última etapa do capitalismo – sua época de declínio e transição para o socialismo. Em sua resolução sobre o caráter da Primeira Guerra Mundial imperialista, os bolcheviques russos formularam essa compreensão da época imperialista inequivocamente:

 

"A guerra atual é imperialista em seu caráter. Esta guerra é o resultado de condições de uma época em que o capitalismo atingiu o estágio mais alto em seu desenvolvimento; em que o maior significado se atribui, não apenas à exportação de commodities, mas também à exportação de capital; uma época em que a cartelização da produção e a internacionalização da vida econômica assumiram proporções impressionantes, as políticas coloniais trouxeram a partição quase completa do globo, as forças produtivas do capitalismo mundial superaram as fronteiras limitadas das divisões nacionais e estaduais, e as condições objetivas estão perfeitamente maduras para que o socialismo seja alcançado." 11

 

O teórico marxista, Yevgeni Preobrazhensky – um antigo bolchevique e líder da Oposição de Esquerda de Trotsky contra o stalinismo na década de 1920 – apontou para as contradições permanentes entre as forças produtivas e as limitações impostas pelo capitalismo monopolista:

 

"As forças produtivas do capitalismo atingiram tal nível de desenvolvimento, e a concentração de produção avançou até agora, que qualquer desenvolvimento adicional das forças produtivas encontra uma barreira intransponível na estrutura monopolista." 12

 

É nesse contexto que os monopólios estão lutando para neutralizar a tendência de queda da taxa de lucro. Há, é claro, muitos instrumentos que o capital monopolista tenta usar para obter vantagens para aumentar seus lucros. Alguns exemplos são: a formação de trusts (fusão de várias empresas de modo a formar um monopólio), exportação de capital, manipulação de preços, tarifas, direitos de propriedade de patentes, suborno de políticos e aparato estatal em geral, suborno da burocracia dos dirigentes trabalhistas, etc. O que essas várias medidas têm em comum é o propósito de permitir que o capital monopolista obtenha um lucro extra, ou seja, um lucro acima da taxa média de lucro. Como Lênin disse "... monopólio rende super-lucros, ou seja, um excedente de lucros acima dos lucros capitalistas que são normais e habituais em todo o mundo" 13

 

Tudo isso leva a uma importante modificação da lei de valor, uma vez que a monopolização cria inúmeras barreiras para o fluxo de capital sem obstáculos entre os diferentes ramos e, portanto, para o processo de equalização da taxa de lucro. Por exemplo, se os monopólios controlam um determinado setor industrial, eles podem dificultar o fluxo de capitais concorrentes. Ou um determinado ramo industrial ou comercial está mais ou menos dividido em um setor monopolista e um setor não monopolista onde o capital do setor posterior dificilmente pode se mover para o setor monopolista.

 

Evgenij Preobrazenskij chamou a atenção para essa modificação da lei de valor em uma de suas principais obras.

 

"A limitação da livre concorrência leva também a uma limitação dos efeitos da lei de valor ... Quando há trustificação consórcios... os preços sistematicamente desviam-se do valor ... A equalização da taxa de lucro entre os ramos de produção em trusts torna-se quase impossível; eles são transformados em mundos fechados, em reinos feudais de organizações capitalistas." 14

 

Isso não significa que a monopolização remova a operabilidade da lei do valor. O controle de um determinado setor por alguns monopólios permite que eles imponham um preço monopolista que se desvie fortemente do valor e, portanto, eles possam obter uma taxa de lucro monopolista que está acima da taxa média de lucro neste setor. Como resultado, outras partes não monopolistas do capital recebem apenas uma taxa de lucro que está abaixo da taxa média de lucro. No total, é claro, a soma dos preços não pode desviar-se da soma dos valores. Se a diferença entre o preço do monopólio e o valor se tornar muito grande, de uma forma ou de outra, o controle dos monopólios será desafiado pelos outros capitalistas ou uma crise e falências impõem um ajuste acentuado dos preços do monopólio ao valor. 15

 

 

 

O crescente poder dos monopólios na economia mundial

 

 

 

Em seus livros sobre imperialismo, escritos em 1915 e 1916, tanto Bukharin quanto Lênin apontaram o papel extremamente dominante dos monopólios na vida econômica. Desde então, essa dominância aumentou ainda mais. Particularmente no período da Globalização, esse papel crescente dos monopólios tem se intensificado à medida que internacionalizam sua produção e dominam cada vez mais o mercado mundial. É por isso que podemos definir a Globalização como Monopolização + Internacionalização.

 

Essa internacionalização tem em sua base o enorme aumento da exportação de capital pelos monopólios. A Figura 1 mostra o enorme aumento do Investimento Estrangeiro Direto Global-IDE em relação à produção anual medida como PIB.

 

 

 

Figura 1 (ver arquivo PDF): Fluxos globais do IDE para o PIB (em %) 16

 

 

 

 

 

Um relatório das Nações Unidas sobre o poder das corporações transnacionais no início da década de 1970 disse que eles controlavam direta ou indiretamente "entre 75 e 90% dos recursos minerais e metálicos, 30 a 40% das matérias-primas agrícolas e cerca de 40% das exportações de alimentos originárias dos países em desenvolvimento". 17

 

O principal jornal do capitalismo britânico, "The Economist", escreveu no início da década de 1990 que as 100 maiores empresas controlam 16% e as 300 melhores em cerca de um quarto do índice de ativos produtivos estimados em US$ 20 trilhões do mundo. Também informou que "possivelmente até um terço de todo o comércio" ocorre dentro das Corporações Transnacionais (TNCs). 18

 

As 600 maiores corporações com vendas anuais acima de US$ 1 bilhão foram reportadas como responsáveis por mais de um quinto do valor agregado mundial em manufatura e agricultura. Direta e indiretamente, as corporações multinacionais foram consideradas responsáveis por 5% da força de trabalho global e, ao mesmo tempo, controlam mais de 33% dos ativos globais. (19) Até mesmo uma matéria do porta-voz capitalista como the Economist tem que reconhecer: "O investimento estrangeiro direto já reduziu a liberdade dos governos para determinar sua própria política econômica." 20

 

Um estudo de um economista alemão relata: "Embora o comércio global e as atividades globais de capital não sejam novidade, o ritmo do movimento de capital, bem como a forma e concentração de capital mudaram. A liberalização dos movimentos de capital é uma das características do capitalismo global e as TNCs estão agora perdendo grande parte de suas funções tradicionais internas e substituindo-as por terceirização. Eles estão construindo redes de pequenas e médias empresas dependentes e estão fornecendo aos mercados globais. Por exemplo, a empresa de calçados esportivos Nike emprega apenas 9.000 trabalhadores principais, mas há 75.000 trabalhadores na cadeia de subcontratados que fornecem para a Nike. Algumas TNCs chegaram ao ponto de vender seu nome apenas enquanto deixam a fabricação para outros. Exemplos são Kodac, Olivetti, Siemens e General Motors. As TNCs controlam cerca de 70% de todo o comércio mundial e mais de um quarto da atividade econômica mundial ocorre dentro das 200 maiores corporações." 21

 

Os monopólios são os maiores capitalistas, concentrando uma enorme quantidade de capital acumulado, e com isso eles podem controlar a economia, apesar de empregar apenas uma parcela relativamente pequena dos trabalhadores. De acordo com outro relatório em meados da década de 1990, as empresas multinacionais representam o emprego direto de cerca de 65 milhões de pessoas ou 3% da força de trabalho global. 22

 

Em um livro publicado em 2008, o conselheiro da ONU Jean Ziegler forneceu números que mostram que as 500 maiores corporações multinacionais controlam 53% do Produto Interno Bruto mundial, apesar de empregar apenas diretamente 1,8% da força de trabalho mundial. 23

 

Éric Toussaint produziu uma lista impressionante que mostra o domínio dos monopólios. De acordo com esta lista, três corporações multinacionais controlam 53% das peças de vidro, seis corporações controlam 85% da produção global de pneus, sete corporações controlam 90% da produção de equipamentos médicos, duas corporações controlam 80% da produção de café instantâneo, cinco corporações controlam 77% da produção de grãos, três corporações controlam 80% da produção de banana, quatro corporações controlam 87% da produção de tabaco , dez corporações controlam 76% da produção de automóveis, quatro corporações respondem por 70% das vendas globais de equipamentos relacionados e telecomunicações, duas corporações respondem por mais de 95% da produção global de aeronáutica civil e uma corporação controla 60% do mercado de microprocessadores. 24

 

Esses números foram ainda mais sublinhados pelas descobertas muito recentes de três teóricos dos sistemas no Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Zurique. No final de 2011, eles publicaram um estudo amplamente divulgado no qual pegaram um banco de dados listando 37 milhões de empresas e investidores em todo o mundo e analisaram todas as 43.060 corporações transnacionais e as participações que as ligavam. Eles construíram um modelo de quem é dono do que e quais são suas receitas e mapearam todo o edifício desse poder econômico. A revista dos EUA Forbes que trata de negócios informou que chegaram à conclusão de que apenas 147 corporações controlavam 40% da economia global:

 

"Eles descobriram que o controle corporativo global tem uma forma de gravata borboleta, com um núcleo dominante de 147 empresas irradiando do meio. Cada um desses 147 próprios intertravamentos um do outro e juntos controlam 40% da riqueza da rede. Um total de 737 empresas controlam 80% de tudo." 25

 

O estudo também revelou o amplo domínio do setor financeiro entre os principais monopólios. Das 50 maiores corporações, apenas 5 não têm sua base no setor financeiro! Isso confirma a conclusão do economista marxista Rudolf Hilferding há mais de cem anos que Lênin captou: que os monopólios têm o caráter de capital financeiro, que é uma fusão do capital bancário e industrial do qual o primeiro desempenha um papel dominante.

 

Finalmente, o estudo também revelou o domínio ainda existente do capital monopolista dos antigos países imperialistas. Quase metade das 50 maiores corporações vem, apesar do declínio, mas ainda liderando, da potência imperialista os EUA. Embora o resto venha quase todos de países da União Europeia e do Japão, também é interessante notar que há um capitalista monopolista chinês, refletindo o status transformado do país como uma potência imperialista emergente. (ver Tabela 1)

 

 

 

Tabela 1 (ver arquivo PDF): Composição nacional dos 50 maiores detentores de controle Acionistas 26

 

 

 
   


Table 1: National composition of Top 50 control-holders Shareholders

USA UK France Japan Germany Swiss Netherland China Canada Italy

 

 

 
   


     

 

 

Finalmente, queremos apresentar os resultados de um recente Relatório Mundial de Investimento Por parte da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (doravante nesse livro denominada em inglês como UNCTAD). Neste relatório, a UNCTAD diz que o conjunto das Corporações Transnacionais-(Transnational Corporations-TNCs) produz 1/4 da produção mundial anual. (Veja também Figura 2) De acordo com este relatório, cerca de 40% do "valor agregado" das TNCs é produzido por suas afiliadas estrangeiras:

 

"A UNCTAD estima que as TNCs em todo o mundo, em suas operações no país e no exterior, geraram valor agregado de aproximadamente US$ 16 trilhões em 2010, representando mais de um quarto do PIB global. Em 2010, as afiliadas estrangeiras representaram mais de um décimo do PIB global e um terço das exportações mundiais. A produção internacional pelas TNCs (ou seja, valor agregado por afiliados estrangeiros) representa cerca de 40% do valor total adicionado das TNCs, contra cerca de 35% em 2005." 27

 

 

 

Figura 2 (ver arquivo PDF): Participação das corporações transnacionais do PIB mundial, EM 2010 (Por cento e trilhões de dólares) 28

 

 

 
   

 

 

Como a Figura 3 mostra, as 100 maiores TNCs não financeiras do mundo têm entre 57% e 66% de seus funcionários, ativos e vendas no exterior.

 

 

 

Figura 3 (ver arquivo PDF): Estatísticas de internacionalização das 100 maiores TNCs não financeiros do mundo e de Economias de Desenvolvimento e Transição (Bilhões de dólares, milhares de funcionários e por cento), 2010 29

 

 

 

 

 

A próxima Figura 4 mostra que o capital monopolista na forma das corporações multinacionais desempenha um papel central na economia dos EUA. Em 2006, eles representaram 19,1% do total de empregos no setor privado dos EUA, por 24,9% de toda a produção do setor privado dos EUA, por 31,3% de todo o investimento de capital do setor privado dos EUA, para 48,0% das exportações totais dos EUA e para 75,8% do total de Pesquisa e Desenvolvimento realizado por todas as empresas dos EUA.

 

 

 

Figura 4 (ver arquivo PDF): Relatório de Empresas-Matrizes dos EUA de Empregos, Produção, Investimento de Capital, Exportações e Pesquisa e Desenvolvimento, 2006 30

 

 

 

Assim, podemos resumir que os monopólios poderiam aumentar substancialmente seu domínio sobre a economia mundial. Também podemos ver que a fórmula "Globalização = Monopolização + Internacionalização" não significa uma "Internacionalização" abstrata, mas o crescente controle dos monopólios que têm seu centro nos Estados imperialistas. Além disso, eles estão intimamente ligados a esses Estados imperialistas que lhes dão o peso político e militar necessário para defender seus interesses em todo o mundo.

 

 

 

1 V. I: Lênin: Prefácio ao Panfleto Imperialismo de N. Bukharin e economia mundial (1915); in: LCW Vol. 22, p. 104

 

2 V. I: Lênin: Prefácio para N. Bukharins Panfleto ..., p. 104

 

3 Joseph Choonara (SWP): A relevância da revolução permanente: Uma resposta a Neil Davidson; in: International Socialism Journal, Edição: 131 (2011), http://www.isj.org.uk/index.php4?id=745&issue=131

 

4 John Rees: Imperialismo: globalização, estado e guerra; in: International Socialism Journal, Edição nº 93 (2001), pp. 26-27; http://pubs.socialistreviewindex.org.uk/isj93/rees.htm

 

5 Partido Socialista (CWI): Guerra das Malvinas: que lições para o movimento trabalhista? In: Socialism Today, No 108, abril de 2007, http://www.socialismtoday.org/108/falklands.html (nossa ênfase)

 

6 V. I. Lênin: Imperialismo e a Divisão no Socialismo; in: LCW Vol. 23, p.107 (Ênfase no original)

 

7 Karl Marx: Kapital Band I, MEW 23, pp. 790-791; em Inglês: Capital, Vol. Eu; Capítulo 32

 

8 Karl Marx: Kapital III, MEW 25, p. 229; em inglês: Capital, Vol. III; Capítulo 13

 

9 Karl Marx: Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie, em: MEW 42, p. 641; em inglês: Karl Marx: Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie (Inglês), Chapter Capital as Fructiferous. Transformação do Valor Excedente em Lucro. (ver também Karl Marx: Manuscritos Econômicos de 1861-63. Capital e Lucro. Capítulo 7) Lei Geral da Queda da Taxa de Lucro com o Progresso da Produção Capitalista; in: MECW, Volume 33, pp. 104-145; http://www.marxists.org/archive/marx/works/1861/economic/ch57.htm)

 

10 Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und der Niedergang des Kapitalismus; em: Revolutionärer Marxismus 39, agosto de 2009, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm39/rm39imperialismus.htm; em inglês: Michael Pröbsting: Imperialismo e o Declínio do Capitalismo (2008), em: Richard Brenner, Michael Pröbsting, Keith Spencer: The Credit Crunch - A Marxist Analysis (2008), http://www.fifthinternational.org/content/imperialism-and-decline-capitalism

 

11 V. I. Lenin: A Conferência dos Grupos R.S.D.L.P. no Exterior (1915); em CW 21, p. 159

 

12 Evgenij Preobrazenskij: O Declínio do Capitalismo (1931); Tradução de Richard Day, London 1981, p. 172

 

13 W. I. Lenin: Imperialismo e a Divisão no Socialismo (1916); in: LCW Vol. 23, pp. 114-115

 

14 Evgenij Preobrazenskij: Die Neue Ökonomik (1926); Berlim 1971, p. 195 (nossa tradução para o inglês)

 

15 Um ponto bem feito por Ernest Mandel em seu livro 'Marxistische Wirtschaftstheorie' (1962), Frankfurt a.M. 1968, p. 530

 

16 Michael Roberts: Uma taxa mundial de lucro. Globalização e economia mundial (2012), p. 2, http://thenextrecession.files.wordpress.com/2012/07/roberts_michael-a_world_rate_of_profit.pdf

 

17 Nações Unidas: Rumo à Nova Ordem Econômica Internacional. Relatório Analítico sobre Desenvolvimentos no Campo da Cooperação Econômica Internacional desde a Sexta Sessão Especial da Assembleia Geral, A/5-11,5, Nova York, 1982, paraFigure 40, p. 9

 

18 The Economist: Os monstros favoritos de todos. Pesquisa de Multinacionais, 27.3.1993, p. 4 e 9.

 

19 Ver Stephen Gill: Gramsci, Modernidade e Globalização; Artigo online da International Gramsci Society, janeiro de 2003, http://www.internationalgramscisociety.org/resources/online_articles/articles/gill01.shtml

 

20 Citado em Morris Miller: Onde está a interdependência global nos levando? Por que precisamos de um "Novo (melhorado) Bretton Woods"; De "Tensões Sociais & Conflito Armado: Étnica & Outros Aspectos", Painel: Interdependência global em questões econômicas & financeiras", Pugwash, Nova Escócia, 28 a 31 de julho de 1994 http://www.ncrb.unac.org/unreform/archive/globalization.html

 

21 Herbert Jauch (Labor Resource and Research Institute (LaRRI)): Globalização e Trabalho, Preparado para o Simpósio Regional do Trabalho, Windhoek, 6 de Dezembro de 2005, p. 4

 

22 Morris Miller: Onde está a interdependência global nos levando?: Por que precisamos de um "Novo (melhorado) Bretton Woods"; De "Tensões Sociais & Conflito Armado: Étnica & Outros Aspectos", Painel: Interdependência global em questões econômicas & financeiras", Pugwash, Nova Escócia, 28 a 31 de julho de 1994 http://www.ncrb.unac.org/unreform/archive/globalization.html

 

23 Jean Ziegler: Das Imperium der Schande. Der Kampf gegen Armut und Unterdrückung, München 2008, p. 235

 

24 Éric Toussaint: Seu Dinheiro ou sua Vida. A Tirania das Finanças Globais; Bruxelas 1999, p. 33

 

25 Veja as 147 empresas que controlam tudo, 22.10.2011 http://www.forbes.com/sites/bruceupbin/2011/10/22/the-147-companies-that-control-everything/; S. Vitali, J.B. Glattfelder e S. Battiston: A rede de controle corporativo global (2011), ETH Zurique, http://arxiv.org/pdf/1107.5728v2.pdf

 

26 S. Vitali, J.B. Glattfelder e S. Battiston: A rede de controle corporativo global (2011), ETH Zurique, http://arxiv.org/pdf/1107.5728v2.pdf

 

27 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 24

 

28 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 25

 

29 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 27

 

30 Matthew J. Slaughter: Como as empresas multinacionais dos EUA fortalecem a economia dos EUA (2009), publicada pela Business Roundtable e the United States Council Foundation,

 

 

 

3. O Declínio do Capitalismo desde a década de 1970

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A constante crescente monopolização e o impulso dos monopólios para aumentar seus lucros só podem ser entendidos no contexto da tendência dos capitalismos à estagnação e ao declínio. Na concepção de Lênin do capitalismo na época do imperialismo, há uma tensão constante entre o desenvolvimento das forças produtivas e a tendência ao declínio. Como Lenin disse, o imperialismo é "capitalismo parasita ou decadente."

 

É claro que essa tendência à estagnação e ao declínio não deve ser entendida como um processo gradual e unidirecional. É sim um processo dialético, uma vez que a economia capitalista prossegue nos ciclos econômicos. Além disso, até mesmo a época do imperialismo conhece fases mais longas de ascensão. Mas, em todo e em longo prazo, o capitalismo está em declínio e a taxa média de lucro tende a cair – fato que também se torna evidente se olharmos para o desenvolvimento do capitalismo mundial no último meio século. Uma vez que lidamos com essas questões em outros documentos, apresentaremos apenas algumas estatísticas resumidas para dar aos nossos leitores uma visão geral. 1

 

O economista marxista Guglielmo Carchedi, entre outros, demonstrou em uma série de trabalhos a validade da teoria marxista de que a taxa média de lucro tem a tendência histórica de queda e é a causa básica para o declínio do capitalismo. A Figura 5 mostra o declínio a longo prazo da taxa de lucro no setor produtivo dos EUA.

 

 

 

Figura 5 (ver arquivo PDF): Taxa Média de Lucro (TML) nos Setores Produtivos dos EUA, 1948-2010 2

 

 

 

Uma análise semelhante que mostra que a tendência da taxa de lucro a cair é a profunda causa do declínio do capitalismo, é fornecida por Andrew Kliman, outro economista marxista. (Ver Figura 6)

 

 

 

Figura 6 : Taxa de Lucro das Corporações dos EUA, 1947-2009 3

 

 

 

 

 

Na próxima Figura 7, que tiramos de outra obra de Carchedi, podemos ver o aumento da composição orgânica do capital, ou seja, a participação do capital variável (mão-de-obra) – que é a única fonte de novo valor excedente – do capital total está historicamente em declínio enquanto a participação do capital constante (máquinas, matérias-primas, infraestrutura etc.) – que não cria nenhum novo valor – do capital total está historicamente subindo. Esta é a principal razão para a tendência da taxa média de lucro cair.

 

 

 

Figura 7 : Taxa Média de Lucro (ARP) e Composição Orgânica (C/V) nos Setores Produtivos dos EUA, 1948-2009 4

 

 

 

Andrew Kliman também enfatiza em seu recente livro The Failure Of Capitalist Production (O fracasso da produção capitalista) que o declínio da taxa de lucro nos EUA desde a Segunda Guerra Mundial deveu-se principalmente à crescente composição orgânica do capital: "Quase todo o declínio da taxa de lucro durante o período de 60 anos, 89%, pode, portanto, ser atribuído ao aumento na composição de valor do capital" 5

 

Como resultado, podemos ver a dinâmica em declínio da economia mundial capitalista e o aguçamento de suas contradições em vários níveis. Se pegarmos o indicador mais amplo e mais utilizado pelos economistas burgueses – o Produto Interno Bruto (PIB) – já podemos ver a dinâmica mundial em declínio (apesar das muitas imprecisões dessa categoria burguesa que inclui não só a produção, mas também o setor parasitário ou não produtivo da economia). Na Tabela 2 podemos ver a dinâmica de declínio do PIB, de uma média anual de +3,8% na década de 1970 para +3,2% (anos 1980), +2,6% (década de 1990) para +2,48% (2000).

 

 

 

Tabela 2: Taxa de Crescimento do Produto Interno Bruto Mundial 1971-2010 (em % a.a.) 6

 

 

 

 

 

Essa tendência torna-se ainda mais óbvia se olharmos para o setor industrial, que é um indicador melhor porque é o núcleo da produção de valor capitalista. Como mostra a Tabela 3, o crescimento industrial diminuiu nos centros imperialistas de uma vantagem de 5-13% na década de 1960 para o declínio industrial nos anos 2000.

 

 

 

Tabela 3: Taxa de Crescimento da Produção Industrial nos EUA, Japão e UE-15, 1961-2010 (em % a.a.) 7

 

 

 

 

 

A base para esse declínio é o aumento do excesso de acumulação estrutural de capital e a tendência relacionada à queda da taxa de lucro. É cada vez mais difícil para os capitalistas investir seu capital de forma lucrativa para que eles movam cada vez mais de seu capital para a esfera da especulação etc. Como resultado, a taxa de acumulação de capital produtivo está cada vez mais desacelerando. Isso pode ser visto na Tabela 4, que mostra a taxa de crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo nas metrópoles imperialistas para os anos de 1961 a 2010. Enquanto a taxa de crescimento do acúmulo de capital nos EUA, o Japão e a UE-15 estavam entre 5% e 15% na década de 1960, diminuiu para 2% e 5% nas décadas seguintes. Nos anos 2000 houve estagnação total ou mesmo declínio (entre +0,3% e -1,9%).

 

 

 

Tabela 4: Taxa de Crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo nos EUA, Japão e UE-15, 1961-2010 (em % a.a.) 8

 

 

 

 

 

Esse excesso de acúmulo de capital e a diminuição das taxas de lucro resultam em uma proporção crescente da capacidade produtiva industrial que não é utilizada. Isso pode ser visto na Figura 8, que mostra o slide de longo prazo na utilização da capacidade na manufatura na maior economia capitalista, os EUA.

 

 

 

Figura 8 : Utilização da capacidade de fabricação nos EUA (em %) 9

 

 

 

 

 

Em comparação com as antigas metrópoles imperialistas, os países capitalistamente atrasados do Sul têm uma taxa relativamente maior de acumulação de capital, como mostra a visão geral da Tabela 5. Trata-se de uma expressão da menor composição orgânica do capital e da maior taxa média de lucros nesses países (e, consequentemente, do impulso dos monopólios para exportar capital para eles).

 

 

 

Tabela 5: Acumulação de Capital: Taxas de Crescimento do índice de Capital Fixo, 1960-2000 (em %) 10

 

 

 

 

 

Explicamos que o imperialismo é o capitalismo parasitário, algo que é contestado pela tradição de Tony Cliffite do SWP/IST. Assim, o falecido líder do SWP/IST Chris Harman criticou a teoria do imperialismo de Lênin com os seguintes argumentos:

 

"Lênin foi contundente sobre a tendência na política de Hilferding, descrevendo-o como um 'ex-marxista'. Mas ele assumiu o termo capital financeiro e coloca-o no centro de sua própria teoria. Ao fazê-lo, ele deixou seu próprio trabalho aberto a interpretações ambíguas. Sua intenção era insistir que a tendência ao monopólio significava que as capitais centrais de cada país eram levadas a políticas imperialistas de divisão e redivisão do mundo. Por essa razão, ele criticou uma das definições de Hilferding de "capital financeiro" como "capital controlado pelos bancos e empregado por industriais" como "incompleta":

 

É silencioso sobre um fato extremamente importante: o aumento da concentração de produção e de capital a tal ponto que a concentração leva, e levou, ao monopólio... A concentração de produção; os monopólios decorrentes de; a fusão ou coalescência dos bancos com a indústria – tal é a história da ascensão do capital financeiro e tal é o conteúdo deste termo.

 

Mas a fraseologia de certas outras partes do panfleto permitiu que as pessoas o interpretassem como dizendo, em vez de Hobson e Kautsky, que os interesses financeiros e os bancos eram os principais responsáveis pelo imperialismo. Isso foi especialmente quando, baseando-se em Hobson, ele insistiu no caráter "parasita" do capital financeiro, escrevendo sobre "o extraordinário crescimento de uma classe, ou melhor, de um estrato social de rentistas, ou seja, pessoas que vivem por "cupons de recorte", que não participam de qualquer empreendimento qualquer que seja, cuja profissão é ociosidade. A exportação de capital, uma das bases econômicas mais essenciais do imperialismo, isola ainda mais completamente os locatários da produção, e estabelece o selo do parasitismo em todo o país que vive explorando o trabalho de vários países e colônias no exterior. Esse estresse sobre o "parasitismo" do capital financeiro permitiu que algumas pessoas que supostamente se basearam em seu trabalho alegassem nas décadas após sua morte que era possível formar alianças anti-imperialistas com seções do capital industrial contra o capital financeiro – ou seja, recuar precisamente na política kautsky que Lênin atacou tão amargamente.

 

Também parecia fazer com que toda a teoria do imperialismo dependesse do papel fundamental dos bancos na exportação de capital financeiro. Mas isso não se encaixava com o quadro mesmo quando Lênin estava escrevendo, muito menos nas décadas seguintes. A exportação de finanças – e dos locatários – foi uma característica central do capitalismo britânico nas duas décadas anteriores à escrita de Hobson. Mas a Grã-Bretanha já não "mostrou o futuro" para outros países capitalistas, como na época de Marx. Seus novos concorrentes, como a Alemanha e os EUA, saltaram sobre a Grã-Bretanha quando se tratava da concentração e monopolização da indústria. No caso alemão foram as combinações industriais, especialmente as da indústria pesada, que buscaram expandir-se para além das fronteiras nacionais pelo estabelecimento de colônias e esferas de influência. Além disso, o traço característico das economias dos EUA e da Rússia neste período não foi a exportação de capital, mas a entrada de fundos de outros países capitalistas (embora aqui houve alguma re-exportação de capital). Em uma leitura rigorosa do Imperialismo de Lênin estes parecem não ser estados imperialistas na época da Primeira Guerra Mundial, embora ambos tivessem se juntado ao particionamento do resto do mundo no último quarto de século.

 

Esse foco nos financiadores é ainda mais problemático quando chegamos ao quarto de século depois que Lênin escreveu. A Grã-Bretanha começou a seguir o caminho alemão com a formação de seus próprios grandes quase monopólios industriais (ICI, Unilever, etc.), enquanto era a indústria pesada que desempenhava o papel fundamental na mudança da divisão da Europa nos interesses da Alemanha na década de 1930. E, como Tony Cliff apontou, o imperialismo japonês seguiu uma política de industrialização de partes de suas colônias taiwanesas, coreanas e manchúrias como uma extensão de sua própria economia. No geral Cliff observou: "Enquanto nos anos de 1860 a 1914 a quantidade de capital investido no exterior pelos países capitalistas avançados cresceu quase ininterruptamente, a partir de 1914, quando o imperialismo atingiu a maturidade, a quantidade de capital investido no exterior nunca subiu acima do nível de L914 e até declinou abaixo dela."

 

Além disso, longe das potências imperialistas se tornarem parasitas desindustrializados vivendo em uma extensão cada vez maior das rendas obtidas da produção em outros lugares do mundo, eles experimentaram a expansão de novas indústrias nos anos entre as guerras, o que aumentou a distância entre eles e a maior parte do mundo. No entanto, eles também permaneceram com a intenção de expansão imperialista, com a Grã-Bretanha e a França agarrando a maior parte do Oriente Médio e as antigas colônias alemãs, o Japão expandindo-se para a China, e a Alemanha, então, começando a esculpir um novo império na Europa.

 

Lênin, apoiando-se excessivamente na interpretação de Hobson sobre a Grã-Bretanha antes de 1900, prejudica seu próprio argumento." 11

 

É difícil evitar o riso sobre tal afirmação. Lênin em 1916 foi capaz de ver a tendência dos monopólios de mover seu capital da produção para a esfera especulativa – e ele sempre ressaltou que essa é uma tendência (pois é uma tendência que a taxa de lucro caia, o que não significa para qualquer marxista razoável que a taxa de lucro caia permanentemente). No entanto, embora Lênin pudesse reconhecer isso em 1916, os Cliffitistas não são capazes de ver este fato muito óbvio mesmo no ano de 2003!

 

É exatamente por causa das dificuldades crescentes para a realização de taxas de lucro suficientes no setor produtivo que o capital está cada vez mais se movendo para o setor improdutivo e especulativo. Na Figura 9 podemos ver essa tendência na economia dos EUA. Houve uma grande mudança – especialmente desde a década de 1980 – para uma mudança na economia da produção para as finanças especulativas. Este setor especulativo é frequentemente chamado de FIRE (abreviação do inglês para finanças=finanças, insurance= seguros e real estate= imóveis). De acordo com dados oficiais do BEA para a economia dos EUA, este setor denominado FIRE puramente especulativo foi responsável por 21,1% - ou seja, mais de um quinto - do PIB em 2010. 12

 

Carchedi mostrou em um artigo de trabalho recentemente publicado o aumento em larga escala dos lucros financeiros como uma porcentagem dos lucros totais nos EUA desde a década de 1950. (Ver Figura 9)

 

 

 

Figura 9 : Lucros Financeiros como Porcentagem dos Lucros Totais, Corporações dos EUA (em %) 13

 

 

 

 

 

Se compararmos o peso desse setor especulativo do FIRE com o setor de produção de bens, pode-se ver que a parcela FIRE da renda nacional expandiu de 35% da participação de bens-produção no início da década de 1980 para mais de 65% nos últimos anos. (Ver Figura 10) Os economistas marxistas John Bellamy Foster e Robert W. McChesney, da revista norte-americana Monthly Review, observaram corretamente: "Os chamados booms econômicos dos anos 80 e 90 foram impulsionados pelo rápido crescimento da especulação financeira alavancada pelo aumento da dívida, principalmente no setor privado." 14

 

 

 

Figura 10: Participação do PIB Indo para o FIRE (Finanças, Seguros e Imóveis) como Porcentagem da Participação das Indústrias Produtoras de Bens Totais nos EUA (em %) 15

 

 

 

 

 

A figura 11 a seguir mostra outro aspecto do caráter parasitário do imperialismo americano. Enquanto os EUA obtiveram enormes lucros com sua exportação de capital para o exterior (ver a "renda dos ativos mantidos no exterior" para os anos de 1946-2008), tornou-se cada vez mais um importador líquido de commodities como mostra o crescente déficit em feiras de mercadorias no mesmo Valor. Em outras palavras, o capital dos EUA investe cada vez menos em investimento produtivo em casa (veja para isso também a Tabela 4 sobre a taxa de crescimento em declínio da formação de capital). Ao mesmo tempo, investe mais capital em outros países onde espera uma taxa de lucro maior. Como resultado, tem de cobrir a necessidade da economia de commodities por um déficit comercial permanente, uma vez que suas próprias capacidades produtivas não podem satisfazer essas necessidades.

 

 

 

Figura 11 : Balanço de Pagamentos dos EUA, 1946-2008 (em Bilhões de Dólares) 16

 

 

 

Nesse contexto de declínio e capitalismo cada vez mais parasitário, os monopólios estão aumentando a exploração da classe trabalhadora e a super-exploração dos países semicoloniais e ao mesmo tempo estão aguçando a rivalidade uns contra os outros.

 

 

 

1 Veja, por exemplo, Michael Pröbsting: Antes de uma nova retomada econômica? Teses sobre o conceito marxista de ciclo, a relação entre o ciclo atual e o período da globalização e as perspectivas e contradições do desenvolvimento futuro da economia mundial (2010), em: Revolutionär Marxismus 41, fevereiro 2010, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm41/wirtschaftsaufschwung.htm; Michael Pröbsting: Economia mundial – rumo a uma nova ascensão? (2009), em: Quinto Vol Internacional 3, Nº 3, http://www.fifthinternational.org/content/world-economy-%E2%80%93-heading-new-upswing; Michael Pröbsting: Michael Pröbsting: Imperialismo, Globalização e o Declínio do Capitalismo (2009), em: Marxismo Revolucionário 39, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm39/rm39imperialismus.htm; Michael Pröbsting: Imperialismo e o Declínio do Capitalismo (2008), http://www.fifthinternational.org/content/imperialism-and-decline-capitalism

 

2 Guglielmo Carchedi: As políticas keynesianas poderiam acabar com a Queda. Uma Introdução ao Multiplicador Marxista, 6 de julho de 2012, http://marx2010.weebly.com/could-keynesian-policies-end-the-slump-an-introduction-to-the-marxist-multiplier.html

 

3 Andrew Kliman: A Crisis of Capitalism (não neoliberalismo, "capitalismo financializado", ou baixos salários), 2010, p. 4. Também nos referiremos aqui aos estudos atenciosos de Michael Roberts sobre a taxa de lucro como seu livro "A Grande Recessão". Ciclos de lucro, crise econômica. Uma visão marxista" (2009), bem como vários artigos como "A taxa dos EUA do lucro – o mais recente" (2012), http://thenextrecession.wordpress.com/2012/11/25/the-us-rate-of-the-profit-the-latest ou "A taxa de lucro é fundamental" (2012), http://thenextrecession.wordpress.com/2012/07/26/the-rate-of-profit-is-key e muitos outros em seu blog http://thenextrecession.wordpress.com.

 

4 Guglielmo Carchedi: Por trás da crise, papel apresentado no Marxismo 2011, Londres, 2 de julho de 2011, p. 9, http://marx2010.weebly.com/behind-the-crisis1.html

 

5 Andrew Kliman: O Fracasso da Produção Capitalista. Causas Subjacentes da Grande Recessão, Londres 2011, p. 130

 

6 Para os anos 1971-2000 ver Banco Mundial: Perspectiva Econômica Global 2002, p.234; para 2001-2010 ver Nações Unidas: Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2008, pp. 1-2 bem como nós World Economic Situation and Prospects 2011, p. 5. Os números entre os anos de 1971-2000 baseiam-se nos cálculos do PIB do Banco Mundial a preços e taxas de câmbio constantes de 1995. Os números de 2001-2010 são baseados nos cálculos da ONU sobre o PIB a preços e taxas de câmbio constantes de 2005. A média arritmética de 2,48% para os anos de 2001-2010 (+1,6%, +1,9%, +2,7%, +4,0%, +3,5%, +4,0%, +3,9%, +1,6%, -2,0% e +3,6%)

 

7 Comissão Europeia: Anexo Estatístico da Economia Europeia, Primavera de 2012, p. 53. Como não há números para a UE-15 para os anos 1961-70 e 1971-80 nestas estatísticas da UE, utilizamos para estes anos a média aritmética dos números para a Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália.

 

8 Comissão Europeia: Anexo Estatístico da Economia Europeia, Primavera de 2012, p. 69

 

9 John Bellamy Foster e Robert W. McChesney: The Endless Crisis (2012), em: Monthly Review, maio de 2012, http://monthlyreview.org/2012/05/01/the-endless-crisis

 

10 Andrew Glyn: Capitalismo Libertado. Finanças, Globaliszation e Welfare, Nova York 2006, p. 101

 

11 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo (Verão de 2003); in: Socialismo Internacional 2:99, p. 14 http://pubs.socialistreviewindex.org.uk/isj99/harman.htm

 

12 Ron Baiman: Desigual Exchange and the Rentier Economy (2011), Chicago Political Economy Group (CPEG), p. 4

 

13 Guglielmo Carchedi: Da Crise do Valor Excedente à Crise do Euro, 15 de agosto de 2012, p. 4, http://marx2010.weebly.com/from-the-crisis-of-surplus-value-to-the-crisis-of-the-euro.html

 

14 John Bellamy Foster e Robert W. McChesney: The Endless Crisis (2012), em: Monthly Review, maio de 2012, http://monthlyreview.org/2012/05/01/the-endless-crisis

 

15 John Bellamy Foster e Robert W. McChesney: The Endless Crisis (2012), em: Monthly Review, maio de 2012, http://monthlyreview.org/2012/05/01/the-endless-crisis

 

16 Banco Mundial: Horizontes de Desenvolvimento Global 2011. Multipolaridade: A Nova Economia Global, p. 137

 

 

 

Capítulo 4. produção de valor capitalista e a mudança da classe trabalhadora para o Sul

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Dado o tema deste livro, focamos aqui nas consequências das tentativas dos monopólios de combater o declínio de suas taxas de lucro no mundo semicolonial. O impulso do capital monopolista para aumentar a super-exploração do mundo semicolonial levou a uma mudança em larga escala da produção e, consequentemente, da classe trabalhadora ao Sul do globo. Como resultado, a produção de valores capitalistas veio cada vez mais do Sul. Já apontamos esse desenvolvimento em nosso livro em língua alemã sobre a Revolução Árabe ("Die halbe Revolution. Lehren und Perspektiven des arabischen Aufstandes") e queremos elaborar mais sobre esta questão aqui. 1

 

Como podemos ver nas várias Tabelas e Figuras abaixo, temos testemunhado um longo processo de industrialização do Sul na época do imperialismo. De acordo com um estudo do economista soviético S.L. Wygodski, em 1938 os países imperialistas tinham uma participação de 91,7% na manufatura mundial e os países semicoloniais produziam 8,3%. (2) Como a Tabela 6 mostra essa participação dos países semicoloniais cresceu para 15,4% em 1979.

 

 

 

Tabela 6: Participação dos Países Imperialistas e Semicoloniais na Produção Industrial Mundial 1948-1979 3

 

1948                    1971                    1979

 

Países capitalistas desenvolvidos                         89%                     86%                     4.6%

 

Páises em desenvolvimento                                   11%                     14%                     5.4%

 

 

 

Nas últimas três décadas, esse processo de industrialização do mundo semicolonial acelerou ainda mais. A participação do Sul na produção industrial mundial cresceu - como mostram a Tabela 7 e a Figura 12 - de 19,2% em 1985 para 35,8% em 2010.

 

 

 

Tabela 7: Manufaturas por Região, 1985, 1990, 2000 e 2010 (em %) 4

 

 

 

 

 

World= mundo ; developed countries= países desenvolvidos

 

Developing countries= países em desenvolvimento

 

Eastern Europe and URSS= Leste Europeu e ex-Repúblicas Soviéticas

 

Eastern Europe and URSS= Leste Europeu e ex-Repúblicas Soviéticas (sem a Rússia)

 

East Asia= Leste da Ásia

 

East Asia ( without China)= Leste da Ásia ( sem a China)

 

South Asia= Sul d Ásia

 

América Latina

 

África Sub-Sahariana

 

África Sub-Sahariana ( sem a África do Sul)

 

Oriente Médio e Norte da África

 

 

 

Figura 12 (ver arquivo PDF): Participação das Economias em Desenvolvimento no Valor Agregado e PIB da manufatura mundial, 1990-2010 5

 

 

 

 

 

Essa mudança da produção industrial mundial – o núcleo da produção de valores capitalistas – é o resultado do duplo processo de declínio da indústria e da criação de valor em geral nos antigos países imperialistas e da ascensão da indústria e da criação de valor no mundo semicolonial e da emergente China imperialista. Na Tabela 8 podemos ver que a indústria contabilizou 31,8% do PIB em 1990, mas apenas 24,9% em 2005. Nos chamados países em desenvolvimento, por outro lado, a participação da indústria passou de 35,9% para 37,8%.

 

 

 

Tabela 8 (ver arquivo PDF): Participação da Produção por Setor em Países Desenvolvidos e em Desenvolvimento 1990-2005 (em %) 6

 

Agricultura/ indústria/ serviços

 

 

 

 

 

Temos uma visão mais atenta da participação atual da indústria em diferentes regiões se olharmos para a Tabela 9. Esta tabela mostra que cada região do Sul tem uma parcela maior da indústria em sua economia do que os antigos centros imperialistas, Europa Ocidental, América do Norte e Japão.

 

 

 

Tabela 9: Participação dos Setores Econômicos do PIB em várias Regiões Mundiais 2008 (em %)

 

7

 

 

 

Se olharmos mais de perto para os vários setores de commodities industriais, podemos ver o aumento das economias do Sul também. A Tabela 10 dá uma visão geral sobre 22 categorias diferentes de commodities industriais e mostra a crescente participação do Sul de 1995 a 2009 em quase cada um desses setores. A tabela mostra que em 2009 dessas 22 categorias diferentes o Sul produziu menos de 1/3 da produção mundial em apenas 7. E em 7 categorias de commodities industriais o Sul produziu ainda mais do que a metade da produção mundial.

 

 

 

Tabela 10 (ver arquivo PDF): Participação dos Países em Desenvolvimento e Desenvolvidos do valor global da manufatura adicionado pelo setor da indústria, anos selecionados, 1995-2009 (em %) 8

 

 

 

 

 

Translation bellow :

 

International standard industrial calssification=Classificação industrial padrão internacional

 

Alimentos e bebidas _____________________________________________________

 

Produtos de tabaco ______________________________________________________

 

Têxteis ___________________________________________________________________

 

Vestuários e peles de animais Couro, produtos de couro e calçados__

 

Produtos de madeira (excluindo móveis) _____________________________

 

Papel e produtos de papel _______________________________________________

 

Impressão e publicação___________________________________________________

 

Coque, produtos refinado de petróleo, combustível nuclear___________

 

Químicos em geral e produtos químicos_________________________________

 

Borracha e produtos plásticos____________________________________________

 

produtos minerais não metálicos_________________________________________

 

Metais básicos______________________________________________________________

 

Produtos de metal fabricados _____________________________________________

 

Máquinas e equipamentos _________________________________________________

 

Máquinas de escritório, contabilidade e de computação________________

 

Maquinaria elétrica e aparelhos ___________________________________________

 

Rádio, televisão e equipamento de comunicação ________________________

 

Instrumentos Médicos, de precisão e instrumentos ópticos ____________

 

Veículos motorizados, reboques e semirreboques________________________

 

Outros equipamentos de transporte______________________________________

 

Mobília; manufaturas não classificadas em outros lugares ____________________

 

 

 

Essa mudança para o Sul também se reflete na sua crescente participação nas exportações mundiais de manufatura, como mostra a Figura 13. Entre os anos de 1992 e 2009, a participação dos chamados países em desenvolvimento nas exportações manufatureira dobrou de 20,4% para 39%.

 

 

 

Figura 13 (ver arquivo PDF): Participação mundial dos países desenvolvidos e em desenvolvimento das exportações das manufaturas , 1992-2009 9

 

 

 

Ao mesmo tempo, a participação das exportações manufatureira provenientes dos antigos países imperialistas (os "Países Desenvolvidos") diminuiu em várias regiões do Sul, como mostra a Figura 14.

 

 

 

Figura 14: Mercados de Exportações Manufaturadas por Região, 2005 e 2009 10

 


 

 

 

O processo paralelo à industrialização do Sul é o relativo declínio crescente da produção de valor nas antigas terras imperialistas. Isto é particularmente visível se olharmos para a Grã-Bretanha, o país capitalista mais antigo. Em 1965, tinha 8,8 milhões de trabalhadores na fabricação. Em 1978, isso caiu para 7,3 milhões de trabalhadores industriais, o que representou 32% de todos os empregados. Em meados da década de 1990, isso havia diminuído ainda mais para apenas 3,8 milhões ou 18% da força de trabalho. Ao mesmo tempo, o capital do monopólio britânico empreendeu enormes investimentos no exterior. A partir de uma exportação de capital de £ 26 bilhões (libras), recebeu 36% de seu lucro total em 1990. 11 Em 2005, o lucro líquido do investimento internacional britânico já subiu para £ 29,8 bilhões. 12

 

 

 

Os clássicos marxistas sobre a industrialização do Sul

 

 

 

Esses desenvolvimentos confirmam o prognóstico dos clássicos marxistas que previram que o parasitismo imperialista e o impulso à exportação de capital acelerariam a industrialização do mundo semicolonial. Uma das principais incompreensões da teoria de Lênin é a ideia de que os marxistas negam a possibilidade de industrialização do mundo semicolonial. Apenas alguns anos atrás Chris Harman, que era um dos principais teóricos do SWP/IST, ainda alegou que estava provado que Lênin errou porque a exportação de capital para as colônias supostamente não levou ao seu desenvolvimento industrial:

 

"Mas havia um grande problema com a teoria de Lênin quando se tratava do mundo colonial." Imperialismo: O Estágio Mais Alto do Capitalismo considerou que a exportação de capital para as colônias levaria ao seu desenvolvimento industrial." 13

 

Como mostramos acima com uma série de estatísticas e fatos este argumento do SWP/IST contra a teoria de Lênin não é nada mais do que uma negação bizarra da realidade! É claro que é um fato óbvio que a dominação imperialista dificultou o desenvolvimento de uma indústria nos países oprimidos. Mas a dominação imperialista do mundo colonial não fez e não significa que a industrialização não possa ocorrer no mundo colonial e semicolonial. Muito pelo contrário! A exportação de capital a partir do capital monopolista imperialista leva necessariamente a uma industrialização dos países menos desenvolvidos. E, de fato, isso é o que vimos nas últimas décadas. Na verdade, o próprio Lênin já previu esse desenvolvimento. Em um artigo de 1916 "O Programa Militar da Revolução Proletária" ele apontou que o imperialismo leva a um rápido desenvolvimento das relações de produção capitalistas no mundo colonial e semicolonial:

 

"Uma das principais características do imperialismo é que acelera o desenvolvimento capitalista nos países mais atrasados e, assim, amplia e intensifica a luta contra a opressão nacional. Isso é um fato, e a partir dele inevitavelmente segue que o imperialismo deve muitas vezes dar origem a guerras nacionais." 14

 

E em seu livro clássico sobre imperialismo Lênin observou:

 

"A exportação de capitais influencia e acelera muito o desenvolvimento do capitalismo nos países para os quais é exportado. Embora, portanto, a exportação de capital possa tender até certo ponto a deter o desenvolvimento nos países exportadores de capital, ela só pode fazê-lo expandindo e aprofundando o desenvolvimento do capitalismo em todo o mundo." 15

 

Trotsky que viveu 16 anos a mais do que Lênin pôde ver o desenvolvimento concreto desta industrialização do Sul. Ele observou que os EUA imperialistas e a Grã-Bretanha são forçados a financiar a industrialização dos países coloniais, a fim de obter lucros maiores:

 

"Por outro lado, podemos ver também que a mesma América e a mesma Grã-Bretanha são obrigadas a financiar o desenvolvimento econômico dos países coloniais, levando-os assim ao longo do caminho da revolução a um ritmo frenético." 16

 

Trotsky desenvolveu essa ideia em sua crítica ao programa centrista para o congresso da Internacional Comunista em 1928. O rascunho do programa foi escrito por Bukharin, mas publicado em nome dele e de Stalin:

 

"Ao contrário dos sistemas econômicos que o precederam, o capitalismo visa inerente e constantemente a expansão econômica, a penetração de novos territórios, a superação das diferenças econômicas, a conversão de economias provinciais e nacionais autossuficientes em um sistema de inter-relações financeiras. Assim, provoca sua aproximação e equaliza os níveis econômicos e culturais dos países mais progressistas e mais atrasados. Sem este processo principal, seria impossível conceber o nivelamento relativo, primeiro, da Europa com a Grã-Bretanha, e depois, da América com a Europa; a industrialização das colônias, a diminuição da distância entre a Índia e a Grã-Bretanha, e todas as consequências decorrentes dos processos enumerados sobre os quais se baseia não só no programa da Internacional Comunista, mas também na sua própria existência.

 

Ao aproximar economicamente os países uns dos outros e nivelar seus estágios de desenvolvimento, o capitalismo, no entanto, opera por métodos próprios, ou seja, por métodos anarquistas que constantemente minam seu próprio trabalho, estabelecem um país contra o outro, e um ramo da indústria contra o outro, desenvolvendo algumas partes da economia mundial enquanto dificultam e jogam de volta o desenvolvimento de outros. Apenas a correlação dessas duas tendências fundamentais - ambas decorrentes da natureza do capitalismo - nos explica a textura viva do processo histórico.

 

O imperialismo, graças à universalidade, penetrabilidade e mobilidade e à velocidade de ruptura da formação do capital financeiro como a força motriz do imperialismo, dá vigor a ambas as tendências. O imperialismo liga-se incomparavelmente mais rapidamente e mais profundamente às unidades individuais nacionais e continentais em uma única entidade, trazendo-as para a dependência mais próxima e vital umas das outras e tornando seus métodos econômicos, formas sociais e níveis de desenvolvimento mais idênticos. Ao mesmo tempo, atinge esse "objetivo", por tais métodos antagônicos, tais saltos de tigre, e tais incursões em países e áreas retrógradas que a unificação e nivelamento da economia mundial que ela efetuou, está perturbada por ela ainda mais violenta e convulsivamente do que nas épocas anteriores. Apenas uma compreensão dialética e não puramente mecânica da lei do desenvolvimento desigual pode possibilitar a prevenção do erro fundamental que a minuta do programa, submetida ao Sexto Congresso, não conseguiu evitar." 17

 

Esse processo de exportação e industrialização de capital do Sul financiado pelo capital monopolista demonstra a validade da teoria de Trotsky sobre o desenvolvimento desigual e combinado e a estratégia da revolução permanente. A expansão do capitalismo sob o domínio das potências imperialistas une cada vez mais todos os países em uma única economia mundial e, ao mesmo tempo, aumenta as contradições entre eles, ou seja, entre os países imperialistas e os semicoloniais.

 

No entanto, essa industrialização ocorre de forma muito distorcida, combinando formas muito avançadas de tecnologia com formas atrasadas e pequenas empresas. Marx fez uma observação em Capital Vol. III que antecipou tal desenvolvimento:

 

"As desvantagens do modo de produção capitalista, com sua dependência do produtor sobre o preço monetário de seu produto, coincidem aqui, portanto, com as desvantagens ocasionadas pelo desenvolvimento imperfeito do modo de produção capitalista." 18

 

Como resultado, a produtividade geral do trabalho nos países semicoloniais está consideravelmente por trás do nível das economias imperialistas. É verdade que hoje vários países semicoloniais estão exportando não só commodities agrícolas e de matérias-primas, mas também commodities industriais. Mas eles geralmente são substancialmente mais intensivos em mão-de-obra e têm menos contribuição altamente tecnológica do que as commodities industriais que são exportadas pelos países imperialistas.

 

Trotsky explicou isso usando o exemplo da Grã-Bretanha e da Índia:

 

Se considerarmos a Grã-Bretanha e a Índia como variedades polarizadas do tipo capitalista, então somos obrigados a dizer que o internacionalismo dos proletariados britânico e indiano não se baseia em uma identidade de condições, tarefas e métodos, mas em sua interdependência indivisível . Os sucessos do movimento de libertação na Índia pressupõem um movimento revolucionário na Grã-Bretanha e vice-versa. Nem na Índia, nem na Inglaterra é possível construir uma sociedade socialista independente. Ambos terão que entrar como partes em um todo superior. Sobre isso, e somente sobre isso, repousa o fundamento inabalável do internacionalismo marxista.” 19

 

Ele elabora o seguinte pensamento:

 

"Cada país atrasado integrado ao capitalismo passou por várias etapas de diminuição ou crescente dependência dos outros países capitalistas, mas, em geral, a tendência do desenvolvimento capitalista é para um crescimento colossal dos laços mundiais, que se expressa no crescente volume de comércio exterior, incluindo, é claro, a exportação de capital. A dependência da Grã-Bretanha sobre a Índia naturalmente tem um caráter qualitativamente diferente da dependência da Índia sobre a Grã-Bretanha. Mas essa diferença é determinada, no fundo, pela diferença nos respectivos níveis de desenvolvimento de suas forças produtivas, e não pelo grau de sua autossuficiência econômica. A Índia é uma colônia; Grã-Bretanha, uma metrópole. Mas se a Grã-Bretanha fosse submetida hoje a um bloqueio econômico, pereceria mais cedo do que a Índia sob um bloqueio semelhante. Esta, por sinal, é uma das ilustrações convincentes da realidade da economia mundial.

 

O desenvolvimento capitalista – não nas fórmulas abstratas do segundo volume do Capital, que mantêm toda a sua significância como etapa de análise, mas na realidade histórica – ocorreu e só poderia ocorrer por uma expansão sistemática de sua base. No processo de seu desenvolvimento e, consequentemente, na luta com sua contradição interna, todo capitalismo nacional se volta cada vez mais para as reservas do "mercado externo", ou seja, as reservas da economia mundial. A expansão incontrolável que cresce das crises internas permanentes do capitalismo constitui uma força progressiva até o momento em que se transforma em uma força fatal para o capitalismo." 20

 

No entanto, a enorme industrialização do Sul não levou a uma mitigação do enorme antagonismo entre o capital e o trabalho e entre o imperialismo e o mundo semicolonial. A reprodução do capital sempre significa a reprodução das relações de produção, ou seja, as relações de exploração, como observou o teórico bolchevique Nikolai Bukharin em 1920:

 

"O processo de reprodução não é apenas um processo de reprodução dos elementos materiais da produção, mas um processo de reprodução das próprias relações de produção." 21

 

E, de fato, o que ainda vemos hoje – em essência não diferente dos tempos de Lênin e Trotsky – é uma reprodução das relações de produção capitalista-imperialista. Vemos a reprodução ampliada do mercado mundial dominada pelos monopólios imperialistas em um nível mais elevado com todas as suas consequências para o funcionamento da lei de valor.

 

É notável que Lênin – referindo-se ao crítico liberal do imperialismo John A. Hobson – previu já em 1916 um desenvolvimento como vemos agora. Ele citou a aprovação do cenário de Hobson de um mundo no qual as potências coloniais produzem cada vez menos e vivem cada vez mais do aluguel dos países oprimidos:

 

"A perspectiva da partilha da China suscitou esta apreciação económica de Hobson: «A maior parte da Europa Ocidental poderia então assumir o aspecto e o carácter que agora têm partes destes países, o Sul da Inglaterra, a Riviera, os lugares mais visitados pelos turistas e povoados por ricos da Itália e da Suíça, a saber: pequenos punhados de ricos aristocratas, que recebem dividendos e pensões do Extremo Oriente, com um grupo um pouco maior de empregados profissionais e de comerciantes e com um número maior de servidores domésticos e de operários na indústria de transportes e na indústria de acabamento de produtos manufaturados. Os ramos principais da indústria desapareceriam e os produtos alimentares e produtos semimanufaturados correntes fluiriam como um tributo da Ásia e da África.» «Eis as possibilidades que abre perante nós uma aliança mais ampla dos Estados ocidentais, uma federação europeia de grandes potências: ela não só não faria avançar a causa da civilização mundial como poderia significar o gigantesco perigo de um parasitismo ocidental: formar um grupo de nações industriais avançadas cujas classes superiores recebem um enorme tributo da Ásia e da África, com o qual sustentam grandes massas domadas de empregados e criados, ocupados já não na produção de artigos agrícolas e industriais de grande consumo mas no serviço pessoal ou no trabalho industrial secundário sob o controlo de uma nova aristocracia financeira. Que aqueles que estão prontos a não dar atenção a esta teoria» (deveria dizer-se: perspectiva) «como não merecedora de atenção, pensem nas condições económicas e sociais das regiões atuais do Sul da Inglaterra que já foram conduzidas a esta situação. Que pensem que enorme ampliação desse sistema se tornaria possível se a China fosse submetida ao controlo económico de semelhantes grupos de financeiros, "investidores" (rentistas), dos seus servidores políticos e comerciais-industriais, extraindo lucros do maior reservatório potencial que o mundo já conheceu, com o objetivo de consumir estes lucros na Europa. Evidentemente, a situação é demasiado complexa, o jogo das forças mundiais é demasiado difícil de calcular para tornar muito provável esta ou qualquer outra interpretação do futuro numa só direção. Mas as influências que governam o imperialismo da Europa Ocidental hoje em dia avançam nesta direção e, se não encontrarem resistência, se não forem desviadas para outro lado, avançarão precisamente na direção desta culminação do processo.”

 

O social-liberal Hobson não vê que só o proletariado revolucionário pode opor essa «resistência» e só sob a forma da revolução social. Por alguma coisa ele é social-liberal! Mas já em 1902 abordou magnificamente a questão tanto do significado dos «Estados Unidos da Europa» (para que saiba o kautskiano Trótski!) como de tudo aquilo que os kautskianos hipócritas tentam dissimular a saber: que os oportunistas (sociais-chauvinistas) trabalham juntamente com a burguesia imperialista precisamente na direção da criação de uma Europa imperialista aos ombros da Ásia e da África, que os oportunistas representam objetivamente uma parte da pequena burguesia e de algumas camadas da classe operária, parte subornada à custa dos superlucros imperialistas e transformada em cães de guarda do capitalismo, em corruptores do movimento operário." 22

 

O fato de que hoje uma parcela substancialmente maior do valor capitalista global é criada no Sul não atenua as contradições entre os estados imperialistas e semicoloniais. Muito pelo contrário, esse desenvolvimento aguça essas contradições. Os monopólios imperialistas e seus estados ainda são mais fortes e mais poderosos do que as semicolônias. Mas sua base para o poder global é minada pela mudança da produção de valor para o Sul. Por isso, devem intervir de forma cada vez mais intensificada e aberta para continuar a apropriação de uma parte desse valor do Sul. Na verdade, isso constitui uma importante razão para a chamada "Guerra ao Terror" pelos EUA e outras potências imperialistas.

 

 

 

Valor e Preço no Mercado Mundial: A grande distorção da criação de valor no Sul

 

 

 

Mostramos a enorme mudança do Norte para o Sul no PIB e na produção industrial. Veremos abaixo que a mudança no nível dos trabalhadores – ou seja, os produtores de riqueza – é ainda mais forte. No entanto, esses números ainda subestimam massivamente a mudança real que ocorreu. Na realidade, a criação de valor real no Sul é muito maior do que os números oficiais sugerem e a criação de valor real no Norte é muito menor do que os números oficiais sugerem. Como o economista marxista John Smith mostrou, há principalmente três razões para isso. 23 Primeiro, o PIB é uma figura que confunde valores reais e fictícios. Produção industrial e publicidade, mercado de ações, especulações financeiras, forças produtivas e forças destrutivas – tudo isso é somado. Obviamente, o mercado financeiro não produz nenhum valor, mas, no entanto, ajuda a explodir o PIB oficial. Uma vez que o mercado financeiro é baseado principalmente nos países imperialistas ricos, são principalmente os números do PIB do Norte que são artificialmente inflados e, portanto, reduzem a participação do Sul no PIB mundial nas estatísticas oficiais.

 

Em segundo lugar, como veremos abaixo, há uma fraude massiva contida nos números do PIB, uma vez que uma parcela substancial do valor criado no Sul é apropriada no Norte através do preço de mercado no qual a mercadoria é vendida no Norte. Portanto, uma parcela substancial do valor criado no Sul aparece nos números oficiais do PIB criados no Norte. Para dar apenas alguns exemplos para explicar a ideia. Camisas de grife produzidas no Sudeste Asiático são vendidas na Europa por 5 a 10 vezes o preço de importação. Outro exemplo: Menos de 2% do valor total das camisas produzidas em Bangladesh são recebidos pelos produtores diretos como salários. O lucro das empresas locais equivale a cerca de 1% do valor total.

 

O trabalho de vender as camisetas no Norte dificilmente é a criação de valor (é um trabalho improdutivo, embora necessário). No entanto, os custos para o varejo, publicidade etc. no Norte são muito maiores do que os salários e o lucro do produtor local no Sul. O valor criado no Sul, portanto, não se expressa nos preços de mercado no Sul, mas nos preços de mercado no Norte. Desta forma, vemos novamente como o PIB oficial do Norte é inflado aos custos do PIB oficial no Sul.

 

Em terceiro lugar, temos a massiva super-exploração dos trabalhadores do Sul e a apropriação de lucros extras pelos capitalistas monopolistas no Norte. Mais uma vez, esses lucros são frequentemente contados como parte do PIB do Norte, mas na realidade são produzidos pelos trabalhadores do Sul.

 

 

 

A crescente importância do proletariado no Sul e nos países imperialistas emergentes

 

 

 

Nas últimas décadas, testemunhamos um crescimento massivo da força de trabalho global. O economista trabalhista Richard Freeman estima que, na última década, a oferta global de mão-de-obra efetiva quase dobrou, de 1,46 para 2,93 bilhões. 24 Combinado com isso, testemunhamos um enorme crescimento da classe trabalhadora. Como podemos ver na Tabela 11, hoje quase metade da força de trabalho global – mais precisamente, 46,9% – são assalariados. 25 Em 1996, a participação era de 43,1%.

 

Como mostrado nesta tabela, é notável que (exceto os antigos países estalinistas e a América Latina) vemos em todas as regiões dos chamados países em desenvolvimento um aumento da parcela de trabalhadores assalariado entre a força de trabalho. Esse aumento é maior do que o dos chamados países desenvolvidos. Nos "países desenvolvidos" vemos um aumento de 82,4% em 1996 para 84,3% em 2008. Na Europa Oriental & ex-URSS houve queda de 77,1% para 76,6% no mesmo período. No leste da Ásia, houve um aumento maciço de 32,4% para 42,6%. No Sudeste Asiático também há um aumento substancial de 33,0% para 38,8%. No Sul da Ásia, voltou a subir de 17,1% para 20,8%; na América Latina, queda de 64,4% para 62,7%; no norte da África, um aumento de 54,4% para 58,3%, no Oriente Médio um aumento de 58,5% para 61,5% e na África Subsaariana um aumento de 20,6% para 22,9%.

 

 

 

Tabela 11: Trabalhador assalariado como Parte de todos os Empregados por Regiões, 1996 e 2008 (em %) 26

 

 

 

 

 

Na Tabela 12 vemos que a integração das mulheres no processo trabalhista como trabalhadores assalariadas também aumentou massivamente, embora haja, naturalmente, diferenças regionais devido aos diferentes estágios do desenvolvimento capitalista marcados.

 

 

 

Tabela 12: Trabalhadora assalariada feminina como Parte de todas as mulheres empregadas por regiões, 2008 (em %) 27

 

 

 

 

 

A figura 15 a seguir dá uma visão geral da distribuição da força de trabalho global por regiões. Demonstra não apenas o crescimento absoluto da força de trabalho, mas também o aumento do peso dos chamados países em desenvolvimento. Os leitores devem ter em mente que a última coluna sobre o ano de 2025 é, naturalmente, apenas uma projeção.

 

 

 

Figura 15 (ver arquivo PDF): Distribuição da Força De Trabalho Global por Regiões (em milhões de trabalhadores), 1965-2025 28

 

 

 

Low and middle income=Renda baixa e média

 

 

 

A base material para isso é o processo histórico do capitalismo para minar a base para a produção agrícola de pequena escala e por isso reduzir a quantidade dos camponeses. Esse processo é a base para o aumento do proletariado – na indústria e em outros setores. Na Tabela 13 podemos ver que em todo o mundo, o peso da força de trabalho mudou da agricultura para os setores industrial e de serviços. Nos países imperialistas ricos – a UE-15, a América do Norte e o Japão – o setor agrícola compreende, desde várias décadas, apenas uma proporção muito pequena da força de trabalho. Mas ainda mais importante, fora das ricas metrópoles imperialistas – ou seja, nos países com a grande maioria da população mundial – a parcela da força de trabalho empregada na agricultura diminuiu entre 2/3 e 3/4 (em 1950) para 40% (2008). Paralelo a isso, vemos um crescimento massivo da força de trabalho na indústria e nos setores de serviços.

 

 

 

Tabela 13: Participação de toda a Força de Trabalho nos Setores Econômicos nas Regiões, 1950, 1977 e 2008 (em %) 29

 

 

 

Countries with low income= Países com baixa renda

 

Countries with high income= Países com alta renda

 

 

 

Este crescimento massivo da classe trabalhadora global deveu-se principalmente ao crescimento do proletariado fora das antigas metrópoles imperialistas. O processo de industrialização levou necessariamente a uma enorme mudança do peso do proletariado das metrópoles imperialistas em relação aos países mais pobres. Cem anos atrás – na época de Lênin e Trotsky – o proletariado no mundo colonial e semicolonial ainda era muito pequeno. A industrialização capitalista fora da Europa, América do Norte e Japão tinha ocorrido apenas em um grau relativamente pequeno. Como mostramos no início deste capítulo, isso mudou drasticamente nas últimas décadas.

 

Como resultado, o centro de gravidade tanto da força de trabalho em geral quanto do proletariado, em particular, está cada vez mais se movendo para os países imperialistas semicoloniais e emergentes (como a China e a Rússia hoje). A Tabela 14 mostra a evolução nos últimos 45 anos: em 1965, um quinto de toda a força de trabalho vivia nas metrópoles imperialistas, agora é inferior a 14%.

 

 

 

Tabela 14: Participação de toda a Força de Trabalho em diferentes Regiões nos anos, 1965, 1995 e 2008/09 (em %) 30

 

 

 

 

 

Tabela 15: Crescimento da classe trabalhadora no mundo semicolonial (em milhões) 31

 

 

 

 

A mudança da classe trabalhadora mundial em direção ao Sul tem sido muito mais significativa. Como se pode ver na Tabela 15, a classe trabalhadora na Ásia, África e América Latina cresceu nos anos 1960-1980 em 66-100%.

 

Desde então, o crescimento da classe trabalhadora no Sul se acelerou. Como resultado, a grande maioria da classe trabalhadora mundial vive hoje fora das antigas metrópoles imperialistas. Isso é claramente demonstrado pelas tabelas e Figuras a seguir. A Tabela 16 mostra o aumento dos assalariados que vivem nos chamados países em desenvolvimento de 65,9% (1995) para 72,4% (2008/09).Se excluir os Estados semicoloniais da UE, o número de 2008/09 é ainda maior (75%). Em outras palavras: 3/4 dos trabalhadores assalariados a vivem e trabalham nos países imperialistas semicoloniais e emergentes.

 

 

 

Tabela 16: Distribuição de Trabalhadores Assalariados em diferentes regiões entre 1995 e 2008 32

 


 

 

 

Essa mudança também é visível se olharmos para o setor central da classe trabalhadora – os trabalhadores industriais. Na Tabela 17 podemos ver que no ano de 2008/09 83,5% - ou mais de 556 milhões - de todos os empregados industriais (a maioria deles são trabalhadores) viviam fora das antigas metrópoles imperialistas. Nesses velhos países imperialistas "apenas" 16,5% - ou 110 milhões - de todos os empregados industriais viveram em 2008/09.

 

 

 

Tabela 17: Distribuição da Força de Trabalho na Indústria nas Diferentes Regiões, 2008/09 33

 

 

 

 

 

As próximas duas figuras 16 e 17 confirmam esse desenvolvimento mostrando o aumento dos trabalhadores manufaturas que vivem no Sul de cerca de 50% (1980) para cerca de 73% (2008). Além disso, é preciso ter em mente que, no ano de 1950, apenas 34% dos trabalhadores industriais globais viviam no Sul. 34 Os números do emprego na indústria e do emprego industrial nas estatísticas aqui apresentadas não são idênticos, uma vez que a manufatura inclui toda a força de trabalho industrial, exceto as empregadas nos setores de mineração e construção.

 

 

 

Figura 16: Participação mundial dos países em desenvolvimento e o nível do emprego na manufatura, 1980-2008 35

 

 

 

 

 

Figura 17 (ver arquivo PDF): Força de trabalho Industrial Global em Países Desenvolvidos e em Desenvolvimento, 1950-2005 36

 


 

 

 

A figura 18 a seguir mostra a distribuição geográfica dos trabalhadores manufatureiro residentes no Sul. Pode-se ver que a maior proporção vive no leste da Ásia e, em primeiro lugar, na China.

 

 

 

Figura 18 (ver arquivo PDF): Participação da taxa emprego na Manufatura em Países em Desenvolvimento, 1998-2008 37

 

 

 

 

 

Na próxima Tabela 18 detalhamos o crescimento da parte sulista da classe trabalhadora mundial da manufatura nos diversos setores.

 

 

 

Tabela 18 (ver arquivo PDF): Participação da taxa de Emprego na Manufatura para Países em Desenvolvimento e Desenvolvido, por Setor Industrial, períodos selecionados entre 1993 e 2008 (em %) 38

 

Table 18: Share of Manufacturing Employment for Developing and Developed

 

 

 
   


Countries, by Industry Sector, selected Periods over 1993–2008 (in %) 119

International Standard Developing Countries    Developed Countries

 

Industrial Classification

1993-2000

2001-2008

1993-2000

2001-2008

Food and beverages

12.1%

12%

11%

12.5%

Tobacco products

1.1%

1%

0.2%

0.1%

Textiles

10.7%

9.4%

4.5%

3.2%

Wearing apparel and fur

7.1%

8.2%

3.9%

2.4%

Leather, leather products

 

 

 

 

& footwear

0.8%

3.2%

1.2%

0.9%

Wood products

 

 

 

 

(excluding furniture)

2.3%

2.5%

2.9%

3.1%

Paper and paper products

2.2%

2.5%

2.8%

2.7%

Printing and publishing

1.8%

1.8%

6%

5.6%

Coke, refined petroleum

 

 

 

 

products, nuclear fuel

1.2%

1%

0.5%

0.5%

Chemicals and

 

 

 

 

chemical products

8.2%

7.2%

5.6%

5.7%

Rubber and

 

 

 

 

plastics products

3.8%

4.2%

5.3%

5.8%

Non-metallic

 

 

 

 

mineral products

8.9%

6.6%

4.1%

4.1%

Basic metals

6.9%

6.4%

3.9%

3.6%

Fabricated metal products

4.1%

5.1%

9.2%

10.7%

Machinery and

 

 

 

 

equipment

10.6%

8.2%

10.9%

10.8%

Office, accounting and

 

 

 

 

computing machinery

0.2%

1%

1%

0.8%

Electrical machinery

 

 

 

 

and apparatus

5.9%

4.6%

5.7%

4.8%

Radio, television and

 

 

 

 

communication equipment

0.5%

3.4%

3.8%

4%

Medical, precision and

 

 

 

 

optical instruments

1.4%

1.5%

3.2%

3.5%

Motor vehicles, trailers

 

 

 

 

and semitrailers

6.1%

3.9%

7.3%

7.4%

Other transport

 

 

 

 

equipment

0.4%

2%

2.4%

3%

Furniture; manufacturing

 

 

 

 

not elsewhere classified

3.6%

4.4%

4.6%

4.8%

Recycling

0%

0.2%

0.1%

0.2%

 

 

 

Industrial Classification = classificação industrial

 

 1993-2000

 

Alimentos e bebidas _____________________________________________________

 

Produtos de tabaco ______________________________________________________

 

Têxteis ___________________________________________________________________

 

Vestuários e peles de animais Couro, produtos de couro e calçados__

 

Produtos de madeira (excluindo móveis) _____________________________

 

Papel e produtos de papel _______________________________________________

 

Impressão e publicação___________________________________________________

 

Coque, produtos refinado de petróleo, combustível nuclear___________

 

Químicos em geral e produtos químicos_________________________________

 

Borracha e produtos plásticos____________________________________________

 

produtos minerais não metálicos_________________________________________

 

Metais básicos______________________________________________________________

 

Produtos de metal fabricados _____________________________________________

 

Máquinas e equipamentos _________________________________________________

 

Máquinas de escritório, contabilidade e de computação________________

 

Maquinaria elétrica e aparelhos ___________________________________________

 

Rádio, televisão e equipamento de comunicação ________________________

 

Instrumentos Médicos, de precisão e instrumentos ópticos ____________

 

Veículos motorizados, reboques e semirreboques________________________

 

Outros equipamentos de transporte______________________________________

 

Mobília; manufaturas não classificadas em outros lugares ____________________

 

Reciclagem__________________________________________________

 

 

 

Finalmente mostramos na Figura 19 o aumento do peso da classe trabalhadora em um importante país semicolonial, a Turquia.

 

 

 

Figura 19 (ver arquivo PDF): Status de emprego na Turquia, 1988-2006 39

 

 

 

 

 

Regular employee= Emprego regular

 

Casual employee= emprego intermitente

 

Self employed= autônomo

 

Family worker= Trabalho em família

 

 

 

A figura 20, por outro lado, demonstra o encolhimento do peso do proletariado nos antigos países imperialistas

 

 

 

Figura 20: A diminuição da participação da indústria no emprego total, 1970-2007 40

 

 

 


 

 

 

Os escritores da Monthly Review John Bellamy Foster, Robert W. McChesney e R. Jamil Jonna estão certamente corretos quando observam: "É uma superexploração que está por trás de grande parte da expansão da produção no Sul global" 41

 

Na realidade, a mudança real do proletariado em direção aos países imperialistas semicoloniais e emergentes é maior do que as estatísticas oficiais indicam. Por quê? Porque, como observado acima, a categoria burguesa de "assalariados" inclui não apenas os trabalhadores. Geralmente pode-se dizer que nos países imperialistas ricos uma minoria considerável de assalariados não faz parte da classe trabalhadora, mas fazem parte da classe média assalariada ( supervisores, policiais, gerentes de menor grau etc.). 42 Nos países mais pobres as classes médias assalariadas é muito menor número.

 

Além disso, temos que levar em conta a aristocracia trabalhista. Esta camada é a o setor mais privilegiado da classe trabalhadora (por exemplo, certos setores dos trabalhadores altamente remunerados, etc.). É o setor do proletariado que é subornado à burguesia que possui vários privilégios. Esta camada representa um setor muito maior da classe trabalhadora nos países imperialistas do que no proletariado semicolonial. A razão para isso está no suborno que a classe dirigente faz a essa camada com base nos lucros extras que são obtidos pelos capitalistas monopolistas, principalmente através da exploração dos países semicoloniais. O capital monopolista usa partes desse lucro extra para ganhar o apoio de setores da classe trabalhadora internamente, ou seja, nos países imperialistas. É ali que, em primeiro lugar, eles precisam de estabilidade. Daí a aristocracia trabalhista seja um setor muito menor do proletariado no mundo semicolonial.

 

Além disso, o proletariado nos países mais pobres é maior em tamanho do que os números reais nas estatísticas oficiais indicam. Uma parte considerável dos trabalhadores desses países são formalmente contabilizados não como assalariados, mas como formalmente autônomos devido ao grande setor informal. No entanto, na verdade, eles fazem parte da classe trabalhadora. Um pesquisador, ligado ao movimento sindical, observou, em um estudo sobre o movimento dos trabalhadores na África, o aumento massivo da do trabalho intermitente: "Uma das principais experiências dos trabalhadores africanos durante o atual processo de globalização é a crescente polarização nas condições de emprego e uma crescente diferenciação na força de trabalho. À medida que as empresas optaram pelo aumento da "flexibilidade" em seu processo de produção como parte de sua estratégia de se manterem competitivas, os trabalhadores africanos perderam seus empregos permanentes em tempo integral e se tornaram vítimas da "intermitência" do trabalho. Eles foram forçados a se tornar trabalhadores de meio período, trabalhadores sazonais, trabalhadores domésticos, trabalhadores subcontratados ou tiveram que lutar pela sobrevivência no "setor informal". (...). O cenário global de desemprego em massa e pobreza em massa não é por acaso, pois permite que as corporações globais achatem os salários globalmente." 43

 

Em suma, a proporção de países semicoloniais e da China imperialista emergente na classe trabalhadora mundial poderia até chegar a 80%. Podemos, portanto, concluir que hoje o coração do proletariado mundial está no Sul e, em particular, na Ásia (onde vivem 60% da força de trabalho industrial global).

 

Isso não significa que o proletariado nas antigas metrópoles imperialistas (ou seja, nos países relativamente ricos da Europa Ocidental, América do Norte e Japão) tornou-se irrelevante. Nada poderia estar mais errado do que tal suposição. O proletariado da Europa Ocidental, América do Norte e Japão continua a desempenhar um papel central na luta internacional de classes. Mas é essencial que os comunistas revolucionários reconheçam a importância aumentada dos países semicoloniais na Ásia, América Latina, Oriente Médio e África, bem como da emergente China imperialista. Em outras palavras, o processo da Revolução Mundial não é aquele que está na primeira linha focada e decidida nos antigos países imperialistas. Em vez disso, o proletariado no mundo semicolonial e a emergente China imperialista desempenharão um papel decisivo. A revolução árabe sublinha nossa tese da crescente importância do proletariado semicolonial.

 

A CCRI resumiu as consequências dessas importantes mudanças na composição da classe trabalhadora mundial em nosso programa "O Manifesto Comunista Revolucionário". Nós, bolcheviques-comunistas, enfatizamos que as organizações internacionais de trabalhadores devem prestar especial atenção ao Sul do globo. O enorme peso do proletariado ao Sul deve ser refletido em sua participação massiva não só nas organizações internacionais de trabalhadores, mas também em suas lideranças. As questões de particular importância para a classe trabalhadora do Sul – a super-exploração, as lutas de libertação nacional contra o imperialismo etc. – devem tomar um lugar central no trabalho propagandístico e prático das organizações. 44

 

Segue-se que a luta pela independência política e organizacional da classe trabalhadora se concentra particularmente na ampla massa da classe trabalhadora – ou seja, suas camadas inferiores e médias. Isso significa que as organizações de trabalhadores - sindicatos, organizações de jovens e mulheres e, em particular, a organização internacional revolucionária - devem refletir a mudança na composição do proletariado. Em outras palavras, para atender à crescente importância dos proletários dos países mais pobres, das mulheres, dos migrantes, etc. as organizações de trabalhadores devem se esforçar para atraí-los e organizá-los e também representá-los em suas próprias fileiras e estruturas de liderança. O futuro partido comunista revolucionário do mundo tem, portanto, ou busca um forte rosto semicolonial, jovem, feminino, migrante ou falhará em sua tarefa. Seus membros sabem o valor dessas camadas e mostram muito respeito por elas.

 

 

 

1 Michael Pröbsting: Die halbe Revolution. Lehren und Perspektiven des arabischen Aufstandes, Kapitel: Der Wind kommt zunehmend vom Süden. Über die wachsende Bedeutung des Proletariats der halbkolonialen und schwachen imperialistaIschen Staaten (A Meia Revolução. Lições e perspectivas da Revolta Árabe, Capítulo: O Vento vem cada vez mais do Sul. Sobre a crescente importância do Proletariado dos países imperialistas semicolonial e fraco); in: Der Weg des Revolutionären Kommunismus, Theoretisches Journal der Revolutionär-Kommunistischen Organization zur Befreiung, RKOB), Nr. 8 (2011), p. 9, http://www.thecommunists.net/publications/werk-8

 

2 S.L. Wygodski: Der gegenwärtige Kapitalismus (1969), Berlim 1972, p. 387

 

3 Hans Tammer (Hrsg.): Anschauungsmaterial. Politische Ökonomie, Kapitalismus, Berlim 1984, p. 132 e S.N. Beljajewa, E.M. Waschenzewa, I.I. Ermolowitsch, M.M. Koptew, E.I. Korezkaja, W.N. Kuwaldin, W.W. Mestscherjakow (Autorenkollektiv): Politische Ökonomie - Kapitalismus (1970), Berlim 1973, p. 137

 

4 As estatísticas são compiladas a partir de dois relatórios diferentes da UNIDO: UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2002/2003. Competindo através de Inovação e Aprendizagem, p. 149 (para o ano de 1985); UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011. Eficiência energética industrial para a criação sustentável de riqueza. Captação de dividendos ambientais, econômicos e sociais, p. 142 (pelo resto dos anos)

 

5 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, p. 143

 

6 Bill Dunn: Economia Política Global - Uma Crítica Marxista, Londres 2009, p. 229

 

7 UNCTAD: Manual de Estatísticas 2010, pp. 444-446.

 

8 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, p. 146

 

9 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, p. 155

 

10 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, p. 159

 

11 Harpal Brar: Imperialismus im 21.Jahrhhundert, Köln 2001, p. 156f.

 

12 David Yaffe: Grã-Bretanha - Capitalismo parasita e decadente, em: FRFI 194 dezembro 2006/janeiro 2007, p.7, http://www.revolutionarycommunist.org/index.php/britain/1042-britain-parasitic-and-decaying-capitalism-frfi-194-dec-2006-jan-2007. Embora não compartilhemos várias de suas conclusões políticas de ultraesquerda, é preciso reconhecer que David Yaffe empreendeu por muitos anos um importante trabalho para aprofundar a análise marxista do imperialismo britânico e sua super-exploração do mundo semicolonial.

 

13 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo (Verão de 2003), p. 20

 

14 V. I. Lenin: O Programa Militar da Revolução Proletária; in: LCW Vol. 23, p. 78

 

15 V. I. Lenin: Imperialismo. O Estágio Mais Alto do Capitalismo (1916); in: LCW Vol. 22, p. 243

 

16 Leo Trotzki: Aussichten und Aufgaben im Osten (1924); in: Leo Trotzki: Europa und Amerika (Zwei Reden), Berlim 1926, p. 111; em inglês: Leon Trotsky: Perspectivas e Tarefas no Oriente. Discurso no terceiro aniversário da Universidade Comunista para Toilers of the East (1924), http://www.marxists.org/archive/trotsky/1924/04/perspectives.htm

 

17 Leon Trotsky: A Terceira Internacional Depois de Lênin (1928), Nova York 1970, pp. 19-20

 

18 Karl Marx: Das Kapital, Banda III; in: MEW 25, p. 820; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol III; Capítulo 47

 

19 Leo Trotzki: Die permanente Revolution, in: Leo Trotzki: Ergebnisse und Perspektive. Die permanente Revolution; Frankfurt a. M., 1971, p. 11; em inglês: Leon Trotsky: A Revolução Permanente (ênfase no original)

 

20 Leo Trotzki: Die permanente Revolution, in: Leo Trotzki: Ergebnisse und Perspektive. Die permanente Revolution; Frankfurt a. M., 1971, p. 14; em inglês: Leon Trotsky: A Revolução Permanente (ênfase no original)

 

21 Nikolai Bucharin: Ökonomik der Transformationsperiode (1920), p. 69. Em inglês: Nikolai Bukharin: Economia do período de transição (1920), (ênfase em original; nossa tradução)

 

22 V. I. Lenin: Imperialismo e a Divisão no Socialismo; in: LCW Vol. 23, pp. 109-110

 

23 Ver John Smith: Imperialismo e a Globalização da Produção, Sheffield 2010, Capítulo 7, http://www.mediafire.com/?5r339mnn4zmubq7

 

24 Juliet Schor: Falácias econômicas: é hora de trabalhar mais, ou menos? In: Guardian, 10.1.2012 http://www.guardian.co.uk/sustainable-business/economy-employee-working-hours

 

25 A categoria "força de trabalho" inclui todos os envolvidos na atividade econômica, ou seja, trabalhadores, camponeses, autônomos, classe média assalariada e capitalistas.

 

26 International Labor Office: World Social Security Report 2010/11. Proporcionando cobertura em tempos de crise e além (2010), p. 28; Escritório Internacional do Trabalho: Relatório Salarial Global 2008/09. Salários mínimos e negociação coletiva: Para coerência política, p. 10

 

27 International Labor Office: World Social Security Report 2010/11. Proporcionando cobertura em tempos de crise e além (2010), p. 28

 

28 Peter Dicken: Mudança Global. Mapeamento dos Contornos Em Mudança da Economia Mundial (Sexta Edição), The Guilford Press, Nova York 2011, pp. 493

 

29 Banco Mundial: Relatório de Desenvolvimento Mundial 1979, p. 46 e pp. 162-163; Escritório Internacional do Trabalho: Tendências Globais de Emprego 2011: O desafio de uma recuperação de empregos (2011), p. 68 e nossos próprios cálculos. A categoria "Países de alta renda" inclui estados semicoloniais da UE. Para o ano de 2008, as regiões "Países de baixa renda" e "Países com renda média" são combinadas.

 

30 Banco Mundial: Relatório de Desenvolvimento Mundial 1995, p. 9, Escritório Internacional do Trabalho: Tendências Globais de Emprego 2011, p. 68; Direção-Geral para Assuntos Econômicos e Financeiros da Comissão Europeia: Desenvolvimento do mercado de trabalho e dos salários em 2009; em: ECONOMIA EUROPEIA Nº 5/2010, p. 188ff. e nossos próprios cálculos. A categoria "Economias desenvolvidas" exclui estados do Leste e sudeste europeu, bem como Malta e Chipre. Esses países fazem parte da categoria "Europa Oriental & ex-URSS".

 

31 Autorenkollektiv: Handbuch Entwicklungsländer. Sozioökonomische Prozesse, Fakten und Strategien, Berlim 1987, p. 160

 

32 Banco Mundial: Relatório de Desenvolvimento Mundial 1995, p. 9, Escritório Internacional do Trabalho: Tendências Globais de Emprego 2011, p. 68; Direção-Geral para Assuntos Econômicos e Financeiros da Comissão Europeia: Desenvolvimento do mercado de trabalho e dos salários em 2009; em: ECONOMIA EUROPEIA Nº 5/2010, pp. 188-190 e nossos próprios cálculos. A categoria "Economias desenvolvidas" exclui estados do Leste e Sudeste Europeu e Malta e Chipre.

 

33 Fontes: Escritório Internacional do Trabalho: Tendências Globais de Emprego 2011, p. 68 e nossos próprios cálculos

 

34 John Smith: Offshoring, Outsourcing & the 'Global Labor Arbitrage' (2008), Paper to IIPPE 2008 – Procida, Itália 9-11 setembro 2008, p. 5

 

35 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, p. 150

 

36 John Smith: Novidades sobre "Novo Imperialismo" (2007), S. 8

 

37 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, S. 150

 

38 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, S. 151

 

39 Fırat Demir e Nilgun Erdem: Desempenho do mercado de trabalho após ajuste estrutural nos países em desenvolvimento: O caso interessante, mas não tão único da Turquia; em L.K. Valencia e B.J. Hahn (Eds.), Questões trabalhistas: Desemprego, Emprego de Jovens e Trabalho Infantil (Capítulo 1). Nova Science Publishers, 2010, p. 46

 

40 Peter Dicken: Mudança Global. Mapeamento dos Contornos Em Mudança da Economia Mundial (Sexta Edição), The Guilford Press, Nova York 2011, p. 495

 

43 Herbert Jauch: Globalização e Trabalho, p. 8

 

44 Veja nesta Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI): O Manifesto Comunista Revolucionário, publicado em 2012, pp. 28-30; online no site da CCRI em www.thecommunists.net/rcit-manifesto

 

 

 

5. Exploração crescente, super-exploração e a redução do valor da força de trabalho

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Nas últimas décadas, marcadas pela estagnação e declínio do capitalismo, vimos uma ofensiva cruel da classe capitalista contra a classe trabalhadora em escala mundial em todos os continentes. Tanto nos países imperialistas ricos quanto nos países semicoloniais mais pobres, os capitalistas aumentaram a taxa de exploração – isso significa que obtiveram um lucro maior aumentando a taxa de valor excedente (ou seja, a proporção de tempo de trabalho não remunerado apropriado pelo capitalista em relação ao tempo de trabalho remunerado recebido pelos trabalhadores na forma de salários).

 

 

 

Marx e o rebaixamento dos salários abaixo do Valor da Força De trabalho

 

 

 

Marx já explicou no Capital Vol. III a importância de os capitalistas aumentarem o grau de exploração dos trabalhadores como ferramenta para combater a tendência de queda da taxa de lucro. No Capítulo XIV ele menciona seis meios importantes para os capitalistas: i) "Aumento no grau de exploração do trabalho", ii) " rebaixamento dos salários abaixo do seu valor (ou seja, o valor do poder de trabalho)", iii) "Barateamento de elementos de capital constante", iv) "Relativa super-população", v) "Comércio exterior" e vi) "O aumento do capital social". 1

 

Dado o contexto deste livro, não vamos lidar aqui com o barateamento de elementos de capital constante e o aumento do capital social. O papel do comércio exterior é muito importante para os capitalistas e será tratado abaixo. O aumento do grau de exploração do trabalho, a força dos salários abaixo do seu valor e o relativo excesso populacional, todos afetam diretamente o salário e a condição de trabalho do proletariado.

 

O aumento do grau de exploração do trabalho pelos capitalistas ocorre tanto pela prorrogação do dia de trabalho (aumento do valor absoluto do excedente) quanto pela intensificação do trabalho (aumento do valor relativo do excedente). Na realidade brutal do capitalismo hoje, ambas as formas são usadas pelos capitalistas para elevar seu valor excedente. Vemos isso por um aumento constante da produtividade acima do crescimento geral da produção e pelo crescimento do trabalho ao longo do tempo (muitas vezes não remunerado).

 

Outra forma importante é o crescimento do relativo aumento populacional. Por meio da racionalização – possibilitada pelo aumento da produtividade do trabalho –, o capital está constantemente 'liberando' o trabalho, ou seja, deixando-os desempregados, aumentando assim o relativo excesso populacional (exército de reserva industrial). Este exército de reserva industrial aumenta a concorrência entre os proletários. Com a existência de uma série de desempregados, a disponibilidade de poder contratar trabalho mais barato (antes mulheres e crianças, hoje migrantes e trabalhadores do regime de trabalho flexível) força os salários para mais baixos. Mais tarde, abordaremos em detalhes o crescente papel dos migrantes do mundo semicolonial que vivem como trabalhadores super-explorados nos países imperialistas.

 

Faremos uma observação um pouco mais detalhada sobre o papel de forçar os salários abaixo do valor real de trabalho. Isso significa que o capital tenta rebaixar os salários abaixo do valor real do trabalho das mercadorias, ou seja, abaixo dos custos de sua produção. Curiosamente Marx tratou dessa questão de forma aparentemente contraditória. Ele escreveu apenas algumas observações em seus trabalhos sobre economia política com relação a esta questão. Ao mesmo tempo, caracterizou esta lei no Capital Vol. III como "um dos fatores mais importantes que verificam a tendência de queda da taxa de lucro". Ele explicou no mesmo local as razões para a falta de atenção que deu a esse fator com o seguinte argumento: "Isso é mencionado aqui apenas empiricamente, uma vez que, como muitas outras coisas que podem ser enumeradas, não tem nada a ver com a análise geral do capital, mas pertence a uma análise da concorrência, que não é apresentada neste trabalho". 2

 

No entanto, ele elaborou um pouco mais sobre o rebaixamento dos salários abaixo do valor da força de trabalho em seu Manuscrito Econômico de 1861-63:

 

"O valor da capacidade laboral pode, portanto, ser resolvido nos valores dos meios de subsistência necessários para que o trabalhador se mantenha como trabalhador, viva como trabalhador e procriar. Esses valores, por sua vez, podem ser resolvidos na quantidade específica de tempo de trabalho necessária, na quantidade de mão-de-obra gasta, a fim de criar meios de subsistência ou os valores de uso necessários para a manutenção e propagação da capacidade de trabalho. (...)

 

Naturalmente, os meios de subsistência necessários pelo trabalhador para viver como trabalhador diferem de um país para outro e de um nível de civilização para outro. As necessidades naturais em si, por exemplo, a necessidade de nutrição, vestuário, habitação, aquecimento, são maiores ou menores de acordo com as diferenças climáticas. Da mesma forma, uma vez que a extensão dos chamados requisitos primários para a vida e a forma de sua satisfação dependem em grande medida do nível de civilização da sociedade, são eles mesmos o produto da história, os meios necessários de subsistência em um país ou época incluem coisas não incluídas em outro. A gama desses meios necessários de subsistência é, no entanto, dada em um determinado país e em um determinado período.

 

Mesmo o nível do valor do trabalho sobe ou desce quando se compara diferentes épocas do período burguês no mesmo país. Finalmente, o preço de mercado da capacidade de trabalho de uma vez sobe acima e em outro cai abaixo do nível de seu valor. Isso se aplica à capacidade de trabalho de todas as outras mercadorias, e é uma questão de indiferença aqui, onde estamos procedendo a partir do pressuposto de que as mercadorias são trocadas como equivalentes ou percebem seu valor em circulação. (Esse valor das commodities em geral, assim como o valor da capacidade de trabalho, é representado na realidade como seu preço médio, chegado pela compensação mútua dos preços alternadamente em queda e aumento dos preços de mercado, com o resultado de que o valor das commodities é realizado, manifestado, nessas flutuações do próprio preço de mercado.) O problema desses movimentos no nível das necessidades dos trabalhadores, como também o aumento e queda do preço de mercado da capacidade de trabalho acima ou abaixo desse nível, não pertencem aqui, onde a relação capital geral deve ser desenvolvida, mas na doutrina dos salários do trabalho. Será visto no curso posterior desta investigação que se alguém assume que o nível de necessidade dos trabalhadores de ser maior ou menor é completamente irrelevante para o resultado final. A única coisa importante é que ela deve ser vista como dada, determinada. Todas as questões relativas a ela não são uma determinada, mas uma magnitude variável pertence à investigação do trabalho assalariado em particular e não tocam sua relação geral com o capital. (...)

 

Se uma mercadoria de menor grau for colocada no lugar de uma mercadoria mais alta e mais valiosa, que formou o principal meio de subsistência do Trabalhador, por exemplo, se o milho, o trigo, a carne, a carne ou as batatas forem colocadas no lugar do trigo e do centeio, o nível do valor da capacidade de trabalho naturalmente cai, porque o nível de suas necessidades foi empurrado para baixo. Em nossa investigação, porém, assumiremos que a quantidade e a qualidade dos meios de subsistência e, portanto, também a extensão das necessidades, em um determinado nível de civilização, nunca são empurradas para baixo, pois essa investigação da ascensão e queda do nível em si (particularmente sua redução artificial) não altera nada na consideração da relação geral." 3

 

Na obra O Capital Vol.I, Marx menciona o aumento do desemprego como um fator importante para rebaixar os salários abaixo do valor da força de trabalho:

 

"A parcela da classe trabalhadora que a maquinaria transforma em população supérflua, isto é, não mais diretamente necessária para a autovalorização do capital, sucumbe, por um lado, na luta desigual da velha produção artesanal e manufatureira contra a indústria mecanizada e, por outro, inunda todos os ramos industriais mais acessíveis, abarrota o mercado de trabalho, reduzindo assim o preço da força de trabalho abaixo de seu valor.." 4

 

Como Marx avaliou o valor do trabalho das mercadorias – ou seja, a capacidade dos trabalhadores de produzir mercadorias? Ele disse que o valor é determinado pela totalidade do tempo médio de trabalho que é necessário para produzir os meios para a manutenção dos trabalhadores (incluindo a próxima geração, ou seja, seus filhos como futuros trabalhadores). Assim escreveu em Capital Vol. I:

 

"Temos, agora, de analisar mais de perto essa mercadoria peculiar, a força de trabalho. Como todas as outras mercadorias, ela possui um valor. Como ele é determinado? O valor da força de trabalho, como o de todas as outras mercadorias, é determinado pelo tempo de trabalho necessário para a produção – e, consequentemente, também para a reprodução – desse artigo específico. Como valor, a força de trabalho representa apenas uma quantidade determinada do trabalho social médio nela objetivado. A força de trabalho existe apenas como disposição do indivíduo vivo. A sua produção pressupõe, portanto, a existência dele. Dada a existência do indivíduo, a produção da força de trabalho consiste em sua própria reprodução ou manutenção. Para sua manutenção, o indivíduo vivo necessita de certa quantidade de meios de subsistência. Assim, o tempo de trabalho necessário à produção da força de trabalho corresponde ao tempo de trabalho necessário à produção desses meios de subsistência, ou, dito de outro modo, o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção de seu possuidor. Porém, a força de trabalho só se atualiza por meio de sua exteriorização, só se aciona por meio do trabalho. Por meio de seu acionamento, o trabalho, gasta-se determinada quantidade de músculos, nervos, cérebro etc. humanos que tem de ser reposta. Esse gasto aumentado implica uma renda aumentada. Se o proprietário da força de trabalho trabalhou hoje, ele tem de poder repetir o mesmo processo amanhã, sob as mesmas condições no que diz respeito a sua saúde e força. A quantidade dos meios de subsistência tem, portanto, de ser suficiente para manter o indivíduo trabalhador como tal em sua condição normal de vida. As próprias necessidades naturais, como alimentação, vestimenta, aquecimento, habitação etc., são diferentes de acordo com o clima e outras peculiaridades naturais de um país. Por outro lado, a extensão das assim chamadas necessidades imediatas, assim como o modo de sua satisfação, é ela própria um produto histórico e, por isso, depende em grande medida do grau de cultura de um país, mas também depende, entre outros fatores, de sob quais condições e, por conseguinte, com quais costumes e exigências de vida se formou a classe dos trabalhadores livres num determinado local. Diferentemente das outras mercadorias, a determinação do valor da força de trabalho contém um elemento histórico e moral. No entanto, a quantidade média dos meios de subsistência necessários ao trabalhador num determinado país e num determinado período é praticamente conhecida." 5

 

Já vemos aqui que Marx diferenciou entre o mínimo físico de um lado e o elemento histórico ou moral do valor do trabalhador, por outro. Ele elaborou este conceito em Valor, Preço e Lucro, uma palestra de 1865:

 

"Mas há certos traços peculiares que distinguem o valor da força de trabalho, ou valor do trabalho, dos valores de todas as demais mercadorias. O valor da força de trabalho é formado por dois elementos, um dos quais puramente físico, o outro de caráter histórico e social. Seu limite mínimo é determinado pelo elemento físico, quer dizer , para poder manter-se e se reproduzir, para perpetuar a sua existência física, a classe operária precisa obter os artigos de primeira necessidade absolutamente indispensáveis à vida e à sua multiplicação. O valor destes meios de subsistência indispensáveis constitui, pois, o limite mínimo do valor do trabalho. Por outra parte, a extensão da jornada de trabalho também tem seus limites máximos, se bem que sejam muito elásticos. Seu limite máximo é dado pela força física do trabalhador. Se o esgotamento diário de suas energias vitais excede um certo grau, ele não poderá fornecê-las outra vez, todos os dias.

 

Mas, como dizia, esse limite é muito elástico. Uma sucessão rápida de gerações raquíticas e de vida curta manterá abastecido o mercado de trabalho tão bem como uma série de gerações robustas e de vida longa. Além deste mero elemento físico, na determinação do valor do trabalho entra o padrão de vida tradicional em cada país. Não se trata somente da vida física, mas também da satisfação de certas necessidades que emanam das condições sociais em que vivem e se criam os homens. O padrão de vida inglês poderia baixar ao irlandês; o padrão de vida de um camponês alemão ao de um camponês livônio. A importância do papel que, a este respeito, desempenham a tradição histórica e o costume social podereis vê-Ia no livro do sr. Thornton sobre a "Superpopulação", onde ele mostra que, em distintas regiões agrícolas da Inglaterra de nossos dias, os salários médios continuam a ser hoje diferentes, conforme as condições mais ou menos favoráveis em que essas regiões saíram da servidão.

 

Este elemento histórico ou social, que entra no valor do trabalho, pode acentuar-se, ou debilitar-se e, até mesmo, extinguir-se de todo, de tal modo que só fique de pé o limite físico. Durante a guerra contra os jacobitas, que, como costumava dizer o incorrigível devorador de impostos e prebendas, o velho George Rose, foi empreendida para que esses descrentes franceses não destruíssem os consolos da nossa santa religião, os honestos fazendeiros ingleses, a quem tratamos com tanto carinho num capítulo anterior, fizeram baixar os salários dos trabalhadores do campo para além daquele mínimo estritamente físico, completando a diferença indispensável para assegurar a perpetuação física da raça, mediante as leis dos pobres. Era um glorioso método para converter o trabalhador assalariado em escravo e orgulhoso yeoman de Shakespeare em mendigo.

 

Se comparais os salários normais ou valores do trabalho em diversos países e em épocas históricas distintas, dentro do mesmo país, vereis que o valor do trabalho não é por si uma grandeza constante, mas variável, mesmo supondo que os valores das demais mercadorias permaneçam fixos.

 

Um estudo comparativo semelhante das taxas de lucro no mercado provaria que não só elas se modificam como também as suas taxas médias.

 

Mas, no que se refere ao lucro, não existe nenhuma lei que lhe fixe o mínimo. Não podemos dizer qual seja o limite extremo de sua baixa. E por que não podemos estabelecer esse limite? Porque, embora possamos fixar o salário mínimo, não podemos fixar o salário máximo.

 

Só podemos dizer que, dados os limites da jornada de trabalho, o máximo de lucro corresponde ao mínimo físico dos salários e que, partindo de dados salários, o máximo de lucro corresponde ao prolongamento da jornada de trabalho na medida em que seja compatível com as forças físicas do operário. Portanto, o máximo de lucro só se acha limitado pelo mínimo físico dos salários e pelo máximo físico da jornada de trabalho. É evidente que, entre os dois limites extremos da taxa máxima de lucro, cabe uma escala imensa de variantes. A determinação de seu grau efetivo só fica assente pela luta incessante entre o capital e o trabalho; o capitalista, tentando constantemente reduzir os salários ao seu mínimo físico e a prolongar a jornada de trabalho ao seu máximo físico, enquanto o operário exerce constantemente uma pressão no sentido contrário. A questão se reduz ao problema da relação de forças dos combatentes." 6

 

Marx enfatizou que o valor da força de trabalho não é simplesmente um reflexo da produtividade de uma determinada sociedade. Embora o nível de produtividade certamente seja um fator importante, a relação das forças de classe e a luta entre elas é ainda mais importante. Por isso, Marx polemizou contra aqueles que sugeriram uma ligação direta entre os salários e a produtividade:

 

"Em um "Ensaio sobre a Taxa de Salários", um de seus primeiros escritos econômicos, H. Carey tenta provar que os salários das diferentes nações são diretamente proporcionais ao grau de produtividade dos dias de trabalho nacionais, a fim de tirar dessa relação internacional a conclusão de que os salários em todos os lugares sobem e caem em proporção à produtividade do trabalho. Toda a nossa análise da produção de valor excedente mostra o absurdo dessa conclusão, mesmo que o próprio Carey tivesse provado suas premissas em vez de, após sua habitual moda acrítica e superficial, embaralhando para lá e para cá uma massa confusa de materiais estatísticos." 7

 

O economista marxista John Smith e seu co-pensador Andy Higginbottom enfatizaram em seus trabalhos recentes que esse fator – o rebaixamento dos salários abaixo do valor da força de trabalho – tem sido constantemente subestimado pela maioria dos marxistas. Eles ressaltam que, de fato, o rebaixamento dos salários abaixo do seu valor tem sido um fator importante para os capitalistas aumentarem seus lucros e, em particular, aumentarem a super exploração no Sul. Achamos correto integrar o rebaixamento dos salários abaixo do valor da força de trabalho como fator importante para compreender o estado atual do imperialismo e a crescente miséria do proletariado em todo o mundo e particularmente no Sul. 8

 

Na verdade, o próprio Marx já apontou que a exploração das forças de trabalho ao Sul são uma importante influência contrária à taxa de lucro em declínio devido aos seus menores custos de reprodução:

 

"Como diz respeito às capitais investidas em colônias, etc., por outro lado, elas podem produzir taxas de lucro mais altas pela simples razão de que a taxa de lucro é maior lá devido ao desenvolvimento atrasado, e da mesma forma a exploração do trabalho, devido ao uso de escravos, carregadores, etc. "9

 

Isso nos leva ao empobrecimento da classe trabalhadora associada à exploração capitalista. É sabido que Marx diferenciou entre o empobrecimento relativo e o empobrecimento absoluto do proletariado. Nesse contexto, é importante entender que, por "proletariado", os marxistas significam toda a classe (ou seja, não apenas os trabalhadores ativamente empregados, mas também os desempregados, os jovens proletários, os pensionistas, etc. Por relativo empobrecimento Marx entendeu o crescente abismo entre a riqueza do capital e a do trabalhador. Isso não exclui um aumento na renda dos trabalhadores, mas apenas significa que o aumento será mais lento do que o crescimento dos lucros. Ele descreveu o empobrecimento relativo em seu trabalho preparatório para o Capital, o Grundrisse:

 

"Torna-se evidente que o próprio trabalho se estende progressivamente e dá uma existência cada vez mais ampla e plena ao mundo objetivo da riqueza como um poder alheio ao trabalho, de modo que, em relação aos valores criados ou às condições reais de criação de valor, a subjetividade penúria da capacidade de trabalho vivo forma um contraste cada vez mais gritante. Quanto maior a extensão em que o trabalho se torna objeto, maior se torna o mundo objetivo dos valores, que se coloca em frente a ele como alienígena — propriedade alienígena." 10

 

Pelo empobrecimento absoluto Marx entendeu uma queda nas condições de vida materiais do proletariado como um todo:

 

"A lei pela qual uma quantidade cada vez maior de meios de produção, graças ao avanço da produtividade do trabalho social, pode ser posta em movimento por um gasto progressivamente menor do poder humano, essa lei, em uma sociedade capitalista — onde o trabalhador não emprega os meios de produção, mas os meios de produção empregam o trabalhador — sofre uma completa inversão e se expressa assim: quanto maior a produtividade do trabalho, maior é a pressão dos trabalhadores sobre os meios de emprego, mais precária, portanto, torna-se sua condição de existência, a venda da sua própria força de trabalho para o aumento da riqueza dos outros, ou para a auto-expansão do capital. O fato de que os meios de produção e a produtividade do trabalho aumentam mais rapidamente do que a população produtiva, expressa-se, portanto, capitalistamente na forma inversa de que a população que trabalha sempre aumenta mais rapidamente do que as condições sob as quais o capital pode empregar esse aumento para sua própria auto-expansão. (...)

 

A lei, finalmente, que mantém a superpopulação relativa ou o exército industrial de reserva em constante equilíbrio com o volume e o vigor da acumulação prende o trabalhador ao capital mais firmemente do que as correntes de Hefesto prendiam Prometeu ao rochedo. Ela ocasiona uma acumulação de miséria correspondente à acumulação de capital. Portanto, a acumulação de riqueza num polo é, ao mesmo tempo, a acumulação de miséria, o suplício do trabalho, a escravidão, a ignorância, a brutalização e a degradação moral no polo oposto, isto é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital." 11

 

Um aumento no empobrecimento relativo é, na maioria das vezes, uma característica típica do processo de produção e reprodução capitalista. No entanto, em períodos de crise capitalista, como o que temos testemunhado desde a década de 1970, um processo de empobrecimento absoluto também ocorre. É bastante óbvio que para a massa de trabalhadores e estratos oprimidos em todo o mundo um processo de empobrecimento absoluto está ocorrendo. Claro, este não é o caso em cada país, a cada ano e para cada camada da classe. Mas como em geral, em todo o mundo, o processo é um fato indiscutível.

 

 

 

Empobrecimento e precarização mundial da classe trabalhadora nas últimas décadas

 

 

 

Como resultado de tudo isso, os salários estão estagnados ou em declínio, o desemprego está aumentando, as condições precárias de trabalho estão se espalhando massivamente (trabalho temporário) etc. Embora isso seja verdade para a classe trabalhadora mundial, é ainda mais verdadeiro para o proletariado ao Sul do globo. No programa da CCRI "O Manifesto Comunista Revolucionário" enfatizamos o agravamento das condições da classe trabalhadora ao Sul. 12

 

Dados oficiais de desemprego publicados pela OIT indicam um enorme aumento recente do desemprego. Antes da crise, 170 milhões de pessoas estavam desempregadas em todo o mundo (2007), esse número cresceu em pouco tempo para mais de 197 milhões de desempregados (2011). No entanto, esses números são certamente uma enorme subestimação. De acordo com essas estatísticas da OIT, a taxa de desemprego em 2010 foi de 8,8% nos "Países Desenvolvidos", 9,5% na Europa Oriental e na ex-URSS, mas apenas 4,3% no leste da Ásia, 5,2% no Sudeste Asiático, 3,9% no Sul da Ásia, 7,7% na América Latina, 10,1% no Oriente Médio, 9,6% no Norte da África e 8,2% na África Subsaariana. 13

 

Mas, na realidade, muitos desempregados não são oficialmente contabilizados nos países semicoloniais. Na realidade, há um enorme exército de reserva industrial no Sul com centenas de milhões de desempregados e subempregados que deprimem os salários não só no próprio Sul, mas também aumenta a pressão dos capitalistas sobre os trabalhadores do Norte. A professora universitária norte-americana Juliet Schor observou recentemente em um artigo sobre as consequências deste enorme exército de reserva industrial no Sul:

 

"O economista trabalhista Richard Freeman estima que, na última década, a oferta global de mão-de-obra efetiva quase dobrou, de 1,46 para 2,93 bilhões. Se as pessoas oferecem mais horas ao mercado, os salários caem e o desemprego aumenta. O excesso de oferta de mão-de-obra também prejudica o investimento e a inovação, que aceleram quando o trabalho é escasso em relação ao capital." 14

 

O pesquisador sindical alemão Herbert Jauch se aproxima muito da verdade quando coloca o número real de trabalhadores afetados pelo desemprego para um terço da classe trabalhadora global:

 

"O desemprego afeta agora quase um terço da força de trabalho global e a abundante oferta de mão-de-obra barata no "Terceiro Mundo" e na Europa Oriental contribui para rebaixar os salários mesmo nos países industrializados. Os salários reais nos países com baixos salários são até 70 vezes menores do que os pagos nos EUA, Europa Ocidental e Japão." 15

 

No entanto, mesmo as estatísticas da OIT deixam claro que o desemprego é particularmente alto entre os jovens proletários. Em 2010, os números oficiais de desemprego para jovens foram de 18,1% nos "Países Desenvolvidos", 19,5% na Europa Oriental e na ex-URSS, 8,8% no leste da Ásia, 13,6% no Sudeste Asiático, 10,2% no Sul da Ásia, 14,6% na América Latina, 25,4% no Oriente Médio, 23% no Norte da África e 12,8% na África Subsaariana. 16

 

Aqueles que ainda têm emprego muitas vezes têm que trabalhar em condições de emprego altamente inseguras e receber um salário pequeno. Em 2010, quase metade de todos os trabalhadores em todo o mundo estão empregados – de acordo com estatísticas oficiais (a taxa real é provavelmente muito maior) – em condições de emprego inseguras. No entanto, as condições muito piores da classe trabalhadora ao Sul e dos pobres tornam-se óbvias quando se vê a lacuna entre a disseminação do emprego inseguro no Norte e no Sul. Nos países imperialistas ricos isso afeta 10% de todos os empregados (se usarmos outras definições de insegurança, esse número seria maior). Mas no resto do mundo um número muito maior de trabalhadores é afetado pelo emprego inseguro: na Europa Oriental e na antiga União Soviética 20,9%, no Oriente Médio 29,8%, na América Latina 31,9%, em Norte da África 37,7%, no leste da Ásia 49,6%, no Sudeste Asiático 62,3%, no Sul da Ásia 78,4% e na África Subsaariana 76,9%! 17

 

A figura 21 também mostra que quanto mais aumenta a taxa de emprego no setor informal, mais pobres estão os países.

 

 

 

Figura 21: Emprego Informal (Taxa de Participação na Totalidade do Emprego) e o Grau de Desenvolvimento Econômico 18

 

 

 

Low=baixo / intermediate= intermediário / high=alto

 

 

 

O aumento da taxa de exploração

 

 

 

Como resultado dessas tendências, vemos um declínio substancial dos salários, e em paralelo um aumento nos lucros e, portanto, um aumento massivo na taxa de exploração. Mais uma vez, isso é verdade para todos os continentes, mas no Sul ainda é forte mais do que no Norte. Isso se reflete no desenvolvimento do trabalho, ou dos salários, da renda nacional. Essa categoria indica os salários (que é um indicador bruto para a renda da classe trabalhadora) como proporção da renda anual total dos trabalhadores, camponeses, trabalhadores autônomos, de classe média e capitalistas. Antes de reproduzir esses números, lembramos aos nossos leitores nossas observações sobre a necessidade de relativizar a categoria dos trabalhadores assalariados, uma vez que isso inclui, particularmente no Norte, a classe média assalariada (e a camada superior do proletariado – a aristocracia trabalhista). Veremos mais tarde (no Capítulo 9) que os salários da classe média assalariada e da aristocracia trabalhista se desenvolveram muito melhor do que os salários dos estratos inferiores e médios do proletariado. Mas essa participação, é claro, reflete a soma adicional de todos os salários e, portanto, não reflete totalmente a queda de renda para a massa do proletariado. Além disso – como explicaremos abaixo – esses números não dão uma visão completa da crescente e verdadeira taxa de exploração dos trabalhadores ao Sul, mas fazem com que seja subestimada essa exploração.

 

Mas vamos primeiro olhar para a evolução da participação dos salários, ou dos rendimentos salariais em várias partes do mundo. Nas figuras 22 e 23, mostramos que desde o início da década de 1970 a participação trabalhista nos antigos países imperialistas está em declínio.

 

 

 

Figura 22: Participação dos salários nos países da OCDE, 1960-2000 19

 

 

 

 

 

Figura 23: parcela dos rendimentos do Trabalho em países selecionados da OCDE, 1980-2007 20

 

 

 

 

 

Os estratos inferiores da classe trabalhadora nos países imperialistas foram particularmente atingidos pela ofensiva capitalista. Essas camadas não aristocráticas, muitas delas formadas por trabalhadores não qualificados, migrantes e mulheres, sofreram uma diminuição substancial do valor de sua força de trabalho, como mostra o economista marxista Guglielmo Carchedi em seu último livro Por Trás da Crise:

 

"Se o salário mínimo pode ser visto como um símbolo para o valor do rendimento do trabalho não especializada, a Tabela 2 indica um aumento desse valor apenas no período 1989-2000 e uma queda antes e depois desse período. Durante todo o período 1967-2005, o valor da força de trabalho cai 25,7%." 21

 

Vários estudos têm demonstrado claramente que o declínio da participação do trabalho tem sido ainda pior ao Sul. Ann Harrison, que publicou vários estudos e é uma pesquisadora frequentemente citada sobre esta questão, resumiu suas descobertas de que a participação do trabalho tem caído no Sul desde a década de 1960. Ela calcula que essa renda cai 0,1% ao ano (antes de 1993) e 0,3% ao ano (de 1993 até o início dos anos 2000). Nos países ricos, a renda salarial aumentou de 1960 para 1993 em 0,2% e diminuiu 0,4% no segundo período:

 

"Esses dados mostram que, nos países pobres, a participação do trabalho caiu em média 0,1 ponto percentual por ano antes de 1993. Essa queda foi mais rápida após 1993: a participação do trabalho caiu em média 0,3 pontos percentuais por ano. Nos países ricos, essa participação cresceu 0,2 pontos percentuais antes de 1993 e caiu 0,4 pontos percentuais por ano após 1993. Esses meios indicam uma reversão da tendência para os países ricos após 1993, enquanto indicam um declínio persistente da participação do trabalho nos países pobres durante todo o período. (...) Os resultados não se modificam se calcularmos as mudanças médias da participação do trabalho pela população: enquanto as participações de trabalho em países pobres caíram, a participação da renda do trabalho no PIB nos países de alta renda aumentou quase 4 pontos percentuais. Se refazermos a análise com 1960 como ponto de partida, a tendência é a mesma: as ações de mão-de-obra dos países de alta renda subiram em média durante o período de trinta anos, enquanto as participa de trabalho nos países mais pobres caíram." 22

 

Baseado nos números de Harrison, John Smith produziu dois interessantes conjuntos de dados em que ele detalha o desenvolvimento. (Ver Tabela 19) A segunda tabe faz a diferenciação entre as diversas categorias dos países mais pobres e ricos. Smith comenta sobre as descobertas:

 

"As informações mais marcantes estão contidas na última linha da Tabela 4.4b. Mostra a diferença na média da participação do trabalho no PIB entre 1960 e 1993, por um lado, e 1993-1996, por outro: relatando que, para o grupo 20% mais pobre, a participação do trabalho no PIB entre 1993 e 1996 foi, em média, 4,5% menor que sua média no período de 1960-1993, entre os 20% mais pobres, foi 8,9% menor 2% mais alto nos 20% dos países mais ricos. Harrison resumiu as tendências ao longo dos anos entre 1960 e 1996 contendo ‘enormes declínios na participação da mão de obra nos 20% dos países mais pobres , e aumentos significativos na participação da mão de obra nos 20% de todos os países". 23

 

 

 

Tabela 19: Mudanças da participação do Trabalho no PIB nos países ricos e pobres, 1960-1993 (em %) 24

 


 

Per capita GDP=PIB per capita

 

Global Median=Média Global

 

Annual change in labour’s share=Mudança anual na participação do trabalho

 

Change in average share= Mudança na participação média

 

Poorest= Mais pobre

 

Lower middle=Média inferior

 

Middle=Média

 

Richest=Mais rico

 

 

 

Smith também mostra que a diferença entre o crescimento da produção e o crescimento dos salários reais foi muito maior na América Latina e no "Desenvolvimento da Ásia" do que nas antigas metrópoles imperialistas. (Ver Tabela 20) Ele resume sua conclusão assim:

 

"No entanto, entre 2001 e 2007, Os salários reais nos "países desenvolvidos" cresceram 0,9% ao ano, 0,3% na América Latina e no Caribe e 1,8% na Ásia, enquanto o PIB per capita real durante esses anos cresceu 2,13% em "países desenvolvidos", 3,46% na América Latina e no Caribe e 6,75% na "Ásia em desenvolvimento". Como mostra sua última coluna, a discrepância entre aumentos reais dos salários e aumentos do PIB real per capita implica que a participação do trabalho em "economias avançadas" está diminuindo cerca de 0,8% ao ano, com um declínio anual muito maior de 2,3% na Ásia e 1,5% na América Latina e no Caribe." 25

 

 

 

Tabela 20: Crescimento dos Salários e Crescimento do PIB, 2001-2007 (em %) 26

 

 

 

Real per capita GDP growth=Crescimento real do PIB per capita

 

Real wage growth= Crescimento real dos salários

 

Implicit anual decline in labour’s share= Implícito declínio anual da participação salarial

 

Advanced economies= Economias avançadas

 

Developing Asia= Asia em desenvolvimento

 

Latin America and caribbean= America Latina e Caribe

 

 

 

Vemos o mesmo quadro de declínio na figura 24 a seguir, que dá uma visão geral sobre o desenvolvimento da participação salarial em diferentes continentes. Podemos ver uma queda na participação salarial nos países da OCDE de 65% da renda nacional para cerca de 59% (1980-2008, em 1991 a participação era de cerca de 63% e em 1995 era de cerca de 60%, na América Latina caiu muito mais acentuada de 50% para 37% (1980-2008), na Ásia de 43% em 1991 para cerca de 41% em 2008, nos estados ex-estalinistas ("Países de Transição") de 43% para 41% (1996-2008) e na África estagnou em torno de 31% (1995-2008).

 

 

 

Figura 24: Participação de Remuneração de Empregados em Renda Nacional, Grupos de Países Selecionados, 1980-2008 27

 


 

De acordo com outro estudo, a participação salarial caiu substancialmente na África de 37,1% do PIB em 1975, para cerca de 30% em 1990. 28

 

Na Tabela 21 vemos o desenvolvimento da participação salarial em vários países semicoloniais. Infelizmente, só cobre os anos 1975-1992, mas como vimos acima a tendência piorou após 1992.

 

 

 

Tabela 21: Participação dos Salários como Percentual de Valor Adicionado na Manufatura, 1975-1992 (em %) 29

 


 

Argentina/Brasil/Chile/Colômbia/México/Panamá/Peru/Venezuela/Índia/Paquistão/Sri Lanka/Hong Kong/República da Coreia/

 

Singapura/Indonésia/Malásia/Tailândia/

 

Filipinas/Gana/Quênia/Zâmbia/Zimbabwe/Egito/Marrocos/Tunísia/Turquia

 

 

 

Nas figuras 25 e 26 vemos o desenvolvimento das participações salariais na manufatura em importantes países do Sul – Turquia, México e Coreia do Sul. Como nota lateral, observamos que na Coreia do Sul o desenvolvimento da participação salarial foi diferente do México e da Turquia, que podem ser atribuídos principalmente a dois fatores: primeiro a enorme militância de luta de classes do proletariado coreano (referimo-nos à revolta armada contra a ditadura militar em Kwanju 1980, as batalhas das massas que começaram a derrubar o regime em 1987 e continuaram após este , a formação do novo movimento sindical militante KCTU etc.). Em segundo lugar, não se deve esquecer que o capital monopolista sul-coreano gerenciou – devido às circunstâncias excepcionais de apoio sistemático do imperialismo dos EUA, um período quase ininterrupto de ditaduras militares para explorar sua classe trabalhadora do final dos anos 1940 até 1987 – evoluindo a se tornar uma capital imperialista. Portanto, tinha espaço material para certos acordos. Nós lidamos com esta questão em detalhes em outro lugar. 30

 

 

 

Figura 25: Participação salarial do valor adicionado na indústria manufatureira na Coreia do Sul, México e Turquia, 1970-2003 31

 

 

 

 

 

Figura 26: Participação salarial do valor adicionado na indústria manufatureira na Turquia, 1970-2005 32

 

 

 

 

 

Um declínio ainda pior da participação salarial pode ser visto na China. (Ver Figura 27) Um grupo de economistas do Centro de Pesquisa em Mudança Sociocultural (CRESC) relatou em um estudo publicado recentemente sobre o declínio dramático dos salários dos trabalhadores industriais chineses no valor de fabricação do país de 52,3% em 2002 para 26,2% em 2008:

 

"Os índices participação salarial de manufatura chinesas estão atualmente em um nível extraordinariamente baixo de 27,2% em 2007 e estimados 26,2% em 2008 e são consideravelmente inferiores à proporção de 40-45% dos japoneses ou coreanos nas décadas de 1970 e 1980. E essa baixa participação salarial é o resultado de uma expansão recente e sem precedentes. A série mostra que participação salarial da China caiu de uma proporção de 52,3% em 2002 para 26,2% em 2008, apesar do aumento dos custos reais de mão-de-obra por empregado. Como mostra a tabela 1, o salário médio por hora da China na fabricação mais do que dobra de US$ 0,72 por hora em 2002 para US$ 1,81 por hora em 2008. Mas a mesma exposição demonstra que, com números empregados rodando constantemente em torno de 100 milhões + ou – 10 milhões, o pedaço de valor adicionado produzido pela fabricação chinesa mais do que agudos. Os números empregados realmente caem como o dobro do valor agregado em três anos a partir de 2005. O valor adicionado por empregado na manufatura chinesa sobe de um Yuán nominal de 32.772m em 2002 para 143.506m Yuán em 2008." 33

 

 

 

Figura 27 ): Participação do Trabalho de Manufatura Chinesa de Valor Adicionado, 2002-2008 34

 

 

 

 

 

O mesmo relatório mostra que "a China manteve os salários baixos: os salários e os salários como porcentagem do PIB caíram de 57% em 1983 para apenas 37% em 2005 até 2010 – um dos mais baixos do mundo capitalista". 35 De acordo com John Smith, mesmo esses números parecem subestimar a verdadeira depressão dos salários na China:

 

"Há boas razões para acreditar que os dados oficiais chineses sobre salários reais exageram consideravelmente os salários reais e o crescimento real dos salários na China, fazendo com que a discrepância entre os salários chineses e dos EUA pareça ser menor do que realmente são. O Relatório Salarial Global da OIT 2010-11 observa que os dados oficiais chineses refletem em grande parte a situação das empresas estatais, e que o crescimento dos salários (e, por implicação, os níveis salariais) são substancialmente menores no setor privado. Além disso, na China, como em outros lugares, os dados sobre os salários médios e o crescimento médio dos salários obscurecem aumentos muito acentuados na desigualdade salarial, no qual o rápido aumento dos salários dos trabalhadores mais bem pagos (incluindo os salários pagos aos gestores, etc. ) ocorre simultaneamente com salários estagnados ou mesmo em queda para trabalhadores de baixa remuneração, aparecendo nos dados como crescimento constante dos salários reais médios." 36

 

Por fim, queremos apresentar os resultados de um relatório da OIT publicado em 2011 que chega a conclusões semelhantes às que nós temos. A OIT analisou o desenvolvimento da participação salarial em 69 países – tanto no imperialista quanto no mundo semicolonial. Chega à seguinte conclusão:

 

"Desde o início da década de 1990, a participação salarial diminuiu em quase três quartos dos 69 países com informações disponíveis. O declínio é geralmente mais acentuado em países emergentes e em desenvolvimento do que em países avançados." 37

 

 

 
   


O relatório da OIT mostra que "desde 1994, a participação salarial na Ásia diminuiu cerca de 20 pontos percentuais. O ritmo do declínio se acelerou na última década, com a participação salarial caindo mais de 11 pontos percentuais entre 2002 e 2006. Na China, a participação salarial caiu cerca de 10 pontos percentuais desde 2000. Nos países africanos, a participação salarial diminuiu 15 pontos percentuais desde 1990, com a maior parte desse declínio – 10 pontos percentuais – ocorrendo desde 2000. O declínio é ainda mais espetacular no norte da África, onde a participação salarial caiu mais de 30 pontos percentuais desde 2000." (Veja também a Figura 28)

 

 

Figura 28: Tendências em participações Salariais nas Regiões, 1983-2009 (Índice=100 em 2000) 38

 

 

 

 

 

No entanto, todos esses relatórios sobre a queda da participação salarial só dão um quadro muito incompleto sobre o aumento da exploração capitalista sobre a classe trabalhadora. Eles fazem isso porque não são apresentados em combinação com o desenvolvimento real do tamanho do proletariado em um determinado país ou região. Em outras palavras, eles não são ajustados para o crescimento da própria classe trabalhadora. Por isso, tivemos um declínio da participação salarial nos países da OCDE, enquanto vimos, ao mesmo tempo, um crescimento moderado da proporção dos trabalhadores assalariados entre todos os empregados. Mas ao Sul vimos um declínio mais forte ou moderado da participação salarial, enquanto ao mesmo tempo houve um crescimento massivo da participação dos trabalhadores assalariados. Portanto, se ajustarmos o grau de queda das ações salariais (tão acentuada ou mais acentuada no Sul em comparação com o Norte) com o grau de crescimento da classe trabalhadora (muito mais forte no Sul em comparação com o Norte), chegamos à conclusão clara de que a taxa de exploração aumentou substancialmente mais no Sul do que no Norte.

 

Se olharmos novamente para os números e tabelas apresentados acima, chegamos aos seguintes resultados. Nos países da OCDE vemos um certo declínio da participação salarial de 1980 a 2008, enquanto os números disponíveis sugerem um aumento moderado da parcela de trabalhadores assalariado neste período. Na Ásia – onde 60% da classe trabalhadora industrial global vive 39 – os números disponíveis sugerem um certo declínio da participação salarial nas décadas de 1990 e 2000, enquanto ao mesmo tempo houve um aumento dramático da participação dos trabalhadores assalariado neste período. Na América Latina houve um declínio dramático da participação salarial e um declínio moderado da parcela dos trabalhadores assalariado neste período. Nos estados ex-estalinistas ("Países em Transição") vimos um certo declínio tanto da parte salarial quanto da parcela dos trabalhadores assalariado. Os números do Norte da África e do Oriente Médio indicam um claro declínio na participação salarial e um claro aumento na participação dos trabalhadores assalariados. E na África Subsaariana vimos primeiro um declínio e, em seguida, estagnação da participação salarial e um aumento da participação dos trabalhadores assalariados.

 

Portanto, em suma, vemos indicações que mostram claramente um aumento na taxa de exploração da classe trabalhadora ao Norte e um aumento ainda maior na taxa de exploração da classe trabalhadora ao Sul. De fato, estes dados também são a descoberta de dois economistas progressistas, Alexei Izyumov e John Vahaly. Em um trabalho publicado em 2011, eles analisam a taxa de valor excedente – ou seja, a relação entre os lucros dos capitalistas e os salários dos trabalhadores. Eles comparam o desenvolvimento dessa taxa – que os marxistas também chamam de taxa de exploração – para os anos de 1992-2008 entre os países imperialistas, as antigas semicolônias e os estados ex-estalinistas da Europa Oriental e a antiga URSS (as chamadas "Economias de Transição", onde o capitalismo foi restaurado no início dos anos 1990). Eles chegam à conclusão de que a taxa de valor excedente nas "Economias de Transição" capitalistas no Oriente é 1,5-2 maior do que nos antigos países imperialistas. Nos antigos países semicoloniais, a taxa de exploração é ainda maior em comparação com as chamadas "Economias de Transição":

 

 

 

“É baseado em estimativas da marxista taxa de mais-valia (taxa de exploração), participação do trabalho na renda nacional e outros indicadores de desempenho da renda do trabalho durante o período de 1992-2008. Achamos que a taxa de mais-valia nas economias em transição é 1,5-2 maior do que as estimativas comparáveis para "economias de mercado maduras" da Europa Ocidental, mas menor do que indicadores semelhantes para economias em desenvolvimento sem transição do mundo. ” 40

 

Os autores também mostram que a taxa de exploração aumentou mais rapidamente nos países semicoloniais clássicos nos anos 1994-2008. Mas também cresceu consideravelmente mais nos países estalinistas do que nos antigos estados imperialistas. (Veja a Figura 29).”

 

 

 

Figura 29: Taxas de mais-valia em economias desenvolvidas, em desenvolvimento e em transição, 1994-2008 41

 


 

Legenda: Economias altamente desenvolvidas (HDC), Economias de transição (TE), Países menos desenvolvidos (LDC)

 

 

 

Tudo isso mostra que o capital pode elevar a taxa de exploração da classe trabalhadora na maioria dos países do mundo nas últimas duas décadas. Foi especialmente bem-sucedido nisso nos países que não pertencem às velhas metrópoles imperialistas da Europa Ocidental, América do Norte e Japão.

 

 

 

1 Ver Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, pp. 242-250; em inglês: Karl Marx: Capital Vol. III, Capítulo XIV (Contra-influências)

 

2 Ver Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, p. 244; em inglês: Karl Marx: Capital Vol. III, Capítulo XIV (Contra-influências). Veja sobre isso também sua observação em Capital Vol. I: "Este resultado, no entanto, só seria obtido pela redução dos salários do trabalhador abaixo do valor de sua força de trabalho. Com os quatro xelins e seis pences que ele produz em nove horas, ele comanda um décimo a menos das necessários da vida do que antes, e consequentemente a reprodução adequada de sua força trabalho é aleijada. O trabalho excedente seria, neste caso, prolongado apenas por uma ultrapassagem de seus limites normais; seu domínio seria estendido apenas por uma usurpação de parte do domínio do tempo de trabalho necessário. Apesar da parte importante que esse método desempenha na prática real, estamos excluídos de considerá-lo neste lugar, por nossa suposição, de que todas as mercadorias, incluindo a força de trabalho, são compradas e vendidas pelo seu valor total." (Karl Marx: Das Kapital, Banda 1; in: MEW 23, pp. 332-333.; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. Eu, Capítulo 12)

 

3 Veja Karl Marx: Ökonomisches Manuskript 1861-1863. Teil 1, in: MEW 43, pp. 40-42; em inglês: Karl Marx: Manuscrito Econômico de 1861-63, Capítulo 1) Transformação do Dinheiro em Capital. O Processo de Valorização; in: MECW Volume 30, Valor da Capacidade de Trabalho. Salário mínimo ou salário médio do trabalho, http://marxists.org/archive/marx/works/1861/economic/ch14.htm

 

4 Karl Marx: Das Kapital, Banda 1; in: MEW 23, p. 454; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. I, Capítulo 15

 

5 Karl Marx: Das Kapital, Banda 1; in: MEW 23, p. 185; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. I, Capítulo 6

 

6 Karl Marx: Lohn, Preis und Profit; in: MEW 16, pp. 147-149; em inglês: Karl Marx: Valor, Preço e Lucro, Capítulo 14 (ênfase no original)

 

7 Karl Marx: Das Kapital, Banda 1; in: MEW 23, p. 587; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. I, Capítulo 22

 

8 Veja: John Smith: Imperialismo e a Globalização da Produção; John Smith: Imperialismo e a Lei do Valor (2011), em: Discurso Global [Online], 2: I, disponível a partir de: http://global-discourse.com/contents

 

9 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, pp. 247-248; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III, Capítulo 14, Contra-golpes influências (nossa ênfase)

 

10 Karl Marx, Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie, em: MEW 42, p. 368; em inglês: Karl Marx: Grundrisse. Contribuição para a Crítica política; Capítulo 9.

 

11 Karl Marx: Das Kapital, Banda I, MEW 23, pp. 674-675; em Inglês: Capital, Vol. Eu; Capítulo 25

 

12 RCIT: O Manifesto Comunista Revolucionário, p. 38; www.thecommunists.net/rcit-manifesto.

 

13 OIT: Tendências Globais de Emprego 2012. Prevenindo uma crise de empregos mais profunda, p. 92

 

14 Juliet Schor: Falácias econômicas: é hora de trabalhar mais, ou menos? In: Guardian, 10.1.2012 http://www.guardian.co.uk/sustainable-business/economy-employee-working-hours

 

15 Herbert Jauch: Globalização e Trabalho, p. 3

 

16 OIT: Tendências Globais de Emprego 2012, p. 92

 

17 OIT: Tendências Globais de Emprego 2012, p. 100

 

18 Marc Bacchetta, Ekkehard Ernst e Juana P. Bustamante: Globalização e Empregos Informais em Países em Desenvolvimento. Estudo conjunto do Escritório Internacional do Trabalho e da Secretaria da Organização Mundial do Comércio (2009), p. 34

 

19 Malte Lübker: Ações trabalhistas (2007), Resumo da Política da OIT, p. 2

 

20 Jean-Paul Fitoussi e Francesco Saraceno: Desigualdade e Desempenho Macroeconômico, (2010), OFCE/Sciences Po, p. 7

 

21 Guglielmo Carchedi: Por trás da crise. Dialética de Valor e Conhecimento de Marx, Leiden 2011, p. 134

 

22 Ann Harrison: A globalização corroeu a participação do trabalho? Some Cross-Country Evidence (2005), University of California Berkeley, MPRA Paper No. 39649, pp. 18-19; Online em http://mpra.ub.uni-muenchen.de/39649/

 

23 Ver John Smith: Imperialismo e a Globalização da Produção, p. 171

 

24 Ver John Smith: Imperialismo e a Globalização da Produção, p. 171

 

25 Ver John Smith: Imperialismo e a Globalização da Produção, pp. 169-170

 

26 Ver John Smith: Imperialismo e a Globalização da Produção, p. 170

 

27 UNCTAD: Relatório de Comércio e Desenvolvimento, 2010, p. 142. A UNCTAD detalha os países incluídos nesta estatística com a seguinte nota de rodapé: "Médias não mesuradas. Os dados referem-se ao lucro líquido nacional para os países da OCDE e à renda nacional bruta para outros grupos de países. A América Latina é composta por: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru; A Ásia é composta por Bahrein, China, Hong Kong (China), Filipinas e República da Coreia; A África é composta por Egito, Quênia, Moçambique, Namíbia, Níger, Senegal, África do Sul e Tunísia; As economias de transição compreendem: Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, a antiga República Iugoslava da Macedônia, a República da Moldávia, a Federação Russa, a Sérvia e a Ucrânia; A OCDE é composta por: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos."

 

28 Ishac Diwan: Dívida como Suor: Trabalho, crises financeiras e a globalização do capital, Banco Mundial 2001, p. 8

 

29 Robert van der Hoeven: Instituições do mercado de trabalho e desigualdade de renda: Quais são as novas percepções após o Consenso de Washington? (2000) Universidade das Nações Unidas - Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (UNU-WIDER), p. 13

 

30 Ver Michael Pröbsting: Der kapitalistische Aufholprozeß em Südkorea und Taiwan; em: Revolutionärer Marxismus Nr. 20 (1996). Uma versão abreviada deste artigo apareceu como "Desenvolvimento Capitalista na Coreia do Sul e Taiwan" em: Trotskista Internacional Nº 21 (1997), http://www.fifthinternational.org/content/capitalist-development-south-korea-and-taiwan. Também lidamos com a economia da Ásia Oriental e a luta de classes em Michael Pröbsting: Leste da Ásia: Crise estimula a Revolução; in: Trotskista Internacional nº 25 (1999).

 

31 Özlem Onaran: Participação do Trabalho em Países em Desenvolvimento na Era da Globalização (2008), Wirtschaftsuniversität Wien & Istambul Technical University, p. 5

 

32 Özlem Onaran: Fluxos de Capital, Turbulências e Distribuição: O Caso da Turquia (2007), Universidade Técnica de Istambul, p. 26

 

33 Julie Froud, Sukhdev Johal, Adam Leaver, Karel Williams: Apple Business Model. Financeirização em todo o Pacífico; Série de papel de trabalho CRESC, Papel de Trabalho nº 111, abril de 2012, pp. 13-14

 

34 Julie Froud, Sukhdev Johal, Adam Leaver, Karel Williams: Apple Business Model, p. 14

 

35 Julie Froud, Sukhdev Johal, Adam Leaver, Karel Williams: Apple Business Model, p. 20

 

36 John Smith: Imperialismo e a Lei do Valor (2011), p. 15

 

37 OIT: World of Work Report 2011, p. 56

 

38 OIT: World of Work Report 2011, p. 57

 

39 OIT: Tendências Globais de Emprego 2011. O desafio de uma recuperação de empregos, Genebra, p. 68

 

40 Alexei Izyumov e John Vahaly: Rendas trabalhistas vs. capitais nas economias de transição. O que Karl Marx diria? 2011, p. 1, http://www.global-labour-university.org/fileadmin/GLU_conference_2011/papers/Alexei_Izyumov.pdf

 

41 Alexei Izyumov e John Vahaly: Rendas trabalhistas vs. capitais nas economias de transição, p. 5

 

 

 

6. A Teoria Marxista e a Super-Exploração Imperialista dos Países Semicoloniais

 

 

Explicamos que a formação de monopólios é resultado do processo de concentração e centralização capitalista e que os monopólios tentam – por vários meios – neutralizar a lei capitalista inerente, ou seja, a tendência da taxa de lucro cair. Uma das formas mais importantes de neutralizar – e a que nos concentramos aqui dado o contexto do tema do nosso livro – é o papel dos mercados estrangeiros nos países capitalistas menos desenvolvidos para o capital monopolista. Esses mercados estrangeiros fornecem capital monopolista com:

 

i) Exploração de mão-de-obra mais barata via exportação de capital

 

ii) Mercados adicionais para suas commodities

 

iii) Acesso a matéria-prima

 

Os mercados colonial e semicolonial oferecem ao capital monopolista vários métodos nos quais ele pode obter um lucro extra. Eles são principalmente:

 

i) Exportação de capital como investimento produtivo

 

ii) Exportação de capital como capital (tais como empréstimos, reservas cambiais, especulação etc.)

 

iii) Transferência de valor via câmbio desigual

 

iv) Transferência de valor via migração

 

A seguir, vamos elaborar como os clássicos marxistas viam essas formas de obter um lucro extra.

 

 

 

Intercâmbio Desigual

 

 

 

Marx referiu-se, no Volume III de O Capital, ao comércio exterior como uma importante fonte de capital para neutralizar a tendência de queda da taxa de lucro. A base para isso é que, dado o menor nível de desenvolvimento das forças produtivas, o capital nos países semicoloniais tem uma composição orgânica maior, ou seja, a participação do trabalho humano é maior em relação ao capital constante. Como consequência, produzem um valor relativamente maior e, portanto, uma taxa média de lucro mais alta.

 

No entanto, quando as mercadorias dos países (imperialistas) mais desenvolvidos e as mercadorias dos países (semicoloniais) menos desenvolvidos são trocadas no mercado mundial, a lei de valor permite que o capital imperialista obtenha um lucro extra com uma troca desigual. Suas mercadorias mais baratas superam as mercadorias mais caras dos países semicoloniais, forçam os últimos a vender suas mercadorias abaixo do seu valor etc. Portanto, o capital mais forte (imperialista) pode vender suas commodities acima de seu preço de produção e ainda permanece mais barato no mercado mundial do que o capital menos competitivo (semicolonial). Este último é forçado a vender suas commodities abaixo de seu preço de produção e muitas vezes ainda permanece mais caro no mercado mundial do que seus rivais imperialistas.

 

Como resultado, o capital mais forte (imperialista) se apropria com sucesso de uma parte do valor excedente que é criado pelo capital mais fraco (semicolonial). Isso significa que o intercâmbio desigual fornece uma base importante para uma transferência massiva de valor do capitalista menos desenvolvidos para os países capitalistas mais desenvolvidos.

 

A razão para esse desenvolvimento está na própria lei capitalista do valor. Vejamos como os preços são formados e a taxa média de lucro sendo constituída em um determinado setor industrial. Ao lidar com o processo de equalização de preços e taxas de lucros, Marx explicou em O Capital Vol. III que as mercadorias individuais não são vendidas pelo seu valor individual. Como se sabe, há capitais maiores e menores, mais produtivos e menos produtivos competindo no mercado. Através do processo de equalização dos valores das commodities, forma-se os preços de produção. Esses preços de produção representam o preço de custo (ou seja, os custos que o capitalista tem que pagar pelos salários, amortização das máquinas, matéria-prima etc.) mais a taxa média de lucro. Em outras palavras, o preço de produção só é formado após a equalização dos valores. A propósito, é por isso que Marx fala sobre a "quantidade de trabalho socialmente necessária, ou o tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção" que determina a magnitude do valor de qualquer mercadoria e não o tempo de trabalho individual que os trabalhadores John, Shakira, Laura e Mohammed etc. investiram na produção da mercadoria dada. 1

 

Após a substituição dos respectivos valores de capital utilizados nas diversas esferas de produção, ocorre uma distribuição de todo o valor excedente. Esse valor excedente não é distribuído proporcionalmente ao montante produzido pelo capitalista individual ou nas esferas individuais de produção. É distribuído "em proporção à magnitude das capitais avançadas. Só dessa forma surgem o lucro médio e o preço da produção." 2

 

Então vemos que a própria lei do valor cria uma distorção entre o preço e o valor. É claro que a soma total dos preços no final deve ser igual à soma total dos valores produzidos. No entanto, a forma como os valores são distribuídos através do preço de mercado está relacionada à massa de capital investido, à produtividade e à posição monopolista dos diferentes grupos de capital. Como veremos mais tarde, há enormes distorções de preços que são importantes para entender o grau de super-exploração imperialista das semicolônias.

 

É claro que há uma diferença importante entre a formação de preços em um determinado setor industrial ou no mercado nacional, por um lado, e o mercado mundial, por outro. O capitalismo desenvolveu-se historicamente como uma formação nacional. Assim, os preços de mercado e a taxa média de lucro são, em primeiro lugar, formados em um mercado nacional. Marx explicou que a transformação do valor em preços de produção e, finalmente, os preços de mercado têm como pré-condição a possibilidade de equalização e valores e taxas de lucro entre os setores. Isso exige que o capital possa passar de um setor para outro e assim formar a base para tal equalização.

 

"Tem-se dito que a concorrência nivela as taxas de lucro das diferentes esferas de produção em uma taxa média de lucro e, assim, transforma os valores dos produtos dessas diferentes esferas em preços de produção. Isso ocorre através da transferência contínua de capital de uma esfera para outra, na qual, por enquanto, o lucro passa a ser acima da média. As flutuações de lucro causadas pelo ciclo de anos gordos e magros que sucedem uns aos outros em qualquer ramo da indústria dentro de determinados períodos devem, no entanto, receber a devida consideração. Essa incessante saída e entrada de capital entre as diferentes esferas de produção cria tendências de aumento e queda na taxa de lucro, que se igualam mais ou menos e, portanto, tendem a reduzir a taxa de lucro em todos os lugares para o mesmo nível comum e geral. Esse movimento de capitais é causado principalmente pelo nível de preços de mercado, que elevam os lucros acima da média geral em um lugar e os deprimem abaixo dela em outro." 3

 

A mesma ideia é expressa em outro capítulo do Capital Vol. III:

 

"O que a concorrência, em primeiro lugar em uma única esfera, alcança é um único valor de mercado e preço de mercado derivado dos vários valores individuais das commodities. E é a concorrência de capitais em diferentes esferas, o que primeiro traz à tona o preço da produção equalizando as taxas de lucro nas diferentes esferas. Este último processo requer um maior desenvolvimento da produção capitalista que o anterior." 4

 

No entanto, embora tais condições existam no mercado nacional, elas não existem da mesma forma no mercado mundial. A formação nacional dos mercados cria inúmeras barreiras para a entrada de capital estrangeiro. Por essa razão, não há preços comuns de produção e preços de mercado em todo o mundo, mas há preços de produção e preços de mercado nacionalmente diferentes. Pelas mesmas razões, não há uma taxa média comum de lucro em todo o mundo, mas várias taxas de lucro nacionalmente diferentes. 5

 

Como resultado, a equalização dos valores que leva à formação dos preços de produção e às taxas médias de lucros ocorre antes da entrada das commodities na esfera de circulação. No mercado mundial, as commodities são trocadas após a formação dos preços de produção e das taxas médias de lucro. Aqui as mercadorias são trocadas representando mais ou menos "trabalho nacional intenso" ou mais ou menos tempo de trabalho socialmente necessário, como disse Marx. Em outras palavras, o que vemos aqui é uma troca desigual entre commodities que incorporam menos e commodities que incorporam trabalho mais intenso.

 

Henryk Grossmann, em seu livro sobre a tendência de colapso do capitalismo, referia-se à transferência de valor excedente dos países capitalistas mais desenvolvidos:

 

"Em um capitalismo conceitualmente isolado, empresários com tecnologia acima da média têm um lucro excedente (uma taxa de lucro acima da média) quando vendem suas commodities a preços socialmente médios. Da mesma forma, no mercado mundial, os países tecnologicamente avançados lucram ao custo dos tecnologicamente menos desenvolvidos." 6

 

No entanto, isso não deve ser entendido de forma esquemática. Dentro de uma multinacional na cadeia produtiva, temos apenas em um grau limitado uma troca de commodities após a formação de seus preços (por exemplo, quando os produtos intermediários são comprados de outros produtores). Ao mesmo tempo, existe também uma esfera de produção internacional separada dentro das corporações multinacionais onde os valores internacionais são produzidos.

 

De fato, a formação de valores internacionais como resultado do crescente papel das corporações multinacionais é uma das características mais importantes da globalização. É um resultado central da essência da fórmula que afirmamos antes: "Globalização = Monopolização + Internacionalização". Lembremo-nos dos números mencionados acima que um quarto da atividade econômica mundial ocorre dentro das corporações transnacionais. 7 A partir disso, torna-se óbvio que o setor monopolista internacionalizado, onde são criados valores internacionais e preços de produção e uma equalização internacional das taxas de lucro, é de importância central para o capitalismo atual.

 

No final, as diferenças entre os preços nacionais e as taxas de lucro refletem diferentes níveis de desenvolvimento das forças produtivas, o que é novamente resultado da lei do desenvolvimento desigual e combinado. A relação entre o mercado nacional e o mercado mundial só pode ser entendida de forma dialética. O mercado nacional totalmente desenvolvido é subordinado e dependente do mercado mundial. O mercado mundial, por outro lado, não é uma abstração, mas baseado na relação entre e a interdependência dos mercados nacionais.

 

O mercado mundial representa, em primeiro lugar, a circulação generalizada de commodities, como Mandel apontou corretamente. Há, no entanto, também uma forte tendência para a internacionalização da produção e a criação de um setor monopolista internacionalizado – como se reflete no crescente papel das corporações multinacionais e de suas cadeias produtivas internacionais. Mas essa é uma tendência – até certo ponto, como a tendência da monopolização que também não elimina a concorrência.

 

No Volume de Capital III, Marx observou que a tendência de equalização das taxas de lucro e, portanto, a formação de prêmios de produção acelera quanto mais uma determinada economia é dominada pelo modo de produção capitalista.

 

"Agora, se as commodities são vendidas a seus valores, então, como mostramos, taxas de lucro muito diferentes surgem nas diversas esferas de produção, dependendo da composição orgânica diferente das massas de capital investidas nelas. Mas o capital se retira de uma esfera com uma baixa taxa de lucro e invade outros, que geram um lucro maior. Através desse fluxo e influxo incessante, ou, brevemente, através de sua distribuição entre as diversas esferas, que depende de como a taxa de lucro cai aqui e sobe lá, cria tal razão de oferta para demanda que o lucro médio nas diversas esferas de produção se torna o mesmo, os valores finais são, portanto, convertidos em preços de produção. O capital tem sucesso nessa equalização, em maior ou menor grau, dependendo da extensão do desenvolvimento capitalista na determinada nação; ou seja, na medida em que as condições do país em questão são adaptadas para o modo de produção capitalista. Com o progresso da produção capitalista, também desenvolve suas próprias condições e subordina-se ao seu caráter específico e às suas leis imanentes, todos os pré-requisitos sociais nos quais o processo produtivo se baseia." 8

 

Quanto mais a economia mundial é dominada pelo modo capitalista de produção, mais podemos ver uma saída global e influxo de capital e, portanto, uma tendência para a equalização internacional das taxas de lucro. No entanto, permanecem fatores importantes para manter taxas de lucros muito diferentes: primeiro o Estado-nação com seu mercado interno; em segundo lugar, as enormes diferenças no valor da única mercadoria que cria um novo valor – a força de trabalho. É exatamente essa mercadoria onde não há mercado mundial irrestrito. Muito pelo contrário, os estados imperialistas regulam o mercado de trabalho mundial com a força bruta de seu aparato estatal. Mesmo ideólogos imperialistas liberais como o ex-economista do Banco Mundial Lant Pritchett têm que admitir que o sistema em que vivemos "se assemelha ao apartheid em escala global". 9

 

O domínio imperialista sobre as semicolônias, por um lado, é a expressão dos diferentes níveis de produtividade do trabalho – ou seja, diferentes níveis de desenvolvimento das forças produtivas – e, portanto, dos diferentes estados do desenvolvimento capitalista. Por outro lado, essas diferenças na produtividade do trabalho nacional são reforçadas, aumentadas, e essa lacuna ampliada pela regra dos monopólios e pelo grandes potências que superxploram as semicolônias.

 

Devido ao desenvolvimento desigual e combinado, devido às enormes lacunas na produtividade do trabalho e às regras dos monopólios (e das Grandes Potências), o mercado mundial é uma unidade de opostos e não uma unidade homogênea. É essa unidade contraditória de opostos que forma a base para o imperialismo.

 

Marx lidou com o tema da troca desigual no mercado mundial e extra-lucros em várias ocasiões. Em seu grande trabalho de preparação para o Capital, o Grundrisse, Marx reconheceu a importância da apropriação do valor de uma nação com relação a outra:

 

"A partir da possibilidade de que o lucro possa ser menor que o valor excedente, portanto, esse capital [pode] se trocado lucrativamente sem se perceber no sentido estrito, segue-se que não apenas os capitalistas individuais, mas também as nações podem se trocar continuamente entre si, pode até mesmo repetir continuamente a troca em uma escala cada vez maior, sem que, por essa razão, necessariamente ganhem em igualdade de condições. Uma das nações pode se apropriar continuamente de uma parte do trabalho excedente do outro, não devolvendo nada para ele na troca, exceto que a medida aqui [não é] como na troca entre capitalista e trabalhador." 10

 

No Capital Volume III, Marx elaborou ainda mais essa ideia:

 

"Capitais investidos no comércio exterior podem render uma taxa de lucro maior, porque, em primeiro lugar, há concorrência com commodities produzidas em outros países com instalações de produção inferiores, de modo que o país mais avançado venda suas mercadorias acima de seu valor, embora mais barato que os países concorrentes. Na medida em que o trabalho do país mais avançado é aqui realizado como trabalho de maior peso específico, a taxa de lucro aumenta, porque o trabalho que não foi pago como sendo de maior qualidade é vendido como deveria ser. O mesmo pode obter em relação ao país, para o qual as mercadorias são exportadas e para a qual as mercadorias são importadas; ou seja, este último pode oferecer mão-de-obra mais materializada em espécie do que recebe, e ainda assim receber mercadorias mais baratas do que poderia produzi-las. Assim como um fabricante que emprega uma nova invenção antes de se tornar geralmente usado, subestima seus concorrentes e ainda vende sua mercadoria acima de seu valor individual, ou seja, percebe a produtividade especificamente maior do trabalho que ele emprega como trabalho excedente. Assim, ele garante um lucro excedente. Como diz respeito às capitais investidas em colônias, etc., por outro lado, elas podem render taxas de lucro mais altas pela simples razão de que a taxa de lucro é maior lá devido ao desenvolvimento atrasado, e da mesma forma a exploração do trabalho, devido ao uso de escravos, mão de obra barata, etc. Por que essas taxas de lucro mais elevadas, realizadas por capitais investidas em determinadas linhas e enviadas para casa por elas, não devem entrar na equalização da taxa geral de lucro e, assim, tendem, pro tanto, a elevá-la, a menos que sejam os monopólios que estão no caminho. Há muito menos razão para isso, uma vez que essas esferas de investimento de capital estão sujeitas às leis da livre concorrência. O que Ricardo imagina é principalmente isso: com os preços mais altos realizados no exterior as mercadorias são compradas lá em troca e enviadas para casa. Essas commodities são, portanto, vendidas no mercado doméstico, o que pode, na melhor das hipóteses, ser uma desvantagem extra temporária dessas esferas de produção favorecidas em relação às outras. Essa ilusão desaparece assim que é despojada de sua forma de dinheiro. O país favorecido recupera mais mão-de-obra em troca de menos mão-de-obra, embora essa diferença seja embolsada, como em qualquer troca entre trabalho e capital, por uma certa classe. "11

 

Mais tarde, no Volume I de O Capital, capítulo XX , Marx explica os diferentes valores das commodities dos diferentes países capitalistas desenvolvidos mais detalhadamente:

 

"O que dentro deste movimento pode aparecer como combinação variável, pode aparecer em países diversos como diversidade simultânea de salários nacionais. Na comparação de salários nacionais há, portanto, que ponderar todos os momentos que determinam a variação na magnitude de valor da força de trabalho: preço e volume das primeiras necessidades vitais, naturais e historicamente desenvolvidas, custos de instrução do operário, papel do trabalho feminino e infantil, produtividade do trabalho, sua magnitude extensiva e intensiva. Mesmo a comparação mais superficial requer antes de mais que se reduza o salário diário médio, para os mesmos ofícios em países diversos, a dias de trabalho de grandeza igual. Após tal igualização dos salários diários, o salário por tempo tem de ser traduzido de novo em salário à peça, uma vez que só o último é escala graduada tanto para a produtividade como para a magnitude intensiva do trabalho.”

 

Em cada país vigora uma certa intensidade média do trabalho, abaixo da qual, para a produção de uma mercadoria, o trabalho despende mais tempo do que o socialmente necessário e, por isso, não conta como trabalho de qualidade normal. Apenas um grau de intensidade que se eleva acima da média nacional altera, num dado país, a medida do valor pela mera duração do tempo de trabalho. Outra coisa sucede no mercado mundial, cujas partes integrantes são os países singulares. A intensidade mediana do trabalho varia de país para país; aqui é maior, ali mais pequena. Estas médias nacionais formam, portanto, uma escala, cuja unidade de medida é a unidade média do trabalho universal. Comparado com o trabalho menos intensivo o trabalho nacional mais intensivo produz, portanto, em tempo igual mais valor, o que se expressa em mais dinheiro.

 

Mas a lei do valor é ainda mais modificada na sua aplicação internacional pelo facto de no mercado mundial o trabalho nacional mais produtivo contar igualmente como mais intensivo sempre que a nação mais produtiva não for coagida pela concorrência a baixar o preço de venda das suas mercadorias até ao seu valor.

 

Na medida em que a produção capitalista está desenvolvida num país, nessa mesma medida se elevam também aí a intensidade e produtividade nacionais do trabalho acima do nível internacional. Os diversos quanta de mercadorias da mesma espécie que em países diversos são produzidos em tempo de trabalho igual têm, portanto, valores internacionais desiguais, que se expressam em preços diversos, i. é, em somas de dinheiro diversas consoante os valores internacionais. O valor relativo do dinheiro tomar-se-á, portanto, menor na nação com um modo de produção capitalista mais desenvolvido do que naquela que o tenha menos desenvolvido. Segue-se, portanto, que o salário nominal, o equivalente da força de trabalho expresso em dinheiro, será igualmente mais elevado na primeira nação do que na segunda; o que não quer de modo algum dizer que isto valha também para o salário real, i. é, para os meios de vida postos à disposição do operário.

 

Mas mesmo abstraindo desta diversidade relativa do valor do dinheiro em países diversos, verificar-se-á com frequência que o salário diário, semanal, etc., será superior na primeira nação do que na segunda, enquanto o preço relativo do trabalho, i. é, o preço do trabalho em relação tanto com a mais-valia como com o valor do produto, está mais acima na segunda nação do que na primeira." 12

 

Da mesma forma em suas Teorias do Valor Excedente Marx escreveu explicitamente sobre o intercâmbio desigual onde "o país mais rico explora o mais pobre":

 

"Digamos, em suas anotações ao livro de Ricardo traduzido por Constâncio, faz apenas uma observação correta sobre o comércio exterior. O lucro também pode ser feito trapaceando, uma pessoa ganhando o que a outra perde. Perda e ganho dentro de um único país cancelam um ao outro. Mas não é assim com o comércio entre diferentes países. E mesmo de acordo com a teoria de Ricardo, três dias de trabalho de um país podem ser trocados contra um de outro país — um ponto não observado por Say. Aqui a lei do valor sofre modificações essenciais. A relação entre os dias de trabalho de diferentes países pode ser semelhante à existente entre mão-de-obra qualificada e complexa e trabalho simples e não qualificado dentro de um país. Neste caso, o país mais rico explora o mais pobre, mesmo onde este último ganha pela troca, como Explica John Stuart Mill em suas Perguntas Inquietas." 13

 

Embora esse fenômeno já tenha desempenhado um papel importante na época de Marx, na época do capitalismo monopolista (ou seja, após a morte de Marx e Engels) isso aumentou qualitativamente. O economista marxista alemão Henryk Grossmann pegou esse pensamento de Marx e se referiu ao papel do intercâmbio desigual nas relações econômicas entre o país capitalista avançado e os países capitalistas menos desenvolvidos:

 

"O comércio internacional não se baseia em uma troca de equivalentes porque, como no mercado nacional, há uma tendência de equalização das taxas de lucro. As commodities do país capitalista avançado com maior composição orgânica serão, portanto, vendidas a preços de produção acima do valor; os do país atrasado a preços de produção inferiores ao valor. (...) Dessa forma, a circulação no mercado mundial envolve transferências de valor excedente dos países capitalistas menos desenvolvidos, pois a distribuição do valor excedente é determinada não pelo número de trabalhadores empregados em cada país, mas pelo tamanho do capital em funcionamento." 14

 

Como veremos mais tarde, a troca desigual tornou-se uma grande fonte para a super-exploração do mundo semicolonial pelo capital imperialista.

 

 

 

Exportação de Capital

 

 

 

Os países mais pobres são importantes para o capital imperialista não apenas como mercado para suas commodities ou como fonte de matéria-prima. Dado o enorme reservatório das forças de trabalho e as condições baratas para sua exploração, por um lado, e a tendência da taxa de lucro entrar em seus países de origem, por outro lado, o capital imperialista tem um forte incentivo para exportar capital para esses países mais pobres. Esses mercados estrangeiros não substituem e não podem substituir o mercado interno pelo capital monopolista. Mas eles podem fornecer uma fonte importante para o lucro extra que é possível dada a maior taxa média de lucro nesses países.

 

Essas exportações de capital permitem que os monopólios combinem suas máquinas e tecnologia modernas com forças de trabalho substancialmente mais baratas. Dessa forma, reduzem o preço de custo de suas commodities. Quando vendem suas mercadorias, podem vender abaixo do preço de mercado. Este é o caso no país semicolonial e no mercado imperialista. No mercado semicolonial eles podem vender abaixo do preço de mercado porque os trabalhadores de baixa remuneração produziram as commodities de forma mais eficaz e produtiva, dada a máquina mais moderna que os monopólios implantam em comparação com seus rivais capitalistas semicoloniais. No mercado imperialista eles podem vender abaixo do preço de mercado porque tiveram que pagar muito menos pelos salários dos trabalhadores nas semicolônias do que seus rivais no mercado imperialista têm que pagar.

 

Que tipo de exportação de capital ocorre? Por um lado, o capital imperialista tende a exportar capital como investimento produtivo, ou seja, constroem novos empreendimentos, respectivamente, compram e expandem empreendimentos já existentes nos países capitalistas menos desenvolvidos. Uma vez que o capital imperialista emprega geralmente mais tecnologia moderna do que a maioria dos concorrentes domésticos semicoloniais eles podem alcançar uma posição ainda mais forte e monopolista nesses mercados do que nos países imperialistas. Assim, eles têm um lucro extra muito acima da média e, embora uma parte disso possa ser reinvestida, uma proporção significativa será devolvida aos proprietários nos países imperialistas.

 

Outra forma de exportação de capital – que ganhou enorme importância particularmente desde o início da década de 1970 – é a exportação de capital monetário como empréstimos. Neste caso, os bancos e outras instituições financeiras dão aos países semicoloniais empréstimos para os quais eles têm que pagar taxas de juros enormes.

 

A importância da exportação de capital para a burguesia do monopólio imperialista já foi enfatizada por Lênin em seu famoso livro sobre o imperialismo:

 

" Enquanto o capitalismo for capitalismo, o excedente de capital não é consagrado à elevação do nível de vida das massas do país, pois significaria a diminuição dos lucros dos capitalistas, mas ao aumento desses lucros através da exportação de capitais para o estrangeiro, para os países atrasados. Nestes países atrasados o lucro é em geral elevado, pois os capitais são escassos, o preço da terra e os salários relativamente baixos, e as matérias-primas baratas. A possibilidade da exportação de capitais é determinada pelo fato de uma série de países atrasados terem sido já incorporados na circulação do capitalismo mundial, terem sido construídas as principais vias férreas ou iniciada a sua construção, terem sido asseguradas as condições elementares para o desenvolvimento da indústria, etc. A necessidade da exportação de capitais obedece ao fato de que em alguns países o capitalismo “amadureceu excessivamente” e o capital (dado o insuficiente desenvolvimento da agricultura e a miséria das massas) carece de campo para a sua colocação “lucrativa". 15

 

 

 

Migração e super-exploração

 

 

 

Finalmente temos que mencionar a crescente importância da migração. Desde o início da era da migração imperialismo ocorre a partir de países pobres, principalmente coloniais ou semicoloniais para os países imperialistas ricos. Especialmente nas últimas décadas - desde o início do desenvolvimento do capitalismo em crise no início da década de 1970 e, particularmente, com o início da globalização - a migração aumentou substancialmente.

 

Em nosso estudo em língua alemã sobre o desenvolvimento e a natureza da migração ("Marxismo, Migração e integração revolucionária) mostramos que a migração é uma parte essencial da superexploração do mundo semicolonial pelo capital monopolista imperialista. 16 Assim como o capital monopolista extrai lucros excedentes do mundo semicolonial, há também uma apropriação de lucros extras através da migração. O capital imperialista tira o lucro pagando aos trabalhadores imigrantes um valor abaixo do valor de sua força de trabalho de várias maneiras:

 

i) Os capitalistas podem explorar os imigrantes muitas vezes sem custos limitados ou apenas limitados para sua educação, uma vez que os imigrantes são muitas vezes educados em seu país de origem. O valor de uma mercadoria é – como apontou o economista marxista soviético Issac I. Rubin – não apenas o produto do trabalho que entra diretamente nela "mas também daquele trabalho que é necessário para a formação do trabalhador na determinada profissão". 17 Portanto, o capitalista se apropria de uma parte do valor da mercadoria sem custos.

 

ii) Os capitalistas muitas vezes têm que pagar ou não ou apenas custos reduzidos para a pensão e a seguridade social dos imigrantes, uma vez que eles têm acesso limitado ao serviço social e quando envelhecem eles muitas vezes voltam para o seu país de origem.

 

iii) Os capitalistas geralmente pagam aos imigrantes um salário substancialmente menor do que o salário dos trabalhadores da nação governante. Os capitalistas podem explorá-los como uma força de trabalho mais barata (em comparação com a população nativa) por causa de sua posição social que é caracterizada pela opressão nacional. Este pode ser o caso por causa de sua falta de direitos se eles não são cidadãos do país imperialista. Pode ser o caso porque a língua materna do imigrante não é tratada como igual e, portanto, estão altamente desfavorecidos em seus empregos, escolas e todas as outras áreas da vida na sociedade imperialista. Ou são oprimidos através de várias formas de discriminação social. Essas formas de opressão não são válidas apenas para imigrantes de primeira geração, mas também para imigrantes da segunda e terceira geração.

 

Os migrantes são nacionalmente oprimidos. Os imigrantes não pertencem à nação dominante e, portanto, sofrem discriminação com relação à língua oficial (que geralmente deles) em todas as áreas públicas, autoridades públicas, mídia e escolas, tendo direitos menos democráticos como cidadãos estrangeiros, incluindo sua dependência de uma permissão de trabalho, etc. Como consequência, a grande maioria dos imigrantes tem uma posição específica na hierarquia social do sistema capitalista: em sua grande maioria, os imigrantes pertencem às camadas inferiores da classe trabalhadora e uma pequena parte deles, que pertence à pequena burguesia, é geralmente parte dos setores mais pobres da pequena burguesia.

 

É claro que as formas de opressão nacional e super-exploração não são as mesmas para todos os imigrantes. Os imigrantes de segunda geração não experimentam as mesmas condições da primeira geração, os cidadãos estrangeiros não sofrem as mesmas condições que os imigrantes com cidadania, trabalhadores imigrantes altamente qualificados não sofrem as mesmas condições que aqueles que são empregados como trabalhadores não qualificados, etc. Os imigrantes têm diferentes origens nacionais, razão pela qual não podemos falar de uma identidade nacional comum. Falamos sim de uma identidade nacional negativa conjunta (ou seja, que eles são "não alemães", "não britânicos" etc. com raízes em - em relação ao país da imigração - países mais pobres). Mas, em última análise, todas essas diferentes partes dos imigrantes têm muito mais em comum do que o que os divide - ou seja, a posição social como uma camada, que em sua vasta maioria experimentou de uma forma ou outra opressão nacional e super-exploração.

 

É preciso diferenciar os imigrantes de países ricos e imperialistas e os de países pobres e semicoloniais. Imigrantes de países ricos e imperialistas não são, em média, super-explorados e muitas vezes tomam um lugar relativamente alto na hierarquia social da ordem capitalista. Consideramos este grupo de imigrantes de países ricos e imperialistas, portanto apenas como um grupo secundário de imigrantes ou como uma camada menos exposta às formas típicas de discriminação e exploração. No entanto, eles formam apenas uma minoria entre os imigrantes. De longe, o maior grupo de imigrantes são aqueles com raízes nos países mais pobres e semicoloniais.

 

Mulheres imigrantes e jovens experimentam uma opressão adicional. As mulheres imigrantes são – ainda mais do que seus colegas homens – empregadas como força de trabalho não qualificada com salários muito baixos. Por causa de sua opressão como imigrantes, as estruturas patriarcais são mais acentuadas. Os jovens imigrantes também são oprimidos na família patriarcal e, devido à discriminação social e linguística, seu nível de escolaridade é significativamente menor do que o de seus colegas nativos do país onde estão.

 

A opressão dos imigrantes é justificada e mantida pelas diversas formas de ideologias racistas. Existem diferentes formas de racismo, buscando justificar a supressão dos imigrantes com várias mentiras: i) inferioridade biológica e genética, ii) outra, com os valores culturais incompatíveis entre o estado-nação (o "choque das civilizações"), iii) a chamada religião retrógrada e agressiva (por exemplo, diferentes formas de islamofobia). Essas justificativas reacionárias podem e são, na prática, muitas vezes misturadas. Também o racismo opera em diferentes níveis - com leis, com política populista, com preconceitos populares, etc.

 

Resumindo, por todas essas razões, a CCRI define em seu programa e em suas Teses sobre imigração em que os imigrantes se situam como "uma camada nacionalmente oprimida de força de trabalho super-explorada". 18

 

Esta super-exploração do trabalho imigrante é uma importante fonte extra de lucros imperialistas. Assim, é também uma importante fonte para o fortalecimento do poder da classe dominante imperialista.

 

Esses lucros extras também são a base para a divisão da classe trabalhadora nos países imperialistas impulsionados pelo capital monopolista. Eles dividiram o proletariado entre a massa ampla dos estratos inferior e médio dos trabalhadores e uma pequena, mas altamente influente (nos sindicatos, partidos etc.) camadas superiores da classe trabalhadora - a aristocracia trabalhista. A base dessa divisão é a corrupção da aristocracia trabalhista pelo capital monopolista que gasta uma parte dos lucros extras para subornar essa camada superior da classe trabalhadora. (mais sobre isso no Capítulo 9) Tal suborno pode assumir a forma de salários relativamente altos, propriedade de ações da corporação, privilégios não monetários, etc.

 

Karl Marx já reconheceu as importantes consequências da migração para as divisões da classe trabalhadora. Observando a situação miserável dos imigrantes irlandeses na Grã-Bretanha e os preconceitos reacionários de muitos trabalhadores ingleses, Marx comentou:

 

"Todos os centros industriais e comerciais da Inglaterra possuem agora uma classe trabalhadora dividida em dois campos inimigos, os proletários ingleses e os proletários irlandeses. O trabalhador inglês comum odeia o trabalhador irlandês como um concorrente que rebaixa o padrão de vida. Ele se sente em relação a ele como um membro da nação governante e, portanto, torna-se o instrumento de seus aristocratas e seus capitalistas contra a Irlanda, fortalecendo assim o domínio daqueles que estão sobre ele. Ele tem preconceitos religiosos, sociais e nacionais contra aquele [trabalhador irlandês]. Ele se comporta com aquele como o pobre branco similar aos negros das antigas fazendas de escravos da União Americana. O irlandês paga-lhe na mesma moeda. Ele vê no trabalhador inglês tanto um cúmplice quanto o estúpido instrumento do domínio inglês na Irlanda.

 

Esse antagonismo é mantido artificialmente desperto e é acentuado pela imprensa, pelo púlpito, pelos quadrinhos de humor, ou seja, por todos os meios à disposição das classes dirigentes. Este antagonismo é o segredo da impotência da classe trabalhadora inglesa, apesar de sua organização. É o segredo pelo qual a classe capitalista mantém seu poder. E a classe capitalista tem plena consciência disso.

 

O mal não pára por aí. Atravessemos o oceano. O antagonismo entre ingleses e irlandeses é a base secreta do conflito entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Isso torna impossível qualquer cooperação séria e sincera entre as classes trabalhadoras de ambos os países. Permite aos governos de ambos os países, com a frequência que considerarem conveniente, romper a linha de fogo do conflito social através da difamação mútua e, se necessário, da guerra entre os dois países.

 

A Inglaterra, como metrópole do capital, como potência que hoje domina o mercado mundial, é por enquanto o país mais importante para a revolução operária e o único país onde as condições materiais dessa revolução se desenvolvem até certo grau de maturidade. Acelerar a revolução social na Inglaterra, portanto, é o objetivo principal da International Workers 'Association. A única maneira de acelerar isso é alcançar a independência irlandesa. Daí a tarefa da "Internacional" de trazer o conflito entre a Inglaterra e a Irlanda à tona em todos os lugares, de se aliar abertamente à Irlanda em todos os lugares. A tarefa especial do Conselho Central de Londres é despertar a consciência da classe trabalhadora inglesa de que a emancipação nacional da Irlanda não é para eles uma questão de justiça abstrata ou sentimento humanitário, mas a primeira condição de sua própria emancipação social." 19

 

Embora a imigração tenha se acelerado dramaticamente nas últimas décadas, Lênin em seu tempo já estava ciente da importância da migração para o imperialismo. Em uma polêmica contra outro bolchevique, Georgy Pyatakov, que ignorou a importância da questão nacional, Lênin enfatizou o papel da super-exploração dos trabalhadores de nações oprimidas – tanto em seus países de origem como em seu papel como imigrantes:

 

"A condição real dos trabalhadores nas nações opressoras e nas nações oprimidas é a mesma, do ponto de vista da questão nacional?

 

Não, não é a mesma coisa.

 

(1) Economicamente, a diferença é que setores da classe trabalhadora nas nações opressoras recebem migalhas dos super-lucros que a burguesia dessas nações obtém pela exploração ampliada dos trabalhadores das nações oprimidas. Além disso, as estatísticas econômicas mostram que aqui uma porcentagem maior dos trabalhadores se torna "chefes de palha"(trabalhador que tem alguma responsabilidade, mas pouca autoridade) . do que é o caso das nações oprimidas, um aumento percentual maior para a aristocracia trabalhista. (Nota de Lênin: Veja, por exemplo, o livro de Hourwich sobre imigração e a condição da classe trabalhadora na América, Imigração e Trabalho.) Isso é um fato. Até certo ponto, os trabalhadores das nações opressoras são parceiros de sua própria burguesia em saquear os trabalhadores (e a massa da população) das nações oprimidas.

 

(2) Politicamente, a diferença é que, em comparação com os trabalhadores das nações oprimidas, ocupam uma posição privilegiada em muitas esferas da vida política.

 

(3) Ideologicamente, ou espiritualmente, a diferença é que eles são ensinados, na escola e na vida, a ter desdém e desprezo pelos trabalhadores das nações oprimidas. Isso foi experimentado, por exemplo, por todos os grandes russos que foram criados ou que viveram entre os grandes russos." 20

 

A consciência de Lênin sobre a importância da migração levou-o a propor sua inclusão no programa dos bolcheviques em 1917:

 

"A exploração de mão-de-obra pior remunerada de países atrasados é particularmente característica do imperialismo. Nesta exploração repousa, até certo ponto, o parasitismo de países imperialistas ricos que subornam uma parte de seus trabalhadores com salários mais altos enquanto exploram descaradamente e descontroladamente o trabalho de trabalhadores estrangeiros "baratos". As palavras "pior pago" devem ser adicionadas e também as palavras "e frequentemente privadas de direitos"; para os exploradores em países "civilizados" sempre se aproveitam do fato de que os trabalhadores estrangeiros importados não têm direitos." 21

 

Ao discutir a importância da imigração para o capitalismo é necessário lembrar o papel do exército de reserva industrial no processo de acumulação capitalista. O exército de reserva industrial ou a população relativa excedente, como Marx também o chamou, é o setor da classe trabalhadora que está temporariamente desempregado. Ajuda os capitalistas a pressionar os trabalhadores empregados e reduzir os salários e, com isso, aumentar a participação do excedente. No Volume de Capital I Marx escreveu que o exército de reserva industrial está crescendo em paralelo com o progresso do desenvolvimento capitalista e da criação de riqueza. Hoje podemos observar a validade desta previsão:

 

"Quanto maior a riqueza social, o capital funcional, a extensão e a energia de seu crescimento e, portanto, também a massa absoluta do proletariado e a produtividade de seu trabalho, maior é o exército da reserva industrial. As mesmas causas que desenvolvem o poder expansivo do capital, desenvolvem também o poder de trabalho à sua disposição. A massa relativa do exército de reserva industrial aumenta, portanto, com a energia potencial da riqueza. Mas quanto maior esse exército de reserva em proporção ao exército de trabalho ativo, maior é a massa de uma população excedente consolidada, cuja miséria está em relação inversa ao seu tormento do trabalho. Quanto mais extensas, finalmente, as camadas de Lázaro da classe trabalhadora, e do exército de reserva industrial, maior é o pauperismo oficial. Esta é a lei geral absoluta da acumulação capitalista. Como todas as outras leis, ela é modificada em seu trabalho por muitas circunstâncias, a análise da qual não nos diz respeito aqui." 22

 

Quando nas décadas de 1950 e 1960 havia quase pleno emprego nas metrópoles imperialistas, os capitalistas precisavam desesperadamente de imigrantes para formar um exército de reserva industrial. Hoje, diante da queda das taxas de lucro, eles precisam de ainda mais imigrantes como trabalhadores mais baratos.

 

Há também outra razão pela qual os capitalistas precisam cada vez mais de imigração e que apontamos em nossa Teses sobre imigração. Na época do imperialismo, o sistema capitalista é cada vez menos capaz de reintegrar todo o exército da reserva industrial. Há uma crescente camada de lázaro, ou seja, uma camada que está completa e definitivamente afastada do processo do trabalho dentro do sistema capitalista. Isto é o que Evgenij Preobrazenskij chamou em seu último livro antes de ser silenciado pelo aparelho de Stalin "a imobilização de uma parcela crescente do poder de trabalho da sociedade". 23 É outra expressão do fato de que o capitalismo está em um período de declínio. Essa imobilização de uma parte crescente dos desempregados nativos pobres incentiva os capitalistas a procurarem forças de trabalho mais móveis e menos desmoralizadas – os imigrantes.

 

Por isso, é útil retomar a diferenciação que o economista socialista Fritz Sternberg introduziu em 1920. Ele diferenciou entre o excedente interno da população e a população excedente externa. Os primeiros são aqueles que vêm como novas forças de trabalho do campo para as cidades. O segundo são imigrantes vindos do exterior. Sternberg argumenta corretamente que, enquanto na época do aumento do capitalismo a população excedente interna desempenha um papel maior, na época do imperialismo é a população excedente externa – ou seja, os imigrantes. 24

 

Os capitalistas usam os imigrantes, a população excedente externa, para reduzir os salários, ou seja, para baixar o preço do poder de trabalho abaixo de seu valor. Neste, eles desempenham um papel semelhante ao dos desempregados sobre os quais Marx escreveu em Capital Vol. I:

 

"Essa parcela da classe trabalhadora, portanto, por máquinas supérfluas, ou seja, não mais imediatamente necessária para a auto-expansão do capital, ou vai para o muro na disputa desigual do artesanato antigo e fabrica com máquinas, ou então inunda todos os ramos mais facilmente acessíveis da indústria, inunda o mercado de trabalho e afunda o preço da força de trabalho abaixo do seu valor." 25

 

 

 

Objeções centristas

 

 

 

Um dos principais argumentos de vários centristas para rejeitar a teoria leninista do imperialismo é o seguinte: o mercado externo nos países mais pobres só desempenha um papel menor no mercado mundial e a exportação de capitais desempenha um papel menor em comparação com o capital total acumulado mundial.

 

Por exemplo, os teóricos da Tendência Socialista Internacional-TSI/Partido dos Trabalhadores Socialistas-TSI da Grã Bretanha ( abreviações em inglês IST/SWP ) e outros críticos da teoria marxista do imperialismo afirmam que a análise de Lênin já era problemática em sua época e completamente equivocada no mundo pós-1945. O líder do IST, Alex Callinicos, escreveu:

 

"O quadro que Lênin havia pintado de um sistema imperialista baseado na exportação de capital para as colônias – mesmo em seu tempo, como vimos, apenas uma verdade parcial – estava completamente em desacordo com a realidade do capitalismo internacional após 1945." 26

 

Este argumento foi repetido mais tarde por outro líder IST, o falecido Chris Harman:

 

"Mas houve uma grande partida do quadro Hobson-Lenin. Os fluxos não eram de países industriais a "subdesenvolvidos. Eles eram esmagadoramente para áreas onde a indústria já existia. 27

 

Harman generalizou ainda mais a revisão IST da teoria de Lênin, argumentando que os Estados imperialistas não podem ser caracterizados como "parasitas" e "vivendo do antigo mundo colonial":

 

"Tais fluxos de investimento são uma indicação de onde os capitalistas pensam que os lucros devem ser feitos, e sugerem que é esmagadoramente dentro dos países avançados, e um punhado de países e regiões 'recém-industrializantes' (dos quais a China costeira é agora a mais importante). Isso significa que, seja qual for o caso há um século, não faz sentido ver os países avançados como "parasitas", vivendo do antigo mundo colonial. Também não faz sentido ver os trabalhadores no Ocidente ganhando com a "super exploração" no Terceiro Mundo. Aqueles que dirigem o sistema não perdem qualquer oportunidade de explorar trabalhadores em qualquer lugar, por mais pobres que sejam. Mas os centros de exploração, como indicado pelos números do FDI, são onde a indústria já existe." 28

 

O líder do IST também afirma que a maioria dos países semicoloniais não tem importância para os lucros capitalistas:

 

"O fato fundamental que permitiu a descolonização sem desastre econômico para os capitalismos avançados há meio século permanece inalterado. A maioria dos investimentos de países capitalistas avançados é direcionada a outros países capitalistas avançados e à pequena minoria dos países recém-industrializados pela simples razão de que é onde a maior parte do lucro deve ser obtida. A maior parte do Terceiro Mundo, incluindo quase toda a África e grande parte da América Latina fora do Brasil e do México, é de diminuição da importância econômica para a dinâmica do sistema como um todo. Os lucros e os pagamentos de juros dessas regiões são a letra da cereja do bolo para o capital mundial, nem mesmo uma fatia do bolo em si." 29

 

 

 

O Papel do mercado externo

 

 

 

Esses argumentos traem a falta de compreensão da economia política marxista em geral e do imperialismo em particular. Primeiro, eles não entendem o significado dos mercados estrangeiros para o capital monopolista. O seu significado não é substituir a importância do mercado interno e do capital já acumulado nas terras centenárias do capitalismo. Isso seria absurdo, pois exigiria que os países capitalistamente atrasados parassem de ser tais países e se tornassem, em vez disso, os países mais avançados. Naturalmente Lênin e outros marxistas não disseram tal coisa e nem significa o que os teóricos do IST afirmam.

 

A importância dos países atrasados é oferecer ao capital monopolista a oportunidade de obter taxas de lucro mais altas do que no mercado interno. Isso é possível e, de fato, é o caso como mostraremos mais tarde. Qual é a razão disso? A principal razão é que as taxas de lucro nos países semicoloniais são mais elevadas porque a composição orgânica do capital é menor e, portanto, a participação do capital variável (mão-de-obra) – que é a única fonte de novo valor excedente – é maior.

 

O próprio Marx já lidou com esse argumento no Volume de Capital III:

 

"Se o capital é enviado para o exterior, isso não é feito porque absolutamente não poderia ser aplicado em casa, mas porque pode ser empregado a uma taxa de lucro mais alta em um país estrangeiro." 30

 

Em seu livro que trata das fraquezas de Rosa Luxemburgo em sua teoria do Imperialismo de , o teórico bolchevique Nikolai Bukharin argumentou corretamente:

 

"Rosa Luxemburgo levantou bruscamente a questão do imperialismo como a inevitável 'aparência imanente' do capitalismo em um certo estágio de desenvolvimento. De qualquer forma, ela não foi capaz de entender o problema teoricamente como o problema específico do nosso tempo. Ela não tentou encontrar a base do imperialismo na busca por maiores lucros do monopólio e no necessário movimento do capital financeiro nessa direção, mas na absoluta impossibilidade da existência do capitalismo 'sem terceiros'." 31

 

Da mesma forma, Evgenij Preobrazenskij tratou em seu grande estudo sobre o declínio do capitalismo com o papel dos mercados semicoloniais para a reprodução expandida do capital imperialista. Ele mostra que os mercados semicoloniais permitem que os capitalistas acelerem a reprodução expandida do capital:

 

"Os novos mercados foram importantes nas esferas de produção de pequena escala que foram recentemente atraídas para a rotatividade capitalista, mas em um aspecto diferente. Eles transmitiam maior elasticidade ao sistema capitalista em termos da dinâmica da reprodução expandida principalmente porque aliviavam temporariamente a desproporcionalidade surgida no segmento capitalista da economia mundial. Por si só, e em termos de seu volume absoluto, o comércio com as colônias desempenha um papel incomparavelmente mais modesto do que o comércio entre os países capitalistas propriamente ditos, fato frequentemente demonstrado pelas estatísticas do comércio mundial. A rápida industrialização das colônias poderia criar para a indústria pesada nos países capitalistas um enorme aumento da demanda por meios de produção, o que significa que a reconstrução econômica das colônias apagaria todo o desemprego mundial atual; provavelmente criaria uma escassez de mãos de trabalho, mesmo em um país como a Inglaterra. Basta apenas contemplar a perspectiva de rápida industrialização de países como a Índia ou a China. Mas esse problema não pode ser resolvido pelo capitalismo, apenas por um regime socialista, após a revolução proletária: em sua busca pelo lucro de hoje e seu medo instintivo da perspectiva de rápida industrialização em colônias que se tornariam seus concorrentes, os piratas do capitalismo monopolista são barrados, e em parte barram-se, do caminho de resolver esse problema de forma capitalista. Assim, não podem romper com esse nível mais elevado de reprodução que será alcançado imediatamente por um regime socialista, um regime que estabelecerá laços econômicos com todos os países atrasados com base em novos princípios, os princípios da cooperação socialista. A propriedade privada nos meios de produção, dada a organização monopolista da produção, cria uma barreira estrutural intransponível a esse processo.

 

Segue-se que, se a abertura de novos territórios desempenhou um papel no processo de realização do capitalismo desenvolvido, não o fez em virtude do significado absoluto desses territórios no comércio capitalista, mas sim porque, em análise final, a expansão dos mercados nas colônias permitiu que o mercado do capitalismo — localizado dentro do próprio capitalismo — se expandisse em uma extensão incomparavelmente maior. A transição do capitalismo como um todo para o próximo nível de reprodução expandida significou um aumento da demanda capitalista pela produção dos próprios países capitalistas, e essa demanda expandida foi dezenas de vezes maior do que a demanda adicional originada nos mercados recém-abertos. A fim de esclarecer este pensamento tomarei a liberdade de fazer uma comparação. Quando um homem está subindo em uma subida íngreme e carregando um fardo pesado sobre seus ombros, torna-se importante para o seu progresso que ele pare por um segundo, entre níveis, em algum pequeno pouso. Embora ele não vá se mover com os dois pés para o próximo nível da subida, na dinâmica de seu movimento este pequeno pouso pode desempenhar um papel significativo, mesmo que apenas um papel subordinado. O mesmo vale para novos mercados em países atrasados durante a época da livre concorrência. Eles eram importantes não em virtude de sua magnitude, mas porque tornavam mais fácil para o capitalismo arrastar as forças produtivas acumuladas para o próximo nível de reprodução expandida, e assim eles abriram uma demanda incomparavelmente mais poderosa dentro do próprio Capitalismo. Dessa forma, aliviaram a contradição estrutural básica do capitalismo, permitindo-lhe colocar novas forças produtivas em movimento com permissão graciosa da norma média de lucro.

 

No período do capitalismo monopolista, pelo contrário, o mundo inteiro está dividido; todas as colônias são distribuídas e todas as esferas de influência garantidas, de modo que as enormes confianças só podem arrebatar entre si os mercados e esferas existentes para a exportação de capital. Seu dumping das exportações é apenas uma tentativa convulsiva de pausar por um momento sobre esse desembarque que no século passado foi representado pela abertura de novos mercados para o capitalismo. Mas o dumping por países capitalistas dentro de outros países capitalistas, ou dentro das esferas de influência de outros países capitalistas, significa que vários pés estão sendo necessários para o pequeno desembarque ao mesmo tempo. O resultado é que ninguém pode continuar a ascensão, e todo o aparato produtivo pesado do capitalismo monopolista volta ao nível que se pretendia deixar para trás. Não só isso, mas mesmo que mercados genuinamente novos fossem agora abertos, a influência negativa da forma monopolista do capitalismo na reprodução expandida é tão grande que este fraco paliativo não poderia prestar assistência séria." 32

 

Preobrazenskij também explica o papel do mercado (semicolonial) se o capital monopolista precisar contrariar os efeitos da crise:

 

"Na medida em que estamos lidando com as condições do capitalismo concreto durante a época da livre concorrência, assumindo tanto sua divisão em unidades econômicas nacionais quanto a existência simultânea da produção de commodities em pequena escala, não podemos ignorar a influência do comércio exterior sobre o caráter do ciclo capitalista neste período.

 

O aumento das oportunidades de venda no exterior deve ter o efeito de promover a absorção dos saldos não realizados — 800 meios de produção no Departamento I e mais de 400 meios de consumo em II — e de fazê-lo sem crise. A venda de até mesmo uma parte desses saldos, mesmo de apenas 25%, tem enorme significado para todo o sistema. Isso não se deve ao peso absoluto do mercado, que é geralmente insignificante (2,7% da produção bruta), mas porque as vendas no mercado externo permitirão, em um dado momento, travar a contração do aparato de produção de ambos os departamentos em um nível superior ao que seria o caso se essa reserva de flexibilidade capitalista não fosse colocada em jogo. Ao contrário do pensamento de Rosa Luxemburgo, o mercado externo não é importante em si mesmo, mas apenas porque permite evitar uma contração muito maior desse mercado que o capitalismo adquire internamente. Esse mercado interno é incomparavelmente mais significativo para o capitalismo, especialmente quando a questão é preservar, além do período de expansão, o crescimento que tem ocorrido em ambos os departamentos em resposta a uma grande ordem de capital fixo.

 

Tal ordem puxa o sistema para um nível mais alto de reprodução expandida. Uma vez cumprida a ordem, a contração do aparato de produção, em termos gerais, é inevitável. No entanto, a contração será menor se houver circunstâncias para aliviar as condições de crise, proporcionando ao capitalismo uma melhor perspectiva de preservação do seu próprio mercado interno adicional, criado durante o período de expansão. É precisamente aqui que se encontra o principal sentido econômico da luta, durante períodos de crise, para os mercados externos cujas dimensões absolutas são completamente insignificantes e cuja importância diminuirá ainda mais durante o próximo período de expansão. O que temos em mente, é claro, é a luta pelas colônias apenas em resposta ao problema da realização; não estamos discutindo a luta por esferas de investimento de capital, por fontes de materiais, por bases navais, etc. " 33

 

Bukharin resumiu o papel dos mercados estrangeiros da seguinte forma:

 

"Consequentemente: (1) se for um capital comercial de câmbio ocasional ganha um lucro excedente, utilizando todos os meios, incluindo engano, violência e roubo; (2) se o câmbio se tornar uma ocorrência regular, o país com uma estrutura mais elevada inevitavelmente ganha um lucro excedente; (3) se o capital for exportado, isso também acontece para obter lucro adicional." 34

 

O marxista alemão Henryk Grossmann enfatizou que a apropriação do valor excedente dos mercados externos é uma questão "de vida ou morte" para o capital, dada a sua tendência crescente de crise e colapso.

 

"Nestas circunstâncias, uma injeção de valor excedente por meio do comércio exterior elevaria a taxa de lucro e reduziria a gravidade da tendência de colapso. De acordo com a concepção que desenvolvi e que, acredito, também é a concepção de Marx, o valor excedente original se expande por meio de transferências do exterior. Em estágios avançados de acumulação, quando se torna cada vez mais difícil valorizar o capital enormemente acumulado, tais transferências tornam-se uma questão de vida ou morte para o capitalismo. Isso explica a virulência da expansão imperialista no estágio final do acúmulo de capital. Porque é irrelevante se os países explorados são capitalistas ou não - e porque estes últimos podem, por sua vez, explorar outros países menos desenvolvidos por meio do comércio exterior — a acumulação de capital em um estágio tardio implica uma concorrência intensificada de todos os países capitalistas no mercado mundial. O impulso para neutralizar a tendência de colapso através do aumento da valorização ocorre ao custo de outros Estados capitalistas. " 35

 

Assim, resumindo essa visão geral do que o marxista pensava sobre a importância do papel do povo oprimido para o capital imperialista, podemos dizer – como escrevemos há alguns anos – "o imperialismo saqueia e deve saquear o mundo semicolonial para neutralizar seu declínio". 36

 

 

 

1 Karl Marx: Das Kapital, Banda I, MEW 23, p. 54; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. Eu, Capítulo 1 (nossa ênfase)

 

2 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, p. 769; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III; Capítulo 45

 

3 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, p. 218; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III; Capítulo 12

 

4 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, p. 190; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III; Capítulo 10

 

5 Como nota lateral, observamos aqui que tal processo de superação dos mercados nacionais em um mercado supra-nacional é de fato possível em nível regional em circunstâncias excepcionais. A União Europeia, respectivamente, a Zona do Euro é um exemplo para tal possibilidade, embora este ainda seja um processo em desenvolvimento. Defendemos a possibilidade da formação de um supra-estado imperialista contra aqueles centristas que negam tal possibilidade em princípio (como a tradição Ted Grant/Peter Taaffe/Alan Woods CWI/IMT). No entanto, como também apontamos, isso é impossível de acontecer em escala mundial – este seria um tipo utópico de cartel e Estado do mundo kautskyiano. Um mercado e estado europeus unidos seria sim uma ferramenta das potências e monopólios imperialistas mais fortes da Europa para competir melhor contra seus rivais (EUA, China, Japão) no mercado mundial. Elaboramos esta questão mais detalhada em Michael Pröbsting: Die Frage der Vereinigung Europas im Lichte der marxistischen Theorie. Zur Frage eines supranationalen Staatsapparates des EU-Imperialismus und der marxistischen Staatstheorie. Die Diskussion zur Losung der Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa bei Lenin und Trotzki und ihre Anwendung unter den heutigen Bedingungen des Klassenkampfes; in: Unter der Fahne der Revolution Nr. 2-3 (2008); Michael Pröbsting: Amerikanisierung oder Niedergang'. Widersprüche und Herausforderungen für das imperialistische Projekt der europäischen Vereinigung; http://www.arbeitermacht.de/rm/rm35/amerikanisierung.htm; Martin Suchanek/Michael Pröbsting: EU em der Krise. Soziales oder sozialistisches Europa?; http://www.arbeitermacht.de/rm/rm35/europa.htm. ambos em: Revolutionärer Marxismus Nr. 35 (2005). Michael Pröbsting: Americanise ou busto. Os desafios enfrentados pela Europa, em: Quinto Internacional Nº 2 (2004)

 

6 Henryk Grossmann. Das Akkumulations- und Zusammenbruchsgesetz des kapitalistischen Systems (Zugleich eine Krisentheorie), Leipzig, 1929, p. 433; em inglês: Lei do Acúmulo e Quebra, http://www.marxists.org/archive/grossman/1929/breakdown/index.htm

 

7 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 24

 

8 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, pp. 205-206; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III, Capítulo 10, Equalização da Taxa Geral de Lucro através da Concorrência. Preços de Mercado e Valores de Mercado. Lucro-Excedente

 

9 Lant Pritchett: Deixe seu povo vir: Quebrando o Impasse sobre Mobilidade Global do Trabalho, Centro para o Desenvolvimento Global, 2006, p. 103

 

10 Karl Marx: Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie; in: MEW 42, p. 758.; em inglês: Karl Marx: Grundrisse. Contribuição para a Crítica política; Capítulo "Juros e lucros. Carey"

 

11 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, pp. 247-248; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III, Capítulo 14, Contra-golpear Influências

 

12 Karl Marx: Das Kapital, Banda I, MEW 23, pp. 583-584; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. I, Capítulo 22: Contra-atos influências

 

13 Karl Marx: Theorien über den Mehrwert, III. Teil, MEW 26.3, p. 101; em inglês: Karl Marx: Teorias do Valor Excedente, Vol. III, Capítulo 20

 

14 Henryk Grossmann, 14. Das Akkumulations- und Zusammenbruchsgesetz des kapitalistischen Systems (Zugleich eine Krisentheorie), Leipzig, 1929, pp. 431-432; em inglês: Lei da Acumulação e Quebra.

 

15 V. I. Lenin: Imperialismo. O Estágio Mais Alto do Capitalismo (1916); in: LCW Vol. 22, p. 241f.

 

16 Michael Pröbsting: Marxismo, Migração und revolutionäre Integration (2010); in: Der Weg des Revolutionären Kommunismus, Nr. 7, http://www.thecommunists.net/publications/werk-7. Publicamos um resumo deste estudo em língua inglesa: Michael Pröbsting: Marxismo, Migração e Integração Revolucionária, em: Comunismo Revolucionário, Nº 1 (English-Language Journal of the RCIT), p. 42, http://www.thecommunists.net/oppressed/revolutionary-integration/

 

17 Ver Isaak I. Rubin: Studien zur Marxschen Werttheorie (1928), p. 131; em inglês: I. I. Rubin: Ensaios sobre a Teoria do Valor de Marx, Montreal 1990, online em http://www.marxists.org/archive/rubin/value/ch15.htm

 

18 Ver Michael Pröbsting: Marxismo, Migração und revolutionäre Integração, http://www.thecommunists.net/publications/werk-7. em inglês: Michael Pröbsting: Marxismo, Migração e Integração Revolucionária, em: Comunismo Revolucionário, Nº 1 (English-Language Journal of the RCIT), p. 42, http://www.thecommunists.net/oppressed/revolutionary-integration/; RCIT: O Manifesto Comunista Revolucionário (2012), p. 51, http://www.thecommunists.net/rcit-manifesto/fight-against-oppression-of-migrants

 

19 Karl Marx: Brief an Sigrid Meyer und August Vogt (9. Abril de 1870); in: MEW 32, pp. 668-669; em inglês. Karl Marx: Carta a Sigfrid Meyer e August Vogt (9 de abril de 1870) (Ênfase no original)

 

20 V. I. Lenin: Uma caricatura do marxismo e do economismo imperialista (1916); in: LCW Vol. 23, pp. 55-56 (Ênfase no original)

 

21 V. I. Lenin: Revisão do Programa Partidário (1917); in: LCW Vol. 26, p. 168 (Ênfase no original)

 

22 Karl Marx: Das Kapital, Banda I, MEW 23, pp. 673-874; em Inglês: Capital, Vol. Eu; Capítulo 25

 

23 Evgenij Preobrazenskij: O Declínio do Capitalismo (1931); Tradução de Richard Day (1983), p. 9

 

24 Fritz Sternberg: Der Imperialismus (1926), Reimpressão frankfurt a.M. 1971, p. 46. Este argumento correto, no entanto, não pode remover o fato de que Sternberg errou grosseiramente em seu apoio à teoria do imperialismo de Rosa Luxemburgo que pensava que o destino do capitalismo está ligado à expansão a "áreas não capitalistas". Esta teoria foi, em grande parte, corretamente criticada por Nikolai Bucharin em seu livro "Der Imperialismus und die Akkumulation des Kapitals" (1924); em inglês: Nikolai Bukharin: Imperialismo e o Acúmulo de Capital (1924).

 

25 Karl Marx: Das Kapital, Banda 1; in: MEW 23, p. 454; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. I, Capítulo 15

 

26 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, em: A. Callinicos, J. Rees, C Harman & M. Haynes: Marxismo e o Novo Imperialismo , Londres 1994, p. 31

 

27 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo, p. 39.

 

28 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo, pp. 39-40

 

29 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo, p. 72

 

30 Karl Marx: Das Kapital, Banda III; in: MEW 25, p. 266; em inglês: Capital, Vol. III; Capítulo 15

 

31 Nikolai Bucharin: Der Imperialismus und die Akkumulation des Kapitals (1924), Wien 1926, p. 124; em inglês: Nikolai Bukharin: Imperialismo e o Acúmulo de Capital (1924)

 

32 Evgenij Preobrazenskij: O Declínio do Capitalismo (1931); Tradução de Richard Day, London 1981, pp. 18-19

 

33 Evgenij Preobrazenskij: O Declínio do Capitalismo, pp. 89-90

 

34 Nikolai Bucharin: Der Imperialismus und die Akkumulation des Kapitals (1924), Wien 1926, p. 100 (ênfase no original); em inglês: Nikolai Bukharin: Imperialismo e o Acúmulo de Capital (1924). David Yaffe também ressaltou este ponto em sua revisão do livro de Bukharin: "Não se trata apenas de buscar taxas de lucro mais altas, mas de buscar um valor excedente adicional para capitalizar os investimentos já realizados. Isso significa que o capital deve manter sua participação nos mercados antigos e lutar por uma parte dos mercados recém-em expansão, onde quer que esses mercados estejam." (David Yaffe: Artigo de revisão do "Imperialismo e a Acumulação de Capital" de Bukharin, 1972, http://marxists.org/subject/economy/authors/yaffed/1972/impaccrev/impacckreview.htm)

 

35 Henryk Grossmann, 35. Das Akkumulations- und Zusammenbruchsgesetz des kapitalistischen Systems (Zugleich eine Krisentheorie), Leipzig, 1929, pp. 437-438.; em inglês: Lei da Acumulação e Quebra.

 

36 Ver Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und die Ausbeutung der Halbkolonien (2007), em: BEFREIUNG Nr. 154; http://www.trend.infopartisan.net/trd1207/t261207.html

 

 

 

7. As Várias Formas de Super-Exploração Imperialista dos Países Semicoloniais e seu Desenvolvimento nas últimas Décadas (Parte 1)

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Elaboramos nossa defesa da Teoria Leninista do Imperialismo contra as objeções centristas em um nível teórico e mostramos que o papel dos mercados coloniais e semicoloniais para o capital monopolista é de grande importância como fonte para seus lucros-extras. Agora vamos provar isso no nível concreto.

 

Não nos surpreende que, dada a natureza das estatísticas burguesas, seja difícil calcular a magnitude concreta da super-exploração imperialista. As estatísticas burguesas são geralmente produzidas por instituições privadas ou públicas que são direta ou indiretamente financiadas pelo capital monopolista imperialista ou por seu aparato estatal. Isso vale tanto para institutos econômicos privados que vivem da atração de novos negócios ou instituições públicas como o FMI, Banco Mundial, OCDE ou Departamentos das Nações Unidas (como UNCTAD, OMS ou ECLAC). Estes últimos têm a ligeira vantagem de que aqui os governos burgueses semicoloniais têm mais influência, o que tem a consequência de que, às vezes, permitem estudos críticos sobre as desvantagens que os países semicoloniais enfrentam por causa das potências imperialistas e das corporações multinacionais.

 

Apesar de todas essas reservas necessárias, temos que lidar com essas estatísticas burguesas, uma vez que estatísticas melhores dificilmente existem. E apesar de todas as suas fraquezas, mesmo essas estatísticas burguesas nos ajudam a dar uma imagem das várias formas da super-exploração imperialista dos países semicoloniais.

 

Como mais tarde mostraremos mais detalhadamente, a exploração imperialista dos países semicoloniais pode ser dividida amplamente em quatro categorias:

 

i) Lucros extras via exportação de capital como investimento produtivo

 

ii) Lucros extras via exportação de capital como capital (empréstimos, reservas cambiais, especulação etc.)

 

iii) Transferência de valor via câmbio desigual

 

iv) Transferência de valor via migração, ou seja, a importação de mão-de-obra relativamente mais barata para as metrópoles imperialistas das semicolônias

 

 

 

Uma visão geral sobre a transferência financeira líquida

 

 

 

Em um trabalho publicado pelo FMI, dois acadêmicos burgueses latino-americanos, um deles ex-ministro das Finanças na Colômbia, produziram um quadro interessante que mostrou a transferência líquida de recursos financeiros da América Latina entre 1950 e 2002. Como se pode ver, embora tenha havido movimentos cíclicos, em resumo houve uma saída de recursos financeiros da América Latina para as metrópoles imperialistas. (ver Figura 30)

 

 

 

Figura 30: América Latina: Transferência Líquida de Recursos e sua Composição, 1950-2002 1

 


 

 

 

Pierre Jalée, um economista marxista francês, concluiu em 1965 em um livro sobre a super-exploração imperialista do mundo semicolonial que "a exploração imperialista dos países do Terceiro Mundo não só continuou na era da descolonização política, mas até aumentou". 2

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS), órgão da ONU, relatou as perdas financeiras dos países semicoloniais durante a década de 1980. Como a Figura 31 mostra quase todos os anos neste período tem sido de perdas.

 

 

 

Figura 31: Transferência Financeira Líquida das Semicolônias para Metrópoles, 1980-1990 3

 


 

 

 

O então presidente da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Ortiz Mena, calculou que somente no curto período entre 1982 e 1985, uma transferência líquida de cerca de US $ 100 bilhões por repatriação de lucros, serviço de dívida etc. ocorreu do Terceiro Mundo para as metrópoles imperialistas. 4

 

Qual é a extensão do roubo imperialista em relação às economias nacionais dos países semicoloniais? É claro que isso não é fácil de calcular, mas houve várias tentativas de dar uma visão geral abrangente. No início da década de 1960, Andre Gunder Frank mostrou a quantidade de transferência de valor do Sul para o Norte. Segundo ele, os países latino-americanos tiveram que pagar no início da década de 1960 61,5% de sua receita cambial para pagamentos de juros, pagamento de dívidas, pagamentos para transporte de commodities de exportação por transporte de transporte etc. Isso equivaleu a US$ 6 bilhões ou o equivalente a 7% do Produto Interno Bruto da América Latina. Se soma a isso a deterioração dos termos de comércio (equivalente a 3% do PIB dos continentes) chega-se à conclusão de que no início da década de 1960 os monopólios imperialistas roubaram da América Latina 1/10 de sua produção econômica. 5

 

Os acadêmicos Vincent Ferraro e Melissa Rosser publicaram um estudo sobre essas proporções da transferência de recursos financeiros que resultou apenas do serviço da dívida para os bancos imperialistas e instituições financeiras. Segundo eles, as nações semicoloniais perderam na década de 1980 a cada ano 3% de seu Produto Interno Bruto desta maneira:

 

"O primeiro, e mais devastador, efeito da crise da dívida foi, e continua sendo, as saídas significativas de capital para financiar a dívida. De acordo com o Banco Mundial: "Antes de 1982, os países altamente endividados recebiam cerca de 2% do PIB por ano em recursos do exterior; desde então, eles transferiram cerca de 3% do PIB por ano na direção oposta. Em 1988, os países mais pobres do mundo enviaram cerca de US$ 50 bilhões aos países ricos, e o total acumulado dessas transferências desde 1984 é de quase US$ 120 bilhões." 6

 

Uma constatação ainda mais interessante foi fornecida pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Em seu Relatório de Desenvolvimento Humano, em 1992, eles apresentaram um cálculo sobre o que chamaram de "custo dos mercados globais para os países em desenvolvimento". Embora isso tenha que ser visto com toda a reserva necessária para estatísticas burgueses, seus números são, no entanto, indicativos e dão uma impressão do enorme saque imperialista. Eles mostram que o mundo semicolonial perde um quinto (!) de todo o seu produto nacional a cada ano!

 

"No geral, o custo dos mercados globais para os países em desenvolvimento pode ser amplamente estimado em US$ 500 bilhões por ano. Essas perdas de US$ 500 bilhões constituem cerca de 20% da renda nacional bruta somados dos países em desenvolvimento e cerca de sete vezes seus gastos atuais em prioridades de desenvolvimento humano." 7

 

Como mostra a figura 32 a seguir, esses números da ONU são úteis, uma vez que tentam integrar as várias formas pelas quais os imperialistas saqueiam o mundo semicolonial. Como nota lateral, observamos que exatamente por essa razão dificilmente se pode encontrar tais cálculos em relatórios oficiais burgueses. No entanto, eles fornecem cálculos com relação às perdas através de taxas de juros mais altas, transferência de capital, concorrência desigual e o acesso restrito aos mercados por leis imperialistas.

 

 

 

Figura 32: "Custos do Mercado Global para Países em Desenvolvimento" (ONU) em 1990 (em Dólares Americanos) 8

 

Tradução: unequal partnership=parceria desigual / higher real interest rates=taxas de juros reais mais altas / negative capital transfers=transferências de capital negativas /unequal competition in international services=competição desigual em serviços internacionais / restrict access to market for=acesso restrito ao mercado para / labour=trabalho/ manufactures= manufaturas/ agricultural=agricultura, /tropical and resource-based products/technology=produtos tropicais baseados em recursos e tecnologia agrícolas

 


 

 

 

Esses cálculos da ONU estão próximos dos resultados publicados em um estudo de economistas da Alemanha Oriental no final da década de 1980 sobre as relações entre os monopólios e o mundo semicolonial. Eles resumiram o resultado de sua pesquisa:

 

"No momento, os monopólios internacionais e os Estados imperialistas se apropriam dos países em desenvolvimento com um valor de mais de US$ 400 bilhões por ano, o que equivale a um quarto da renda nacional que os países em desenvolvimento produzem. (...) No início da década de 1980, a renda derivada da exploração dos países em desenvolvimento era de cerca de metade dos investimentos produtivos de todos os países industriais capitalistas." 9

 

Esses números mostram o enorme impacto do estrangulamento imperialista nos países semicoloniais. Os imperialistas saqueiam um quarto da renda nacional do Sul. Isso permitiu que os monopólios imperialistas financiassem metade de seus investimentos produtivos por essa super-exploração.

 

Infelizmente, não possuímos estudos semelhantes para o desenvolvimento desta enorme transferência líquida financeira das semicolônias para os centros imperialistas nas últimas duas décadas. No entanto, há uma série de estatísticas sobre formas específicas da super-exploração imperialista que deixam bem claro que este saque se acelerou massivamente desde então.

 

O autor deste livro apresentou cálculos baseados nos relatórios anuais da ONU World Economic Situation and Prospect sobre as "transferências de recursos financeiros para economias em desenvolvimento e economias em transição" em várias publicações desde 2007. 10 Estes números da ONU demonstram acima de qualquer dúvida a massiva aceleração do saque imperialista nas últimas duas décadas. Por exemplo, enquanto os países semicoloniais perderam dois bilhões de dólares em 1997, esse número subiu para 1.013 bilhões de dólares americanos em 2011! Por razões de espaço não podemos dar os números para cada ano em nossa Tabela 22 (ver também Figura 33). Mas adicionamos os números de todos os anos desde 1995 em nosso cálculo total abaixo.

 

 

 

Tabela 22: Transferências Líquidas de Recursos Financeiros para Países em Desenvolvimento e antigos Países estalinistas, 1995-2011 (em Bilhões de Dólares) 11

 

Africa oriental/Sul da Ásia/ Oeste da Ásia/América Latina/

 

Developing countries= países em desenvolvimento/ former stalinists countries=países de regime ex-estalinistas

 


 

 

 

Somados em conjunto, de acordo com as estatísticas das Nações Unidas, uma transferência líquida de US$ 7.658 bilhões dos países semicoloniais para os centros imperialistas ocorreu período apenas no de 1995 a 2011. Deve-se notar que este valor não representa todo o lucro do capital imperialista. Uma boa parte da qual foi consumida no próprio país ou entrou na acumulação de capital dos monopólios imperialistas para garantir mais lucros. De acordo com um recente relatório da UNCTAD, por exemplo, as corporações multinacionais retêm 40% de seu lucro nas semicolônias. "No entanto, nem todos os ganhos reinvestidos são realmente reinvestidos em capacidade produtiva. Eles podem ser deixados de lado para aguardar melhores oportunidades de investimento no futuro, ou para financiar outras atividades, incluindo aquelas que são especulativas. Cerca de 40% da renda do Investimento Estrangeiro Direto (IED) foi mantida como lucro reinvestido." 12 E, finalmente, nossos cálculos também não lidam com o excedente que os imperialistas ganham através da troca desigual. Reflete exclusivamente a soma que foi saqueada diretamente do mundo semicolonial.

 

Para ser mais preciso, representa apenas os números oficialmente relatados. Deixando de lado a fuga de capital ilegal (mais sobre isso abaixo) há também muitas outras maneiras de esconder o saque imperialista. Paulo Nakatani e Rémy Herera relataram, por exemplo, no Us Journal Monthly Review sobre as modificações no serviço de dívida que dificultam cada vez mais os cálculos exatos:

 

"Nos últimos anos, no contexto de crescente integração de mercado e desregulamentação dos movimentos de capitais, houve uma transformação geral das dívidas com títulos no mercado financeiro e a conversão de dívidas externas em dívidas internas. Essa evolução gradual, que ainda está em curso, esconde alguns efeitos perversos, em particular que as taxas de juros são muitas vezes mais elevadas sobre a dívida interna. A redução dos pagamentos de serviços da dívida externa dificulta o cálculo exato do tamanho do dreno associado à dívida externa. Isso só complica e piora ainda mais uma situação em que a transferência de excedentes de Sul para Norte continua se operando através de uma miríade de canais, como a repatriação de lucros sobre investimento estrangeiro direto, lucros na reavaliação de títulos registrados como investimentos em carteira em saldo de pagamentos, e outras formas de câmbio desigual." 13

 

 

 

Figura 33: Transferências Líquidas de Recursos Financeiros para Economias em Desenvolvimento e Economias em Transição, 1999-2011 (em Bilhões de Dólares) 14

 

Africa sub-sahariana( exceção Nigéria e África do Sul/Least developed countries= Países menos desenvolvidos/ América Latina e Caribe/ Economies in transition= economias em transição/ Western Africa= Africa ocidental/ Eastern and Southern Asia=Sul e Leste da Ásia = developing economy= Economias em desenvolvimento

 


 

 

 

Como os números mostram a maior parte dos lucros-extras imperialistas vem do maior continente, Ásia, e mais especificamente dos países mais industrializados do Sul. Como a ONU observou:

 

"A maioria das transferências líquidas de países em desenvolvimento para países desenvolvidos foram de países de renda média alta. As saídas líquidas de países de renda média alta aumentaram de US$ 85 bilhões em 2011, para US$ 580 bilhões, refletindo o contínuo acúmulo de reservas nesses países. As saídas líquidas de países de renda média mais baixa aumentaram para US$ 40 bilhões em 2011, quase dobrando os níveis de 2010. No entanto, os países de renda média mais baixa recebem entradas líquidas de US$ 36 bilhões, representando um ligeiro aumento nas entradas a partir de 2010. Assim, em 2011, o padrão pré-crise retornou; Os países de renda média alta transferiram recursos significativos para nações mais ricas, enquanto continuavam com o acúmulo de reservas cambiais como autoproteção contra novos choques econômicos globais, enquanto os países mais pobres continuavam a ter transferências líquidas positivas, embora em um nível baixo em comparação com os fluxos globais totais." 15

 

Isso mostra que a industrialização do chamado Terceiro Mundo não levou a uma redução da super-exploração imperialista, mas sim a um aumento. No entanto, temos de fazer uma nota importante sobre esses números: as classificações das Nações Unidas dos países diferem naturalmente de uma abordagem marxista. Por isso, as categorias "desenvolvidas" e "em desenvolvimento" não são idênticas às nossas categorias países "imperialistas" e "semicoloniais". As estatísticas da ONU incluem países semicoloniais na categoria dos "países desenvolvidos" como a Irlanda, a Grécia e a maioria dos países do Leste Europeu. Por outro lado, colocaram estados imperialistas emergentes (China e Rússia) na categoria dos "países em desenvolvimento". A categoria da ONU "países de renda média alta" representa 42 países, incluindo China e Rússia, mas – paradoxalmente – exceto Hong Kong, que está na categoria de "países de alta renda". É difícil encontrar palavras para tal absurdo onde duas partes de um e do mesmo país são classificadas em duas categorias econômicas diferentes. 16 Por todas essas razões, os números da ONU incluem distorções importantes. No entanto, são uma indicação do processo que é característico da economia mundial há décadas.

 

No artigo da Monthly Review mencionado acima, Paulo Nakatani e Rémy Herera calculam que, apenas pagando as dívidas aos tubarões imperialistas, as semicolônias perderam cerca de 1/27 de seu produto nacional anual na década de 1980 e essa perda subiu para 1/16 de sua produção anual no período 1997-2006.

 

"O pagamento da dívida internacional constitui uma das formas de transferência do excedente produzido pelos países do Sul para o Norte — e do superávit produzido pelos trabalhadores do Sul para os capitalistas de seus próprios países e para os do Norte. Isso tende a aumentar a taxa de exploração da força de trabalho no Sul. Dessa forma, os países em desenvolvimento e as economias de "mercados emergentes" transferiram aos seus credores uma média anual de 3,68% de seu PIB durante a década seguinte à crise da dívida (1980-89). Nos últimos dez anos (1997-2006), marcado por uma série de crises financeiras e uma crescente polarização do sistema mundial capitalista, essa transferência subiu para 6,2% do PIB." 17

 

Alguns autores fizeram a interessante comparação histórica do saque imperialista das semicolônias nas últimas décadas com o saque feito sobre Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Um estudo comparou a parte da produção anual que a América Latina perdeu no passado recente com a Alemanha após 1919 e chegou à conclusão de que a América Latina perdeu ainda mais – sem qualquer tratado de guerra ou roubo- como foi obviamente o Tratado de Versalhes.

 

"é um fato um pouco reconhecido que, como parte do PIB, a transferência líquida negativa de recursos financeiros da América Latina foi ainda maior do que sofreu Alemanha após a Primeira Guerra Mundial." 18

 

Finalmente mostramos o quão correta é a ênfase de Lênin é que a divisão do mundo em nações opressoras e oprimidas é central para o imperialismo. De fato, a diferença econômica entre os países vem aumentando ao longo do tempo. A ONG britânica Oxfam comentou os resultados do estudo: "em 1820, apenas um décimo da diferença de renda entre todos os indivíduos no mundo deveu-se a diferenças na renda média entre os países. Hoje, 60% da desigualdade global é atribuída às diferenças de renda entre os países. Fronteiras importam mais hoje do que nunca.” 19

 

Outro estudo de dois acadêmicos François Bourguignon e Christian Morrisson conclui: "esta análise mostra que a desigualdade de renda mundial piorou drasticamente nos últimos dois séculos. O coeficiente de Gini aumentou 30% e o índice de Theil 60% entre 1820 e 1992. Essa evolução deveu-se principalmente a um aumento dramático da desigualdade entre países ou regiões do mundo. O componente "entre" o índice Theil passou de 0,06 em 1820 para mais de 0,50 em 1992. As mudanças na desigualdade nos países foram importantes em alguns períodos, principalmente a queda da desigualdade nos países europeus e seus desdobramentos na América e no Pacífico durante a primeira metade do século XX. No longo prazo, no entanto, o aumento da desigualdade entre os países foi o principal fator na evolução da distribuição mundial de renda." 20

 

 

 

Importância das Matérias-Primas e dos Alimentos

 

 

 

Mostramos a enorme transferência financeira líquida que os centros imperialistas exploram das semicolônias. Vamos agora olhar brevemente para outra área onde a dependência dos países imperialistas do chamado Terceiro Mundo é evidente: agricultura e matérias-primas.

 

Já nas décadas de 1950 e 1960, os países semicoloniais foram uma importante fonte para as importações agrícolas e de matérias-primas dos países imperialistas. Em 1969, Pierre Jalée forneceu uma lista que mostrava a dependência do mundo imperialista em matérias-primas e importações de alimentos das semicolônias. 21 De acordo com sua lista mostrada abaixo, os países imperialistas importaram do chamado Terceiro Mundo:

 

* a maioria dos produtos de gordura e commodities de borracha

 

* todo o cacau

 

* metade de sua demanda por petróleo cobrindo 19% de todo o consumo de energia dos países imperialistas

 

* 1/3 da demanda por minério de ferro

 

* 4/5 de toda a sua demanda por manganês e minério cromado

 

* mais de 3/4 de sua demanda por cobalto

 

* quase toda a sua demanda de estanho

 

* 40% de sua demanda por cobre

 

* 2/3 de sua demanda por bauxita

 

Se olharmos para a estrutura de importação dos países imperialistas hoje, ainda há uma forte dependência das importações semicoloniais. A União Europeia, por exemplo, é o maior importador agrícola do mundo. Importa commodities agrícolas no valor de € 83 bilhões (o que representa cerca de 19% das importações globais neste setor). O valor das importações agrícolas dos EUA foi de 65 bilhões de euros. 22

 

De acordo com um relatório da Comissão Europeia, mais de 70% das importações agrícolas da UE são originárias dos chamados países em desenvolvimento. (ver Figura 34) É claro que esta categoria inclui também a potência imperialista emergente china, que representa cerca de 5% das importações da UE. Os EUA recebem cerca de 50% de suas importações agrícolas dos países em desenvolvimento. 23

 

 

 

Figura 34: Importações agrícolas da união europeia por origem, 1999-2010 24

 


 

Brasil/EUA/Argentina/China/Suíça/Turquia/mundo

 

 

 

As importações de matérias-primas (incluindo energia) representam aproximadamente um terço das importações da UE. 25 A UE é o maior importador mundial de recursos naturais, respondendo por 23% das importações globais de recursos naturais. Ao todo, entre 70 e 80% dos recursos primários são importados. 26

 

Neste contexto, temos de chamar a atenção para o fato de que as economias imperialistas são particularmente dependentes das importações em áreas estrategicamente importantes, como metais específicos e raros, que são necessárias nos setores de alta tecnologia. Segundo o pesquisador da ONG, Thomas Lazzeri, "a taxa de dependência de importação da UE para minerais varia de 46% para cromo, 54% para minério de cobre, 95% para bauxita a 100% para materiais como cobalto, platina, titânio e vanádio". 27

 

A classe dominante está ciente dos potenciais problemas estratégicos dessa dependência. A Comissão Europeia afirma em um relatório recente: "As 14 matérias-primas listadas abaixo são críticas porque os riscos de escassez de oferta e seus impactos na economia são maiores em comparação com a maioria das outras matérias-primas. Seu alto risco de oferta deve-se principalmente ao fato de que uma alta parcela da produção mundial vem principalmente de um punhado de países." 28

 

Para enfrentar este problema, os imperialistas europeus organizaram a chamada "Iniciativa matéria-prima.”

 

Resumindo, só podemos concordar com a conclusão que Pierre Jalée desenhou em 1969: "A economia dos países imperialistas quebraria sem as importações do Terceiro Mundo: suas mercadorias são essenciais para a existência do imperialismo". 29

 

Na verdade, os líderes imperialistas reconheceram a importância da super-exploração sobre Sul para manter relativa paz social ao Norte e particularmente para manter a existência da aristocracia trabalhista. Winston Churchill, como Chanceler do Tesouro, argumentou em 1929 que o imperialismo era a base indispensável para a manutenção dos serviços sociais. Ele disse em seu discurso orçamentário em 15 de abril de 1929:

 

"A renda que obtemos a cada ano de comissões e serviços prestados a países estrangeiros é superior a 65 milhões de libras. Além disso, temos uma receita constante de investimentos estrangeiros próximos a £300 milhões por ano... essa é a explicação da fonte da qual somos capazes de custear os serviços sociais em um nível incomparavelmente maior do que o de qualquer país europeu ou de qualquer país."

 

E Ernest Bevin, como Ministro das Relações Exteriores do Trabalho após a Segunda Guerra Mundial, viu o Império Britânico como indispensável à vida dos eleitores trabalhistas, como ele disse em um discurso na Câmara dos Comuns em 23 de fevereiro de 1946:

 

"Não estou preparado para sacrificar o Império Britânico porque sei que se o Império Britânico caísse... isso significaria que o padrão de vida de nossos eleitores cairia consideravelmente. 30

 

Dado todos esses fatos indiscutíveis da super-exploração imperialista, é um embelezamento distorcido com relação ao imperialismo do mundo real quando os líderes centristas do IST dizem – como vimos na citação acima: "Não faz sentido ver os países avançados como 'parasitas', vivendo do antigo mundo colonial. Também não faz sentido ver os trabalhadores no Ocidente ganhando com a 'super exploração' no Terceiro Mundo." Isso nada mais é do que um mascaramento sobre o fato de que a super-exploração do mundo semicolonial é uma grande fonte de monopólio extra-lucros e, portanto, para o subornar a pequena camada superior da classe trabalhadora, a aristocracia trabalhista. Esses centristas negam essa realidade, afirmam que o imperialismo não é tão ruim, e fazem isso porque buscam justificativas ideológicas para sua recusa em travar uma luta revolucionária consistente contra o imperialismo e os preconceitos políticos da aristocracia trabalhista.

 

 

 

O Papel da exportação de capital imperialista para o mundo semicolonial

 

 

 

Teóricos centristas como Callinicos, Harman ou Rees banalizam a importância da exportação de capital imperialista para os países semicoloniais. 31 Alegam que após a Segunda Guerra Mundial os chamados países em desenvolvimento perderam em importância para as metrópoles imperialistas. Vamos primeiro olhar para os desenvolvimentos reais citando uma série de fatos e, em seguida, vamos refutar os argumentos de nossos oponentes centristas.

 

Antes de fazer isso, temos que fazer a seguinte observação: As estatísticas desta seção tratam principalmente do que os economistas burgueses chamam de "Investimento Estrangeiro Direto" (IED). No entanto, é necessário notar que o IED não abrange toda a exportação de capital, mas apenas uma fração. Por exemplo, empréstimos, vários investimentos em carteira, auxílios oficiais etc não estão cobertos por isso. Economistas estimam que o IED representa apenas cerca de 25% do investimento total na produção no exterior. 32

 

Como mostramos acima os teóricos adeptos Tony Cliff relativizam a importância da exportação de capital para as colônias e semicolônias, mesmo para o período em que Lênin e Trotsky estavam vivos. No entanto, isso está em desacordo com a verdade histórica. Angus Maddison reproduz em números de sua principal obra sobre exportação de capital para os anos de 1914 e 1938, ou seja, antes do início das duas Guerras Mundiais. Eles (os números) mostram que quase metade do capital total exportado foi para os países coloniais e semicoloniais. (ver Tabela 23).

 

 

 

Tabela 23: Valor Nominal Bruto do Capital Investido no Exterior em 1914 e 1938 (em Milhões de Dólares a taxas de câmbio atuais e como percentual do total) 33

 

Áreas of destination= áreas de destino/ advanced capitalists nations=nações capitalistas avançadas/ Colonial and semicolonial countries= Países coloniais e semicoloniais

 

 

 

 

 

Esta é uma participação desproporcional e extremamente alta, particularmente se se lembrarmos do baixo desenvolvimento do capitalismo no mundo colonial naquela época. Assim, o mundo semicolonial abrigava quase metade de todo o capital exportado, enquanto produzia apenas 8,3% da produção mundial de manufatura em 1938.

 

No período após a Segunda Guerra Mundial, os países semicoloniais perderam em importância até certo ponto. Isso fica evidente se olharmos para o desenvolvimento da direção de exportação de capital dos EUA e da Alemanha nas décadas de 1950 e 1960. A participação do investimento estrangeiro direto que foi para o chamado Terceiro Mundo caiu de 51% para 31%, respectivamente, de 35% para 29%. (Ver Tabelas 24, 25 e 26)

 

 

 

Tabela 24: Distribuição do Investimento Estrangeiro Direto Privado dos EUA, 1950-1975 (em %) 34

 

Western Europe=Europa Ocidental/ Canadá/Other imperialists countries= Outros páises imperialistas/developing countries= Países em desenvolvimento

 


 

 

 

Tabela 25: Distribuição do Investimento Estrangeiro Direto Privado da Alemanha Ocidental, 1960-1975 (em %) 35

 

European Economic Community= Comunidade Econômica Europeia/

 


 

 

 

Tabela 26: Distribuição Geográfica de Investimentos Estrangeiros Diretos da Europa Ocidental, EUA e Japão, 1975 (em %) 36

 


 

 

 

Quais foram as principais razões para esse desenvolvimento? Havia vários. Em primeiro lugar, a Segunda Guerra Mundial imperialista (além das consequências da Primeira Guerra Mundial e da Grande Depressão a partir de 1929) levou a uma destruição massiva de capital em importantes centros imperialistas (Europa e Japão). De fato, essas destruições foram o fator mais importante para o chamado "Milagre Econômico", ou seja, o Longo Boom nas décadas de 1950 e 1960. 37 Como resultado, o enorme capital – em particular da principal potência capitalista, os EUA – se dirigiu para a Europa e o Japão para reconstruir a economia.

 

Neste contexto, é importante ter em mente que a exportação de capital não é exportação de capital. Como mostraremos mais tarde, o propósito da exportação de capital de um país imperialista para outro é, muitas vezes, assumir uma empresa rival. Em outras palavras, é motivado pela rivalidade aguçada entre os monopólios. A exportação de capital imperialista para os países semicoloniais é significativamente motivada pela oportunidade de construir novos investimentos para a produção de lucro suplementar.

 

Além disso, no período após a Segunda Guerra Mundial, houve uma série de lutas de libertação anti-colonial que foram até certo ponto bem sucedidas e levaram à criação de estados formalmente independentes e semicoloniais. Dado o pano de fundo neste período – a expansão dos estados operários degenerados estalinistas e a Guerra Fria – a burguesia semicolonial tinha um certo grau de espaço para manobras. Isso resultou em nacionalização parcial de empresas imperialistas, tarifas mais elevadas (Industrialização De importação-substituição) etc. Como resultado, o ambiente para os monopólios imperialistas investirem nesses países tornou-se menos favorável e mais inseguro.

 

No entanto, este foi apenas um fenômeno temporário como podemos ver na tabela 27 e como irá elaborar mais tarde em detalhes. 38

 

 

 

Tabela 27: Valor Bruto do Capital Estrangeiro nos Países em Desenvolvimento 1870-1998 (em bilhões de dólares americanos e por cento) 39

 

Total in 1990 prices= preços totais em 1990/ stock as percent of developing country GDP=índice como percentual do PIB do país em desenvolvimento

 


 

 

 

E em segundo lugar, apesar de todas essas circunstâncias específicas, a exportação de capital imperialista para o mundo semicolonial ainda desempenhava um papel importante para a criação de lucros extras. A participação dos países semicoloniais como destino para os monopólios de exportação de capital sempre foi maior do que sua participação na economia mundial – mesmo nas décadas de 1950 e 1960.

 

Por exemplo: Em 1965, o Terceiro Mundo tinha um Produto Social Bruto de US$ 230 bilhões, enquanto o Produto Social Bruto Mundial girava em torno de US$ 2.000 bilhões. Isso significa que as semicolônias tiveram uma participação de 11,5% do produto global. No entanto, um terço do investimento estrangeiro total foi para o Sul. 40 Outra indicação disso é o fato de que já no início da década de 1990, quando a globalização ainda estava em estágio inicial, já 1/3 dos 6 milhões de trabalhadores empregados pelas multinacionais americanas no exterior estavam nos países em desenvolvimento. 41

 

Assim, vemos que o capital monopolista direcionou seu investimento estrangeiro muito mais para os países semicoloniais do que o seu peso na economia mundial sugeriria. Qual foi a razão disso? Foi obviamente – e vamos provar isso mais tarde com os números – que nesses condados os capitalistas monopolistas podem esperar uma taxa média de lucro mais alta.

 

Além disso, deve-se lembrar que o capital do monopólio imperialista sempre teve um papel decisivo nas economias semicoloniais. Isso não é verdade apenas para o período de globalização, quando a exportação de capital para o Sul acelerou, mas já nas décadas de 1950 e 1960. Um estudo do México no início da década de 1960 mostrou que das 100 grandes empresas, 56 eram controladas por proprietários estrangeiros ou tinham uma grande parte do capital estrangeiro. Em 1970 – segundo outro estudo – 45,4% das 290 maiores empresas manufatureira estavam em mãos estrangeiras. Dados do Brasil na década de 1960 demonstram que houve dominância semelhante: 31 das 50 maiores empresas privadas eram controladas pelo capital imperialista. Das 276 grandes empresas, mais da metade era controlada por proprietários estrangeiros. 42

 

Nas décadas de 1950 e 1960 – ou seja, os anos em que os países do Terceiro Mundo se tornaram estados capitalistas independentes perdendo qualquer caráter colonial de acordo com os teóricos centristas do SWP/IST et al. – as semicolônias tiveram que pagar uma proporção crescente de sua renda aos imperialistas. Os países latino-americanos tiveram que pagar 7,2% do valor das exportações para o atendimento de suas dívidas externas em 1950-54. Em 1965-69, essa proporção cresceu para 23,8% enquanto no mesmo período o serviço de investimento privado passou de 11,3 para 13,2%. 43

 

Nas tabelas a seguir, damos uma visão geral de como o investimento estrangeiro direto se desenvolveu nas últimas três décadas. (Ver Tabelas 28, 29 e 30, bem como Figura 35)

 

 

 

Tabela 28: Distribuição Geográfica das Ações de Investimento Estrangeiro Direto( IED) Interno, 1967-1997 (em porcentagem) 44

 

 

 

 

 

 

 

Tabela 29: Índice do IED, por Região e Economia, 1990-2011 (Bilhões de dólares) 45

 

 

 

 

 

Tabela 30: Índice do IED, por Região e Economia, 1980-2011 (participação das ações globais do IED) 46

 

 

 

 

 

Figura 35: Entradas do IED, Mundial e Grupo das Economias, 1980-2010 (em Bilhões de Dólares) 47

 

 

 

 

 

Essas tabelas dão uma visão geral abrangente do desenvolvimento da distribuição das ações mundiais de investimento estrangeiro nos últimos 30 anos. Mostra que a posição dos países imperialistas clássicos – América do Norte, Europa Ocidental e Japão – como nações exportadoras de capital diminuiu em certo grau entre 1980 e 2011 (de 87,3% para 80,6%). Isso reflete o fato de que nos últimos 10-15 anos surgiram duas novas potências imperialistas - China e Rússia . Suas ações globais do IED subiram entre 1990 e 2011 de 0,8% para 6,6% (China, incluindo Hong Kong), respectivamente, de zero a 1,7% (Rússia).

 

Consideravelmente maior foi o declínio dos países imperialistas clássicos como destinos de exportação de capital. Sua participação caiu 11,2% entre 1990 e 2011 (de 75,1% para 63,9%). Ao mesmo tempo, a participação dos países em desenvolvimento no IED interno subiu de 24,8% para 32,5%. Isso indica que o papel dos países semicoloniais como destinos para a exportação de capital imperialista e que o desejo de capital monopolista para obter uma taxa de lucro maior tem crescido nas últimas décadas. 48

 

As tabelas também mostram o seguinte fato interessante; enquanto a China (incluindo Hong Kong) recebe uma parcela significativa do IED global, as estatísticas mostram que a importante mudança que ocorreu nas últimas duas décadas não foi a ascensão do IED que foi para a China. Como mostra a tabela, a participação da China (incluindo Hong Kong) do IED interno caiu ligeiramente de 10,7% para 9,1% entre 1990 e 2011. Como mencionado acima, a mudança significativa foi, em vez disso, a participação enorme da China IED externo de 0,8% para 6,6% no mesmo período. Em outras palavras, a China tornou-se um grande exportador de capital para outros países. Esses números provam claramente a tese dos marxistas de que a China se transformou nos anos 2000 para se tornar uma potência imperialista emergente.

 

Assim – como podemos ver nas mesmas tabelas – a crescente participação dos países em desenvolvimento no IED interno entre 1990 e 2011 não foi causada pela China, mas principalmente pela crescente parcela de países semicoloniais.

 

Por fim, queremos olhar para o papel da exportação de capital tanto para os países imperialistas quanto para as semicolônias. Como escrevemos há alguns anos, a globalização é a internacionalização da produção e do comércio sob o crescente domínio do capital monopolista. "Uma das características mais importantes do presente período é o rápido avanço do processo de monopolização em nível global. O processo imanente dentro do capitalismo da concentração e centralização do capital e da formação de monopólios não ocorre apenas a nível nacional, mas também, e especialmente, no mercado mundial." 49

 

Como resultado, o papel do investimento estrangeiro direto na acumulação de capital em todos os tipos de países está crescendo massivamente. Isso fica evidente a partir das tabelas 31, 32 e 33 seguintes que dão uma visão geral do papel do IED na "Formação Bruta de Capital Fixo" de 1980 até 2010.

 

 

 

Tabela 31: Entradas do IED (Investimento Estrangeiro Direto) como porcentagem da formação bruta de capital fixo, 1980-1990 50

 

 

 

 

 

Tabela 32: Entradas do IED como percentual de formação bruta de capital fixo, 1990-2010 51

 

 

 

 

 

Tabela 33: Saídas do IED como porcentagem da Formação Bruta de Capital Fixo, 1990-2010 52

 


 

 

 

Essas tabelas mostram várias coisas. Em primeiro lugar, demonstram a internacionalização da produção e, consequentemente, a utopia de soluções isoladas nacionalmente. O dogma estalinista da possibilidade de construir o socialismo (e até mesmo o comunismo) em um país isolado é hoje ainda mais absurdo do que era há 80 anos.

 

Em segundo lugar, mostra a importância da exportação de capital para os países imperialistas. Entre 1/7 e 1/5 de seu capital acumulado se deslocam para outros países em seu desejo de maiores lucros. Em terceiro lugar, as tabelas indicam o aumento do peso dos monopólios imperialistas nas economias semicoloniais. A participação do capital estrangeiro no capital social total nas regiões semicoloniais aumentou drasticamente nas últimas duas décadas, de modo que o capital imperialista agora é diretamente responsável por entre 1/10 e 1/8 do acúmulo de capital na Ásia semicolonial, 1/6 e 1/4 na África e América Latina e 1/9 e 1/5 na Europa Oriental e na antiga União Soviética. É claro que a posição dos monopólios estrangeiros também sobe nos próprios países imperialistas, mas aqui não tem o caráter de dominação ou subjugação estrangeira, pois é o caso das nações capitalistas menos desenvolvidas.

 

 

 

Um parêntese: Exportação de capital entre países imperialistas e entre países imperialistas e semicoloniais não é a mesma coisa

 

 

 

Na discussão sobre o IED e a Exportação de Capital há questões importantes a serem consideradas. Como vemos um dos principais argumentos do SWP/IST – repetindo as ideias da maioria dos economistas burgueses – é que a exportação de capital das metrópoles para as semicolônias é apenas uma participação minoritária entre a exportação total de capital.

 

Este argumento ignora diferenças importantes no caráter de exportação de capital entre países imperialistas e entre países imperialistas e semicoloniais, como já apontamos em outro lugar. 53 A exportação de capital para as semicolônias tem como causa, principalmente, a tentativa de capital monopolista de elevar sua taxa de lucro através da obtenção de lucros extras. O aumento dessa exportação de capital é o resultado da queda das taxas de lucro nos centros imperialistas desde a década de 1970 e da tentativa do capital de combatê-lo através do investimento e do comércio com economias capitalistas menos desenvolvidas.

 

A exportação de capital entre os estados imperialistas serve sobretudo ao avanço dos monopólios. Isso toma a forma da centralização acelerada do capital através do aumento da colaboração entre os monopólios, ou a tomada de monopólios por outros monopólios. Esta é a explicação pela qual uma parte importante do IED entre os Estados imperialistas não é um novo investimento ou expansão (chamado de "Greenfield" por economistas burgueses), mas serve apenas para financiar a aquisição de outras corporações (chamadas de "Fusões & Aquisições" ou F&A). Uma indicação para isso é o fato de que, embora a maior parte do F&A ocorra nos países imperialistas clássicos – América do Norte, UE e Japão – a produção industrial, como mostramos na Tabela 3, praticamente estagnou na última década ou até mesmo declinou.

 

Portanto, enquanto a exportação de capital entre estados imperialistas também tem os lucros como seu objetivo final, a maneira de conseguir isso não é tanto através da criação de lucros-extras via super-exploração, mas reforçando seu controle monopolista sobre o mercado e, portanto, para aumentar seus lucros monopolistas (que, naturalmente, está acima da taxa média de lucros).

 

Essa diferenciação deve ser entendida de forma dialética como tendências, não como uma impenetrável parede chinesa. A exportação monopolista de capital para países semicoloniais para centralização do capital também ocorre – em particular dada a onda de privatização de empresas nacionalizadas que ocorre no Sul desde a década de 1980. Portanto, uma proporção significativa do IED para os países semicoloniais também é F&A. No entanto, as proporções qualitativamente diferentes de F&A (Fusão e Aquisição) e Greenfield Investment indicam uma diferença nos monopólios de exportação de capital para as partes imperialistas e semicolonial da economia mundial. Um investimento greenfield é um tipo de investimento estrangeiro direto (IED) no qual uma empresa-mãe cria uma subsidiária em um país diferente, construindo suas operações do zero.

 

Sem compreender essa diferenciação sobre a função concreta da exportação de capital acaba em confusão e, em equívoco, o caráter específico do imperialismo. Em uma discussão sobre o projeto de programa do Partido Bolchevique em 1917, Lênin já apontou essa necessária diferenciação do papel da exportação de capital para os países imperialistas e para os países coloniais:

 

"No rascunho do camarada Sokolnikov, encontramos uma mera referência à "exportação de capital" em um lugar, enquanto em outro, e em uma conexão totalmente diferente, lemos de "novos países que são campos para a utilização de capital exportado em busca de super-lucros". É difícil aceitar como correta a declaração sobre super-lucros e novos países, uma vez que o capital também foi exportado da Alemanha para a Itália, da França à Suíça, etc. Sob o imperialismo, o capital começou a ser exportado para os países antigos também, e não apenas para os super-lucros. O que é verdade em relação aos novos países não é verdade no que diz respeito à exportação de capital em geral." 54

 

Um olhar concreto para as estatísticas disponíveis confirma nossa diferenciação entre o papel da exportação de capital dirigida de forma monopolista para outros países imperialistas, que muitas vezes é para fins de fusão e aquisição, e a exportação de capital para economias semicoloniais nas quais os novos investimentos desempenham um papel muito mais significativo.

 

O economista marxista Andrew Glyn relatou há alguns anos: "Bem mais da metade dos fluxos do IED nos países da OCDE representam fusões e aquisições transfronteiriças, em vez de empresas que montam fábricas ou escritórios do zero". 55

 

Em seu Relatório Anual de Investimento Mundial em 2000, a UNCTAD informou ainda que no ano anterior 4/5 do total mundial os fluxos de IED eram F&A transfronteiriços. Um número semelhante é dado por Éric Toussaint na Tabela 34, que mostra que o investimento estrangeiro dos EUA na década de 1980 foi cerca de 6 vezes mais em aquisições do que em novos investimentos.

 

 

 

Tabela 34: Aquisição e Criação de Empresas por Capital Estrangeiro nos EUA, 1983-1989 56

 

Acquisitions by value=Aquisições por valor / Creation by value= Criação por valor

 

Ratio of value of acquisition to Creation=Razão do valor de aquisição para a criação

 


 

 

 

Isso também mostra, mais uma vez, que a globalização é fortemente motivada pelo impulso dos monopólios para se apropriar de um setor cada vez maior da economia por meio da centralização internacional do capital. A UNCTAD observa a diferença entre o IED em relação aos países imperialistas e aos países semicoloniais:

 

"Os F&A são particularmente significativos como um modo de entrada para o IED em países desenvolvidos. No mundo em desenvolvimento, o Greenfield IED ainda é dominante. Os fluxos de IED para países em desenvolvimento associados às F&As têm aumentado, no entanto, seu valor aumentou aproximadamente de um décimo do valor do total de entradas do IED no final da década de 1980 para um terço no final da década de 1990." 57

 

Em seu Relatório Mundial de Investimento 2011, a UNCTAD ressaltou a diferença novamente. Enquanto mais de 2/3 do valor total do investimento da Greenfield é direcionado para as chamadas economias em desenvolvimento, apenas 25% dos F&A transfronteiriços são realizados lá. Conclui: "As economias em desenvolvimento e transição tendem a abrigar investimentos em greenfield em vez de F&A transfronteiriços." 58

 

A UNCTAD também aponta a importância do Investimento Greenfield nos chamados países em desenvolvimento para os maiores monopólios internacionais – as "Corporações Transnacionais" (CTN) – e o lucro extra que eles derivam dessas regiões. (Veja também a Figura 36)

 

"Os lucros corporativos, que foram cortados pela crise, se recuperaram acentuadamente para muitos das maiores CTNs do mundo. A rápida recuperação econômica das maiores economias em desenvolvimento desempenhou um papel importante na restauração dessas empresas ao crescimento da renda. . Em alguns casos, a receita das economias em desenvolvimento e em transição cresceu para representar uma parte significativa da receita operacional das CTNs. Essa tendência abrange as indústrias, com CTNs tão variados quanto Coca-Cola (Estados Unidos), Holcim (Suíça) e Toyota Motors (Japão) derivando mais de um terço de sua receita operacional de economias em desenvolvimento. A atividade de investimento dos 100 maiores CTNs do mundo mudou decididamente para economias em desenvolvimento e transição. Comparando projetos internacionais greenfield entre 2007-2008 e 2009-2010, o número de projetos voltados para essas economias aumentou 23%, em comparação com apenas um aumento de 4% nas economias desenvolvidas. Embora os investimentos no desenvolvimento da Ásia tenham dominado, polos crescentes de investimento são agora perceptíveis na América Latina e na África. A Metro AG (Alemanha) está buscando crescimento nas economias em desenvolvimento e transição, abrindo novas lojas na Federação Russa (17), China (7), Cazaquistão (4) e Vietnam (4) durante 2010, enquanto o fechamento de lojas em mercados desenvolvidos na Europa.23 A General Electric (Estados Unidos), a maior CTN do mundo em termos de ativos estrangeiros, também é emblemática dessa mudança, tendo anunciado recentemente que pretende intensificar seu foco em mercados emergentes – que respondem por 40% das receitas industriais da empresa – a fim de reduzir custos e aumentar o crescimento da receita" 59

 

 

 

Figura 36: Greenfield Investmentos pelas maiores 100 CTNs do mundo, por região anfitriã, 2007-2008 e 2009-2010 (Número de Projetos e variação percentual entre períodos) 60

 


 

 

 

Terminamos agora com essa primeira visão geral. Achamos que ficou claro que a super-exploração imperialista do mundo semicolonial não é um fenômeno periférico e secundário. Muito pelo contrário, sua dimensão é enorme e crescente. É obviamente de grande importância para o chamado Terceiro Mundo, mas – como mostraremos com mais detalhes – também é essencial para os monopólios imperialistas.

 

 

 

1 José Antonio Ocampo e José Gabriel Palma: O Papel do Regulamento de Contas de Capital Preventivo; in: José Antonio Ocampo e Joseph E. Stiglitz (eds.): Liberalização e Desenvolvimento do Mercado de Capitais, Nova York 2008, capítulo 7, Figura 4; http://www.imf.org/external/np/seminars/eng/2011/res/pdf/jao.pdf

 

2 Pierre Jalée: Die Ausbeutung der Dritten Welt (1965), Frankfurt a.M. 1968, p. 107. (nossa tradução)

 

3 Organização Mundial da Saúde: Implementação da Estratégia Global de Saúde para Todos até o ano 2000. Oitavo relatório sobre a situação mundial da saúde, Genebra 1993, p 16

 

4 Ernest Mandel: Verschuldungskrise: Eine tickende Zeitbombe; in: Bortz/Castro/Mandel/Wolf: Schuldenkrise, Frankfurt a.M. 1987, pp. 84-85

 

5 André Gunder Frank: Kapitalistische Unterentwicklung oder sozialistische Revolution (1968); em: Bolivar Echeverria, Horst Kurnitzky (Hrsg.): Lateinamerika. Entwicklung einer Unterentwicklung, Berlim 1980, p. 109

 

6 Vincent Ferraro e Melissa Rosser: Dívida Global e Desenvolvimento do Terceiro Mundo; in: World Security: Challenges for a New Century, editado por Michael Klare e Daniel Thomas (Nova York: St. Martin's Press, 1994), pp. 332-355, http://www.mtholyoke.edu/acad/intrel/globdebt.htm

 

7 PNUD: Relatório de Desenvolvimento Humano 1992, p. 67

 

8 PNUD: Relatório de Desenvolvimento Humano 1992, p. 67

 

9 Helmut Faulwetter: Die Ausbeutung der Entwicklungsländer durch das international Monopolkapital; in: Autorenkollektiv (unter Leitung von Peter Stier): Handbuch Entwicklungsländer. Sozialökonomische Prozesse, Fakten und Strategien, Berlim 1987, p. 18 (nossa tradução)

 

10 Ver Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und die Ausbeutung der Halbkolonien (2007), em: BEFREIUNG Nr. 154; http://www.trend.infopartisan.net/trd1207/t261207.html; Michael Pröbsting: Der Verrat der 'Linken' im Gaza-Krieg; in: Unter der Fahne der Revolution Nr. 4 (2009), p. 46, http://www.thecommunists.net/theory/gaza-krieg-und-linke; Michael Pröbsting: Die halbe Revolution. Lehren und Perspektiven des arabischen Aufstandes; in: Der Weg des Revolutionären Kommunismus (Theoretical Journal of the Revolutionär-Kommunistischen Organization zur Befreiung, RKOB), Nr. 8 (2011), p. 9.

 

11 Nações Unidas: Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2008, p. 69,Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2009, p. 62, Nações Unidas: Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2010, p. 73 e Nações Unidas: Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2012, p. 76

 

12 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 11

 

13 Paulo Nakatani e Rémy Herera: O Sul já quitou dívida externa para o Norte. Mas o Norte nega sua dívida com o Sul, Revisão Mensal, Volume 59, Edição 02 (junho de 2007)

 

14 Nações Unidas: Situação Econômica Mundial e Perspectiva 2012, p. 75

 

15 Nações Unidas: Situação Econômica Mundial e Perspectiva 2012, p. 74.

 

16 Veja esta Onu: Situação Econômica Mundial e Perspectiva 2012, p. 133

 

17 Paulo Nakatani e Rémy Herera: O Sul já quitou dívida externa para o Norte. Mas o Norte nega sua dívida com o Sul, Revisão Mensal, Volume 59, Edição 02 (junho de 2007). Veja também Andrew M. Fischer: Colocando ajuda em seu lugar: Insights dos primeiros estruturalistas sobre ajuda e equilíbrio de pagamentos e lições para debates de ajuda contemporânea; Instituto de Estudos Sociais, Haia, Países Baixos; in: Journal of International Development, nº 21 (2009), p. 861

 

18 Christian Freres e Andrew Mold: Política Comercial da União Europeia e os Pobres. Para melhorar o impacto da pobreza do GSP na América Latina, 2004, p. 8

 

19 Catherine Barber: A lógica da migração (2008), Publicação Oxfam, p. 1

 

20 François Bourguignon e Christian Morrisson: Desigualdade entre cidadãos mundiais: 1820-1992, em: The American Economic Review, Vol. 92, No. 4. (Setembro de 2002), p. 742, http://links.jstor.org/sici?sici=0002-8282%28200209%2992%3A4%3C727%3AIAWC1%3E2.0.CO%3B2-S .Coeficiente de Gini, por vezes chamado índice de razão de Gini, é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini. Pode ser usado para qualquer distribuição embora seja comumente utilizado para medir a desigualdade de distribuição de renda. O Índice de Theil é uma medida estatística da distribuição de renda.

 

21 Pierre Jalée: Das neueste Stadium des Imperialismus (1969), München 1971, p. 138. Números semelhantes são dados para o ano de 1975 em: Berliner Institut für Vergleichende Sozialforschung: Das Elend der Modernisierung. Die Modernisierung des Elends. Unterentwicklung und Entwicklungspolitik em Lateinamerika, Berlim 1982, p. 115

 

22 Thomas Fritz: Globalização da Fome: Segurança Alimentar e Política Agrícola Comum da UE (2011), p. 7

 

23 Comissão Europeia: Recuperação das exportações agrícolas globais e da UE, Monitoramento da Política agroa comercial, nº 01-11, maio de 2011, pp. 7-8

 

24 Comissão Europeia: Recuperação das exportações agrícolas globais e da UE, Monitoramento da Política Agro-comércio, Nº 01-11, maio de 2011, p. 7

 

25 União Europeia: Matérias-primas, 3.13.2012, http://ec.europa.eu/trade/creating-opportunities/trade-topics/raw-materials/index_en.htm

 

26 Fanuel Hazvina: Iniciativa de matéria-prima da UE e suas implicações nas Relações da UE com a África, Centro de Estudos de Comércio e Desenvolvimento (TRADES Centre), junho de 2011, pp. 7-8

 

27 Thomas Lazzeri: EPAs e a Iniciativa Europeia de Matérias-Primas, em: AEFJN: Fórum para ação Nº:° 55 (março de 2011), p. 14

 

28 Comissão Europeia: Enfrentando os Desafios nos Mercados de Commodities e nas Matérias-Primas, 2.2.2011, p. 21. Estas 14 matérias-primas são: antimônio, fluorspar, gálio, germânio, figureita, índio, magnésio, terras raras, tungstênio, metais do grupo de platina, cobalto, tântalo, nióbio e tântalo.

 

29 Pierre Jalée: Das neueste Stadium des Imperialismus (1969), München 1971, p. 139

 

30 Ambas as citações são tiradas de: David Yaffe: A aristocracia trabalhista e imperialismo (Parte 2), em: FRFI 162 Agosto / Setembro de 2001, http://www.revolutionarycommunist.org/index.php/britain/1142-the-labour-aristocracy-and-imperialism-part-two-frfi-162-aug-sep-2001

 

31 Além das citações que já reproduzimos acima, damos aqui mais alguns exemplos para essa banalização pelos teóricos cliffitistas:

 

"Essa retirada da colonização direta teve como corolário direto o fim dos antigos confrontos entre as potências ocidentais sobre a divisão do resto do mundo. O impulso para a guerra entre eles parecia ter ido de uma vez por todas. Também foi acompanhado por outra coisa inesperada pelas teorias de Lênin e Bukharin sobre o imperialismo – uma vez desprovidos de suas colônias, cada uma das economias ocidentais participou de um boom que eventualmente durou mais de um quarto de século, viu um desemprego mínimo e manteve os níveis de lucro sem problemas aparentes, apesar dos aumentos regulares nos padrões de vida de seus trabalhadores. E os países avançados sem colônias – Alemanha Ocidental, Japão e Itália – tiveram as economias que se expandiram mais rapidamente. Quase parecia que Hobson estava certo em suas alegações de que as colônias eram um dreno na economia que de outra forma seria capaz de fornecer reformas maciças em casa.

 

Na verdade, a força motriz por trás do boom foi precisamente a rivalidade imperialista da Guerra Fria entre os EUA e a URSS, com seus gastos maciços com armas. Longe de haver um 'excedente' de capital nos países avançados, houve uma escassez, e as exportações de capital permaneceram nos níveis muito baixos aos que haviam afundado na grande queda da década de 1930." (Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo, pp. 29-30

 

"Por trás da estabilidade política estava a descoberta pelos imperialistas europeus das décadas de 1940 e 1950 que perder seu controle direto sobre suas colônias não lhes custou muito. As mudanças econômicas no período pós-guerra significaram que os destinos mais rentáveis para investimentos eram mais propensos a estar em outros países avançados do que nas antigas colônias. Assim, as economias britânica, francesa, holandesa e belga cresceram após a perda de suas colônias." (Chris Harman: Oriente Médio: Cuidado com o Tigre Encurralado, Revisão Socialista (Novembro de 2006), http://www.socialistreview.org.uk/article.php?articlenumber=9874)

 

32 Ver Christian Fuchs: Uma Contribuição para Estudos Críticos de Globalização (2009); Centro para o Estudo Crítico do Poder Global e Política Papel de Trabalho CSGP 09/8, p. 17 http://www.trentu.ca/globalpolitics/documents/Fuchs098.pdf

 

33 Angus Maddison: A Economia Mundial, Volume 1: Uma Perspectiva Milenar, Volume 2: Estatística Histórica, Estudos do Centro de Desenvolvimento 2006, p. 101, nossos cálculos. As Nações Capitalistas Avançadas são: Europa, América do Norte e Austrália. Nações coloniais e semicoloniais são: América Latina, Ásia e África. Maddison observa que a soma das ações de 1938 não mostra o resultado de 100% uma vez que a soma total inclui investimentos que não são classificados por região.

 

34 Hans Tammer (Hrsg.): Anschauungsmaterial. Politische Ökonomie, Kapitalismus, Berlim 1984, p. 103

 

35 Hans Tammer (Hrsg.): Anschauungsmaterial. Politische Ökonomie, Kapitalismus, p. 104

 

36 Autorenkollektiv unter Leitung von N.N. Inosemzew, W.A. Martynow, S.M. Nikitin: Lenins Imperialismustheorie und die Gegenwart (1977), Berlin 1980, p. 142

 

37 Já fizemos esse ponto em Keith Hassel: Teoria Revolucionária e Imperialismo, em: Revolução Permanente (Journal of Workers Power Britain), No. 8 (1989)

 

38 Veja nesta edição também nosso artigo: Arbeiterstandpunkt: Von der Unterentwicklung zur Entwicklung – und wieder zurück? em: Arbeiterstandpunkt Nr. 14 (1988)

 

39 Angus Maddison: A Economia Mundial, Volume 1: Uma Perspectiva Milenar, Volume 2: Estatística Histórica, Estudos do Centro de Desenvolvimento 2006, p. 128

 

40 Marcello de Cecco: Der Einfluß der multinacionalen Gesellschaften auf die Wirtschaftspolitik der unterentwickelten Länder; em: Kapitalismus em den siebziger Jahren. Referate zum Kongreß em Tilburg im Setembro de 1970, Frankfurt 1971, p. 175

 

41 Morris Miller: Onde a interdependência global nos levando?: Por que precisamos de um "Novo (melhorado) Bretton Woods"*; De "Tensões Sociais & Conflito Armado: Étnica & Outros Aspectos", Painel: Interdependência global em questões econômicas & financeiras", Pugwash, Nova Escócia, 28 a 31 de julho de 1994 http://www.ncrb.unac.org/unreform/archive/globalization.html

 

42 Celso Furtado: Desenvolvimento Econômico da América Latina. Histórico e problemas contemporâneos, Nova York 1984, pp. 204-206

 

43 Celso Furtado: Desenvolvimento Econômico da América Latina. Histórico e problemas contemporâneos, Nova York 1984, p. 220

 

44 Ver Robert Went: Ein Gespenst geht um... Globalisierung! Eine Analysis, Zurique 1997, S. 57 e Robert Went: Globalization. Challange Neoliberal, Respostas Radicais, Londres 2000, p. 45

 

45 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2012, pp. 173-176

 

46 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2012, pp. 173-176; UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, pp. 191-193; nosso próprio cálculo. Para o ano de 1980, pegamos os números da UNCTAD: World Investment Report 2006, p. 7

 

47 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 3

 

48 Já apontamos esse desenvolvimento em nosso estudo de globalização há alguns anos. Veja Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und der Niedergang des Kapitalismus; in: Revolutionärer Marxismus 39, agosto de 2009, pp. 69-70, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm39/rm39imperialismus.htm; em inglês: Michael Pröbsting: Imperialismo e o Declínio do Capitalismo (2008), em: Richard Brenner, Michael Pröbsting, Keith Spencer: The Credit Crunch - A Marxist Analysis (2008), p. 98, http://www.fifthinternational.org/content/imperialism-and-decline-capitalism

 

49 Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und der Niedergang des Kapitalismus, p. 68, em inglês: Michael Pröbsting: Imperialismo e o Declínio do Capitalismo (2008), em: Richard Brenner, Michael Pröbsting, Keith Spencer: The Credit Crunch - A Marxist Analysis (2008), p. 96

 

50 UNCTAD: World Investment Report 1991, p. 8 e UNCTAD: World Investment Report 1994, pp. 422-424. Para os anos de 1981-1990, levamos o Leste, o Sul e o Sudeste Asiático para o Desenvolvimento da Ásia, uma vez que esta edição do Relatório Mundial de Investimento da UNCTAD não fornece números para esta última categoria.

 

51 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011; Tabelas anexo, Tabela Web 5. As entradas do IED como percentual da formação bruta de capital fixo, 1990-2010, Web www.unctad.org/wir. No entanto, é necessário chamar a atenção do leitor para alguns problemas com essas estatísticas da UNCTAD.

 

Os números do Sudeste Europeu e dos Estados da antiga União Soviética (C. I. S.) estão apenas parcialmente completos porque nas estatísticas anteriores da UNCTAD esses países foram agrupados com os Estados do Leste Europeu que entraram na UE em 2004 e isso distorce as estatísticas. As estatísticas da UNCTAD também usam os números distorcidos do FDI de Hong Kong e da China, onde de fato até 2008 uma proporção significativa disso era capital chinês transferido para Hong Kong e reinvestido na China como "investimento estrangeiro" para obter privilégios fiscais. (Mais sobre isso em "Uma Nota sobre o Papel de Hong Kong no Investimento Estrangeiro Direto" no Capítulo 10).

 

No que diz respeito ao IED, "permanente", deve ser entendido como a totalidade, muitas vezes acumulada ao longo de um longo período de tempo, de capital investido em, ou a partir de um país. Em contrapartida, "flow" refere-se ao IED recém-investido em um determinado ano. "O IED nacional refere-se à participação do IED importado no investimento fixo total ou no PIB do país em causa. "O FDI ultramarino" refere-se ao IED exportado como uma proporção do investimento bruto fixo ou do PIB do país de onde o IED é exportado.

 

As categorias UNCTAD "países desenvolvidos" e "países em desenvolvimento"," são claramente muito problemáticas e expressam arrogância imperialista no nível conceitual. Em geral, a categoria "país desenvolvido", refere-se aos estados imperialistas e "país em desenvolvimento", significa semicolonial. No entanto, a este respeito, há uma limitação não sem importância: a UNCTAD inclui os países semicoloniais da Europa Oriental que ingressaram na UE em 2004 e no qual o IED desempenha um papel importante na acumulação de capital, com os "países desenvolvidos", em seu último "World Investment Report". As tabelas da UNCTAD também estão enfraquecidas pelo fato de incluírem os estados do Sudeste Europeu e a antiga União Soviética como uma categoria separada dos outros países. Na realidade, no entanto, todos esses países, com exceção da Rússia, são semicolônias. Em contraste, a Rússia é um estado imperialista.

 

52 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011; Tabelas anexo, Tabela Web 6. Saídas do IED como percentual da formação bruta de capital fixo, 1990-2010, Web www.unctad.org/wir

 

53 Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und der Niedergang des Kapialismus; in: Revolutionärer Marxismus Nr. 39 (2008), p. 69; em inglês: Michael Pröbsting: Imperialismo e o Declínio do Capitalismo; in: Richard Brenner / Michael Pröbsting: The Credit Crunch (2008), p. 97

 

54 W. I. Lenin: Revisão do Programa Partidário (1916); in: LCW Vol. 26, pp. 165-166

 

55 Andrew Glyn: Capitalismo Libertado. Finanças, Globaliszation e Welfare, Nova York 2006, p. 101

 

56 Éric Toussaint: Seu Dinheiro ou sua Vida. A Tirania das Finanças Globais; Bruxelas 1999, p. 32

 

57 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2000, p. XX; ver também UNCTAD: World Investment Report 1995, p. 145

 

58 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 10

 

59 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, pp. 26-28

 

60 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 28

 

 

 

8. As Várias Formas de Super-Exploração Imperialista dos Países Semicoloniais e seu Desenvolvimento nas últimas Décadas (Parte 2)

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Lidaremos agora com as várias formas de super-exploração imperialista dos países semicoloniais mais detalhadamente. Recordamos as quatro categorias que identificamos como as formas em que se realiza a apropriação do valor pelos monopólios imperialistas do mundo semicolonial:

 

i) Lucros extras via exportação de capital como investimento produtivo

 

ii) Lucros extras via exportação de capital como capital (empréstimos, reservas cambiais, especulação etc.)

 

iii) Transferência de valor via câmbio desigual

 

iv) Transferência de valor via migração, ou seja, a importação de mão-de-obra relativamente mais barata para as metrópoles imperialistas das semicolônias

 

 

 

i) Lucros extras via exportação de capital como investimento produtivo

 

 

 

O capital monopolista na era da globalização depende cada vez mais de suas operações mundiais para aumentar o lucro. Um estudo publicado por uma fundação próxima a Big Business dá os seguintes números sobre o aumento dramático do lucro das multinacionais dos EUA originado por suas afiliadas estrangeiras: Enquanto as afiliadas estrangeiras representaram 17% em 1977 do lucro líquido mundial das multinacionais dos EUA., esse número subiu para 27% em 1994 e surpreendentes 48,6% em 2006 — ou seja, quase metade! O estudo comentou: "De fato, as multinacionais dos EUA em muitas indústrias recentemente compensaram a desaceleração das vendas e lucros dos EUA com vendas e crescimento de lucros mais fortes fora da América — especialmente em países de rápido crescimento, como China e Índia." 1

 

Como já apontamos, os monopólios imperialistas podem esperar uma alta taxa de lucro nos países semicoloniais devido à menor composição orgânica do capital e às condições favoráveis para exploração. Como resultado, os monopólios podem obter um enorme lucro extra usando suas máquinas avançadas e patentes em combinação com o emprego de forças de trabalho baratas das semicolônias.

 

A figura 37 a seguir mostra as enormes diferenças entre os salários no Norte e no Sul.

 

 

 

Figura 37: Diferenças geográficas entre os Salários Por Hora na Manufatura, 2008 2

 

 

 

 

 

Na Figura 38 vemos os salários dos trabalhadores industriais em vários países imperialistas e semicoloniais em comparação com os salários médios dos trabalhadores industriais dos EUA. No ano de 2005, o salário médio dos trabalhadores na Índia era de cerca de 3,1% do nível dos EUA. Os trabalhadores nas Filipinas recebem cerca de 3,6% do nível dos EUA e os do Sri Lanka apenas 2,3%. Podemos ver também que os trabalhadores mexicanos recebem apenas cerca de 1/10 dos salários dos trabalhadores americanos. Da mesma forma, o nível dos salários dos trabalhadores do Leste Europeu é de apenas cerca de 18% dos seus colegas na Zona do Euro.

 

 

 

Figura 38: Custos médios de compensação por hora dos funcionários da manufatura, países e regiões selecionados, 2005 3

 

 

 

 

 

Vamos dar um exemplo prático das enormes vantagens para os monopólios da exploração dos trabalhadores nos países semicoloniais. O economista socialista norte-americano Doug Henwood mostrou em um estudo que no México as manufaturas de propriedade dos EUA são 85% tão produtivas quanto as manufaturas nos EUA. Mas os capitalistas têm que pagar aos trabalhadores mexicanos apenas 6% dos salários de seus homólogos norte-americanos! 4

 

Na sequência, reproduzimos uma série de números sobre a época desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o que demonstra que, em todos os períodos, o capital monopolista poderia se apropriar de taxas de lucros mais altas nos países semicoloniais do que em seus países de origem imperialista. Eles também mostram que uma proporção significativa desses lucros não é reinvestidos ou mesmo consumido no país onde os lucros são criados (ou seja, as semicolônias), mas são grandemente repatriados para os países de origem das corporações multinacionais.

 

Uma equipe de economistas soviéticos publicou um estudo em 1970 que mostrou as importantes diferenças na taxa de lucro do investimento estrangeiro para os monopólios imperialistas. Eles apresentaram números para meados da década de 1960 que demonstraram que os monopólios dos EUA derivaram uma taxa de lucro de 8,7% do investimento estrangeiro em outros países imperialistas, mas obteve uma taxa de lucro de 18,1% nos países semicoloniais. Os monopólios britânicos receberam uma taxa de lucro de 8,3% em seu país, mas obteve uma taxa de lucro de 15% em sua ex-colônia, a Índia. Ao mesmo tempo, o capital indiano alcançou apenas uma taxa de lucro de 10% em casa. 5

 

O acadêmico sírio Bassam Tibi concluiu um estudo sobre as diferentes taxas de lucro das corporações americanas na mineração e na indústria petrolífera entre 1950 e 1970 nos países imperialistas e semicoloniais. Ele mostrou que as taxas de lucro foram consideravelmente maiores nos países semicoloniais. (Ver Tabela 35)

 

 

 

Tabela 35: Taxas de lucro do Investimento Direto de corporações norte-americanas em Países Imperialistas e Semicoloniais, 1951-1970 (em %) 6

 

Mining industry=Indústria de mineração / Petroleum Industry= Indústria de Petróleo

 

Semi-colonial countries= países semicoloniais / Imperialist counries=Países imperialistas

 

 

 

 

 

Pierre Jalée relatou em seu livro sobre imperialismo sobre um estudo que mostra que as corporações petrolíferas tinham taxas de lucro no mundo semicolonial entre 61% e 114% enquanto eram apenas cerca de 7,2% na Europa Ocidental. 7

 

Outro número foi dado pelo economista brasileiro de esquerda Theotonio Dos Santos. Ele calculou que entre 1946 e 1968 os EUA exportaram para a América Latina 5,5 bilhões de dólares americanos, enquanto ao mesmo tempo 15 bilhões foram transferidos da América Latina para os EUA como dividendos, juros feitos por esses investimentos. 8

 

Em um estudo mais geral, economistas da Alemanha Oriental e da União Soviética calcularam as diferentes taxas de lucro para os monopólios dos EUA na década de 1970 no mundo semicolonial e imperialista. Segundo eles, as taxas de lucro dos monopólios eram quase o dobro do investimento nos países semicoloniais do que nas metrópoles. (Ver Tabela 36)

 

 

 

Tabela 36: Lucros extras dos Monopólios dos EUA no Mundo Semicolonial: Relação entre Lucros Declarados e Valor Nominal dos Investimentos dos EUA no Exterior (em %) 9

 

Profit from investment in developed countries=Lucro de investimento em países desenvolvidos/ Developed capitalist countries= países capitalistas desenvolvidos

 

Profit from investment in developing capitalist countries=Lucro de investimento em países capitalistas em desenvolvimento /

 

Profit from investment in oil industry in developing capitalist countries=Lucro do investimento na indústria do petróleo em países capitalistas em desenvolvimento

 

 

 

 

 

A UNCTAD informou em 2003 que a taxa de retorno do Investimento Estrangeiro Direto "foi consistentemente maior nos países em desenvolvimento (5,8%) do que em desenvolvido (4,4%) e países em Países da Comunidade Econômica Europeia-CEE (3,9%) desde o início da década de 1990." 10

 

O economista marxista Tony Norfield apresenta em um artigo interessante uma comparação internacional das taxas de retorno do investimento direto dos EUA no exterior para os anos de 2006-2009. (Ver Tabela 37) Seus cálculos provam nossa tese de que o capital monopolista obtém uma taxa de lucro maior explorando trabalhadores no Sul do que nos antigos países imperialistas. Norfiled mostra que "em 2009, a taxa média global de retorno calculada foi de 9,7%. Mas foi de apenas 3 a 5% na Alemanha, França e Reino Unido, e perto de 20% ou mais no Chile, Venezuela, Nigéria, Indonésia, Malásia e Tailândia. A taxa média de lucro obtido nos países ricos é muito menor do que a obtida nos pobres, com base na taxa de exploração muito maior do trabalho nos países pobres." 11

 

 

 

Tabela 37: Taxas de retorno sobre o investimento direto dos EUA no exterior, 2006-2009 (em%) 12

 

 

 

Fonte: Us Bureau of Economic Affairs e cálculos dos autores.

 

Notas: * A taxa de retorno é medida de forma padrão, pelo rendimento naquele ano dividido pela média do índice de investimentos daquele ano e do ano anterior(base histórica de custos).

 

** Os dados são baseados em um total de mais de 200 países. Os totais regionais incluem todos os países da região, com alguns países listados abaixo.

 

 

 

Neste contexto, vale ressaltar que os lucros extras e os ganhos repatriados dos monopólios imperialistas não se originam apenas diretamente de suas exportações de capital. Grande parte de seu investimento é financiada por retornos não distribuídos ou por créditos locais que recebem com condições favoráveis. Theotonio Dos Santos calculou que o investimento líquido norte-americano na América Latina para os anos de 1957-64 atingiu 1,5 bilhão de dólares, enquanto na verdade apenas 180 milhões foram exportados dos EUA. O resto chegou de retornos não distribuídos, créditos locais etc. Ao mesmo tempo, 630 milhões de dólares foram transferidos da América Latina para os EUA. 13

 

Temos argumentado contra vários centristas que a super-exploração do mundo semicolonial desempenha um papel enorme para o setor mais poderoso da classe capitalista – os monopólios imperialistas. Dissemos que os lucros extras que derivam dos países semicoloniais representam uma proporção significativa de seus lucros totais. Em seu Relatório Mundial de Investimento 2011, a UNCTAD apresenta uma série de números que sublinham esse fato. Como se pode ver na Figura 39 entre 20% e 90% dos maiores monopólios os lucros – incluindo Anglo American, Toyota, BASF e Nestlé – derivam de seus investimentos nas semicolônias.

 

 

 

Figura 39: Lucros Operacionais derivados de Operações em Economias de Desenvolvimento e Transição, selecionados top 100 TNCs, 2010 (Bilhões de dólares e participação dos lucros operacionais totais) 14

 

 

 

 

 

A exportação de capital dos monopólios imperialistas para os países semicoloniais é o investimento estrangeiro, investimento que não é feito pela classe capitalista doméstica, mas por outra classe capitalista estrangeira, com origens na parte imperialista dominante do mundo. É a base econômica da opressão nacional ainda existente desses países, apesar de sua independência formal. Como resultado, os monopólios imperialistas repatriam uma proporção significativa dos lucros que eles fazem nos países semicoloniais de volta para a "empresa-materna".

 

No cálculo seguinte do desenvolvimento dos lucros, um grupo de economistas soviéticos comparou o crescimento do investimento estrangeiro e os lucros repatriados entre os países imperialistas e semicoloniais. Eles mostraram que os monopólios dos EUA foram capazes de repatriar os lucros dos países em desenvolvimento que eram de 4 a 6 vezes maiores do que o investimento estrangeiro adicional. Eles também mostram que a repatriação dos lucros do investimento estrangeiro nos países semicoloniais foi substancialmente maior do que o investimento estrangeiro em outros países imperialistas. (Ver Tabela 38)

 

 

 

Tabela 38: Lucros Repatriados Anualmente e Crescimento Anual do Investimento Estrangeiro pelos Monopólios dos EUA, 1950-1966 (em Milhões de Dólares) 15

 

capital export in imperialist countries=exportação de capital em países imperialistas

 

annually repatriated profits=lucros repatriados anualmente

 

annually growth of foreign investment=crescimento anual do investimento estrangeiro

 


 

 

 

Uma pesquisa da ECLA em 1970 mostra que as subsidiárias locais de empresas estadunidenses na América Latina no setor manufatureiro repatriaram 57% de seus lucros para a matriz e esse número subiu para 79% para todos os setores entre 1957 e 1965. 16

 

Essa dinâmica de exploração dos países semicoloniais através da repatriação de lucros continuou nas últimas décadas. Entre 1980 e 1992, corporações multinacionais realizaram uma repatriação líquida de lucros no valor de US$ 122 bilhões. 17 De acordo com estatísticas oficiais, as CTNs receberam através de investimento estrangeiro direto na América Latina uma taxa de retorno entre 22 e 34% na década de 1990. Com base nisso, multinacionais dos EUA repatriaram lucros de US$ 157 bilhões da América Latina para o Norte.

 

No entanto, é importante ter em mente que são todos números oficiais. Enfatizamos este ponto porque uma quantidade significativa dos lucros das corporações multinacionais é declarada como lucros domésticos. Isso é fácil para os monopólios organizarem, uma vez que controlam 2/3 do comércio mundial e 1/3 do comércio mundial é o comércio realizado entre as empresas do mesmo grupo, ou seja, o comércio de commodities dentro da mesma corporação multinacional. 18 Através de manipulações de preços e outros mecanismos, os capitalistas monopolistas podem facilmente distorcer a contabilidade oficial. O escritor anti-imperialista James Petras observou em seu livro Globalização Desmascarado: "a taxa real de retorno e lucro é muito maior, porque muito disso não é relatado ou disfarçado através de preços de transferência, mas também porque não inclui lucros reinvestidos e é calculado após dedução de impostos, passivos mantidos por corporações-mãe, taxas de seguro e licença e pagamentos de royalties para o mesmo, e 'ajustes' relacionados à valorização cambial." 19

 

Os lucros repatriados continuaram a crescer nos últimos anos. Éric Toussaint, um conhecido ativista e pesquisador socialista e anti-imperialista belga, relatou em 2007: "A fuga de capital e a fuga de cérebros dos países em desenvolvimento para os países mais industrializados cresceram nos últimos anos. A quantidade de lucros repatriados para a 'empresa matriz' se multiplicou por um fator de 4,5 entre 2000 e 2006 (de 28 bilhões em 2000 para 125 bilhões em 2006)" 20

 

Mesmo uma das principais instituições imperialistas – o Banco Mundial – tem que relatar as enormes dimensões da repatriação dos monopólios imperialistas, embora tente minimizar esse fator. No entanto, eles têm que admitir que os monopólios imperialistas poderiam aumentar seus lucros – em relação à produção econômica das semicolônias – multiplicado por quatro de 1990 a 2006. E também relatam que os monopólios imperialistas repatriam entre 2/3 e 4/5 de seus lucros para sua empresa-matriz:

 

"A renda obtida pelas multinacionais no IED aumentou em conjunto com o aumento dos fluxos. O valor dos investimentos das multinacionais nos países em desenvolvimento atingiu cerca de US$ 2,4 trilhões em 2006. O lucro obtido com essa ação passou de US$ 74 bilhões em 2002 para US$ 210 bilhões em 2006. A renda do IED aumentou de menos de 0,5% do PIB nos países em desenvolvimento no início da década de 1990 para quase 2% em 2006.

 

Nem toda essa renda representa uma saída do saldo de pagamentos dos países em desenvolvimento. A parcela dos ganhos do IED que é repatriado a cada ano tem sido relativamente estável nos últimos 10 anos, com uma média de 62%, abaixo dos mais de 80% no início da década de 1990. Os lucros repatriados aumentaram de US$ 28 bilhões em 2000 para US$ 125 bilhões em 2006, mas não representam um fardo significativo para o saldo de pagamentos. Os lucros repatriados representaram cerca de 2% das receitas de exportação dos países em desenvolvimento desde 2000." 21

 

Isso mostra que, entre as últimas décadas, as remessas de lucros sobre investimento estrangeiro direto cresceram muito mais rápido do que a produção nacional nos países semicoloniais. Isso também se torna evidente a partir de outras estatísticas do Banco Mundial. De acordo com a publicação anual do Banco Mundial Global Development Finance, o Produto Interno Bruto dos "Países em Desenvolvimento" cresceu entre 1970 e 1980 de US$ 1,124 bilhão para US$ 2,901 bilhões, ou seja, em +258%. Ao mesmo tempo, as remessas de lucro no IED cresceram de US$ 6,5 bilhões para US$ 23,8 bilhões, ou seja, em +366%. (22) No entanto, essa discrepância acelerou ainda mais nas décadas seguintes. Entre 1990 e 2010, a Receita Nacional Bruta dos "Países em Desenvolvimento" cresceu de US$ 3,578 bilhões para US$ 19,437 bilhões, ou seja, em +543%. Ao mesmo tempo, as remessas de lucro no IED cresceram de US$ 16 bilhões para US$ 343 bilhões, ou seja, +2144%. 23

 

O Banco Mundial descreveu em um relatório em 2009 o caráter volátil da dinâmica de repatriação de lucros:

 

"Durante os três primeiros trimestres de 2008, corporações multinacionais repatriaram ações crescentes de renda de alguns grandes países, deixando menos para reinvestimento. A repatriação como percentual da renda aumentou para até 70% durante o segundo e terceiro trimestre do ano, em comparação com uma média de 50% nos trimestres anteriores. No entanto, devido ao aumento significativo da receita do IED em 2008, o valor dos lucros reinvestidos nas mesmas economias ainda aumentou em US $ 5 bilhões (para US $ 47 bilhões) durante os três primeiros trimestres do ano em comparação com o mesmo período do ano anterior.

 

Vários fatores (como pagamento estável de dividendos, taxas de impostos e outras regulamentações) afetam as decisões corporativas para reinvestir ou repatriar os ganhos patrimoniais. Durante as crises anteriores centradas nas economias anfitriãs, as empresas multinacionais repatriaram lucros acima da renda corrente ou pediram empréstimos empresas do mesmo grupo para reduzir sua exposição a um país rapidamente sem vender ativos. Após a crise asiática, por exemplo, multinacionais dos EUA repatriaram toda a sua renda do IED da região. Nos últimos 10 anos, em contrapartida, as multinacionais reinvestiram de 30 a 40% de sua renda de operações estrangeiras de volta ao país anfitrião. Os lucros reinvestidos e os empréstimos entre as próprias empresas representaram 20% e 15% dos fluxos de IED para os países em desenvolvimento, respectivamente" 24

 

Mesmo a parcela de lucros que não é repatriada não é totalmente utilizada para o re-investimento. A UNCTAD informa em seu Relatório Mundial de Investimentos 2011: "No entanto, nem todos os ganhos reinvestidos são realmente reinvestidos em capacidade produtiva. Eles podem ser deixados de lado para aguardar melhores oportunidades de investimento no futuro, ou para financiar outras atividades, incluindo aquelas que são especulativas. Cerca de 40% da renda do IED foi mantida como lucro reinvestido." 25

 

 

 

Subestimação do valor excedente e extra-lucros extraídos do Sul

 

 

 

Uma proporção significativa do valor excedente e extra-lucros extraídos do Sul não aparece nas estatísticas oficiais como originada no Sul, mas sim no Norte. Este é particularmente o caso das corporações multinacionais. De acordo com um recente documento de trabalho da OCDE, os economistas chegaram à ampla estimativa de que um terço do comércio mundial é entre-empresas, ou seja, ocorre entre a matriz e as suas afiliadas de uma e das mesmas corporações multinacionais. 26 No entanto, Peter Dicken, autor de um importante estudo sobre globalização, acredita que esse número é u subestimado. Ele se refere ao cálculo de que "90% das exportações e importações dos EUA fluem através de uma TNC dos EUA, com cerca de 50% dos fluxos comerciais dos EUA ocorrendo entre afiliados da mesma TNC". 27

 

Houve também um aumento maciço das cadeias produtivas internacionais pelo surgimento das corporações multinacionais. Isso pode ser visto com a crescente participação dos insumos importados na produção manufatureira. Enquanto essa participação era de cerca de 8% em 1970, subiu para 12% (1980), 18% (1990) e 27% no ano 2000. (Ver Figura 40) 28

 

 

 

Figura 40: Compartilhamento de Insumos Importados na Produção de Manufatura, 1970-2000 29

 

 

 

 

 

Houve alguns estudos que mostraram que, nos números oficiais das corporações de monopólio transnacional, os custos de produção de uma determinada mercadoria (incluindo os salários) no Sul representam apenas uma parcela relativamente pequena dos custos totais. Uma proporção muito maior aparece como custos gerados no Norte, embora esses custos representem mão-de-obra improdutiva (varejo, publicidade etc.). Com isso, esses custos que aparecem como gerados no Norte são, na realidade, financiados pelo valor excedente gerado no Sul. Isso é ainda mais verdadeiro para os enormes lucros que aparecem novamente como gerados no Norte, mas são baseados no valor excedente gerado no Sul. (Ver Figura 41)

 

John Smith escreveu sobre este comentário sobre um estudo sobre o iPod de 30Gb da Apple:

 

"Graças à pesquisa de Greg Linden, Jason Dedrick e Kenneth L. Kraemer, o Apple iPod pode servir como uma ilustração vívida desses diferenciais salariais internacionais e do argumento mais amplo desenvolvido neste artigo. Eles decompuseram os custos de produção do Apple iPod no "valor agregado" por gestores, designers e varejistas nos Estados Unidos e o "valor agregado" pelos trabalhadores empregados na produção externa de seus componentes e sua montagem no bem acabado. No momento da escrita, o Apple iPod de 30Gb era vendido a US$ 299, enquanto o custo total de produção era de US$ 144,40. Os outros US$ 154,60, 52% do preço final de venda, representam o que os autores chamam de "lucros brutos", ou seja, receitas, a serem divididos entre varejistas, distribuidores e a própria Apple — tudo isso, deve ser observado, conta como "valor agregado" gerado dentro dos EUA e é contado para o PIB dos EUA, não há nenhum sinal de qualquer transferência de valor transfronteiriço que afete a distribuição de lucros para a Apple e seus diversos fornecedores. Na perspectiva da lei de valor de Marx, a maioria dessas atividades não são produtivas e suas receitas representam valor excedente extraído dos produtores reais dessas commodities (mais precisamente, são uma fração do valor excedente gerado em toda a economia global capturado pelos capitalistas envolvidos na produção e venda de iPods)." 30

 

Um estudo publicado recentemente por vários acadêmicos liberais sobre o iPhone 3G da Apple que detalha os custos de produção e os lucros permite a mesma conclusão:

 

"Bastante previsível, quase não há aritmética política sobre os custos sociais da cadeia trans-Pacífico para a economia nacional dos EUA. A honrosa exceção é o artigo do Asian Development Bank Institute de Xing e Detert (2010) que apresenta cálculos de produtos únicos que mostram como o modelo de negócios da Apple aumenta o déficit comercial dos EUA e diminui o emprego nos EUA. O produto é o iPhone 3G que em 2009 vendeu 11,3 milhões de unidades no mercado americano e 25,7 milhões de unidades globalmente. Xing e Detert calculam que apenas um produto, o iPhone 3 contribuiu com US$ 1,9 bilhão para o déficit comercial dos EUA com a China; no entanto, quando eles usam o valor de montagem adicionado como o numerador (excluindo componentes alemães, japoneses e norte-americanos importados para a RPC para montagem do iPhone), as magnitudes são menores. Sua descoberta mais interessante é que os trabalhadores chineses não adicionam mais de US$ 6,5 a cada iPhone 3, o que não é mais do que 3,6% do preço de envio de um iPhone. A implicação é que a alta margem do iPhone poderia ser lucrativamente montada nos Estados Unidos ou em qualquer outro país com alto salário e "é o comportamento de maximização de lucros da Apple em vez da concorrência que pressiona a Apple a ter todos os iPhones montados na China" (Xing e Detert, 2010, p.6)" 31

 

Então temos a Apple cujos proprietários fazem uma enorme margem bruta de 72% em cada telefone, mas este lucro é principalmente contabilizado como gerado no Norte. 32

 

 

 

Figura 41: Participação nos custos de produção de um iPhone Apple 4G montado na China 33

 


 

 

 

Na Figura 42 podemos ver que a grande maioria dos trabalhadores que contribuem para a produção de commodities da Apple são trabalhadores estrangeiros, ou seja, a maioria trabalhadores em países "em desenvolvimento". O lucro, no entanto, é apropriado pelos monopólios e contabilizado como criado no Norte.

 

 

 

Figura 42: EUA e supervisionar funcionários resp. Empreiteiros em 1955 e em 2012 34

 

U.S.A and oversee employess resp. overseas contrators in 1955=Os empregados dos EUA e do exterior e respectivamente os contratados no exterior 1955 e 2012

 

U.S employess= empregados dos E.U.A

 

Overseas contractors= contratados no exterior

 


 

 

 

Os iPhones da Apple, claro, não são exceção. Herbert Jauch dá uma série de exemplos que sugerem um mecanismo semelhante de geração de lucros no Sul que aparece como lucros e custos no Norte:

 

"O preço de varejo do café é 7-10 vezes maior do que o preço de importação e cerca de 20 vezes o preço pago ao cafeicultor. Camisas de grife produzidas no Sudeste Asiático são vendidas na Europa por 5 a 10 vezes o preço de importação. Menos de 2% do valor total das camisas produzidas em Bangladesh são recebidos pelos produtores diretos como salários. O lucro das empresas locais equivale a cerca de 1% do valor total. Cerca de 70% do valor total no setor de vestuário consiste em lucros em primeiro lugar de distribuidores, atacadistas e varejistas; em segundo lugar os custos de transporte e armazenamento etc; e, em terceiro lugar, direitos aduaneiros e impostos indiretos impostos pelo país importador (industrializado)." 35

 

 

 

ii) Lucros extras via exportação de capital como capital monetário (empréstimos, reservas cambiais, especulação, etc.)

 

 

 

Como mostramos em um dos capítulos anteriores, após o fim do longo boom no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, o capitalismo mundial entrou em um novo período de estagnação. Diante da queda das taxas de lucro, tornou-se cada vez mais difícil investir capital rentável na produção. O excesso de acumulação estrutural de capital tornou-se uma característica definidora do capitalismo desde então novamente. Isso levou a uma enorme massa de capital supérfluo. Portanto, os grandes bancos tinham um forte desejo de colocar seu capital próprio rentável em circulação. É por isso que eles deram empréstimos maciços tão voluntariamente aos países semicoloniais desde o início da década de 1970. Internacionalmente, o volume total de empréstimos cresceu entre 1971 e 1979 de US$ 10,2 bilhões para US$ 123,4 bilhões, ou seja, cresceu cerca de 36% ao ano. 36

 

A tabela 39 a seguir demonstra o enorme aumento do peso do capital bancário em relação à produção mundial, ao comércio e ao investimento no período entre 1964 e 1991. De acordo com esses números, os empréstimos bancários líquidos aumentaram nesse período – em comparação com o PIB mundial – de 0,7% para 16,3%. Em relação ao investimento doméstico fixo do mundo, cresceu de 6,2% para 131,4%, ou seja, os empréstimos bancários aumentaram mais de 20 vezes mais do que o investimento produtivo!

 

 

 

Tabela 39: Capital Bancário Internacional em relação à Produção Mundial, Comércio e Investimento, 1964-1991 (em %) 37

 

as share of world output=como participação na produção mundial

 

net international bank loans=empréstimos bancários internacionais líquidos

 

gross size of internacional banking market=tamanho bruto do mercado bancário internacional

 

as share of world trade= como parte do comércio mundial

 

as share of world Gross Fixed Domestic Investment=como parcela do Investimento Interno Fixo Bruto mundial

 

 

 

 

 

Como resultado, os lucros extras para os bancos e instituições financeiras aumentaram drasticamente desde a década de 1970. Eles conseguiram fazer um grande retorno de seus empréstimos para os estados do Sul. Os estados latino-americanos, por exemplo, pagaram US$ 40 bilhões por ano em serviço de dívida na década de 1980. 38

 

Vários economistas já apontaram que os países semicoloniais já pagaram suas dívidas várias vezes. Mas o regime imperialista, o poder dos bancos de elevar as taxas de juros etc. tudo levou à situação de que, apesar de terem pago seus empréstimos várias vezes, as semicolônias ainda estão mais endividadas do que eram na década de 1970. Os economistas progressistas Paulo Nakatani e Rémy Herera relatam que as chamadas economias de mercado em desenvolvimento e emergentes juntas já pagaram aos seus mestres imperialistas um acumulado de US$ 7,673 trilhões em serviços de dívida externa. Mas ao elevar as taxas de juros etc. a dívida do Terceiro Mundo não diminuiu, mas aumentou de US $ 618 bilhões em 1980 para US $ 3,150 trilhões em 2006. Como resultado, os países semicoloniais têm que pagar uma proporção crescente da produção nacional anual como serviço de dívida às instituições financeiras imperialistas: "O serviço total da dívida externa desses países cresceu de 2,8% do PIB em 1980 para 4,0% em 1989 e 6,9% em 1999, antes de diminuir lentamente para 5,2% em 2006, pouco acima da média de 5,1% para o período." 39

 

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que diferencia os países semicoloniais em diferentes categorias de renda, os chamados "países de baixa renda" têm que pagar 6,5% de sua renda de exportação para o serviço da dívida, os "países de renda média baixa" 19% e os "países de renda média alta" até 35%. 40 (Ver também Figura 43)

 

 

 

Figura 43: Relação Serviço de Dívida Externa-Exportação, 2005-2010 41

 

All low and middle income countries=Todos os países de renda baixa e média

 

Upper middle income countries=países de renda média alta

 

Lower middle income countries=países de renda média baixa

 

Low income countries=países de baixa renda

 


 

 

 

A super-exploração imperialista do mundo semicolonial torna-se novamente óbvia no fato de que os bancos exigem desses países taxas de juros que são várias vezes mais altas do que os empréstimos para países imperialistas. Nesse contexto é preciso ter em mente que os empréstimos, que os institutos financeiros imperialistas deram às semicolônias na década de 1970, tinham taxas de juros variáveis. Isso significa que, embora tivessem taxas de juros muito baixas quando as semicolônias conseguiram os empréstimos na década de 1970, isso mudou rapidamente e tiveram que pagar taxas de juros enormes alguns anos depois. 42

 

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD relatou essas grandes diferenças entre as taxas no Norte na década de 1980 e as aplicadas a empréstimos no Sul. "Durante a década de 1980, enquanto as taxas de juros eram de 4% nos países altamente industrializados, a taxa de juros efetiva paga pelos países em desenvolvimento era de 17 %. Sobre a dívida total no valor de mais de 1.000 bilhões de dólares, isso significou um prêmio especial de juros de 120 bilhões de dólares anualmente. Isso apenas agravou uma situação em que as transferências líquidas para pagar a dívida totalizaram 50 bilhões de dólares em 1989." 43

 

As tabelas 40 a seguir mostram a enorme diferença entre as taxas de juros nos países imperialistas e nos países semicoloniais.

 

 

 

Tabela 40: Taxas de Juros Reais de Longo Prazo nos Países Imperialistas e Semicoloniais (em %) 44

 

long-term real interest rates in imperialist and semi-colonial countries=taxas de juros reais de longo prazo nos países imperialistas e semicoloniais

 

Long-term real interest rates in six industrial countries, 1890-1989=taxas de juros reais de longo prazo em seis países industrializados, 1890-1989

 

Real interest rates on foreign debt paid by selected major debtors, 1982-85= Taxas de juros reais sobre a dívida externa paga pelos principais devedores selecionados, 1982-1985

 

 

 

 

 

Como resultado, o serviço da dívida tornou-se uma das formas mais importantes de super-exploração imperialista. Para dar uma visão geral desse desenvolvimento citamos os economistas progressistas Éric Toussaint e Denise Comanne: "[T]ele a dívida externa total dos países em desenvolvimento cresceu de US $ 567 bilhões em 1980; US$ 1086 bilhões em 1986; e US$ 1419 bilhões em 1992. Assim, a dívida total subiu 250% em doze anos. No mesmo período, o pagamento de juros foi de US$ 771 bilhões, e o principal reembolso de US$ 891 bilhões. Os pagamentos totais de países do Terceiro Mundo ao longo desses doze anos somaram -1662 bilhões: três vezes o que possuíam em 1980. Depois de pagar o que eles deviam três vezes mais, ao custo de sofrimento incalculável, longe de estar menos endividado, eles devem muito mais do que em 1980: 250% a mais." 45

 

A Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos informou que "entre 1984 e 1990, por exemplo, as políticas draconianas de cobrança de dívidas produziram uma transferência líquida impressionante de recursos financeiros - US$ 155 bilhões - do Sul para o Norte".46

 

Desde então, a super-exploração do mundo semicolonial através de roubos financeiros continuou. Em 2002, ou seja, 22 anos depois, os países em desenvolvimento pagaram aos seus credores pouco mais de US$ 4.600 bilhões. Se alguém adicionar a Coreia do Sul, esse número cresce para US$ 4.900 bilhões. Em outras palavras, entre 1980 e 2002, os países semicoloniais pagaram oito vezes o que deviam em 1980! Ao mesmo tempo, em 2002, seu montante de dívidas ainda existentes aumentou para US $ 2.400 bilhões, mais de quatro vezes o montante de 1980! 47

 

Esse aumento da dívida ocorreu em diferentes regiões da seguinte forma, como mostra a Tabela 41:

 

 

 

Tabela 41: Aumento de Dívidas nas Regiões, 1980-2002 (em bilhões de dólares) 48

 

Southeast Asia and the Pacific=Sudeste Asiático e Pacífico

 

South Asia=Sul da Ásia

 

Middle East and North Africa=Oriente Médio e Norte da África

 

Sub-Saharan Africa=África Subsaariana

 

Latin America and the Caribbean=América Latina e Caribe

 

Former Soviet Bloc=Antigo Bloco Soviético

 

Debt stock in 1980=estoque da dívida em 1980

 

Debt stock in 2002=estoque da dívida em 2002

 

 

 

 

 

O índice da dívida externa dos Países em Desenvolvimento subiu para US$ 4,076 bilhões em 2010. 49 Em 2005, o Sul pagou US$ 482 bilhões em dívidas apenas aos monopólios imperialistas. 50 Em 2008, teve que pagar um serviço total de dívida externa de US $ 539 bilhões e em 2009 novamente US $ 536 bilhões. 51

 

Um exemplo particularmente repugnante da tirania da dívida imperialista é a África. O economista africano progressista Demba Moussa Dembélé apontou que o serviço de dívida da África é ainda maior do que a ajuda externa e este auxílio é parcialmente usado para pagar as dívidas:

 

"Essas coisas – o custo de cumprir as condições impostas por doadores e credores e subsídios aos produtos nacionais pelos países da OCDE – ajudam a explicar, entre outras coisas, o agravamento da crise da dívida, que por sua vez significou maior dependência da ajuda externa. Nas décadas de 1980 e 1990, o serviço médio da dívida era aproximadamente igual ou até maior do que a ajuda externa aos países africanos. Parte desse auxílio foi até usada para pagar dívidas antigas, incluindo dívidas multilaterais. Tudo isso reforçou a dependência de fontes externas, especialmente o Banco Mundial, o FMI e o Banco Africano de Desenvolvimento." 52

 

A UNCTAD também aponta para o fato absurdo de que a África já pagou mais do que recebeu em empréstimos, mas ainda está endividada com quase US$ 300 bilhões: "Um olhar superficial sobre o perfil da dívida da África mostra que o continente recebeu cerca de US$ 540 bilhões em empréstimos e pagou cerca de US$ 550 bilhões em principal e juros entre 1970 e 2002. No entanto, a África permaneceu com um índice da dívida de US $ 295 bilhões. Por sua vez, a SSA recebeu US$ 294 bilhões em desembolsos e pagou US$ 268 bilhões em serviço de dívida, mas permanece com um índice da dívida de cerca de US$ 210 bilhões." 53

 

Se alguém toma a Nigéria como exemplo, pode-se ver a situação absurda em que este país está. Tomou US$ 13,5 bilhões em empréstimos de credores do Paris Club entre 1965 e 2003. Já pagou cerca de US$ 42 bilhões por causa de multas e juros acumulados. No entanto, a Nigéria ainda tinha US$ 25 bilhões para pagar em 2003. 54

 

Terminamos este capítulo com uma analogia histórica que Éric Toussaint fez para entender melhor a dimensão da armadilha da dívida imperialista. Ele comparou essa transferência massiva de valor através da armadilha da dívida com a iniciativa do EUA-imperialista após a Segunda Guerra Mundial para reconstruir a Europa Ocidental e chegou à conclusão: "Entre 1980 e 2002, as populações dos países da Periferia enviaram o equivalente a cinquenta Planos Marshall aos credores do Norte (com os capitalistas e os governos da Periferia desviando suas comissões no caminho)." 55

 

 

 

Perdas da Bolsa de Valores

 

 

 

Outra forma pela qual os monopólios imperialistas ganham lucros é seu domínio no mercado cambial. O imperialismo dos EUA em primeiro lugar e o imperialismo europeu em segundo lugar dominam o mercado mundial de moedas. Assim, se olharmos para as moedas em que os países em desenvolvimento são públicos e publicamente garantidos, a vantagem para os monopólios imperialistas torna-se óbvia. Até 2010, 69,4% da dívida pública das semicolônias é mantida em dólares Americanos, 12,7% em Euro, 10,4% em Iene japonês, 0,5% em Libra Esterlina e 0,4% em Franco Suíço. 56 Portanto, os países semicoloniais não dependem apenas das mudanças cambiais, mas também são forçados a comprar dólares americanos ou euros para pagar suas dívidas. Isso significa uma perda adicional para essas economias.

 

De acordo com economistas da Alemanha Oriental, os países semicoloniais tiveram que pagar entre US$ 30 e US$ 40 bilhões por ano no início da década de 1980 para comprar moedas imperialistas (principalmente dólares americanos) para construir suas reservas monetárias. 57

 

O Banco Mundial mostrou em um relatório publicado recentemente a enorme vantagem que as potências imperialistas ganham com seu status dominante nas moedas mundiais. De acordo com este estudo, os EUA obtiveram renda de sua posição cambial em média de US $ 48 bilhões por ano entre 1990 e 2010 (em 2010 essa soma foi mesmo US $ 93 bilhões). O imperialismo europeu ganhou com seu status de moeda euro em média US $ 13 bilhões por ano entre 2000 e 2009. 58

 

A vantagem para os monopólios imperialistas e estados não precisa de mais explicações. Também é evidente que os interesses políticos e geoestratégicos (e, portanto, também militares) dos Estados imperialistas andam lado a lado com suas considerações econômicas. Até um escritor liberal tem que admitir essa conexão:

 

"Há dez anos, a Comissão Internacional Independente de Governança Global reconheceu a necessidade urgente de reforma monetária internacional em uma economia mundial globalizada. Desde então, tem havido crescentes críticas à atual "hegemonia do dólar" dos Estados Unidos. Pelo privilégio de usar o dólar como a principal moeda global, estima-se que o resto do mundo pague aos EUA pelo menos US$ 400 bilhões por ano. Um analista do Pentágono justificou isso como pagamento aos EUA por manter a ordem mundial; outros o veem como uma forma de o país mais rico do mundo obrigar os mais pobres a pagar pelo seu consumo insustentável de recursos globais. Para construir suas reservas, os países pobres têm que emprestar dólares dos EUA a taxas de juros de até 18% e depois emprestar o dinheiro de volta para os EUA sob a forma de Títulos do Tesouro a 3%. O dólar é um instrumento monetário global que os EUA, e apenas os EUA, podem produzir; o comércio mundial é agora .um jogo no qual os EUA produzem dólares e o resto do mundo produz coisas que os dólares podem comprar." 59

 

 

 

Evasão de capitais

 

 

 

Vamos agora passar para uma forma especial que os imperialistas usam para lucrar com sua dominação mundial: fuga de capital e outras formas de transferências ilegais de dinheiro do Sul para o Norte. Naturalmente, aqueles que enviam o dinheiro ilegalmente do Sul para o Norte – tanto os monopólios imperialistas quanto os capitalistas semicoloniais – são os beneficiários imediatos. No entanto, os perdedores óbvios desse processo são os países semicoloniais que perdem valor excedente que poderia ter sido investido ou usado via impostos para investimento público. Por outro lado, os bancos e outras instituições financeiras dos países imperialistas lucram massivamente com a fuga de capitais. É por isso que eles acolhem e encorajam tal fuga de capital. Isso cria a situação distorcida de que os países semicoloniais não podem pagar suas dívidas com o banco imperialista por falta de dinheiro, enquanto os capitalistas transferem ilegalmente seu dinheiro dos países semicoloniais para o mesmo banco imperialista. Como resultado, os bancos lucram duas vezes: por um lado, recebem o capital monetário transferido ilegalmente e, por outro lado, podem impor sanções aos mesmos países por não pagarem suas dívidas a tempo.

 

A fuga de capitais do Sul para o Norte não é um fenômeno novo, mas é característica do imperialismo. Um estudo recente calculou o tamanho das saídas financeiras ilícitas da Índia desde 1948. Apesar de não incluir contrabando, certas formas incorreção comercial e lacunas nas estatísticas disponíveis em seus cálculos, chegou à conclusão de que "é inteiramente razoável estimar que mais de meio trilhão de dólares foram drenados da Índia desde a independência". 60 (Ver Figura 44)

 

 

 

Figura 44 : Fluxos Financeiros Ilícitos da Índia, 1948-2008 61

 

 

 

 

 

Nas décadas de 1970 e 1980, a evasão de capitais aumentou substancialmente. De acordo com o banco americano Morgan Guarantee Trust Bank, a evasão de capital dos países latino-americanos para as metrópoles imperialistas foi de cerca de US$ 120 a 130 bilhões entre 1976 e 1985. Isso equivalia a cerca de 1/3 da dívida externa total do continente.

 

Outra fonte mostra números de fuga de capitais para outros países semicoloniais no período entre 1976 e 1982. Nestes anos, US$ 5,1 bilhões foram transferidos secretamente para fora da Indonésia (o equivalente a 34% da dívida externa do país), quase US$ 4 bilhões do Egito (mais de 44% de sua dívida externa), US$ 2,7 bilhões da Nigéria (mais de 43% de sua dívida externa), US$ 2,1 bilhões da Índia (1/3 de sua dívida externa) e US$ 1,9 bilhão da Síria (96% de sua dívida externa). 62 Para todo o Terceiro Mundo, o Morgan Guarantee Trust Bank dá a cifra de cerca de US$ 200 bilhões para o mesmo período, o equivalente a cerca de 50% da dívida externa total do Terceiro Mundo. 63 Para o ano de 1988, o FMI estimou que nos 13 países mais endividados a fuga de capital era de cerca de US $ 180 bilhões. 64

 

A enorme quantidade de evasão de capital também se torna visível a partir da seguinte tabela 42. Mostra quanto dinheiro os capitalistas dos países semicoloniais depositaram nas metrópoles imperialistas. Fica claro que, enquanto o Terceiro Mundo tinha dívidas de cerca de US $ 1,921 bilhão, os capitalistas do Sul tinham US $ 966 bilhões em depósitos no Norte, ou seja, metade da dívida total. Sabe-se que uma parte dos empréstimos imperialistas foram diretamente transferidos para fora do país. Desta forma grotesca, os bancos imperialistas lucram de duas maneiras ao mesmo tempo. Eles ganham juros como serviço de dívida para os empréstimos e o ganho de capital de dinheiro fresco do Sul que eles podem então re-emprestar para um lucro maior.

 

 

 

Tabela 42: Dívida Bruta, Depósitos e Dívida Líquida, 1995 (em bilhões de dólares) 65

 

Gross debt; deposits;net debt;, 1995 ( in billion-U.S Dollars) = Dívida bruta; depósitos; dívida líquida ;, 1995 (em bilhões de dólares americanos)

 

 

 

 

 

Segundo Éric Toussaint, só em 2000, os novos depósitos de capitalistas da periferia mundial nos bancos do Centro capitalista chegaram a 145 bilhões de dólares. 66

 

Recentemente, vários estudos foram publicados sobre o tamanho da fuga de capital e transferência ilegal de dinheiro do Sul para o Norte. Um desses estudos tratou de saídas ilícitas dos Países Menos Desenvolvidos-PMD. Ele relata:

 

"Os resultados indicativos do estudo constatam que os fluxos financeiros ilícitos dos países menos desenvolvidos-PMD aumentaram de US$ 9,7 bilhões em 1990 para US$ 26,3 bilhões em 2008, implicando uma taxa de aumento corrigida pela inflação de 6,2% ao ano. Estimativas conservadoras (inferiores) indicam que os fluxos ilícitos aumentaram de US$ 7,9 bilhões em 1990 para US$ 20,2 bilhões em 2008. Os dez maiores exportadores de capital ilícito representam 63% das saídas totais dos países menos desenvolvidos, enquanto os 20 principais representam quase 83%. A fixação errônea dos preços do comércio representa o volume (65-70 por cento) das saídas ilícitas dos PMDs, e a propensão à fixação errônea dos preços aumentou junto com o aumento do comércio externo. Pesquisas empíricas sobre fluxos ilícitos indicam que existem três tipos de fatores que conduzem a fluxos ilícitos — os macroeconômicos, os estruturais e os relacionados à governança." 67

 

O estudo calcula que a razão de saídas ilícitas para o Produto Interno Bruto (PIB) dos Países Menos Desenvolvidos é em média de cerca de 4,8% ao ano.

 

Outro relatório sobre todos os chamados Países em Desenvolvimento calcula que, no final dos anos 2000, os fluxos ilícitos desses países estavam acima de US$ 1 trilhão anualmente! 68 Em suas próprias palavras, os autores consideram isso uma subestimação: "Continuamos a considerar essas estimativas como muito conservadoras, uma vez que não incluem contrabando, a fixação errônea dos preços dos serviços transfronteiriços ou a fixação errônea dos preços do comércio de mercadorias que ocorre dentro da mesma fatura trocada entre exportadores e importadores"

 

Detalhando a fuga de capitais, os autores relatam: "A Ásia foi responsável por 44,9% do total de fluxos ilícitos do mundo em desenvolvimento, seguido pela região da MENA (18,6%) Muitos dos dez países com maiores transferências de capital ilícito estão localizados na região MENA, enquanto a participação dominante da Ásia é impulsionada principalmente pela China e Malásia. A sigla MENA em inglês significa o conjunto das regiões que abrangem o Oriente Médio e Norte da África

 

As saídas ilícitas acumuladas (normalizadas ou conservadoras) dos dez maiores países durante 2000-2009 em ordem de magnitude em declínio são China (US$ 2,5 trilhões), México (US$ 453 bilhões), Rússia (US$ 427 bilhões), Arábia Saudita (US$ 366 bilhões), Malásia (US$ 338 bilhões), Kuwait (US$ 269 bilhões), Emirados Árabes Unidos (US$ 262 bilhões), Catar (US$ 170 bilhões em nove anos, como os dados de 2000 não estão disponíveis), Venezuela (US$ 171 bilhões) e Polônia (US$ 160 bilhões). Em média, esses dez países são responsáveis por 70% das saídas ilícitas de todos os países em desenvolvimento no período 2000-2009." 69

 

A fuga de capitais também desempenha um papel considerável na África. Um estudo que analisou o período de 39 anos de 1970 a 2008 chegou à conclusão: "Utilizando modelos econômicos aceitos, ou seja, o Método Residual do Banco Mundial e a Direção de Estatísticas Comerciais do FMI, estimamos que esses fluxos totalizaram US$ 854 bilhões ao longo do período examinado. Essa estimativa é considerada conservadora, uma vez que trata apenas de uma forma fixação errônea dos preços do comércio, não inclui desvalorização dos preços dos serviços, e não abrange o produto do contrabando. Ajustando a estimativa de US$ 854 bilhões para levar em conta alguns dos componentes dos fluxos ilícitos não cobertos, não é razoável estimar fluxos ilícitos totais do continente ao longo dos 39 anos em cerca de US $ 1,8 trilhão." 70

 

Outro relatório sobre a África estima a fuga de capital da África Subsaariana em meados da década de 1990 em cerca de US$ 274 bilhões (incluindo os ganhos com juros), o que equivalia a 145% da dívida total devido por esses países. Concluiu: "De fato, estimativas recentes mostram que a África é um credor líquido para o resto do mundo, com cerca de 30% do PIB da África subsaariana sendo transferido para fora do país." 71

 

Vamos terminar este sub-capítulo chamando a atenção de nossos leitores para a enorme fuga de capital e transferências financeiras ilegais dos capitalistas super-ricos. Esses criminosos, no sentido literal, transferem seu dinheiro das autoridades estatais para paraísos fiscais que fazem perder receitas fiscais no valor de US$ 250 a US$ 300 bilhões por ano. Quase um terço da riqueza dos super-ricos é administrada em centros financeiros de paraísos fiscais (offshores). Um estudo recente relata:

 

"De acordo com o professor Michael R. Krätke, estima-se que cerca de 30% dos ativos das pessoas mais ricas do mundo sejam gerenciados em centros financeiros offshore. Mais de um quinto (23%) de todos os depósitos bancários do mundo estão escondidos em paraísos fiscais, pelo menos US$ 3.000 bilhões com base cautelosa no acerto de contas. Quase 50% das transações financeiras transfronteiriças do mundo passam por elas. R. Krätke, concordando com a análise prudente da Rede de Justiça Fiscal, afirma que o capital escondido em paraísos fiscais significa receitas fiscais perdidas que chegam de US$ 250 a US$ 300 bilhões por ano. Essa é uma parte substancial do dinheiro necessário para relançar a economia, aumentar o poder de compra dos mais pobres e, em geral, melhorar a situação de cerca de 2,7 bilhões de pessoas em todo o mundo vivendo com menos de dois dólares por dia." 72

 

A Rede de Justiça Fiscal estima que cerca de US$ 11,5 trilhões foram desviados para o exterior dos países apenas por indivíduos ricos! 73 Não é preciso explicar por que nós, bolcheviques-comunistas, consideramos o slogan "expropriar os super-ricos!" como altamente importante e oportuno.

 

 

 

iii) Transferência de valor do Sul semicolonial para o norte imperialista: uma troca desigual

 

 

 

A exportação direta de capital do Norte para o Sul é apenas em parte a fonte extra de lucros imperialistas. Outra forma importante de super-exploração é a troca desigual. Como explicamos acima, o intercâmbio desigual ocorre no mercado mundial onde as mercadorias são trocadas representando diferentes tempos de trabalho socialmente necessários. Commodities que incorporam mão-de-obra menos intensa são trocadas contra commodities que incorporam mão-de-obra mais intensa.

 

Para entender a dimensão completa da troca desigual temos que reconhecer o papel crescente do comércio mundial. Como mostram as figuras 45, 46, 47 e 48, as exportações mundiais e as importações aumentaram de cerca de 10% da produção mundial em 1965 para mais de 25% em 2007. Eles também mostram o papel crescente dos chamados países em desenvolvimento durante este período, cujas importações e exportações aumentaram de menos de 3% para 9-10% da produção mundial. No entanto, os números também possibilitam a divisão do período desde a Segunda Guerra Mundial: enquanto a participação dos "países em desenvolvimento" no comércio mundial diminuiu entre 1948 e o início de 1970, ela subiu desde então. Isso é verdade em particular para a Ásia semicolonial, enquanto na América Latina e África essa mudança ocorreu mais tarde na década de 1980 e foi menos dramática. Não é por acaso que o crescente papel das semicolônias começou na década de 1970, quando o capitalismo mundial entrou em uma fase de estagnação de suas forças produtivas.

 

 

 

Figura 45: Importações mundiais como parte do pib mundial, 1965-2007 74

 


 

 

 

Figura 46: Exportações Mundiais como Parte do PIB Mundial, 1965-2007 75

 

 

 

 

 

Figura 47: Regiões Compartilham nas Exportações Mundiais, 1948-2007 76

 


 

 

 

Figura 48: Exportações Mundiais Manufaturadas, por Região e Grupo de Renda, Anos Selecionados, 1995-2009 (bilhões de dólares) 77

 

Excluding China= Excluindo a China/Excluindo a Europa/ Excluindo a Federação Russa / excluindo o Brasil/ Excluindo a Turquia/ excluindo a Índia/ excluindo a África do Sul

 

Least developed countries= Países menos desenvolvidos

 

 

 

 

 

Enquanto o papel do comércio está aumentando, as economias imperialistas lucram muito mais com isso do que as semicolônias. A razão para isso é que os termos de comércio estão se desenvolvendo em direção à vantagens para os países imperialistas e para a desvantagem dos países semicoloniais.

 

Qual é o "termo das trocas"? Significa a relação entre os preços de exportação dos países semicoloniais e seus preços de importação. Para dar um exemplo: Entre 1980 e 1992, a relação entre os preços de exportação e importação caiu 52%. 78 Isso significa que, se 100 unidades de mercadorias dos países semicoloniais pudessem ser negociadas por 100 unidades dos países imperialistas no ano de 1980, essas 100 unidades só poderiam ser negociadas por 48 unidades dos países imperialistas no ano de 1992.

 

Este não é um desenvolvimento específico, de curto prazo, mas uma tendência histórica de longo prazo do capitalismo. Como mostramos na Figura 49, reproduzida pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe-CEPAL da ONU em 2002, é uma tendência característica na época imperialista onde os monopólios dominam a economia mundial. Este índice real de preços das commodities – um composto de 24 commodities industriais não petrolíferas – mostra que os termos de comércio dessas commodities essenciais para os países semicoloniais deterioraram-se significativamente. No ano de 2000, o índice para essas commodities era de apenas 1/3 de seu nível antes de 1920. Só no período de 1980 a 2000, caiu quase 30%. 79

 

 

 

Figura 49: Desenvolvimento de Termos de Comércio 1880-2000: Índice real de preços de commodities 80

 

Industrial commodities= Matérias primas industriais

 

variable weighting by share of world trade=ponderação variável por participação no comércio mundial

 


 

Esses achados também são observados por outro autor. Arturo O'Connell mostrou em um estudo a deterioração dos termos de comércio para os países em desenvolvimento não produtores de petróleo no período 1957-2000. Como demonstra a Figura 50, os termos de comércio desses países diminuíram nestes anos em mais de um terço. 81

 

 

 

Figura 50: Desenvolvimento de Termos de Comércio para Países Produtores de Petróleo Não-Petróleo, 1957-2000 82

 

Terms of trade: Non-oil developing countries 1957-2000=Termos de comércio: países em desenvolvimento não petrolíferos 1957-2000

 

 

 

 

 

Lembramo-nos dos teóricos do Partido dos Trabalhadores Socialistas-SWP/IST que explicaram a diminuição da parcela dos países semicoloniais no comércio mundial após a Segunda Guerra Mundial simplesmente por sua "importância em declínio". Na verdade, a principal razão para isso foi a deterioração dos termos de comércio. Ernest Mandel apontou que a queda da participação no comércio mundial dos países semicoloniais de 30% para 20,4% entre 1950 e 1960 foi causada principalmente pela queda nos preços das matérias-primas. Em 1962, os preços das matérias-primas eram 38% menores do que em 1954, o que significou uma perda de US$ 11 bilhões para os países semicoloniais. 83)

 

Para dar outro exemplo: entre 1950 e 1986, o poder aquisitivo das exportações de matérias-primas diminuiu pela metade em relação às commodities industriais. Em outras palavras, os países que exportam principalmente matéria-prima têm de pagar o dobro pela mesma quantidade de bens industriais. 84

 

Vários economistas tentaram calcular os custos dessa deterioração dos termos de comércio para os países semicoloniais. Samir Amin calculou que os países semicoloniais perderam cerca de US$ 22 bilhões por ano em meados da década de 1960 como resultado de uma troca desigual. Para se ter uma noção da proporção: Isso era muito mais do que os monopólios investidos naquela época. A exportação de capital privado foi de cerca de US $ 12 bilhões em 1964. 85

 

Augustín Papic, ex-membro da Comissão Norte-Sul das Nações Unidas, calculou na década de 1990 que a transferência invisível dos países semicoloniais para os países imperialistas devido ao desenvolvimento negativo (para o Sul) dos termos de comércio é de cerca de 200 bilhões de dólares por ano. 86

 

O controle do comércio mundial pelos monopólios imperialistas é outra fonte importante para o lucro extra. A maior parte da marinha mercante do mundo está nas mãos de monopólios imperialistas. Isso permite que eles se apropriem de uma proporção substancial de valor excedente das semicolônias. Economistas da Alemanha Oriental relataram que o preço de exportação de commodities das semicolônias era de apenas cerca de 20-30% do preço de varejo nas metrópoles imperialistas. É claro que os monopólios têm que pagar pelo transporte e pelo varejo, no entanto, um enorme lucro extra permanece com eles. 87 Éric Toussaint informou que os monopólios pagam apenas cerca de 10-15% do preço de varejo para as semicolônias. 88

 

A indústria petrolífera também é um exemplo marcante. O controle monopolista do comércio e processamento de petróleo permite que eles se apropriem de uma grande parte da renda do petróleo. Embora isso tenha mudado até certo ponto na década de 1970, de acordo com um relatório das Nações Unidas em 1982, os monopólios ainda se apropriam de 2/3 da renda de petróleo enquanto o resto vai para os países produtores de petróleo (antes da década de 1970, os monopólios tomavam 90% do aluguel de petróleo!). 89

 

Outra forma de apropriação de valor pelos Estados imperialistas são as barreiras tarifárias e não tarifárias que impõem para as mercadorias importadas do Sul. Os países semicoloniais têm de pagar tarifas mais altas e barreiras não tarifárias para suas exportações para o Norte do que os monopólios imperialistas têm que pagar por suas exportações para o Sul. Como resultado, as semicolônias sofrem perdas adicionais. De acordo com a ONU, o Sul perdeu cerca de US$ 40 bilhões por ano na década de 1990 por causa das restrições comerciais imperialistas. 90

 

Por fim, também temos de mencionar os enormes custos do controle que os monopólios imperialistas têm sobre as tecnologias modernas através de patentes. Como as economias imperialistas têm um maior nível de produtividade e maiores recursos de capital, a maioria das capacidades mundiais de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) são de propriedade do capital monopolista. Portanto, o capital imperialista possui a maioria das patentes mundiais e o capital semicolonial tem que pagar pelo uso de suas tecnologias. Economistas da Alemanha Oriental calcularam os custos totais para a dependência tecnológica das semicolônias no final da década de 1970 de cerca de US $ 30-50 bilhões por ano. 91

 

Antes de fecharmos este capítulo, queremos apontar um fato relativamente pequeno que é altamente simbólico da hipocrisia imperialista. A ajuda oficial ao desenvolvimento é frequentemente declarada como um apoio generoso dos países ricos para os pobres. Na verdade, essa ajuda oficial é frequentemente usada para comprar mercadorias dos monopólios imperialistas ou é usada para pagar por "especialistas estrangeiros" que geralmente são dos países ricos. De acordo com um número das Nações Unidas, 90% da ajuda assistencial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento- PNUD na década de 1990 foi gasto com especialistas estrangeiros! 92

 

Vimos agora várias formas de troca desigual que permitem aos monopólios imperialistas se apropriarem de uma parcela significativa do valor produzido no mundo semicolonial.

 

 

 

iv) Transferência de Valor do Sul Semicolonial para o Norte Imperialista: Imigração

 

 

 

Explicamos antes que outra forma de o capital monopolista extrair lucros excedentes é através da super-exploração dos migrantes que muitas vezes vêm do mundo semicolonial. O capital imperialista obtém lucros pagando aos trabalhadores migrantes abaixo do valor de sua força de trabalho. Vamos agora tentar obter uma visão geral concreta sobre as consequências da super-exploração dos migrantes.

 

Dado a miséria e as guerras no mundo semicolonial, não é de surpreender que muitas pessoas fujam para países vizinhos. (Nas estatísticas burguesas, os refugiados e os migrantes do para fins de trabalho são reunidos. Portanto, um dos países com maior população "migrante" é Gaza e a Cisjordânia!) No entanto, enquanto nos países do Sul os migrantes representam apenas uma proporção relativamente pequena da população (entre 1,5% e 3% se alguém tomar os continentes como um todo), eles representam entre 10% e 14% da população na Europa e na América do Norte. 93 Mais da metade dos 214 milhões de migrantes em todo o mundo vivem nessas duas regiões imperialistas. 94 De acordo com um artigo de pesquisa do Instituto Internacional de Estudos do Trabalho, no total, no ano de 2000, 66% de todos os migrantes trabalhavam nos chamados países de alta renda e outros 14% em países de renda média alta – uma parcela que certamente é maior hoje. 95

 

Esse desenvolvimento também é mostrado na Figura 51, que tiramos de um estudo recente da OCDE. Demonstra que a migração é, antes de tudo, uma questão relevante para os países imperialistas (que a OCDE chama de "Regiões Mais Desenvolvidas" nesta Figura).

 

 

 

Figura 51: Migrantes em percentagem da População, 1960-2005 96

 

Less developed regions; more developed regions=Regiões menos desenvolvidas; regiões mais desenvolvidas

 


 

 

 

Por um lado, devido à crescente miséria nas semicolônias, por outro, devido à crescente necessidade das capitais monopolistas por mão-de-obra mais barata, a parcela de migrantes nos países imperialistas aumentou drasticamente nas últimas décadas. Nos EUA, a participação de migrantes entre a população cresceu de 5,2% (1960) para 12,3% (2000) para mais de 14% (2010). Na Europa Ocidental, a parcela de migrantes da população cresceu de cerca de 4,6% (1960) para quase 10% (2010). 97 Ao mesmo tempo, a parcela de migrantes nos países semicoloniais diminuiu (ver Figura 52)

 

 

 

Figura 52 : A parcela de Migrantes na população, 1960 e 2005 (em %) 98

 

 

 

 

 

Esses trabalhadores migrantes têm sido centrais para o – já em desaceleração – crescimento da produção de valor capitalista nos países imperialistas. De acordo com um estudo do McKinsey Global Institute "trabalhadores estrangeiros contribuíram com cerca de 40% do crescimento da força de trabalho de 1980 a 2010". 99

 

Essas estatísticas sub-representam a importância dos migrantes. Primeiro, porque os migrantes da segunda ou terceira geração ou que possuíam uma cidadania, muitas vezes não são reconhecidos como migrantes pelas autoridades imperialistas. Segundo, porque os migrantes têm uma parcela maior entre aqueles que estão trabalhando. Finalmente, os migrantes estão frequentemente concentrados nas cidades. Assim, nos países imperialistas, os migrantes representam aproximadamente entre 10-25% da classe trabalhadora e entre os centros urbanos essa participação é muitas vezes maior.

 

Vamos dar alguns exemplos: Já no início dos anos 2000 metade de todos os trabalhadores residentes em Nova York eram negros, hispânicos ou pertenciam a outra minoria nacional. No interior e no exterior de Londres, 29% e 22% respectivamente, dos residentes eram de minorias étnicas em 2000. 100 Em nosso estudo sobre racismo e migrantes, mostramos que em Viena (capital da Áustria) os migrantes representam 44% da população. Dois terços deles vêm da antiga Jugoslávia, Turquia ou estados da UE do Leste Europeu. 101

 

A tabela 43 a seguir dá uma visão geral da participação dos migrantes entre a força de trabalho nos países da OCDE, embora seja preciso ter cautela porque as estatísticas nacionais não reconhecem migrantes de segunda geração como tal.

 

 

 

Tabela 43: Números da Força de Trabalho nascida no Exterior em países da OCDE, 1999-2008 102

 

thousands and percentages=e milhares e em percentagens

 


 

 

 

Efeitos dramáticos para semicolônias: Fuga de Cérebros e Remessas de valores para países de origem

 

 

 

As consequências para os países semicoloniais são dramáticas. Muitas forças de trabalho qualificadas e altamente qualificadas – educadas no país de origem – migram para as metrópoles imperialistas para fugir da pobreza e ajudar suas famílias a sobreviver com remessas. Como resultado, os países semicoloniais sofrem enormes perdas de forças de trabalho e conhecimento humano.

 

Este não é um fenômeno recente, mas que existe há muitas décadas. A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento-UNCTAD calculou que os países imperialistas ganharam com a migração de profissionais altamente qualificados do Sul para o Norte US$ 51 bilhões em capital humano entre 1961 e 1972. 103

 

Economistas da Alemanha Oriental deram números no final da década de 1980 de cerca de 50 a 60 mil trabalhadores altamente qualificados e cientistas que partiram das semicolônias para as metrópoles imperialistas por ano. 104 De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 1987, quase um terço das pessoas altamente qualificadas da África haviam se mudado para a Europa. 105 Mais de um terço dos indivíduos com ensino superior da África, Caribe e América Central emigraram para os Estados Unidos e outros países da OCDE. 106 Desde então, a migração aumentou ainda mais. De acordo com um relatório do Banco Mundial, cerca de 23.000 acadêmicos africanos deixam seu país todos os anos. Hoje, mais cientistas africanos vivem nos EUA do que na África! 107 A Organização Internacional para as Migrações estima "que cerca de 400 mil cientistas e engenheiros de países em desenvolvimento (entre 30 e 50% do total) estavam trabalhando em pesquisa e desenvolvimento nos países industriais..." 108

 

Éric Toussaint dá um exemplo que mostra o quanto drástico é a fuga de cérebros do Sul para o Norte. Só em 1987, o Sudão perdeu 17% de seus médicos e dentistas, 20% de seus professores universitários, 30% de seus engenheiros e 45% de seus topógrafos terrestres. 109 Todos foram para os países imperialistas. Um processo semelhante começou nos antigos países estalinistas após 1989-91.

 

É um dos absurdos grotescos do capitalismo moderno que, enquanto cerca de 250 mil profissionais nascidos na África trabalham fora da África, ao mesmo tempo 100 mil profissionais não-africanos altamente pagos são empregados na África para agências da ONU e sob os auspícios de programas como o Corpo de Paz! 110

 

Ao mesmo tempo, as remessas de valores desempenham um papel crescente para os países semicoloniais e, portanto, tornam-se cada vez mais importantes para os Estados imperialistas que controlam os fluxos financeiros e têm o poder de expulsar os migrantes. De acordo com cálculos da Organização Internacional para as Migrações, cerca de US$ 414 foram transferidos em 2009 por migrantes para seus países de origem, o que é cerca de três vezes a ajuda oficial dos imperialistas! 111 Em vários países da África as remessas de valores compõem de 5%-20% do seu PIB anual, em alguns casos até metade! 112

 

James Petras observou corretamente em um artigo sobre migração que essas remessas também são lucrativas para as instituições financeiras e a classe capitalista local pagarem dívidas com seus devedores imperialistas: "As remessas dos imigrantes fortalecem os regimes parasitas retrógrados e estratos inteiros de intermediários que lucram com as transferências para o exterior sem contribuir com recursos para o desenvolvimento local. Regimes de exportação de mão-de-obra substituem o ganho no exterior por se envolver em investimentos locais. Em vez disso, eles usam ganhos estrangeiros para pagar dívidas estrangeiras incorridas por mutuários locais corruptos, compras de armas militares e importações de luxo de classe alta, ao mesmo tempo em que fornecem moeda forte permitindo que as corporações multinacionais locais remitam lucros com base nas vendas no mercado interno. A renda igualmente importante das remessas dos imigrantes permitiu que os regimes pagassem as enormes obrigações financeiras das instituições financeiras, que se envolveram em fraudes maciças." 113

 

Para manter seu sistema de Apartheid Global, os estados imperialistas financiam um enorme aparato de repressão. De acordo com o acadêmico burguês Philip Martin, cinco dos países imperialistas mais ricos – Canadá, Alemanha, Holanda, Grã-Bretanha e EUA – gastaram pelo menos US$ 17 bilhões em controle de imigração em 2002. O autor estima que os 25 países ocidentais mais ricos provavelmente estão gastando US$ 25-30 bilhões por ano em controle de imigração. 114

 

 

 

Exploração Direta e Indireta dos Migrantes

 

 

 

É claro que não é possível calcular a transferência de valor para os bolsos dos capitalistas através da exploração das forças de trabalho dos migrantes sem pagar integralmente por sua educação. No entanto, é possível achar números que demonstrem como os migrantes são explorados no âmbito de sua parte social do salário. Na Áustria, por exemplo, os migrantes pagaram 1,6 bilhão de euros de contribuições para o serviço social em 2007, mas receberam apenas € 0,4 bilhões. Assim, o Estado austríaco poderia se apropriar de 1,2 bilhão de euros e usá-lo para outros fins. 115 O exemplo do ano de 2007 não é exceção, mas a regra, como outros estudos têm mostrado. 116

 

Outro exemplo de como os capitalistas lucram com o trabalho dos migrantes pode ser visto na Grã-Bretanha. De acordo com o então ministro da migração, Liam Byrne, a "economia britânica" ganhou cerca de 6 bilhões de libras no ano de 2006. De acordo com o trabalho do então ministro financeiro os migrantes foram responsáveis por 15% a 20% do crescimento econômico na Grã-Bretanha nos anos de 2001-2006. 117

 

Um estudo da Organização Internacional para as Migrações relatou da mesma forma que os migrantes na Grã-Bretanha pagaram US$ 4 bilhões a mais em impostos do que receberam em benefícios em 1999-2000. Ele continua: "Outro estudo revelou que a população estrangeira contribuiu com cerca de 10% mais para a receita do governo do que recebeu em benefícios, e que na ausência de sua contribuição os serviços públicos teriam que ser cortados ou os impostos aumentados. Da mesma forma, na Alemanha, alegou-se que sem as contribuições dos imigrantes que vieram em 1988-91, o sistema de bem-estar social alemão teria entrado em colapso. Nos EUA, um estudo recente na Universidade Rice concluiu que migrantes legalizados e ilegais que haviam chegado desde 1970 custaram ao país US$ 42,5 bilhões em 1992. Mas, mais recentemente, o Instituto Urbano mostrou que, em vez de um custo líquido de US$ 42,5 bilhões, houve um benefício líquido para os EUA durante o mesmo período." 118

 

E o Congresso Sindical Britânico relatou em um resumo de vários estudos: "Eles também acham que a imigração desde 1998 elevou o PIB em 3,1%". 119 Também relatam vários estudos que calcularam a transferência financeira dos migrantes para o Estado imperialista. Em uma visão geral eles resumiram:

 

"Em 2005, o Institute for Public Policy Research -IPPR (Instituto de Pesquisa de Políticas Públicas-órgão Britânico ) atualizou este trabalho para cobrir o período de cinco anos de 1999/2000 a 2003/2004. O estudo apresentou achados semelhantes de uma forma diferente: os imigrantes consistentemente fizeram uma contribuição fiscal líquida maior do que os nascidos britânicos. Nos períodos em que o orçamento estava em superávit, os imigrantes fizeram uma contribuição líquida maior; quando o orçamento estava em déficit a contribuição negativa líquida dos imigrantes foi menor." 120

 

Uma dica dos enormes benefícios da migração para os capitalistas é dada por um estudo do Banco Mundial publicado em 2006. Nele, o autor, Lant Pritchett, calcula que as nações imperialistas que permitem 3% a mais trabalhadores migrantes ganhariam US$ 51 bilhões, aumentando os retornos ao capital e reduzindo o custo de produção. 121 Pritchett, um ideólogo imperialista verdadeiramente liberal e amigo de Lawrence Summers (ex-secretário do Tesouro sob Clinton e conselheiro econômico de Obama), argumenta que as democracias ocidentais precisam ter "estômago" para um "programa de trabalhadores convidados" como o Kuwait ou Cingapura que importam um grande número de migrantes sem lhes dar nenhum direito político ou de bem-estar social. Ele argumenta que as pessoas devem ser convencidas do aumento massivo de migrantes super-explorados sem direitos: "Se as pessoas se convencerem de que enviar trabalhadoras temporários grávidas para casa é uma parte necessária de um sistema justo e legítimo de migração, estaremos dispostos a fazê-lo". 122

 

Se olharmos para o nível de salários diretos, podemos ver a super-exploração novamente. De acordo com diferentes estatísticas na Áustria, os migrantes de países semicoloniais (que são a grande maioria dos migrantes em comparação com os provenientes de outros estados imperialistas) recebem oficialmente uma renda entre 20 e 25% abaixo da renda dos austríacos nativos. Outras estatísticas, no entanto, dão números de que os trabalhadores dos países de origem migrante mais importantes (Balcãs, Turquia, Estados da UE do Leste Europeu) recebem apenas 40%-65% da renda dos austríacos nativos. 123

 

Uma situação semelhante pode ser vista nos EUA. Um estudo de Harvard sobre os efeitos econômicos da migração apresentou os resultados de inúmeras pesquisas sobre as diferenças salariais entre migrantes e trabalhadores nativos. Os autores relataram que quase todas as pesquisas chegaram à conclusão de que os funcionários estrangeiros ganham entre 15-30% menos do que os trabalhadores nativos na América do Norte e - enquanto os números aqui variam mais - eles também têm um salário consideravelmente menor na Europa. 124

 

A vantagem econômica da migração para os monopólios imperialistas não se limita a salários mais baixos e à contribuição injusta do serviço social. Consiste também no fato de que, como força de trabalho com menos ou mesmo nenhum direito, os patrões podem demiti-los mais facilmente do que os trabalhadores nativos. O porta-voz do grande capital da Grã-Bretanha – The Economist – resumiu há dois anos a vantagem desse de haver esse setor super-explorado dos trabalhadores:

 

"Outra razão pela qual os migrantes permanecem, no entanto, é que eles estão muitas vezes bem posicionados para responder a uma queda. Essas dinâmicas o suficiente para saltar entre os países para encontrar trabalho são também o tipo de pessoas dispostas a mudar de emprego, ter um corte salarial ou se mudar de residência dentro de um país, a fim de continuar trabalhando. Esse trabalho flexível e produtivo é, muitas vezes, exatamente o que as economias debilitadas precisam. Os autores da OCDE alertam que os países ricos devem ter cuidado pois podem perder a longo prazo se desencorajarem firmemente a migração nesse momento." 125

 

Os estrategistas do capital imperialista estão tranquilos cientes das vantagens da super-exploração dos migrantes. O Banco Mundial publicou um relatório em 2006 que tentou calcular os benefícios econômicos futuros da migração para os capitalistas. Nesse contexto, os autores compararam os diferentes níveis salariais dos trabalhadores na mesma ocupação nas diferentes regiões, ou seja, nos países imperialistas ("países de renda média-alta") por um lado e os diferentes tipos de países semicoloniais, por outro. Nesta comparação, eles levam em conta os diferentes níveis de preços nos respectivos países (que os economistas burgueses chamam de renda ajustada para "paridade do poder de compra"). O relatório do Banco Mundial conclui que os trabalhadores dos países semicoloniais mais avançados ("países de renda média-alta") ganham cerca de 42% do nível salarial dos trabalhadores na mesma ocupação nos países imperialistas, os trabalhadores em países semicoloniais menos avançados ("países de renda média alta") ganham cerca de 27% e os trabalhadores em países semicoloniais muito pobres ("países de baixa renda") ganham cerca de 20% desse nível. (Ver Figura 53)

 

 

 

Figura 53: Salários medianos em países imperialistas e semicoloniais, 1988-92 (em %) 126

 

Median wages levels for workers in the same occupation, relative to high-income economies,1988-1992=Níveis salariais medianos para trabalhadores na mesma ocupação, em relação a economias de alta renda, 1988-1992

 

Upper-middle income countries=Países de renda média-alta

 

Lower-middle income countries=Países de renda média baixa

 

Low-income countries= Países de baixa renda

 

 

 

 

 

O relatório do Banco Mundial apresenta várias estimativas dos potenciais efeitos do aumento da migração para os países ricos até o ano de 2025. Eles concluem que nos países imperialistas são principalmente os capitalistas que se beneficiam do aumento da migração, enquanto os trabalhadores enfrentarão efeitos negativos sobre seus salários: "As famílias nativas dos países de alta renda desfrutam de um aumento na renda, em média, à medida que os retornos ao capital aumentam, compensando o leve declínio dos salários". 127

 

Naturalmente, os economistas do Banco Mundial não estão particularmente preocupados que o aumento da renda signifique principalmente um aumento dos lucros dos capitalistas às custas dos salários: "Supondo que toda a renda de capital se acumule para as famílias nativas, as famílias nativas em países de alta renda estão em melhor agregado após o choque, com a renda real aumentando 0,4%. Ou seja, o aumento da renda de capital mais do que compensa a perda da renda salarial. (.....) Nos países de alta renda, os ganhos são gerados por maiores retornos ao capital — um pouco compensados por salários mais baixos." 128

 

Além disso, o Banco Mundial estima a possibilidade de o capital utilizar a migração para um ataque geral à classe trabalhadora nos países imperialistas, barateando os custos trabalhistas, aumentando a "flexibilidade do mercado de trabalho" (ou seja, mais fácil de contratar e demitir) etc.:

 

"Os países de destino podem desfrutar de ganhos econômicos significativos com a migração. O aumento da disponibilidade de mão-de-obra impulsiona o retorno ao capital e reduz o custo de produção. Uma simulação baseada em modelos realizada para este estudo indica que um aumento da migração de países em desenvolvimento suficiente para elevar a força de trabalho dos países de alta renda em 3% poderia aumentar a renda dos nativos em países de alta renda em 0,4%. Além disso, os países de alta renda podem se beneficiar do aumento da flexibilidade do mercado de trabalho, do aumento da força de trabalho devido aos preços mais baixos para serviços como cuidados infantis e, talvez, economias de escala e aumento da diversidade." 129

 

Resumindo todos esses relatórios e fatos, podemos concluir que há evidências esmagadoras da importância da super-exploração dos migrantes para o processo de acumulação da capital imperialista.

 

 

 

Tentativa do Cálculo Total do Saque Imperialista

 

 

 

Em seu livro "Capitalismo Tardio" Ernest Mandel observou corretamente no início da década de 1970 que, embora o lucro extra com a exportação de capital e o intercâmbio desigual sempre desempenharam papel importante na exploração imperialista do mundo semicolonial, seu impacto variou. Enquanto no período anterior à Segunda Guerra Mundial o lucro extra colonial decorrente da exportação de capital era mais importante, o intercâmbio desigual tornou-se a principal forma de super-exploração após a guerra. 130 Mas isso ainda é verdade hoje?

 

Desde que Mandel fez essa observação, há quatro décadas, houve duas mudanças importantes. Primeiro, desde a década de 1970 até hoje a exportação de capital em forma de empréstimos e outras formas de capital financeiro massivamente ganhou em importância. Hoje, os lucros extras derivados do capital monetário imperialista que é exportado para o mundo semicolonial são de grande importância como um ganho para o capital monopolista e como uma perda para os países semicoloniais.

 

Em segundo lugar, desde o surgimento da globalização, a internacionalização do processo produtivo tornou-se uma característica central da economia mundial. Como explicamos acima, isso leva a um enorme aumento do lucro extra do qual uma quantia enorme está escondida através de preços através dos quais os lucros aparecem como sendo criados no Norte, enquanto o valor excedente é de fato produzido através de super-exploração do Sul. No entanto, exatamente por ser escondido é muito difícil para nós calcularmos a quantidade de lucro extra extraído do Sul.

 

No entanto, tentaremos elaborar um cálculo da extensão do saque imperialista do mundo semicolonial. Lembremos as estimativas dos economistas da Alemanha Oriental e da ONU do final dos anos 1980 e início dos anos 1990 que calcularam que o mundo semicolonial foi roubado em cerca de 20-25% de sua produção anual.

 

Como dissemos antes, é difícil fazermos tais cálculos, pois não possuímos todas as informações e também não sabemos o método exato que as Nações Unidas e os economistas da Alemanha Oriental costumavam calcular. No entanto, se dermos uma estimativa muito limitada, poderíamos dizer o seguinte.

 

i) De acordo com a Tabela 22 sobre as transferências líquidas de recursos financeiros, os países do Sul transferiram nos últimos anos até US$ 1 trilhão anualmente para o Norte, o que equivale a 5% do PIB anual desses países em 2010.

 

ii) Temos também a cifra de fluxos ilícitos dos Países em Desenvolvimento de cerca de US$ 1 trilhão anualmente.

 

iii) Consideramos a estimativa de uma perda de cerca de US$ 200 bilhões por ano pela "transferência invisível" para a década de 1990, que era uma parte do PIB semicolonial de cerca de 3,3%. Calculamos uma parcela semelhante por enquanto porque não temos avaliações mais reais. Mas notamos brevemente que esta é certamente uma subestimação séria porque desde a década de 1990 o papel das cadeias produtivas globalizadas de corporações multinacionais aumentou significativamente e, portanto, suas oportunidades de manipular a definição de preços e escondendo a verdadeira transferência de valor do Sul.

 

iv) No que se refere à perda dos países semicoloniais pela migração, tomamos a mesma proporção de sua perda total que a ONU fez no seu cálculo de 1992 (ver Figura 32). Foram US$ 250 bilhões em 1990, o que equivaleu a cerca de 10 a 12% da renda nacional anual dos países em desenvolvimento. Estimamos a mesma proporção para hoje. Mais uma vez, esta é certamente uma subestimação dado o enorme aumento da migração desde então.

 

v) Adicionaremos também as várias outras formas de valores transferidos aos monopólios imperialistas, que são mencionados acima (perda por câmbio, royalties por patentes etc.), que são algumas centenas adicionais de bilhões de dólares mais.

 

Se somarmos essas várias cifras, podemos calcular que o roubo imperialista do mundo semicolonial certamente aumentou desde o início dos anos 1990. Estima-se que a transferência de valor do mundo semicolonial para o Norte seja pelo menos cerca de 30% do PIB anual semicolonial, talvez até um pouco mais.

 

E este cálculo não está completo desde que:

 

i) Não adicionamos os enormes lucros que os capitalistas fazem com o trabalho migrante nos próprios países imperialistas.

 

ii) Não adicionamos os lucros extras que estão escondidos através de preços através dos quais os lucros aparecem como sendo criados no Norte enquanto o valor excedente é de fato produzido através da super-exploração no Sul.

 

iii) E não adicionamos os lucros dos monopólios imperialistas apropriados no exterior que não são transferidos de volta.

 

Apesar da falta de cálculos precisos, podemos definitivamente dizer que o saque imperialista das semicolônias desempenha um papel muito importante como desvantagem do chamado Terceiro Mundo e em benefício dos monopólios imperialistas.

 

O economista socialista egípcio Samir Amin calcula uma parcela ainda maior do roubo imperialista do Sul. Ele estima um "volume dessa rentabilidade imperialista, que parece estar na ordem de metade do Produto Interno Bruto das periferias, ou 17% do Produto Bruto mundial e 25% dos PIBs dos centros". 131 Sem dúvida, Amin é um teórico progressista e muito atencioso. No entanto, uma vez que temos diferenças metodológicas com sua teoria do "valor mundial" e a teoria da dependência em geral, somos cautelosos em adotar esses cálculos.

 

 

 

Um Parêntese: O papel do saque das colônias para a formação do capitalismo na Europa ocidental no século XVI ao XVIII

 

 

 

Nesta reflexão queremos lidar brevemente com as razões históricas para o "atraso" econômico do mundo semicolonial. Como dissemos, uma das razões mais importantes para a exportação de capital para as semicolônias é a perspectiva de que os monopólios explorem forças trabalhistas baratas. Vários comentaristas argumentam que o menor nível salarial dos trabalhadores nas semicolônias simplesmente reflete o menor nível de produtividade do trabalho e o desenvolvimento mais atrasado das forças produtivas.

 

Embora este argumento contenha um elemento de verdade, é unilateral e, portanto, errado. Na verdade, trai uma certa ignorância imperialista e arrogância. Em primeiro lugar, seria criminoso ignorar as razões pelas quais as economias semicoloniais são menos produtivas do que as economias imperialistas. Mostramos acima, em uma citação do documento da ONG britânica Oxfam, que a desigualdade econômica entre os países não era tão grande no século XIX. Isso também é confirmado em um estudo de economistas soviéticos de quem reproduzimos a Tabela 44 abaixo. Mostra novamente que a lacuna no desenvolvimento econômico entre a Europa Ocidental e o Sul era muito menor em meados do século XIX – ou seja, antes do início da época imperialista – do que em meados do século XX.

 

Foi o surgimento do imperialismo e a exploração sistemática do Sul que impediu este último de desenvolver suas forças produtivas de forma semelhante à que aconteceu na Europa Ocidental e nos EUA. Esse domínio imperialista levou a um desenvolvimento econômico distorcido do mundo colonial. Sua industrialização foi focada para satisfazer as necessidades de importação das metrópoles. Daí o foco do desenvolvimento de um setor exportador de matérias-primas, o aprimoramento das monoculturas na agricultura etc. em vez de um desenvolvimento orgânico da economia com um forte setor industrial tanto para meios de produção quanto para bens de consumo. Tal desenvolvimento também poderia ter proporcionado empregos suficientes para a mão-de-obra agrícola deixar o campo e ingressar no setor industrial. É verdade que nos séculos XVIII e XIX o Sul ficou cada vez mais atrás do desenvolvimento econômico da Europa Ocidental. Mas esse avanço das potências da Europa Ocidental não foi espontâneo ou automático, mas foi acompanhado e apoiado desde o início por um saque colonial do Sul.

 

Embora, naturalmente, pré-condições específicas que facilitassem o desenvolvimento do capitalismo já existissem na Europa Ocidental, o saque sistemático das colônias do século XVI ao XVIII desempenhou um papel enorme para a formação do capitalismo – a fase da acumulação primitiva. 132 O próprio Marx já apontou isso no primeiro Volume de 'O Capital':

 

"O sistema colonial e a abertura dos mercados do mundo, ambos incluídos nas condições gerais de existência do período fabril, fornecem rico material para o desenvolvimento da divisão do trabalho na sociedade." 133

 

Ele elaborou isso logo após no mesmo volume:

 

"A descoberta de terras de ouro e prata na América, o extermínio, escravização e enterramento da população nativa nas minas, o início da conquista e pilhagem das Índias Orientais, a transformação da África num espaço para a caça comercial de peles-negras, assinalam a aurora da era da produção capitalista. Estes processos idílicos são momentos principais da acumulação original. Segue-se de perto a guerra comercial das nações europeias, com o globo terrestre por palco. Inicia-se com a revolta dos Países Baixos contra a Espanha, toma contornos gigantescos na Inglaterra com a guerra anti-jacobina e prolonga-se ainda na guerra do ópio contra a China, etc.

 

Os diversos momentos da acumulação original repartem-se agora, mais ou menos em sequência temporal, nomeadamente, por Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra. Em Inglaterra, no fim do século XVII, eles são reunidos sistematicamente no sistema colonial, no sistema da dívida do Estado, no sistema moderno de impostos e no sistema protecionista. Estes métodos repousam, em parte, sobre o poder mais brutal, por exemplo, o sistema colonial. Todos eles utilizam, porém, o poder do Estado, o poder concentrado e organizado da sociedade, para acelerar, como em estufa, o processo de transformação do modo de produção feudal em capitalista e para encurtar a transição. A violência é a parteira de toda a velha sociedade que está grávida de uma nova. Ela própria é uma potência econômica." 134

 

Em seu trabalho abrangente sobre a economia política marxista Ernest Mandel tenta dar um cálculo global do lucro feito pelo saque do Sul pelas potências coloniais europeias. Ele chega à conclusão de que entre 1500 e 1750 eles acumularam aproximadamente um bilhão de libras esterlinas. Mandel faz a seguinte comparação interessante: "Este é mais do que o capital total de todas as empresas industriais movidas a vapor que existiam na Europa por volta de 1800." 135

 

Outra cifra mostra como a exploração capitalista aumentou a lacuna de riqueza entre as (antigas) potências coloniais e os países semicoloniais nos séculos XIX e XX (ver Tabela 44). Enquanto em 1850 os estados industriais capitalistas tinham uma participação na renda mundial de 38% e no Sul de 62%, essa relação mudou drasticamente para 83% respectivamente 17% em 1960. Assim, enquanto a renda per capita do Norte era apenas 1,8 vezes maior em relação ao Sul em 1850, isso cresceu para uma vantagem de uma renda 12,5 vezes maior por cabeça em 1960.

 

 

 

Tabela 44: Distribuição da Renda Nacional entre o Norte e o Sul, 1850 e 1960 136

 

Share of National income ( in percent)=Participação da renda nacional (em porcentagem)

 

National income per head=Renda nacional per capita ( em dólares americanos)

 


 

 

 

Outro número é dado pelo falecido economista Angus Maddison, cuja análise da história da economia mundial foi pioneira. Em seu magnum opus "The World Economy: A Millennial Perspective" ele calcula que entre 1820 e 1998 os Países Capitalistas Avançados do Norte poderiam aumentar seu PIB por cabeça de 1.130 para 21.470 dólares americanos, ou seja, em 1900%. No mesmo período, os países capitalistas menos desenvolvidos do Sul poderiam aumentar seu PIB por cabeça apenas de 573 para 3.102 dólares americanos, ou seja, em 541%. Em outras palavras, os países capitalistas avançados que roubaram as colônias e as semicolônias puderam crescer 3,5 vezes mais rápido que os países do Sul. (Ver Tabela 45

 

 

 

Tabela 45 (ver arquivo PDF): Nível do PIB per capita entre o Norte e o Sul, 1820 e 1998 (em 1990 dólares internacionais) 137

 

Advanced Capitalist Countries = Países Capitalistas Avançados

 

Western Europe, North America, Australia, Japan

 

= Europa Ocidental, América do Norte, Austrália, Japão

 

Asia (except Japan), Africa, Latin America, Eastern Europe and USSR=Ásia (exceto Japão), África, América Latina, Europa Oriental e URSS

 

Less Developed Capitalist Countries= Países Capitalistas Menos Desenvolvidos

 

 

 

 

 

Roman Rosdolsky, historiador e teórico marxista ucraniano, comentou corretamente em seu estudo 'The Making of Marx's Capital' que "a acumulação primitiva é um elemento constitutivo da relação capital e, portanto, está incluída na 'categoria do capital'". 138

 

Assim, resumimos que o saque das colônias já desempenhou um papel importante durante as épocas pré-imperialistas do capitalismo. Prejudicou decisivamente a possibilidade de desenvolvimento econômico do Sul. Não pode haver nenhum argumento sério contra a tese de que os países do Sul poderiam ter se unido a um caminho de crescimento econômico mais tarde. Mas eles nunca tiveram a chance de um desenvolvimento independente por causa do saque colonial e da opressão.

 

 

 

1 Matthew J. Slaughter: Como as empresas multinacionais dos EUA fortalecem a economia dos EUA (2009), publicada pela Business Roundtable e the United States Council Foundation, p. 16

 

2 Peter Dicken: Mudança Global. Mapeamento dos Contornos Em Mudança da Economia Mundial (Sexta Edição), The Guilford Press, Nova York 2011, p. 115

 

3 Jessica R. Sincavage, Carl Haub, O.P. Sharma: Custos trabalhistas no setor de manufatura organizado da Índia, em: Monthly Labor Review, maio de 2010, p. 13

 

4 Doug Henwood: Política Comercial de Clinton; em: Fred Rosen e Deidre McFadyen: Livre Comércio e Reestruturação Econômica na América Latina, Nova York 1995, p. 33

 

5 S.N. Beljajewa, E.M. Waschenzewa, I.I. Ermolowitsch, M.M. Koptew, E.I. Korezkaja, W.N. Kuwaldin, W.W. Mestscherjakow (Autorenkollektiv): Politische Ökonomie - Kapitalismus (1970), Berlim 1973, p. 112

 

6 Bassam Tibi: Die Rohstoffe der Peripherie-Länder und der Reproduktionsprozeß der Metropolen: Das Beispiel Erdöl; in: Volker Brandes (Hrsg.): Perspektiven des Kapitalismus. Handbuch 1, Frankfurt a.M. 1974, p. 108

 

7 Pierre Jalée: Das neueste Stadium des Imperialismus (1969), München 1971, p. 30

 

8 Relatado em Ernest Mandel: Capitalismo Tardio. Londres 1975, p. 65

 

9 Hans Tammer (Hrsg.): Anschauungsmaterial. Politische Ökonomie, Kapitalismus, Berlim 1984, p. 105

 

10 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2003, p. 17

 

11 Tony Norfield: O que o 'Preço da China' realmente significa, 3.6.2011, http://economicsofimperialism.blogspot.co.at/2011/06/what-china-price-really-means.html

 

12 Tony Norfield: O que o 'Preço da China' realmente significa, 3.6.2011

 

13 Citado em Ernest Mandel: Imperialismo e Burguesia Nacional na América Latina (1971); in: International Vol. 3, No. 1 (Primavera de 1976), Theoretical Journal of the International Marxist Group (Seção Britânica da Quarta Internacional), p. 24

 

14 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 27

 

15 S.N. Beljajewa, E.M. Waschenzewa, I.I. Ermolowitsch, M.M. Koptew, E.I. Korezkaja, W.N. Kuwaldin, W.W. Mestscherjakow (Autorenkollektiv): Politische Ökonomie - Kapitalismus (1970), Berlim 1973, p. 112

 

16 Celso Furtado: Desenvolvimento Econômico da América Latina. Histórico e problemas contemporâneos, Nova York 1984, p. 201

 

17 Ver Éric Toussaint e Denise Comanne: Globalização e Dívida; in: Éric Toussaint & Peter Drucker (editores): FMI/Banco Mundial/OMC: O Fiasco do Mercado Livre, IIRE: Notebook for Study and Research No. 24/25, Amsterdam 1995, p. 12

 

18 Christian Zeller: Ein neuer Kapitalismus und ein neuer Imperialismus?; in: Christian Zeller (Hrsg.): Die globale Enteignungsökonoie, Münster 2004, p. 97

 

19 James Petras / Henry Veltmeyer: Globalização Desmascarada. Imperialismo no século XXI, Londres 2001, p. 81

 

20 Éric Toussaint: A Situação Internacional e a Dívida: Os novos desafios enfrentados pelo CADTM; 27.8.2007, p. 3

 

21 Banco Mundial: Global Development Finance 2007, p. 53

 

22 Banco Mundial: Global Development Finance 1999, p. 160. (Nosso cálculo)

 

23 Banco Mundial: Global Development Finance 2010, p. 24; Global Development Finance 2012, p. 40.; nosso cálculo Não jogamos juntos os números de 1970-1980 e 1990-2010, uma vez que os estatísticos do Banco Mundial utilizaram métodos diferentes para o cálculo da produção nacional anual.

 

24 Banco Mundial, Global Development Finance 2009, pp. 51-52

 

25 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 11

 

26 Rainer Lanz e Sebastian Miroudot: Intra-Firm Trade: Patterns, Determinants and Policy Implications", (2011), OCDE Trade Policy Working Papers, No. 114, OCDE Publishing, http://dx.doi.org/10.1787/5kg9p39lrwnn-en, p. 12

 

27 Peter Dicken: Mudança Global. Mapeamento dos Contornos Em Mudança da Economia Mundial (Sexta Edição), The Guilford Press, Nova York 2011, pp. 20-21

 

28 Jørgen Elmeskov: O Panorama Econômico Geral para a Crise, Artigo da OCDE para sessão sobre "Como a economia global entrou em crise" no G20 Workshop sobre as Causas da Crise: Principais Lições Mumbai, 24-26 de maio de 2009, p. 2209

 

29 Jørgen Elmeskov: O Panorama Econômico Geral para a Crise, Artigo da OCDE para sessão sobre "Como a economia global entrou em crise" no G20 Workshop sobre as Causas da Crise: Principais Lições Mumbai, 24-26 de maio de 2009, p. 2209

 

30 John Smith: Imperialismo e a Lei do Valor, p. 15

 

31 Julie Froud, Sukhdev Johal, Adam Leaver, Karel Williams: Apple Business Model, pp. 22-23

 

32 Aditya Chakrabortty: Apple: por que não emprega mais trabalhadores dos EUA? Guardian, guardian.co.uk, 23 de abril de 2012 http://www.guardian.co.uk/technology/2012/apr/23/bad-apple-employ-more-us-workers

 

33 Julie Froud, Sukhdev Johal, Adam Leaver, Karel Williams: Apple Business Model, p. 23

 

34 Derek Thompson: Os 11 quadros que supostamente provam que o Ocidente está condenado, 7 de agosto de 2012, http://www.theatlantic.com/business/archive/2012/08/the-11-Figures-that-allegedly-prove-that-the-west-is-doomed/260750

 

35 Herbert Jauch: Globalização e Trabalho, p. 5

 

36 Jeffrey Bortz: Die lateinamerikanischen Schulden und die Zyklen der Weltwirtschaft; in: Bortz/Castro/Mandel/Wolf: Schuldenkrise, Frankfurt a.M. 1987, p. 102

 

37 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 1994, p. 128

 

38 Winfried Wolf: Schuld, Zins, Profit. Zum Verhältnis zwischen Dritter, Erster und westdeutscher Welt; in: Bortz/Castro/Mandel/Wolf: Schuldenkrise, Frankfurt a.M. 1987, p. 15

 

39 Paulo Nakatani e Rémy Herera: O Sul já quitou a sua dívida externa para o Norte. Mas o Norte nega sua dívida com o Sul, Montly Review, Volume 59, Edição 02 (junho de 2007)

 

40 Nações Unidas: Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2012, p. 91

 

41 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2011, p. 27

 

42 Ver Nicola Liebert: Schuldenkrise: Die Position der Gläubiger und das Potential für einen Schuldenerlaß; in: PROKLA Nr. 71 (1988), p. 115

 

43 PNUD: Relatório de Desenvolvimento Humano 1992, p. 66

 

44 PNUD: Relatório de Desenvolvimento Humano 1992, p. 49

 

45 Ver Éric Toussaint e Denise Comanne: Globalização e Dívida; in: Éric Toussaint & Peter Drucker (editores): FMI/Banco Mundial/OMC: O Fiasco do Mercado Livre, IIRE: Notebook for Study and Research No. 24/25, Amsterdam 1995, p. 10

 

46 COMISSÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DIREITOS HUMANOS: Efeitos das políticas de ajuste estrutural no pleno era dos direitos humanos. Quinquagésima e quinta sessão, Item 10 da agenda provisória direitos econômicos, sociais e culturais. Relatório do Especialista Independente, Sr. Fantu Cheru, apresentado de acordo com as decisões da Comissão 1998/102 e 1997/103; http://www.unhchr.ch/Huridocda/Huridoca.nsf/TestFrame/f991c6c62457a2858025675100348aef

 

47 Éric Toussaint: Transferências da Periferia para o Centro, do Trabalho para o Capital (2004), p. 1

 

48 Éric Toussaint: Transferências da Periferia para o Centro, do Trabalho para o Capital (2004), p. 1

 

49 Banco Mundial, Global Development Finance 2012, p. 40

 

50 Jean Ziegler: Das Imperium der Schande. Der Kampf gegen Armut und Unterdrückung, München 2008, p. 87

 

51 Banco Mundial: O Pequeno Livro de Dados sobre Dívida Externa (2011), p. 2

 

52 Demba Moussa Dembélé: Dependência de ajuda e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio-ODM, Pambazuka News Issue 220 (8.9.2005), http://www.pambazuka.org/en/category/features/29376

 

53 UNCTAD: Desenvolvimento Econômico na África: Sustentabilidade da Dívida: Oasis ou Mirage?, Nova York, 2004, p. 9

 

54 Ajuda Cristã: Basta: A opção de repúdio da dívida, 2007, p. 16

 

55 Éric Toussaint: Transferências da Periferia para o Centro, do Trabalho para o Capital (2004), p. 2

 

56 Banco Mundial, Global Development Finance 2012, p. 40

 

57 Helmut Faulwetter: Die Ausbeutung der Entwicklungsländer durch das international Monopolkapital; in: Autorenkollektiv (unter Leitung von Peter Stier): Handbuch Entwicklungsländer. Sozialökonomische Prozesse, Fakten und Strategien, Berlim 1987, p. 15

 

58 Banco Mundial: Horizontes de Desenvolvimento Global 2011. Multipolaridade: A Nova Economia Global, p. 135

 

59 James Robertson: O Futuro do dinheiro. Se quisermos um jogo melhor da vida econômica, teremos que mudar o sistema de pontuação; in: Soundings, edição 31 (dezembro de 2005), p. 129, http://www.jamesrobertson.com/article/soundings31.pdf

 

60 Dev Kar: Os motivadores e as dinâmicas dos fluxos financeiros ilícitos da Índia: 1948-2008, Global Financial Integrity, Novembro 2010, p. iiii

 

61 Dev Kar: Os motivadores e as dinâmicas dos fluxos financeiros ilícitos da Índia: 1948-2008, p. 18

 

62 Ernest Mandel: Verschuldungskrise: Eine tickende Zeitbombe; in: Bortz/Castro/Mandel/Wolf: Schuldenkrise, Frankfurt a.M. 1987, p. 81

 

63 Winfried Wolf: Schuld, Zins, Profit. Zum Verhältnis zwischen Dritter, Erster und westdeutscher Welt; in: Bortz/Castro/Mandel/Wolf: Schuldenkrise, Frankfurt a.M. 1987, p. 22

 

64 Ver Éric Toussaint e Denise Comanne: Globalização e Dívida; in: Éric Toussaint & Peter Drucker (editores): FMI/Banco Mundial/OMC: O Fiasco do Mercado Livre, IIRE: Notebook for Study and Research No. 24/25, Amsterdam 1995, p. 13

 

65 Éric Toussaint: Seu Dinheiro ou sua Vida. A Tirania das Finanças Globais; Bruxelas 1999, p. 104

 

66 Éric Toussaint: Transferências da Periferia para o Centro, do Trabalho para o Capital (2004), p. 14

 

67 Dev Kar: Fluxos Financeiros Ilícitos dos Países Menos Desenvolvidos: 1990-2008, Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas 2011, p. 3

 

68 Dev Kar e Sarah Freitas: Fluxos Financeiros Ilícitos de Países em Desenvolvimento Ao longo da década de 2009 (2011), p. i

 

69 Dev Kar e Sarah Freitas: Fluxos Financeiros Ilícitos de Países em Desenvolvimento Ao Longo da Década Terminando 2009, p. vii

 

70 Dev Kar e Devon Cartwright-Smith: Fluxos Financeiros Ilícitos da África: Recursos Ocultos para o Desenvolvimento, Integridade Financeira Global 2009, p. 1

 

71 Rede de Justiça Fiscal para a África: Saqueando a África: Alguns Fatos e Números, p. 1, http://www.liberationafrique.org/IMG/pdf/TJN4Africa.pdf

 

72 Alejandro Teitelbaum , 72 / Melik Özden: Corporações Transnacionais. Principais atores em violações de direitos humanos (2011); CETIM: Relatório Crítico n° 10. Questão: Negócios e Direitos Humanos, http://cetim.ch/en/publications_cahiers.php

 

73 Tax Justice Network for Africa: Saqueando a África: Alguns Fatos e Números, p. 2

 

74 Christian Fuchs: Uma Contribuição para estudos críticos de globalização, p. 19

 

75 Christian Fuchs: Uma Contribuição para estudos críticos de globalização, p. 19

 

76 Christian Fuchs: Uma Contribuição para estudos críticos de globalização, p. 25

 

77 UNIDO: Relatório de Desenvolvimento Industrial 2011, p. 154

 

78 Ver Éric Toussaint e Denise Comanne: Globalização e Dívida; in: Éric Toussaint & Peter Drucker (editores): FMI/Banco Mundial/OMC: O Fiasco do Mercado Livre, IIRE: Notebook for Study and Research No. 24/25, Amsterdam 1995, p. 11

 

79 ECLAC: Globalização e Desenvolvimento (2002), p. 38

 

80 ECLAC: Globalização e Desenvolvimento (2002), p. 38

 

81 Arturo O'Connell: O Retorno da "Vulnerabilidade" e o Pensamento Precoce de Raúl Prebisch sobre o "Ciclo de Negócios Argentino"; in: CEPAL REVIEW 75 (dezembro de 2001), p. 53.

 

82 Arturo O'Connell: O Retorno da "Vulnerabilidade" e o Pensamento Inicial de Raúl Prebisch sobre o "Ciclo de Negócios Argentino", p. 53

 

83 Ver Ernest Mandel: A teoria marxista da acumulação primitiva e da industrialização do terceiro mundo; em: Folgen einer Theorie. Ensaios über 'Das Kapital' von Karl Marx, Frankfurt a.M. 1967, p. 85. Neste contexto, queremos apontar para o papel contraditório de Mandel. Desempenhando um papel central e altamente progressista na liderança da Quarta Internacional durante a Segunda Guerra Mundial e no final, Mandel tornou-se mais tarde o teórico central do maior resultado da divisão da Quarta Internacional após sua degeneração centrista em 1948-51 – chamado de "Secretariado Internacional" e depois de 1963 o "Secretariado Unido da Quarta Internacional". Como nota lateral, observamos que ele teve, sem dúvida, não apenas enormes fracassos políticos, mas também cometeu erros importantes em sua tentativa de desenvolver a teoria econômica marxista. Como exemplos para isso, referimos-se à sua tese (em 1968) de que o "neocapitalismo" foi historicamente "um terceiro estágio no desenvolvimento do capitalismo" após a segunda etapa do capitalismo monopolista ou sua interpretação afirmativa da teoria anti dialética e objetiva das "Longas Ondas". Tornou-se um teórico líder do centrismo, não do marxismo revolucionário. No entanto, é preciso também reconhecer o fato de que ele desenvolveu importantes insights na teoria econômica (e não apenas aqui) que precisam ser integrados ao marxismo. Como teórico, ele era muito superior aos seus concorrentes centristas como Tony Cliff, Ted Grant ou Lambert, que compartilhavam seu mal-entendido centrista do marxismo revolucionário, mas não tinham sua força teórica. Ele era – pode-se dizer – o Kautsky da segunda metade do século XX com todas as suas forças e fraquezas.

 

84 Dieter Boris: Die Verschuldungskrise in der Dritten Welt. Ursachen, Wirkungen, Gegenstrategien; in: Dieter Boris (Hrsg.): Schuldenkrise und Dritte Welt, Köln 1987, p. 22

 

85 Ver Ernest Mandel: Capitalismo Tardio. Londres 1975, p. 346

 

86 Ver Robert Went: Ein Gespenst geht um... Globalisierung! Eine Analysis, Zurique 1997, p. 57

 

87 Helmut Faulwetter: A exploração dos países em desenvolvimento pelo capital monopolista internacional; in: Autorenkollektiv (unter Leitung von Peter Stier): Handbuch Entwicklungsländer. Sozialökonomische Prozesse, Fakten und Strategien, Berlim 1987, p. 15

 

88 Éric Toussaint: Seu Dinheiro ou sua Vida. A Tirania das Finanças Globais; Bruxelas 1999, p. 99

 

89 Nações Unidas: Rumo à Nova Ordem Econômica Internacional. Relatório Analítico sobre Desenvolvimentos no Campo da Cooperação Econômica Internacional desde a Sexta Sessão Especial da Assembleia Geral, A/5-11,5

 

Nova Iorque, 1982, parágrafo 72, p. 14

 

90 Éric Toussaint: Seu Dinheiro ou sua Vida. A Tirania das Finanças Globais; Bruxelas 1999, p. 105

 

91 Helmut Faulwetter: A exploração dos países em desenvolvimento pelo capital monopolista internacional; in: Autorenkollektiv (unter Leitung von Peter Stier): Handbuch Entwicklungsländer. Sozialökonomische Prozesse, Fakten und Strategien, Berlin 1987, p. 17

 

92 Veja Éric Toussaint e Denise Comanne: Globalização Dívida; in: Éric Toussaint & Peter Drucker (editors): IMF/World Bank/WTO: The Free Market Fiasco, IIRE: Notebook for Study and Research No. 24/25, Amsterdam 1995, p. 12

 

93 Carlos Vargas-Silva: índice Internacional global de migrantes: The UK in International Comparison (2011), www.migrationobservatory.ox.ac.uk, p. 5. A terceira região onde os migrantes desempenham um papel importante são os estados produtores de petróleo no Oriente Médio. Já tratamos desse caso específico em outro lugar. Veja, por exemplo Michael Pröbsting: Lutas de libertação e interferência imperialista. O fracasso do “anti-imperialismo” sectário no Ocidente: algumas considerações gerais do ponto de vista marxista e o exemplo da revolução democrática na Líbia em 2011: Liberation struggles and imperialist interference. The failure of sectarian “anti-imperialism” in the West: Some general considerations from the Marxist point of view and the example of the democratic revolution in Libya in 2011, in: Revolutionary Communism, No. 5 (English-language Journal of the RCIT), p. 30, http://www.thecommunists.net/theory/liberation-struggle-and-imperialism; Michael Pröbsting: Die halbe Revolution. Lehren und Perspektiven des arabischen Aufstandes, in: Der Weg des Revolutionären Kommunismus, Theoretisches Journal der Revolutionär-Kommunistischen Organisation zur Befreiung, RKOB), Nr. 8 (2011), p. 14, http://www.thecommunists.net/publications/werk-8

 

94 Ver Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas: Pesquisa Econômica e Social Mundial 2004. Migração Internacional (2004), S. viii e Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, Divisão de População: Tendências em índice de Migrantes Internacionais: The 2008 Revision (2009), p. 1 and 3

 

95 Philip L. Martin: Migração e desenvolvimento: Rumo a soluções sustentáveis (2004), p. 4

 

96 Brian Keeley: Migração Internacional. A face humana da globalização (2009), OCDE, p. 113, http://www.oecd-ilibrary.org/docserver/download/0109111e.pdf?expires=1356794065&id=id&accname=guest&checksum=F14C2DA9A3866C53917E9045E83D6057

 

97 Ver Rainer Münz / Heinz Fassmann: Migrantes na Europa e sua Posição Econômica: Evidências da Pesquisa da Força de Trabalho Europeia e de Outras Fontes (2004), pp. 5-6 e Carlos Vargas-Silva: índice Internacional Global de Migrantes: O Reino Unido em Comparação Internacional (2011), www.migrationobservatory.ox.ac.uk, p. 5

 

98 Rolph van der Hoeven: Tendências dos Mercados de Trabalho, Globalização Financeira e a crise atual nos Países em Desenvolvimento (2010), UN-DESA Working Paper No. 99, p. 11

 

99 McKinsey Global Institute: The World at Work: Jobs, Pay and Skills for 3.5 Billion People (2012), p. 15

 

100 Ver Peter Dicken: Mudança global. Mapeando os contornos mutantes da economia mundial (sexta edição), The Guilford Press, Nova York 2011, p. 496

 

101 Michael Pröbsting: Marxismus, Migração Integração revolucionária (2010); in: Der Weg des Revolutionären Kommunismus, Nr. 7, S. 31-33, http://www.thecommunists.net/publications/werk-7; em inglês: Michael Pröbsting: Marxism, Migration and Revolutionary Integration, in: Revolutionary Communism, No. 1 (English-language Journal of the RCIT), p. 42 http://www.thecommunists.net/oppressed/revolutionary-integration/

 

102 OCDE: Perspectiva Internacional de migração 2010, p. 355

 

103 Ver Éric Toussaint e Denise Comanne: Globalização e dívida; em: Éric Toussaint & Peter Drucker (editores): FMI / Banco Mundial / OMC: O Fiasco do Mercado Livre, IIRE: Caderno para Estudo e Pesquisa No. 24/25, Amsterdam 1995, p. 12

 

104 Helmut Faulwetter: Die Ausbeutung der Entwicklungsländer durch das International Monopolkapital; em: Autorenkollektiv (unter Leitung von Peter Stier): Handbuch Entwicklungsländer. Sozialökonomische Prozesse, Fakten und Strategien, Berlin 1987, p. 17 e 184

 

105 PNUD: Relatório de Desenvolvimento Humano 1992, p. 57

 

106 Banco Mundial: Financiamento de Desenvolvimento Global 2003, p. 168

 

107 Ver Yohannes Woldetensae: Otimizando a fuga de cérebros africana - Estratégias para Mobilizar a Diáspora Intelectual para o Ganho de Cérebro (2007), p. 3

 

108 Organização Internacional para a Migração Mundial. Custos e benefícios da migração internacional (2005), IOM World Migration Report Series Volume 3, p. 173

 

109 Éric Toussaint: Seu dinheiro ou sua vida. A tirania das finanças globais; Bruxelas 1999, pp. 104-

 

110 Philip L. Martin: Migração e desenvolvimento: Rumo a soluções sustentáveis (2004), p. 17

 

111 Organização Internacional para a Migração: Sobre a Migração. Fatos & números (2010), http://www.iom.int/jahia/Jahia/about-migration/facts-and-figures/lang/en

 

112 Emmanuel Boon e Albert Ahenkan: A contribuição socioeconômica dos migrantes africanos para seus países de origem e de acolhimento: o caso dos residentes de Gana na Bélgica, p. 12, http://www.uclouvain.be/cps/ucl/doc/demo/documents/Boon.pdf

 

113 James Petras: Acompanhando os lucros e escapando às dívidas. Imigração Internacional e Acumulação Centrada no Império, 8.8.2006, http://dissidentvoice.org/Aug06/Petras08.htm (ênfase no original)

 

114 Philip Martin: Bordering on Control: Combate à migração irregular na América do Norte e na Europa (2003), International Organization for Migration, p. 6 e 15

 

115 Ver Hans Gmundner: Straches Handlangerdienste, KPÖ, 10.11.07, http://www.kpoe.at/index.php?id=23&tx_ttnews[tt_news]=105&tx_ttnews[backPid]=2&cHash=7fe484e968

 

116 Ver Gudrun Biffl: Die Zuwanderung von Ausländern nach Österreich. Kosten-Nutzen-Überlegungen und Fragen der Sozialtransfers (1997), WIFO, p. 8

 

117 House of Lords (Grã-Bretanha): Relatório - Economic Impact of Migration in UK (2008), p. 22

 

118 Organização Internacional para as Migrações: Migração Mundial. Custos e benefícios da migração internacional (2005), IOM World Migration Report Series Volume 3, p. 170

 

119 Trade Union Congress (Grã-Bretanha): The Economics of Migration. Gerenciando os impactos (2007), pp. 11-12

 

120 Trade Union Congress (Grã-Bretanha): Economia da Migração. Gerenciando os impactos (2007), p. 18

 

121 Lant Pritchett: Deixe seu povo vir: Quebrando o impasse na mobilidade global da mão de obra, Center for Global Development, 2006, p. 4

 

122 Kerry Howley: Acabando com o Apartheid Global. O economista Lant Pritchett defende a imigração, a ideia menos popular - e mais comprovada - para ajudar os pobres do mundo. Reason, fevereiro de 2008, http://reason.com/archives/2008/01/24/ending-global-apartheid/singlepage. Nesta entrevista Pritchett explica abertamente a lógica do imperialismo liberal:

 

“A livre mobilidade da mão de obra é incompatível com o estado de bem-estar se todas as pessoas que estão fisicamente presentes em um local para realizar um serviço econômico entrarem automaticamente no mesmo conjunto de benefícios de bem-estar que um local. Esse não precisa ser o caso.

 

Isso é o que as democracias liberais acham difícil. Mas não é impossível. Você tem que enfrentar a injustiça do mundo e dizer que essa pessoa está melhor, mesmo sem os benefícios da previdência, e que esse processo é bom para o mundo.

 

Motivo: você cria uma divisão entre cidadãos de primeira e segunda classe. Isso não é preocupante?

 

Pritchett: O mundo agora está dividido em cidadãos de primeira classe do mundo e cidadãos de quinta classe do mundo. A ideia de que não ajudaríamos um camponês que tenta ganhar a vida em uma encosta de uma montanha no Nepal, deixando-o trabalhar nos Estados Unidos, só porque temos que, se ele vier para os Estados Unidos, dotá-lo de todos os direitos dos cidadãos americanos - acho que o cálculo moral é retrógrado.

 

Portanto, a primeira resposta é: Milton Friedman está errado. Não é incompatível com um estado de bem-estar; é incompatível com um estado de bem-estar que não diferencia as pessoas em seu território. Cingapura consegue manter um nível extremamente alto de benefícios para seus cidadãos com grande mobilidade. O Kuwait tem uma das maiores populações de imigrantes do mundo, e você não pode pedir um estado de bem-estar social mais completo do que o que o Kuwait oferece aos seus cidadãos. Portanto, é obviamente possível manter qualquer nível de bem-estar social que você deseja e ter qualquer nível de mobilidade de trabalho que você deseja, contanto que você esteja disposto a separar as questões. ”

 

123 Eugen Antalovsky, Herbert Bartik, Alexander Wolffhardt em Zusammenarbeit mit Kenan Güngör: Gesamtfassung des ersten Wiener Diversitätsmonitors 2009, Erstellt im Auftrag der Stadt Wien, MA 17 Integration und Diversität, p. 105

 

124 Sari Pekkala Kerr e William R. Kerr: Impactos Economicos da imigração: Uma pesquisa (2011); Harvard Business School, Working Paper 09-013, p. 43

 

125 The Economist: Migration. Não cruzando continentes, 14.7.2010, http://www.economist.com/blogs/newsbook/2010/07/migration&fsrc=nwl

 

126 Banco Mundial: Global Economic Prospects 2006, Economic Implications of Remittances and Migration, p. 59

 

127 Banco Mundial: Perspectivas Econômicas Globais 2006, p. 26

 

128 Banco Mundial: Perspectivas Econômicas Globais 2006, pp. 44-45

 

129 Banco Mundial: Global Economic Prospects 2006, p. xii

 

130 Ernest Mandel: Capitalismo Tardio. London 1975, pp. 343-346. Uma crítica - basicamente errada - da tese de Mandel sobre a transferência de valor pode ser encontrada em Wolfgang Schoeller: Wertransfer und Unterentwicklung. Bemerkungen zu Aspekten der neueren Diskussion um Weltmarkt, Unterentwicklung und Akkumulation des Kapitals in unterentwickelten Ländern (anhand von E. Mandel, Der Spätkapitalismus), em: Probleme des Klassenkampfes (PROKLA) Nr. 6 (1973)

 

131 Samir Amin: O excedente no capitalismo monopolista e o aluguel imperialista, Volume 64 da revisão mensal, número 3 (julho-agosto de 2012), http://monthlyreview.org/2012/07/01/the-surplus-in-monopoly-capitalism-and-the-imperialist-rent

 

132 Marx lidou com as pré-condições específicas para o desenvolvimento do capitalismo nos Grundrisse, onde apontou vários fatores importantes na Europa Ocidental, como a produção relativamente descentralizada do produto excedente, economia de parcelas, um aparato de estado relativamente fraco em relação a um classe burguesa forte, relativa autonomia das cidades etc.

 

133 Karl Marx: Das Kapital, Band I; em: MEW 23, pp. 374-375; em inglês: Capital, Vol. I; Capítulo 14

 

134 Karl Marx: Das Kapital, Band I; em: MEW 23, p. 779; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. I; Capítulo 31

 

135 Ernest Mandel: Marxistische Wirtschaftstheorie (1962), Frankfurt a.M. 1968, pp. 552-553 (nossa tradução)

 

136 S.N. Beljajewa, E.M. Waschenzewa, I.I. Ermolowitsch, M.M. Koptew, E.I. Korezkaja, W.N. Kuwaldin, W.W. Mestscherjakow (Autorenkollektiv): Politische Ökonomie - Kapitalismus (1970), Berlim 1973, p. 137

 

137 Angus Maddison: The World Economy, Volume 1: A Millennial Perspective, Volume 2: Historical Statistics, Development Center Studies 2006, p. 48

 

138 Roman Rosdolsky: Zur Entstehungsgeschichte des Marxschen ‘Kapitals’. Der Rohentwurf des Kapitals 1857-58, Band II, Frankfurt a. M. 1968, p. 327; em inglês: The Making of Marx’s Capital (tradução nossa)

 

 

 

9. Críticas revisionistas da Teoria Leninista do Imperialismo

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Vamos agora lidar com algumas críticas que foram levantadas por várias correntes centristas contra a Teoria Leninista do Imperialismo. O que essas críticas centristas têm em comum é que negam implicitamente ou explicitamente as contradições fundamentais da época imperialista da qual a super-exploração do mundo semicolonial pelo capital monopolista é uma das principais características. Relacionado a isso está sua ignorância aberta ou oculta da existência da aristocracia trabalhista como uma camada superior do proletariado que é subornado pelos monopólios. O centrismo nega ou ignora essas características essenciais do imperialismo porque o reconhecimento claro destes os obrigaria a lutar abertamente contra todas as correntes políticas, ideológicas e organizacionais relacionadas à aristocracia trabalhista. Também os obrigaria a lutar abertamente contra suas próprias potências imperialistas com todas as consequências, incluindo a incapacidade de defender todas as semicolônias atacadas por sua potência imperialista e consequentemente não pedir a derrota deste último.

 

O centrismo não é capaz de uma posição internacionalista tão consistente. A razão para isso é que ele reflete de uma ou outra forma um ponto de vista de classe pequeno-burguesa. Para ser mais preciso, reflete a pressão da burocracia e da aristocracia trabalhista, assim como da intelectualidade progressista que novamente se adapta à classe capitalista e ao seu Estado. Portanto, eles geralmente ignoram as camadas inferiores e oprimidas do proletariado. Pela mesma razão, eles geralmente negam abertamente ou implicitamente a necessidade de esmagar o Estado capitalista e o caráter violento necessário da revolta armada e da revolução socialista em geral. É por isso que o Partido Bolchevique escreveu em seu Programa de 1919 que "o movimento 'centrista' é também uma distorção burguesa do socialismo". (1)

 

 

 

A Essência do Centrismo

 

 

 

Em uma Carta Aberta em 1920, Lênin explicou a diferença de classe entre o marxismo, que é o bolchevismo, por um lado e o centrismo, que é o menchevismo, por outro lado e, portanto, o dever dos comunistas de romper decisivamente com este último:

 

"“Na verdade, está acontecendo uma luta entre os elementos proletários revolucionários e os elementos pequeno-burgueses oportunistas. Hoje, como no passado, os últimos incluem os Hilferdings, os Dittmauns, os Crispiens, numerosos membros dos grupos parlamentares na Alemanha e na França, etc. Uma luta entre essas duas tendências políticas está em andamento em todos os países, sem exceção. Essa luta tem uma longa história. Cresceu de forma extremamente aguda em toda parte durante a guerra imperialista, e se agravou desde então. O oportunismo é representado por elementos da “aristocracia operária”, a velha burocracia nos sindicatos, sociedades cooperativas, etc., pelas camadas pequeno-burguesas intelectualistas, etc. Sem a eliminação desta tendência - que, por sua vacilação e seu “menchevismo” (os Dittmanns e Crispiens se assemelham totalmente aos nossos mencheviques), de fato, exerce a influência da burguesia sobre o proletariado de dentro do movimento da classe trabalhadora, de dentro dos partidos socialistas - sem a eliminação dessa tendência, uma ruptura com ela, e a expulsão de todos os seus representantes proeminentes, será impossível reunir o proletariado revolucionário.

 

Por sua constante guinada para o reformismo e menchevismo, e sua incapacidade de pensar e agir em termos de revolução, os Dittmanns, os Crispiens, etc., sem perceber o fato, estão na verdade levando a influência burguesa para o proletariado de dentro do partido proletário - eles subordinam o proletariado ao reformismo burguês. Só o rompimento com tais e semelhantes pode levar à unidade internacional do proletariado revolucionário, contra a burguesia e pela derrubada da burguesia." (2)

 

Trotsky, que experimentou as várias formas de centrismo por muito mais tempo, deu em 1929 uma definição abrangente de centrismo. Ele descreveu-a como uma expressão política dos interesses e humores da burocracia trabalhista pequeno-burguesa:

 

"O principal reservatório do oportunismo internacional, ou seja, do colaboracionismo de classe, é a pequena burguesia, como uma classe ampla, amorfa, ou mais corretamente, um acúmulo estratificado de numerosas subclasses que sobraram da produção pré-capitalista ou recém-criadas pelo capitalismo, e formando uma série de degraus sociais entre o proletariado e a burguesia capitalista. (...) O declínio completo da pequena burguesia, sua perda de importância econômica, privou-a para sempre da possibilidade de trabalhar uma representação política independente que pudesse liderar o movimento revolucionário das massas trabalhadoras. Em nossa época, a pequena burguesia oscila entre os polos extremos da ideologia contemporânea: o fascismo e o comunismo. Precisamente essas oscilações dão à política na época imperialista o caráter de uma curva de malária.

 

O colaboracionismo de classe no movimento operário tem uma qualidade mais persistente justamente porque seus proponentes diretos não são os partidos "independentes" da pequena burguesia, mas sim a burocracia trabalhista, que afunda suas raízes profundamente na classe trabalhadora por meio da aristocracia trabalhista.

 

A burocracia trabalhista, por suas condições de existência, está mais próxima da pequena burguesia (oficialismo, profissões liberais, e assim por diante) do que do proletariado. No entanto, constitui um produto específico do movimento da classe trabalhadora; é recrutado de suas fileiras. No aspecto primitivo, tendências e humores colaboracionistas são elaborados por toda a pequena burguesia; mas sua transformação, sua adaptação às peculiaridades, às necessidades e, sobretudo, às fraquezas da classe trabalhadora – essa é a missão específica da burocracia trabalhista. Oportunismo é sua ideologia, e inculca e impõe essa ideologia ao proletariado utilizando a poderosa pressão das ideias e instituições da burguesia, explorando a fraqueza e a imaturidade das massas trabalhadoras. As formas de oportunismo às quais a burocracia trabalhista recorre – colaboracionismo aberto, centrismo ou uma combinação de ambos – depende da tradição política de um país, das relações de classe de um dado momento, do poder ofensivo do comunismo, e assim por diante e assim por diante.

 

Assim como em certas circunstâncias, a luta entre partidos burgueses pode assumir um caráter mais violento e até mesmo sanguinário, mantendo-se uma luta pelos interesses da propriedade de ambos os lados, de modo que a luta entre colaboracionismo aberto e centrismo pode assumir um caráter extremamente violento e até mesmo desesperado em certos momentos, permanecendo dentro dos limites de tendências pequeno burguesas adaptadas pela burocracia trabalhista de diferentes formas para a manutenção de suas posições de liderança na classe trabalhadora." (3)

 

A essência basicamente oportunista do centrismo não a impede de vacilar às vezes para posições radicais e até revolucionárias. Na verdade, essa combinação de adaptação fundamental ao reformismo com vai e volta inconsistentes à esquerda é característica do centrismo. É por isso que Trotsky chegou ao seguinte – como ele chamou – de "definição científica" do centrismo:

 

"Centrismo é o nome aplicado a essa política que é oportunista em substância e que procura aparecer como revolucionário na forma. O oportunismo consiste em uma adaptação passiva à classe dominante e ao seu regime, ao que já existe, incluindo, é claro, os limites do Estado. O centrismo compartilha completamente esse traço fundamental do oportunismo, mas ao adaptar-se aos trabalhadores insatisfeitos, o centrismo o veda por meio de comentários radicais. Se continuarmos com essa definição científica, parecerá que a posição do nosso infeliz crítico é em parte e em todo centrista." (4)

 

Antes de continuar essa caracterização geral do centrismo, incluindo críticas concretas, precisamos empreender uma diferenciação adicional. Dissemos que o centrismo é uma expressão da pequena burguesia. Dado o contexto deste livro, é importante apontar a diferença de a posição de classe entre a pequena burguesia nos países imperialistas e a pequena burguesia nos países semicoloniais. Nos países imperialistas, a moderna pequena burguesia muitas vezes existe na forma da classe média (assalariada ou autônoma). As tendências políticas relacionadas a essas camadas são frequentemente marcadas pela adaptação aos preconceitos da classe dominante nesses países – capitais dos monopólios imperialistas. Portanto, o centrismo no mundo imperialista é frequentemente colorido com manchas de pacifismo, secularismo liberal, ignorância em relação aos estratos inferiores da classe trabalhadora, incluindo migrantes, suavidade em relação ao seu próprio imperialismo e aristocracia trabalhista, etc. O centrismo no mundo semicolonial também se adapta a camadas não proletárias. Mas dada a natureza dos países semicoloniais como nacionalmente oprimidos e super-explorados pelo imperialismo, seu oportunismo pode adaptar-se ao imperialismo (que muitas vezes é canalizado através do entrelaçamento com ONGs ou as seções da burocracia trabalhista que novamente está ligada aos social-imperialistas como os líderes da federação sindical dos EUA AFL-CIO) por um lado. Mas também pode muitas vezes adaptar-se ao nacionalismo burguês e pequeno-burgueses, bem como ao fundamentalismo religioso que é direcionado contra o imperialismo, por outro lado.

 

Vindo de tal análise de classe do centrismo, era óbvio que os clássicos marxistas o definissem como uma corrente "não revolucionária, não marxista" dentro do movimento operário. (5)

 

 

 

Negação do Conceito de Semicolônias

 

 

 

Um dos pilares essenciais da rejeição revisionista da Teoria Leninista do Imperialismo é sua recusa em entender os chamados países do Terceiro Mundo como nações semicoloniais dependentes. De tal forma escreveu o falecido líder do Partido dos Trabalhadores Socialistas- PTS da organização internacional Tendência Socialista Internacional-TSI (em inglês- SWP/IST) Chris Harman:

 

"Falar do Estado como 'semicolonial' ou 'neocolonial' reforça essa percepção equivocada. O imperialismo é um inimigo em qualquer lugar. Mas na maioria das vezes o agente imediato de exploração e opressão é a classe dominante nativa e o estado nacional. Estes colaboram com um ou outro dos imperialismos dominantes e impõem os horrores do sistema mundial à população nativa. Mas eles fazem isso no interesse da classe dominante nativa, bem como de seu aliado imperial, não porque os ricos locais esqueceram temporariamente algum 'interesse nacional' que compartilham com aqueles que exploram." (6)

 

Ele argumenta que, uma vez que as colônias ganharam independência formal do Estado, seria errado chamá-las de "semicoloniais":

 

"Mas em alguns dos casos mais importantes a independência significava realmente independência. Os governos passaram não só a tomar assentos nas Nações Unidas e criar embaixadas em todo o mundo. Eles também intervieram na economia, nacionalizando empresas coloniais, implementando reformas agrárias, embarcando em esquemas de industrialização inspirados na pregação dos teóricos da dependência latino-americana ou, muitas vezes, pela Rússia de Stalin. Tais coisas foram realizadas com diferentes graus de sucesso ou fracasso na Índia, Egito, Síria, Iraque, Argélia, Indonésia, Gana, Guiné Equatorial, Angola, Taiwan e Coreia do Sul, bem como pelos regimes mais radicais da China, Cuba e Vietnã. (...) Chamar regimes como o Egito de Nasser ou a Índia de Nehru de 'neocolonial' ou 'semicolonial' foi uma farsa." (7)

 

Armados com tais argumentos, os líderes do IST afirmam que a teoria do imperialismo de Lênin não é mais relevante para o mundo de hoje:

 

"A própria força da abordagem de Lênin repousa em sua insistência de que as grandes potências ocidentais foram levadas a dividir e re-dividir o mundo entre eles, levando à guerra por um lado e ao domínio colonial direto por outro. Isso dificilmente se encaixava em uma situação em que a possibilidade de guerra entre estados ocidentais parecia cada vez mais remota e as colônias tinham ganhado independência." (8)

 

A mesma linha de argumento é repetida por John Rees, que foi um líder de longa data do SWP/IST e atualmente lidera – juntamente com Lindsey German – o grupo britânico Counterfire:

 

"Desde a Segunda Guerra Mundial, as colônias formais ganharam em grande parte sua independência. Nações oprimidas vieram e se foram, lutaram sua batalha, e se juntaram ao sistema internacional de Estados em fileiras mais ou menos subordinadas. Este processo começou com as colônias americanas na década de 1770 e correu para a libertação da Irlanda e da Índia, entre muitos outros, no século XX. Mas isso não significa que a questão nacional tenha desaparecido — apenas que ela, como o próprio imperialismo, evoluiu novas formas. As classes dominantes locais que tomaram o lugar de seus soberanos coloniais têm muitas vezes lutado para suprimir novas forças nacionalistas dentro de suas, muitas vezes, fronteiras artificiais. Assim foi, por exemplo, que a nova classe dominante indonésia pós-independência lutou para suprimir o timorense oriental. Igualmente, essas novas classes dominantes têm lutado contra a força econômica e militar ainda presente das grandes potências. E isso nos devolve à necessidade, como argumentou Lukács, de avaliar cada luta anti-imperialista do ponto de vista de todo o alinhamento contemporâneo das forças no sistema imperialista." (9)

 

A mesma lógica política é implantada pelo britânico Comitê para o Renascimento Marxista (CRM), seu principal componente, o exilado grupo Tendência Iraniana Dos Marxistas Revolucionários (TIMR). Eles argumentam que a relação entre os estados imperialistas e o Sul mudou fundamentalmente desde os tempos de Lênin e Trotsky sendo assim que seu modelo teórico não seja mais preciso hoje:

 

"Embora estejamos lidando com o mesmo modo de produção e época que o de Lênin e Trotsky, o mundo há muito tempo entrou em um período que incluiu mudanças importantes na relação entre os países imperialistas e aqueles que dominam. Este ponto de vista teórico, portanto, precisa de uma revisão para torná-lo relevante para um mundo modificado." (10) Os autores deste artigo, Maziar Razi e Morad Shirin, explicam a natureza dessa suposta mudança fundamental na relação entre os países imperialistas e semicoloniais:

 

"A posição de Trotsky sobre a guerra entre a Itália fascista e a Etiópia, e as ameaças britânicas contra um Brasil semifascista, são semelhantes à posição de Marx, por exemplo, sobre a Guerra Russo-Turca em 1878. Isso porque as condições não mudaram fundamentalmente entre 1878 e 1935 ou 1938. O ritmo de desenvolvimento durante esses 60 anos não produziu uma mudança qualitativa na estrutura de classes dessas sociedades."

 

Eles afirmam que esta mudança consiste no seguinte:

 

"A principal diferença entre então e agora: Acreditamos que, ao comparar a situação internacional geral em relação à questão nacional e colonial durante o início do século XX com as condições atuais, há uma diferença principal: o Comintern (Internacional Comunista) estava lidando com países dependentes em oposição às nações independentes.

 

Este novo desenvolvimento, por sua vez, teve as seguintes consequências: a burguesia nativa em vez dos governantes europeus chegou ao poder; o aparato estatal burguês nativo e o exército defendem o status quo; o capitalismo tornou-se o modo dominante de produção nas antigas sociedades pré-capitalistas; o crescimento e a importância econômica da classe trabalhadora (em vez de camponeses); crescimento da produção industrial e não agrícola; mudança para a vida urbana e não rural; e por último, mas não menos importante, a luta de classes - especialmente do proletariado - dentro da ex-nação colonial." (11)

 

Todo esse argumento está completamente errado do início ao fim. É claro que é verdade que a maioria das colônias se tornaram estados formalmente independentes. Por isso, a classe trabalhadora do Sul é frequentemente confrontada com capitalistas nativos e um governo nativo atacando-os. No entanto, enquanto para os marxistas este deve ser o ponto de partida para a análise da relação entre o Sul e as potências imperialistas, o pensamento centrista termina com essa descrição superficial.

 

 

 

Lenin e Trotsky tinham conhecimento das semicolônias?

 

 

 

Vamos começar com a estranha suposição dos centristas de que Lênin, Trotsky e o Comintern estavam apenas lidando com colônias. Isso é simplesmente errado e um truque para declarar as posições dos clássicos marxistas como sólidas para o período passado em que viviam, mas como não mais relevantes para o período atual.

 

Na época de Lênin e Trotsky, partes significativas das nações capitalistas menos desenvolvidas não eram colônias, mas semicolônias: estas eram principalmente; quase toda a América Latina, Etiópia, Libéria, Arábia Saudita, Irã, Afeganistão, Tailândia e China. Nesses países, mais de 560 milhões de pessoas viviam em 1913, o que constituía 31,3% da população mundial na época. (12)

 

Embora sejam fatos históricos que dificilmente podem ser negados, poderia ser o caso de Lênin e Trotsky não saberem sobre eles? É claro que este não era o caso e, na verdade, eles lidaram repetidamente com o caso dos países semicoloniais. Mostramos isso com uma série de citações no Capítulo 1 em "Os países semicoloniais: uma forma modificada de subjugação imperialista ou estados capitalistas independentes?" Também o próprio Lênin se referiu à parcela significativa dos países semicoloniais da população mundial. (13) Voltemos a este assunto mais uma vez.

 

Em seu quarto congresso, a Internacional Comunista discutiu, em sua "Teses sobre a Questão Oriental", a questão da luta nas colônias e semicolônias extensivamente e desenvolveu extensivamente a tática anti-imperialista da frente única. Em clara contradição com as falsas reivindicações dos camaradas iranianos do TIMR e outros, o Comintern integrou explicitamente os países semicoloniais na questão geral da luta da parte do mundo que é oprimida e explorada pelas potências imperialistas. Vamos dar apenas alguns exemplos:

 

"Desde então, a luta contra a opressão imperialista nos países coloniais e semicoloniais tornou-se muito mais aguda como resultado de uma intensificação na crise política e econômica pós-guerra do imperialismo." (14)

 

Ao contrário daqueles como a tradição de Tony Cliff da Tendência Socialista Internacional-TSI (em inglês IST) que afirmam que o imperialismo não facilitou o desenvolvimento capitalista, o Comintern já reconheceu isso em 1922:

 

"Precisamente esse enfraquecimento da pressão imperialista sobre as colônias, juntamente com a intensificação constante da rivalidade entre os vários grupos imperialistas, tem facilitado o desenvolvimento do capitalismo nativo nos países coloniais e semicoloniais; ele superou os limites estreitos e restritos do governo imperialista das Grandes Potências, e este processo continua." (15)

 

O Comintern – novamente contra as falsas alegações de suas críticas revisionistas hoje – reconheceu claramente a existência de uma classe trabalhadora nos países coloniais e semicoloniais e a colocou no centro de sua estratégia:

 

"Os partidos comunistas dos países coloniais e semicoloniais têm uma dupla tarefa: lutam pela solução mais radical possível das tarefas de uma revolução burguesa-democrática, que visa a conquista da independência política; e organizam as massas trabalhadoras e camponesas para a luta por seus interesses de classe especial, e ao fazê-lo exploram todas as contradições no campo nacionalista burguês-democrático. Ao apresentar demandas sociais, eles liberam a energia revolucionária para a qual as demandas burguesas-liberais não fornecem saída, e estimulam-na ainda mais. A classe trabalhadora das colônias e das semi-colônias deve aprender que somente a extensão e intensificação da luta contra o jugo imperialista das grandes Potências garantirá para eles o papel da liderança revolucionária, enquanto, por outro lado, apenas a organização econômica e política e a educação política da classe trabalhadora e os estratos semi-proletários da população podem ampliar a onda revolucionária da luta contra o imperialismo." (16)

 

Trotsky, que sobreviveu a Lênin por 16 anos – uma época em que uma série de lutas anti-imperialistas no Sul ocorreram – tratou repetidamente das questões das semicolônias. O que é óbvio em seus escritos é sua compreensão de que os países semicoloniais compartilham a mesma essência das colônias – ou seja, suas características de classe como países super-explorados e oprimidos pelos Estados imperialistas:

 

"Quanto às colônias, hesitaria em dizer qual delas é mais típica como colônia: esta seria a Índia, uma colônia no sentido formal, ou a China que preserva a aparência da independência ainda em sua posição mundial e o curso de seu desenvolvimento pertence ao tipo colonial. O capitalismo clássico está na Grã-Bretanha. Marx escreveu sua capital em Londres observando diretamente o desenvolvimento do país mais avançado — você saberá disso, embora eu não me lembre em que ano você cobre isso em... Nas colônias, o capitalismo não se desenvolve fora de seus próprios fragmentos, mas como uma intrusão do capital estrangeiro. Isso é o que cria os dois tipos diferentes." (17)

 

Trotsky expressou o mesmo pensamento quando falou em 1938 sobre a América Latina como uma quase-colônia dos Estados Unidos:

 

"Os EUA não têm colônias diretas, mas eles têm a América Latina e o mundo inteiro é uma espécie de colônia para os Estados Unidos..." (18)

 

É claro que a mesma essência não deve nos levar a ignorar as enormes diferenças entre as várias formas de países coloniais e semicoloniais, como explicou Trotsky:

 

"Os países coloniais e semicoloniais – e, portanto, atrasados – países, que abraçam de longe a maior parte da humanidade, diferem extraordinariamente uns dos outros em seu grau de atraso, representando uma escada histórica que vai do nômade, e até mesmo o canibalismo, até a cultura industrial mais moderna. A combinação de extremos em um grau ou outro caracteriza todos os países atrasados. No entanto, a hierarquia do atraso, se pode empregar tal expressão, é determinada pelo peso específico dos elementos da barbárie e da cultura na vida de cada país colonial. A África Equatorial fica muito atrás da Argélia, Paraguai atrás do México, Abissínia atrás da Índia ou da China. Com sua dependência econômica comum da metrópole imperialista, sua dependência política carrega em alguns casos o caráter da escravidão colonial aberta (Índia, África Equatorial), enquanto em outros é ocultada pela ficção da independência do Estado (China, América Latina)." (19)

 

Então vemos que Trotsky estava plenamente ciente da existência de países semicoloniais. Mas, em oposição às suas críticas revisionistas de hoje, ele entendeu que esses tipos de países são essencialmente uma forma ou uma variação de colônias exploradas e oprimidas pelo imperialismo.

 

 

 

Quando começou a Época do Imperialismo?

 

 

 

Antes de continuarmos este argumento, queremos salientar brevemente que há uma certa tendência entre alguns centristas de confundir a data do início da época imperialista. Como vimos na citação dos camaradas do TIMR Maziar Razi e Morad Shirin eles falam sobre o período 1878-1938 como sendo único e o mesmo: "Isso é porque as condições não mudaram fundamentalmente entre 1878 e 1935 ou 1938. O ritmo de desenvolvimento durante esses 60 anos não produziu uma mudança qualitativa na estrutura de classes dessas sociedades." (20)

 

Um erro semelhante pode ser visto nos escritos do SWP/IST de Tony Cliff. Seu principal teórico Alex Callinicos desenvolve uma nova compreensão da época imperialista e a classifica no "Imperialismo Clássico, 1875-1945" e "Imperialismo Superpoderoso, 1945-1990". (21)

 

Como é bem conhecido, Lênin e todos os comunistas desde então dataram o início da época imperialista até o final do século XIX e início do século XX.

 

"O imperialismo, como o estágio mais alto do capitalismo na América e na Europa, e mais tarde na Ásia, tomou forma final no período 1898-1914. A Guerra Hispano-Americana (1898), a Guerra Anglo-Boer (1899-1902), a Guerra Russo-Japonesa (1904-05) e a crise econômica na Europa em 1900 são os principais marcos históricos na nova era da história mundial." (22)

 

Esta avaliação diferente do início da época imperialista não é uma questão pedante sobre datas exatas, mas reflete uma compreensão diferente de quais são as principais características desta época. Embora, é claro, o SWP/IST de Cliff, bem como o TIMR prestam serviço labial a uma definição da época imperialista como um de monopolização, na realidade eles – consciente ou inconscientemente – veem a forma de dominação colonial como a principal característica usada para diferenciar diferentes épocas. Para esses revisionistas, a questão das colônias formais ou dos países dependentes é a questão essencial então datam o início da época imperialista no momento em que as Grandes Potências lutam para colonizar o mundo inteiro de forma dramaticamente acelerada (por volta de 1875). Quando a maior parte do Sul se livrou da dominação colonial e tornou-se formalmente independente, mas permaneceram semicolônias (ou seja, após a Segunda Guerra Mundial), os centristas datam de um novo período – na verdade uma espécie de nova época.

 

Para nós, por outro lado, a característica decisiva da época imperialista é a o comando dos monopólios que resulta na super-exploração e opressão do mundo semicolonial (seja qual for a forma concreta). Foi assim que Lênin e Trotsky viram, como mostramos com inúmeras citações neste livro.

 

 

 

"Às vezes, a criação de Estados 'independentes' leva a um fortalecimento do imperialismo." (Lênin)

 

 

 

Isso significa que nada mudou desde a Segunda Guerra Mundial? Não, é claro que houve mudanças tremendas; as lutas de libertação nacional nas colônias que levaram à independência formal e à transformação em status semicolonial, industrialização maciça, o fortalecimento tanto da classe trabalhadora no Sul quanto da burguesia nativa – para citar alguns dos mais importantes. Mas os revisionistas concluem erroneamente que a essência da relação entre os países ricos, imperialistas e mais pobres, semicoloniais mudou.

 

Eles não entendem que o capitalismo em geral se transformou enormemente no século passado. Cem anos atrás, a classe trabalhadora teve que lutar em quase todos os lugares da Europa por demandas democráticas fundamentais, como o direito universal ao voto, à assembleia etc. Hoje, estes existem para a maioria dos trabalhadores (exceto para muitos migrantes). Cem anos atrás, a classe trabalhadora teve que lutar em quase todos os lugares da Europa por seu próprio apartamento ou casa. Eles nem podiam sonhar com seu próprio carro. Hoje muitos trabalhadores (embora não todos!) possuem tal nos países imperialistas. Embora nenhum trabalhador tivesse telefone naquela época, hoje até mesmo um número de trabalhadores nos países mais pobres possui um telefone celular.

 

É um argumento liberal clássico com o qual todos os lutadores de classe estão muito familiarizados: os liberais argumentam que as mudanças supostamente demonstrariam que o marxismo poderia ter sido justificado há 100 anos, mas não corresponde à realidade de hoje. "A classe trabalhadora" – diz o mito liberal – "não existe mais". Ou, como dizem outros liberais, a classe trabalhadora é apenas o trabalhador industrial e, portanto, está diminuindo em importância no mundo imperialista.

 

Todos os marxistas, naturalmente, argumentam contra isso, que essas mudanças – certamente não devem ser ignoradas – não mudaram a substância da exploração capitalista da classe trabalhadora, mas apenas sua forma. Karl Marx afirmou uma vez em Capital Vol.1, que é preciso olhar cientificamente por trás da aparência exterior para reconhecer a verdadeira essência: "Mas toda a ciência seria supérflua se a aparência externa e a essência das coisas coincidissem diretamente." (23)

 

Com ou sem carro ou celular, com roupas sujas de trabalho ou um uniforme de escritório bem vestido – os trabalhadores recebem apenas uma parte de suas horas de trabalho e o resto é apropriado como mão-de-obra excedente pelos capitalistas e transformado em lucro. Com ou sem direito a voto, o sistema político é dominado pelos monopólios e a classe trabalhadora ainda é a classe explorada e oprimida no sistema burguês-parlamentar.

 

Tomemos outro exemplo: houve e ainda é uma diferença importante entre um pequeno negócio de artesanato que consiste em 5 trabalhadores por um lado e, por outro lado, uma grande empresa moderna com robôs e computadores de alta tecnologia e uma enorme força de trabalho. É óbvio que as formas de criação de valor e de exploração são muito diferentes nesses dois casos, mas ambas compartilham a característica fundamentalmente essencial – a exploração capitalista dos trabalhadores. Como dissemos, isso não significa que as mudanças de forma e aparência devem ser ignoradas, uma vez que a forma e a essência estão relacionadas. De fato – como observou o principal filósofo soviético na década de 1920, Abraham Deborin – "a 'Essência' inclui o 'Insubstancial' e contém a relação com o outro, ou seja, sua correlação interior". (24) No entanto, essa relação tem que ser colocada no contexto certo ou, digamos , que seja mais definida sua hierarquia interna.

 

Certamente, o SWP/IST, o TIMR e os camaradas de pensamento semelhante concordarão com tais argumentos contra o absurdo liberal "A classe trabalhadora e o marxismo estão mortos". Mas, inconscientemente, eles repetem a mesma lógica liberal e pequeno-burguesa quando afirmam que a relação entre o Norte imperialista e o Sul semicolonial mudou fundamentalmente, mudou a tal ponto que este último não pode ser defendido contra os imperialistas, mudou a tal ponto que vários países do Sul se tornaram "sub-imperialistas" e assim por diante.

 

Mas como mostramos neste livro com muitos exemplos, isso não é verdade. Os imperialistas ainda super-exploram o mundo semicolonial. Também mostramos acima que Lênin e Trotsky consideraram a super-exploração imperialista das colônias, bem como das semicolônias como essencialmente da mesma natureza. Lênin comentou uma vez em uma nota ao livro de Bukharin, Economia do Período de Transformação: "Às vezes, a criação de estados 'independentes' leva a um fortalecimento do imperialismo". (25)

 

Em seu Rascunho de Teses sobre Questões Nacionais e Coloniais para o Segundo Congresso da Internacional Comunista, Lênin alertou particularmente contra a ilusão de que os países semicoloniais poderiam ganhar qualquer coisa como independência real enquanto o imperialista continuasse a existir:

 

"... a necessidade de explicar e expor constantemente entre as massas mais amplas de todos os países, e particularmente dos países atrasados, o engano sistematicamente praticado pelas potências imperialistas, que, sob o pretexto de Estados politicamente independentes, criaram estados totalmente dependentes deles economicamente, financeiramente e militarmente. Nas condições internacionais atuais, não há salvação para nações dependentes e fracas, exceto em uma união de repúblicas soviéticas." (26)

 

Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma série de lutas de libertação nacional que conseguiram expulsar as potências coloniais como Grã-Bretanha, França, Bélgica ou Países Baixos. Essas lutas, é claro, mereciam a total e incondicional solidariedade do movimento internacional da classe trabalhadora. No entanto, essas lutas de libertação nacional não foram concluídas. Dadas as lideranças burguesas e pequeno-burguesas dessas lutas anti-coloniais, esses novos estados permaneceram capitalistas e, portanto, permaneceram presos na economia mundial imperialista. Ao mesmo tempo, os EUA tornaram-se o líder indiscutível de potência imperialista. Tradicionalmente os E.U.A possuíam menos colônias pois que é um estado imperialista que chegou como uma potência mundial depois que o mundo já estava dividido entre os impérios coloniais. Portanto, uma transformação ocorreu do domínio direto das antigas potências coloniais para o governo indireto da nova potência colonial – o imperialismo dos EUA. De fato, desta forma o imperialismo foi fortalecido.

 

 

 

Países atrasados sem Indústria e sem Proletariado?

 

 

 

Os centristas justificam sua crítica pela suposição de que nos tempos de Lênin e Trotsky quase não existia qualquer industrialização dos países coloniais e semicoloniais e, portanto, quase nenhum proletariado existia. Como isso é diferente hoje, por isso o argumento deles vai no sentido de que não podemos aplicar a teoria leninista do imperialismo nas condições atuais. Então, por exemplo, os camaradas do TIMR escrevem:

 

"Trotsky estava lidando com países capitalistas pré-capitalistas ou muito fracos, sem movimento significativo da classe trabalhadora - ao lidar com o Brasil ele menciona o proletariado britânico, mas não o brasileiro. Mas tal posição poderia ser tomada agora, se digamos um poder imperialista ameaçasse o Brasil por alguma razão? Os marxistas poderiam ignorar o fato de que nos últimos 70 anos o capitalismo brasileiro cresceu aos trancos e barrancos? Que houve um enorme crescimento na diferenciação de classes e desigualdades sociais entre essas classes? Que a classe trabalhadora esteve envolvida em muitas lutas e amadureceu ao nível que experimentou tanto um governo reformista trabalhista quanto um conselho de fábrica? Que muitas outras seções da sociedade, como os negros, também desenvolveram importantes movimentos de massa?" (27)

 

Na verdade, Lênin e Trotsky estavam, naturalmente, plenamente cientes do processo contínuo de industrialização do mundo (semicolonial) e da formação de um proletariado local. Trotsky observou que após a Segunda Guerra Mundial um fluxo massivo de exportação de capital ocorreu para o Sul:

 

"Os Estados Unidos acumularam uma quantidade inacreditável de ouro: nos cofres do Banco Central há ouro mantido no valor de 3.000 milhões de dólares, ou seja, 6.000m de rublos de ouro. Isso inunda a economia dos Estados Unidos. Se você perguntar: a quem a Grã-Bretanha e os Estados Unidos dão empréstimos?— pois como você provavelmente já ouviu dizer que eles ainda não estão dando empréstimos para nós, a União Soviética, nem eles os dão para a Alemanha, eles deram à França algumas migalhas miseráveis para salvar o franco — então a quem eles os dão? Na maioria das vezes, eles os dão aos países coloniais; eles vão financiar o desenvolvimento industrial da Ásia, América do Sul e África do Sul. Não lhes darei números: eu tenho alguns, mas isso arrastaria demais o meu relatório, mas é suficiente dizer que até a última guerra imperialista os países coloniais e semicoloniais receberam dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha provavelmente cerca de metade dos créditos como fizeram os países capitalistas desenvolvidos, mas agora os investimentos financeiros nos países coloniais excedem , e excedem consideravelmente os investimentos nos antigos países capitalistas. Por que isso? As causas são muitas, mas as principais são duas: falta de confiança na velha Europa, arruinada e branca, com esse militarismo francês furioso em seu coração — um militarismo que ameaça sempre novas revoltas; e, por outro lado, a necessidade dos países coloniais como fontes de matérias-primas e como clientes para as máquinas e produtos manufaturados da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. Durante a guerra observamos e observamos agora a industrialização de cabeça dos países coloniais, semicoloniais e dos países atrasados em geral: Japão, Índia, América do Sul, África do Sul e assim por diante." (28)

 

Contra a noção da TIMR de que o Comintern lidava com países que não tinham trabalhadores, Lênin observou já em 1916 que uma classe trabalhadora existia na maioria dos países oprimidos:

 

"As nações coloniais e semicoloniais, dissemos, representam 1.000 milhões de pessoas, e P. Kievsky não se deu ao trabalho de refutar essa declaração concreta. Destes 1.000 milhões, mais de 700 milhões (China, Índia, Pérsia, Egito) vivem em países onde há trabalhadores. Mas mesmo no que diz respeito aos países coloniais onde não há trabalhadores, apenas donos de escravos e escravos, etc., a demanda por "autodeterminação", longe de ser absurda, é obrigatória para todos os marxistas. E se ele pensasse um pouco no assunto, Kievsky provavelmente perceberia isso, e também que a "autodeterminação" é sempre avançada "para" duas nações: as oprimidas e as oprimidas." (29)

 

Agora vamos olhar para os fatos. É errado apresentar o mundo semicolonial no tempo de Lênin e Trotsky como um mundo sem proletariado. É verdade que havia regiões com quase nenhuma industrialização. É, naturalmente, também verdade que os países imperialistas foram muito mais avançados em seu desenvolvimento capitalista do que os países do Sul. Mas regiões importantes já tinham um certo grau de indústria e um proletariado doméstico. No Egito, a manufatura e a construção representaram 10,8% do PIB (1907), na Índia 14,6% (1886) e no Sri Lanka 14% (1881). (30) No início do século XX, o setor industrial contribuiu com 18% na Argentina para o produto interno. No México, a participação foi de 14%. (31) Nas décadas de 1920 e 1930, a produção industrial representou uma pequena, mas significativa parte da produção total na América Latina (ver Tabela 46).

 

 

 

Tabela 46 Evolução da Industrialização em países selecionados da América Latina, 1929-1957 (produção industrial como % do PIB) (32)

 

 

 

 

 

Esse nível de desenvolvimento industrial tinha certas semelhanças com o grau de desenvolvimento capitalista nos estados semicoloniais do Leste Europeu. Em 1930, o emprego industrial como parte do emprego total era de 17% (Polônia), 11% (Iugoslávia), 9% (Romênia) ou 8% (Bulgária). (33)

 

Embora vários centristas neguem ou minimizem o grau de desenvolvimento capitalista e a proletarização e também a importância dos Estados semicoloniais nos tempos de Lênin e Trotsky, eles tendem a negar ou minimizar o caráter de classe de opressão e super-exploração dos países semicoloniais pelo imperialismo desde a Segunda Guerra Mundial. Assim, apresentam a relação entre os países imperialistas e semicolônias como uma de desigualdade, desenvolvimento diferente, até mesmo um que é influenciado pelo "neocolonialismo". Mas por isso, eles permanecem na superfície e não olham para as características mais profundas e essenciais dessa relação. Na verdade, eles negam ou ignoram o caráter sistemático da opressão e da super-exploração que toma a forma de antagonismo de classe entre a burguesia imperialista de um lado e o proletariado e o semiproletário, as lutas das massas (dos camponeses pobres, dos pobres urbanos) do outro lado. Neste antagonismo de classe, a burguesia semicolonial é até certo ponto oprimida também, uma vez que é forçada a entregar uma parte do valor excedente produzido em seu país para a capital imperialista e é substancialmente limitada em suas decisões políticas independentes como um Estado pelos ditames das Grandes Potências e suas instituições internacionais como o FMI , Banco Mundial, OMC etc. É por isso que Trotsky falou sobre a burguesia colonial e semicolonial como uma "classe semi-dominante e semi-oprimida". Esta é a razão pela qual às vezes entra em um conflito temporário com poderes imperialistas. No entanto, é incapaz de tomar uma posição consistente contra o imperialismo. Muito pelo contrário! Uma posição consistente contra o imperialismo exigiria uma ruptura com o imperialismo. Mas sem o sistema capitalista mundial – que é e só pode existir de forma imperialista – a burguesia semicolonial perderia sua base econômica. Portanto, a burguesia semicolonial não tem escolha então a não ser se subordinar às potências imperialistas que – como dissemos – não excluem confrontos curtos e temporários entre os dois.

 

Centristas como Maziar Razi e Morad Shirin do TIMR iraniano ou os líderes das correntes Tendência Socialista Internacional-TSI (em inglês IST) e Do Comitê Por uma Internacional dos Trabalhadores-CIT (em inglês Committee for a Workers' International-CWI), no entanto, acreditam que tal antagonismo de classe entre os países imperialistas e semicoloniais não existe ou não possui uma importância central. Em vez disso, a burguesia semicolonial é reduzida a ser apenas um agente nativo do imperialismo ou um aproveitador da super-exploração imperialista. Damos alguns exemplos para mostrar essa remoção não dialética do antagonismo de classe entre os estados imperialistas e as semicolônias. Assim, o TIMR escreve:

 

"A independência política que remove o principal obstáculo ao desenvolvimento capitalista - a dominação colonial - sempre foi, portanto, o principal objetivo político da burguesia desses países. Uma vez que a burguesia estava no poder, no entanto, sua principal razão para ser contra o imperialismo desapareceu (embora em vários casos isso seja apenas independência formal). Assim, enquanto a 'burguesia nacional' se opunha à administração colonial, agora não se opõe fundamentalmente à dominação econômica do país pelo imperialismo." (34)

 

Os conflitos entre o imperialista e a burguesia semicolonial – que são tão óbvios que os centristas não podem negar esses fatos – são reduzidos tão superficialmente "explicados" como brigas entre "ladrões de todos os tamanhos":

 

"Esta 'burguesia nacional', que em muitos aspectos é cliente da burguesia dos países imperialistas, no entanto, tem seus próprios interesses que podem entrar em conflito com os imperialistas. Mas enquanto houver super-lucros, então há o suficiente para ladrões de todos os tamanhos. (35)

 

Essa formulação "desleixada" retira a diferença de classe entre o imperialista e a burguesia semicolonial e, com isso, remove a diferença entre um conflito envolvendo um estado imperialista e um estado semicolonial e um conflito entre dois Estados imperialistas. Esta é a "vantagem" de tal formulação revisionista de um conflito entre "ladrões de todos os tamanhos" que abre a porta para a traição da necessária defesa das semicolônias contra os verdadeiros chefes gângsteres – os poderes imperialistas.

 

De fato, o TIMR acredita que a posição contraditória da burguesia semicolonial – expressa na formulação de Trotsky sobre a "classe semi-dominante, semi-oprimida" – não tem validade hoje. Eles preferem afirmar que a burguesia semicolonial é uma classe dominante semelhante às classes dominantes imperialistas: "a partir do momento em que a “burguesia nacional' chega ao poder, torna-se a classe dominante." (36)

 

Daí que a luta pela verdadeira independência do imperialismo é declarada uma "questão irrelevante":

 

"Quanto à 'luta de uma nação subdesenvolvida pela independência contra o imperialismo', isso é, historicamente falando, em grande parte irrelevante." (37)

 

Para ajudar essa traição, uma diferenciação errada entre a burguesia colonial e a burguesia semicolonial é introduzida. Enquanto a burguesia colonial era – segundo os camaradas do TIMR – "fundamentalmente oposta à dominação econômica do país pelo imperialismo", a burguesia semicolonial não é mais assim. Isso é, é claro, errado. Sim, há certas diferenças, mas fundamentalmente a burguesia colonial também não se opôs "fundamentalmente à dominação econômica do país pelo imperialismo". É por isso que não teve nenhuma luta consistente, mas buscou um acordo com os governantes coloniais. Isso já foi reconhecido pelo Comintern:

 

"É por isso que as classes dominantes entre os povos coloniais e semicoloniais são incapazes e não estão dispostas a liderar a luta contra o imperialismo na medida em que essa luta assume a forma de um movimento de massa revolucionário." (38)

 

A estreita ligação entre negar o caráter semicolonial dos países do Sul em um nível teórico e a traição do dever internacionalista de defender as semicolônias em uma guerra contra as forças imperialistas na prática torna-se óbvia no exemplo do CIT/CWI, cuja seção histórica e centro internacional sempre esteve na Grã-Bretanha.

 

 

 

O CWI e a Argentina "imperialista"

 

 

 

Pegando como exemplo a Argentina, em que o CWI não foi capaz de sair em defesa na guerra contra o imperialismo britânico na questão das Malvinas em 1982, esses centristas demonstram o quão rápido o descarte da teoria leninista do imperialismo leva à confusão teórica e na prática à deserção. Assim, em vez de afirmar claramente o caráter de classe (imperialista) da Grã-Bretanha e o caráter de classe (semicolonial) da Argentina, o CWI substitui as categorias marxistas por categorias confusas e "senso comum" (Deus nos salve do pragmatismo anglo-saxão!) e "caracterize" ambos os países como "duas potências de segunda ou terceira divisão":

 

"Vinte anos atrás, em 1982, a guerra do imperialismo britânico com a Argentina sobre as ilhas Malvinas/Malvinas explodiu como uma tempestade repentina. Esta pequena guerra entre dois poderes de segunda ou terceira divisão, cinicamente descrita como "dois homens carecas lutando por um pente", durou apenas dez semanas." (39)

 

Em outro documento, o líder central do CWI, Peter Taaffe, chegou a afirmar que a própria Argentina é um pouco "imperialista":

 

"Este foi o programa defendido por nós na época do conflito Malvinas/Malvinas. Este não foi um conflito clássico entre um poder imperialista e uma "colônia" na qual os marxistas foram chamados a apoiar "criticamente" este último. A Argentina era um poder capitalista relativamente desenvolvido. Não era um regime feudal ou semifeudal no qual a revolução burguesa-democrática precisava ser concluída (além de libertar a Argentina do vício econômico do imperialismo dos EUA e do mercado mundial, que é uma tarefa socialista). Foi ele próprio "imperialista" para outros países da América Latina – exportando capital e explorando-os – além de ser "explorado" pelas principais potências imperialistas. Além disso, tinha uma estrutura capitalista mais desenvolvida do que a Rússia antes de 1917, por exemplo. Este último, segundo Lênin e Trotsky, era tanto uma "semi-colônia" do imperialismo anglo-francês e, ao mesmo tempo, um opressor "imperialista" dos 57% da população do Império Czarista que não eram russos. Lênin e os bolcheviques nunca apoiaram a Rússia, uma "semi-colônia", nas guerras contra o Japão em 1905, por exemplo, ou o imperialismo alemão na Primeira Guerra Mundial." (40)

 

Quase nenhuma frase disso faz sentido. Primeiro refutamos brevemente a afirmação de que Lênin e Trotsky viam a Rússia como uma semicolônia. O CWI espera que seus leitores desconheçam que os bolcheviques claramente caracterizaram a Rússia sob o czar como um Estado imperialista – não como uma semicolônia. Sim, havia um elemento de uma relação semicolonial em relação ao capital financeiro francês, mas este era um aspecto subordinado. É por isso que os bolcheviques foram claros em sua caracterização da Rússia como imperialista. Em seu órgão teórico durante a Primeira Guerra Mundial, os bolcheviques reconheceram que "o imperialismo russo difere do imperialismo europeu ocidental em muitos aspectos. Não é um imperialismo do último estágio do desenvolvimento capitalista. A Rússia é um país que importa capital, que é objeto de países exportadores de capital. O imperialismo russo é um imperialismo feudal e militarista. (...) Não há imperialismo mais bruto, mais bárbaro e sangrento do que o imperialismo russo." (41)

 

Trotsky mais tarde enfatizou explicitamente a diferença entre uma burguesia semicolonial como a da China e a burguesia imperialista como a da Rússia antes de 1917:

 

"A burguesia russa era a burguesia de um estado imperialista opressor; a burguesia chinesa, uma burguesia de um país colonial oprimido." (42)

 

Foi a burocracia de Stalin que por algum tempo espalhou o absurdo de que a Rússia antes de 1917 era uma "semicolônia", mas mesmo eles tiveram que desistir dessa bobagem ridícula depois de algum tempo. O CWI, no entanto, deseja reviver o que para os marxistas não é nada além de um exemplo embaraçoso de strip-tease intelectual.

 

Dificilmente precisa de elaboração por que a Argentina nunca pode ser comparada com a Rússia imperialista, que no final do século XIX e início do século XX foi uma das maiores potências da Europa e do mundo.

 

Juntar a Grã-Bretanha e a Argentina como essencialmente ambas «potências capitalistas de segunda ou terceira divisão" serve como pretexto para a deserção do CWI na luta de classes, mas é um tapa na face da realidade. Vamos comparar brevemente a força econômica, política e militar desses dois "poderes de segunda ou terceira divisão": em 2003, quando o CWI escreveu tal absurdo, a Grã-Bretanha tinha 77 das maiores 1000 corporações do mundo. A Argentina tinha... Nenhum. (43) O PIB argentino por cabeça foi de 5.150 dólares - o equivalente a 1/8 da Grã-Bretanha. (44) A Grã-Bretanha é uma das cinco potências de veto nas Nações Unidas e possui um exército significativo com aproximadamente 225 armas nucleares e o quarto maior orçamento militar mundial. (45) A Argentina, por outro lado, não tem influência significativa na economia mundial e na política mundial. Portanto, vemos que há um abismo entre o poder econômico, político e militar da Grã-Bretanha e da Argentina. Qualquer falha em reconhecer isso é estupidez criminosa para justificar uma deserção pequeno-burguesa da luta de classes quando é mais urgentemente e necessária – no caso de uma guerra imperialista.

 

A próxima citação da liderança do CWI nos mostra outra forma de distorção da teoria marxista do imperialismo:

 

"No entanto, no período passado de ascensão econômica mundial, o capitalismo argentino desenvolveu uma base semi-industrializada própria. É ridículo retratar o capitalismo argentino como um capitalismo completamente dependente, "comprador", dominado pelos agentes do capital estrangeiro. Esta é a análise oferecida por algumas das seitas na tentativa de justificar seu apoio à Junta.

 

Algumas estatísticas cruciais revelam o absurdo dessa posição. Em 1979, a indústria representava 45% do PIB, contra 13% para a agricultura (e 42% para serviços). Os produtos manufaturados, é verdade, representam apenas 22,7% das exportações do país, contra 65,5% para alimentos e agricultura, refletindo assim a fraqueza da indústria argentina nos mercados mundiais. Mas a população urbana agora representa mais de 82% da população total. Vinte e nove por cento da população ativa trabalha na indústria, em comparação com apenas 14% na agricultura (57% trabalham no enorme setor de serviços). Em outras palavras, a Argentina, apesar de sua contínua subserviência neocolonialista aos grandes negócios americanos, da Europa Ocidental e dos japoneses, no entanto tem todas as características de uma economia capitalista semi-industrializada.

 

Se houvesse uma população argentina nas Ilhas, sujeita ao domínio britânico contra sua vontade, a situação seria diferente. Então pode haver um caso para a "libertação nacional" das Ilhas. Mas este não é o caso. Além de um ou dois argentinos casados com islandeses, não há argentinos nas Ilhas há 150 anos." (46)

 

O último parágrafo é, obviamente, uma forma particularmente vulgar de adaptação ao imperialismo britânico. Desde que o império colonial britânico conseguiu impedir a Argentina por mais de 150 anos de ter as ilhas em frente à sua costa sob seu controle e desde que a Grã-Bretanha conseguiu enviar alguns colonos para essas ilhas, a Argentina – de acordo com os chauvinistas sociais do CWI – perdeu seus direitos nacionais em um território que está em frente à sua costa, mas a mais de 12.700 quilômetros de distância da Grã-Bretanha. Isto não é nada além de uma justificativa para as conquistas de séculos de colonialismo ocidental!

 

No entanto, a citação representa um bom exemplo das confusões típicas. O CWI diz que "é ridículo retratar o capitalismo argentino como um capitalismo completamente dependente, 'comprador', dominado pelos agentes do capital estrangeiro". Trata-se de um exagero e confusão deliberados, já que ninguém afirma que é "completamente dependente". Esta é a natureza das semicolônias; caso contrário, seriam apenas colônias.

 

 

 

O Exemplo da Argentina

 

 

 

Também não faz sentido argumentar que a Argentina é uma "economia capitalista semi-industrializada". E daí? O mundo inteiro está se industrializando como resultado do desenvolvimento das forças produtivas. Mas isso não remove a relação de super-exploração pelos monopólios imperialistas. De fato, como mostramos acima quanto mais o mundo semicolonial industrializa, mais valor excedente é criado nesses países e mais lucros extras podem ser, e de fato são apropriados pelos monopólios imperialistas. A Argentina é um exemplo disso. Um terço do seu setor bancário é controlado por estrangeiros. Sua economia tem sido tradicionalmente dominada por corporações multinacionais dos países imperialistas. De acordo com um estudo recente, os monopólios imperialistas aumentaram seu controle nas últimas décadas para que, em 2003, sua participação na produção das 500 empresas líderes argentinas já fosse superior a 4/5:

 

"O número de afiliadas da Corporações Transnacionais-CTNs entre as 500 empresas líderes argentinas aumentou de 219 em 1993 para 318 em 2000, para 340 em 2003, principalmente através da aquisição de empresas nacionais públicas ou privadas. Sua participação na produção total aumentou de 60% em 1993, para 79% em 2000, para 82% em 2003. (...) Em 1963, as afiliadas da CTNs representavam 46% do valor total adicionado e 36% do emprego para as principais empresas industriais. Em 1997, os números equivalentes eram de 79 e 61%, respectivamente." (47)

 

Recentemente, a Argentina teve que colocar um limite de 20% na quantidade de terras disponíveis para proprietários de terras estrangeiras. Esta foi a reação ao fato de que nos últimos 10 anos corporações estrangeiras como a família Benetton, corporações chinesas, etc. triplicaram sua posse de 7 a 20 bilhões de hectares. (48)

 

Além disso, a Argentina tem sido saqueada pelas instituições financeiras imperialistas (incluindo bancos britânicos!) há décadas. O país uma proporção significativa de sua renda de exportação aos monopólios de dívidas e juros. Em 1977, eram 27,4%, em 1986 era 82,8% de sua renda anual de exportação (lembre-se que esta foi a época em que o CWI declarou que a Argentina não era uma semicolônia). Enquanto essa participação caiu para 25,1% em 1994, explodiu novamente para 74,7% em 1999. Recentemente, caiu para 16,7% (2010) de suas exportações de bens, serviços e renda. Isso equivale a quase 4% de sua Receita Bruta Nacional total (em 2006 foi mesmo 10,4% de sua renda total anual). (49) E este não é todo o montante do roubo imperialista contra a Argentina, uma vez que estes são apenas os valores para os pagamentos da dívida e não as outras formas de transferência de valor para o Norte que explicamos nos capítulos acima.

 

Finalmente, lembremo-nos do desastre econômico que os monopólios imperialistas infligiram à Argentina em 2001 (e depois) que levou o país a um colapso econômico e social. Esta foi uma prova histórica da real posição da Argentina na ordem mundial.

 

Assim, vemos que, embora a Argentina não seja "completamente dependente" era e é dominada e super-explorada pelos monopólios imperialistas. É esse "pequeno detalhe" que é ignorado pelos centristas do CWI, um "pequeno detalhe" que, no entanto, expressa o caráter de classe diferente entre uma Argentina semicolonial e países imperialistas como a Grã-Bretanha.

 

A Argentina, é claro, não foi exceção na triste história do fracassado anti-imperialismo do CWI. O CWI – politicamente e ideologicamente ligada à burocracia trabalhista britânica e através delas adaptada ao imperialismo britânico – repetiu tal recusa à defesa de uma semicolônia sob ataque do imperialismo na guerra do Golfo de 1991 e 2003 e durante o ataque imperialista ao Afeganistão em 2001 e à ocupação seguinte. Mais uma vez, a liderança do CWI invocou sua distorção da teoria do imperialismo leninista e ficando no caminho errado, acabou com as banalidades vulgares dos "poderes" em vez da caracterização de classe na teoria e a retirada do anti-imperialismo revolucionário na prática. No caso das guerras imperialistas no Iraque, a liderança do CWI até flertou com a caracterização do Iraque como uma "potência imperialista regional":

 

"Se um país é imperialista depende de sua estrutura econômica e dos interesses específicos de sua classe dominante. Um país subdesenvolvido, no qual as poucas indústrias existentes são monopolizadas e fortemente entrelaçadas com os bancos, também é imperialista. (Desde que os capitalistas sejam pelo menos suficientemente fortes, que governem e não alguns grandes proprietários de terras). A burguesia de um país colonial como a Índia também está tentando sugar seus lucros de outros países se puderem. Suas tentativas de submeter o Sri Lanka mostraram isso. A anexação do Kuwait por Saddam Hussein também foi imperialista. No entanto, são apenas poderes imperialistas regionais." (50)

 

Não vamos nos alongar sobre essas novas percepções dos centristas do CWI sobre os "imperialistas coloniais". Não foi por acaso que eles não repetiram oficialmente por muito mais tempo tais absurdos sobre o Iraque "imperialista regional" em público. No entanto, eles mantiveram essa abordagem como o método subjacente para sua recusa em defender semicolônias em uma guerra imperialista. No caso da guerra imperialista contra o Afeganistão, os líderes do CWI dificilmente poderiam argumentar que esta era uma "potência imperialista regional" sem arriscar se tornar motivo de chacota da esquerda. Então inventaram o argumento de que os talibãs são reacionários e altamente impopulares entre a classe operária ocidental, então seria errado para eles estarem com o Talibã contra as tropas imperialistas (incluindo os britânicos). (51)

 

 

 

O SWP/IST e a Dependência da Dívida

 

 

 

Outro exemplo de ignorância centrista da teoria leninista do imperialismo é a confusão do Partido Socialista dos Trabalhadores-SWP/IST britânico sobre a crise da dívida. Seu líder central e professor universitário Alex Callinicos escreveu em uma apresentação sobre "Marxismo e Imperialismo hoje":

 

"Seria um erro, no entanto, ver a crise da dívida como simplesmente marcando a imposição de uma nova forma de 'dependência' no Terceiro Mundo." (52) Ele continua:

 

"A crise da dívida, portanto, não envolve tanto um conflito entre estados-nação, países ricos e pobres, mas uma luta de classes na qual a burguesia latino-americana, cada vez mais integrada aos circuitos financeiros internacionais, se alinha com os bancos ocidentais e corporações multinacionais em soluções exigentes que abram ainda mais suas economias para o mercado mundial."

 

Esta é outra forma de confusão cínica do imperialista-centrismo. É claro que o saque financeiro do Sul através da armadilha da dívida é, de fato, uma forma de dependência. Como mostramos acima (veja no capítulo 8 nosso sub-capítulo "Lucros extras via exportação de capital como capital monetário (empréstimos, reservas cambiais, especulação etc.") os países semicoloniais pagaram entre 1980 e 2002 oito vezes o que deviam em 1980. Ao mesmo tempo, em 2002, seu montante de dívidas ainda existentes havia aumentado para US$ 2.400 bilhões, mais de quatro vezes o montante de 1980. Trata-se de uma "nova forma de dependência" bastante óbvia que poderia ser compreendida mesmo com um simples "bom senso".

 

Esta forma de dependência certamente não é nova – bem, pode ser nova para o professor Callinicos, mas certamente não é tão nova para os países latino-americanos. Na década de 1920, por exemplo, a Argentina teve que pagar suas dívidas em média 20% dos lucros das exportações, proporção que disparou até 35% nos primeiros anos da Grande Depressão após 1929. (53)

 

O líder do IST refere-se à cumplicidade da burguesia latino-americana. Isso é, é claro, verdade – um ladrão pequeno geralmente tenta fazer acordos com o chefe gângster e ganhar a vida com isso. Mais uma vez certamente não é um fenômeno novo como mostra o papel do serviço da dívida na década de 1920. No entanto, para um marxista é necessário responder às seguintes perguntas: Qual classe está pagando o preço por isso? Quais são as possíveis contradições na relação entre o "ladrão pequeno" e o "chefe gangster"? Uma vez que o serviço da dívida é pago a partir do valor excedente produzido pela classe trabalhadora nos países endividados e semicoloniais, essa questão afeta diretamente o proletariado e as massas trabalhadoras. Afeta-os ainda mais, uma vez que a armadilha da dívida aumenta a exploração, ou seja, rouba da classe trabalhadora uma parcela ainda maior do valor que produziu e reduz sua participação salarial.

 

Além disso, seria estúpido ignorar as contradições na relação entre o "ladrãozinho" e o "chefe gangster". Sim, eles colaboram geralmente em seus negócios, no entanto, às vezes eles entram em conflito uns com os outros. Vimos isso na guerra das Malvinas em 1982, onde o SWP/IST britânico usou sua rejeição da teoria leninista do imperialismo como pretexto para recusar apoio à luta da Argentina contra o imperialismo britânico. Vimos isso novamente recentemente, quando o governo Kirchner em Buenos Aires nacionalizou a gigante petrolífera espanhola Repsol e colocou um limite na quantidade de terras vendidas a investidores estrangeiros. A guerra imperialista contra o Iraque em 2003 e a iminente guerra contra o Irã são outros exemplos para isso.

 

Em suma, a indefinição das contradições de classe entre países imperialistas e semicoloniais, a indefinição de suas diferentes posições de classe em categorizações vulgares de "potências maiores e menores" etc. – tudo isso não leva apenas a um declínio na análise marxista científica, mas também a uma recusa prática de estar lado a lado com os países semicoloniais em sua resistência contra o imperialismo.

 

 

 

Ainda existe uma questão nacional dos países semicoloniais?

 

 

 

Tudo isso mostra a quanto absurda é a afirmação centrista de declarar "a luta de uma nação subdesenvolvida pela independência contra o imperialismo" como "em grande parte irrelevante". Da mesma forma, não faz sentido a declaração da CMR/TIMR: "O 'interesse nacional' do Estado-nação é contra todos os direitos básicos das nacionalidades, assim como dos trabalhadores." (54)

 

Na verdade, o grupo iraniano TIMR é um modelo para mostrar as consequências absurdas desse "economismo imperialista", como Lênin costumava chamar de ignorância das questões nacionais e democráticas na época do imperialismo. O economismo ignora que o processo econômico de criação e exploração de valores está necessariamente entrelaçado com a superestrutura política e ideológica. O capitalismo é, afinal, uma unidade política e econômica de contradições de classe. Só pode existir como uma totalidade das relações de produção econômica e das superestruturas políticas, sociais e ideológicas. Essas diferentes esferas dependem umas das outras – com a base econômica como determinante final – e só podem existir em correlação. Ivan K. Luppol, um dos principais filósofos soviéticos na década de 1920, uma vez comentou que "a realidade é a síntese da aparência e da essência". (55) E, de fato, forma e essência estão indissociáveis mente relacionadas umas com as outras.

 

As mercadorias só podem ser trocadas em nível regular se houver regulamentação social e segurança jurídica. A força de trabalho precisa de reprodução – portanto, são necessárias várias formas sociais (família, possibilidade de relaxamento, creches etc.) A atividade econômica e social precisa da linguagem – daí a importância dos direitos linguísticos para as minorias nacionais. A desigualdade entre mulheres e homens tem consequências diretas para as possibilidades da mulher de uma existência independente do homem etc. A partir de todo esse fluxo a importância das questões políticas e sociais. O processo de exploração econômica é revestido, entrelaçado e deformado com várias formas de mecanismo de opressão estatal e social. Não é por acaso que Marx falou sobre economia política. Trotsky uma vez comentou com razão: "Assim, economia pura é uma ficção." (56)

 

É nesse contexto que devem ser vistas questões nacionais. Sim, questões como a soberania nacional plena são questões democráticas que afetam não só os trabalhadores, mas também afetam os trabalhadores. Além disso, a classe trabalhadora tem interesse em reunir as massas laboriosas, incluindo seções da pequena burguesia, por trás dela. Mas os camaradas CMR/IRMT não têm qualquer compreensão disso. Pior, eles até consideram a defesa da soberania nacional como "totalmente reacionária":

 

"Portanto, quando um país está ameaçado de alguma forma, a esquerda internacional não deve procurar defender a soberania nacional ou a integridade territorial desses países. Os trabalhadores e outras classes exploradas e oprimidas nesses países têm interesses materiais que se opõem aos da própria burguesia e, portanto, não têm um "interesse nacional" comum com ele. (...)

 

A burguesia do país pode esperar tal apoio, mas os trabalhadores devem saber que a natureza de tal desacordo com o imperialismo é totalmente reacionária e que se realmente leva à guerra, então a melhor maneira de combater o imperialismo é as massas exploradas e oprimidas, lideradas pelas camadas mais avançadas da classe trabalhadora, organizar a resistência militar aos invasores e mobilizar-se para derrubar o regime. (...)

 

Devido ao seu ato de equilíbrio entre as massas e seus laços com o imperialismo, por um lado, e seus próprios interesses nacionais (e regionais) como um parceiro burguês menor do imperialismo, por outro, a burguesia indígena pode, em certas situações, adotar não apenas a retórica "anti-imperialista", mas provocar incidentes diplomáticos e até mesmo iniciar alguma ação militar em pequena escala. Qualquer que seja a manifestação externa desses conflitos de interesse, a burguesia indígena permanece fundamentalmente regressiva e reacionária. Não há conteúdo progressista para essas discordâncias com o imperialismo. Não só a burguesia não está disposta a se envolver em uma verdadeira luta anti-imperialista - ou seja, uma que também é anticapitalista e para o socialismo - mas, como classe dominante, quer manter o status quo. Os interesses dos trabalhadores nesses países são os mesmos dos trabalhadores dos países capitalistas imperialistas ou avançados." (57)

 

Da mesma forma, o líder histórico do IST, falecido Tony Cliff, traiu seu "economismo imperialista" quando afirmou que a "identidade nacional das futuras classes dominantes" nos países oprimidos não deveria ser uma questão "a ser discutida":

 

"Para os socialistas revolucionários nos países avançados, a mudança de estratégia significa que, embora eles tenham que continuar a se opor a qualquer opressão nacional do povo colonial incondicionalmente, eles devem deixar de discutir sobre a identidade nacional das futuras classes dominantes da Ásia, África e América Latina, e, em vez disso, investigar os conflitos de classe e as futuras estruturas sociais desses continentes. O slogan da "classe contra a classe" se tornará cada vez mais uma realidade. O tema central da teoria de Trotsky permanece tão válido como sempre: o proletariado deve continuar sua luta revolucionária até triunfar em todo o mundo. A não ser esse objetivo, não consegue alcançar a liberdade." (58)

 

A mesma lógica centrista foi argumentada no início da década de 1970 por outro teórico líder do IST, o professor da Universidade Nigel Harris: "Um subproduto da expansão econômica foi o aumento da dominação econômica dos países atrasados. Mas o aumento da dominação econômica não significa necessariamente um aumento da dependência. É verdade que o imperialismo produz guerras, mas não tanto entre os países avançados e os retrógrados como entre os países avançados. E isso é verdade mesmo quando os países atrasados são as cenas da guerra." (59)

 

Esta é, sem dúvida, uma declaração divertida do Professor Harris! "O aumento da dominação econômica não significa necessariamente um aumento da dependência." Como mostramos acima com inúmeros fatos, isso significa isso e não por acaso, mas necessariamente. "É verdade que o imperialismo produz guerras, mas não tanto entre os países avançados e retrógrados como entre os países avançados." Mais uma vez, pergunta-se sobre tal afirmação que está em flagrante contradição com a realidade. Está em flagrante contradição não só no mundo após o 11 de setembro, mas já era bizarro na época em que foi escrito, em 1971. Naquela época, a guerra dos imperialismos dos EUA no Vietnã estava em um ponto alto! Qual é o significado da afirmação: "E isso é verdade mesmo quando os países atrasados são as cenas da guerra"? Isso significa que, se houver guerras em países semicoloniais, elas são – de acordo com os teóricos do IST – principalmente guerras por procuração dos EUA e do "imperialismo soviético". Essa bobagem não só nega o aspecto da libertação nacional das lutas dos povos oprimidos contra as potências imperialistas. (Vamos também salientar brevemente que a diferença de classe entre países imperialistas e semicoloniais também é negligenciada na terminologia liberal de países "avançados" e "atrasados". A negação do caráter estatal dos trabalhadores da URSS e da China e sua denúncia como "super-potências" imperialistas também foi uma desculpa conveniente para a tradição Cliff/IST trair lutas progressistas – como fizeram, por exemplo, quando tomaram uma posição neutra na Guerra da Coreia contra o imperialismo dos EUA em 1950-53.

 

Ao contrário do IST, a Internacional Comunista defendeu a visão de que ainda há uma questão nacional no mundo semicolonial. A Internacional Comunista explicou corretamente em sua principal resolução sobre os povos oprimidos em seu Quarto Congresso em 1922, que para os países semicoloniais a opressão e a exploração imperialistas continua "sob o manto da independência formal":

 

"O perigo de um acordo entre o nacionalismo burguês e um ou vários poderes imperialistas rivais é muito maior nos países semicoloniais como a China ou a Pérsia, ou nos países que lutam por sua independência explorando rivalidades inter-imperialistas, como a Turquia, do que nas colônias. Cada acordo significa uma divisão totalmente desigual do poder entre as classes dominantes nativas e o imperialismo, e, sob o manto da independência formal, deixa o país em sua antiga posição como um Estado tampão semicolonial a serviço do imperialismo mundial." (60)

 

Não, enfraquecer o controle imperialista da terra e da renda nacional não é uma questão irrelevante ou mesmo contra o interesse dos trabalhadores. O imperialismo torna os trabalhadores e as massas trabalhadoras mais pobres. É simples assim. Ainda existe uma "questão nacional" no mundo semicolonial, apesar de sua independência formal. As massas instintivamente sabem disso. É por isso que as massas trabalhadoras nas semicolônias geralmente apoiam fortemente tal movimento como podemos ver no caso da nacionalização da Repsol na Argentina. É por isso que as massas apoiaram e apoiam a resistência armada contra os ocupantes imperialistas, como todos puderam ver no Iraque e no Afeganistão no passado recente. Deve-se ser realmente um renitente sectário se condenar essas ações como retrocesso ou até reacionário!

 

 

 

A nova Teoria do Sub-Imperialismo

 

 

 

Para desfocar as contradições de classe entre o imperialista e os centristas do mundo semicolonial como o SWP/IST, TIMR ou Marxista Tutum introduz uma nova categoria – "sub-imperialismo". Alex Callinicos explicou a compreensão do SWP/IST deste conceito da seguinte forma:

 

"Um fator-chave no desenvolvimento de uma ordem mundial mais pluralista e, portanto, mais instável tem sido a ascensão nas últimas duas décadas dos sub-imperialismos que são, das potências do Terceiro Mundo aspirando ao tipo de dominação política e militar em uma escala regional que as superpotências desfrutaram globalmente. (...) Claramente, a natureza dos sub-imperialismos é uma questão crucial em qualquer tentativa de entender o imperialismo contemporâneo. Por trás do fenômeno dos sub-imperialismos está a industrialização parcial do Terceiro Mundo e o consequente surgimento de novos centros de acumulação de capital fora do núcleo imperialista." (61)

 

Callinicos também faz uma lista de países que ele considera como "sub imperialista". Inclui "Israel, Irã, Iraque, Egito, Síria e Turquia (...) Índia, Vietnã, África do Sul, Nigéria, Brasil e Argentina".(62)

 

Portanto, a guerra do Golfo entre o Iraque e o Irã em 1980-88 foi uma guerra entre duas potências sub-imperialistas:

 

"A guerra tornou-se uma guerra de atrito entre duas potências capitalistas de médio porte, dois sub-imperialismos." (63)

 

Da mesma forma, a liderança britânica da SWP/IST justificou sua recusa em defender a Argentina contra a Grã-Bretanha na guerra das Malvinas em 1982, referindo-se ao suposto caráter "sub-imperialista" da Argentina. Assim, para esses centristas, a guerra entre a Grã-Bretanha e a Argentina sobre as Malvinas em 1982 foi reacionária de ambos os lados. No mesmo artigo Callinicos cita com aprovação dois autores argentinos que afirmam:

 

"Não foi nem uma luta anticolonial nem uma luta entre nações oprimidas e opressoras. Os partidos em disputa eram um país capitalista emergente com características imperialistas regionais e continentais, e um poder imperialista de longa data que, embora em declínio acentuado, ainda é uma força poderosa. Não havia um campo progressista e reacionário." (64)

 

Callinicos comenta sobre isso:

 

"Generalizando a partir desta análise amplamente correta da Guerra das Malvinas poderíamos então argumentar que o mesmo processo de desenvolvimento capitalista que deu origem ao imperialismo em primeiro lugar agora produz sub-imperialismo. (...) Inevitável a expansão do capitalismo industrial sai da fronteira nacional, dando origem a conflitos regionais entre sub-imperialismos rivais – entre Grécia e Turquia, Índia e Paquistão, Irã e Iraque – e muitas vezes, na ausência de tais rivalidades, ao crescente domínio regional de um sub-imperialismo particular (África do Sul na região austral da África, Austrália no Pacífico Sul). Embora esta análise tenha uma grande medida de verdade, é essencial qualificá-la. Pois a ascensão do sub-imperialismo não ocorreu no vácuo. Também não criou um mundo composto por estados capitalistas as diferenças entre cujos poderes são de grau e não de tipo. " (65)

 

Então, quando vemos massas no Sul indo para as ruas protestando contra a dominação imperialista, o SWP/IST não tem outra explicação a não ser se referir à psicologia do povo, suas memórias do passado:

 

"Memórias de tal subordinação humilhante aos poderes imperialistas sobreviveram muito tempo após a aquisição por esses estados de um grau de independência muito mais eficaz. Eles ajudam a explicar por que a retórica anti-imperialista continua a ter um enorme apelo popular em países que não podem mais em nenhum sentido ser considerados semicolônias." (66)

 

Focaremos aqui não em toda a teoria revisionista do imperialismo do SWP/IST, mas apenas no seu conceito de "sub-imperialismo". (67) Essencialmente, a análise SWP/IST do "sub-imperialismo" é uma categoria puramente superficial e descritiva. Vamos começar com essa afirmação: "Inevitável a expansão do capitalismo industrial sai da fronteira nacional, dando origem a conflitos regionais entre sub-imperialismos rivais" O que isso significa? Uma vez que o capitalismo industrial se expande sempre e em todos os lugares – isso está na natureza do capitalismo – isso significa que cada vez mais países se tornam "sub-imperialistas"?! Assim, a época do imperialismo não é uma época onde uma pequena minoria de Estados oprime e explora o mundo, mas muito pelo contrário, consiste em países se alinhando cada vez mais?! Então, na época do imperialismo, a exploração e a distância entre os Estados não aumentam, mas – pelo contrário – diminuem?!

 

Claro que isso não é verdade. A época do imperialismo é um período de exploração crescente e aumento de contradições. É por isso que a desigualdade entre o mundo imperialista e o mundo semicolonial aumentou e não diminuiu. O historiador econômico Angus Maddison mostrou que a desigualdade aumentava constantemente na época do imperialismo. Seus cálculos demonstram a enorme e crescente distância entre as regiões imperialistas e semicoloniais. (Ver Tabela 47) A diferença entre o continente mais rico e o mais pobre cresceu de 5:1 em 1870 para 9:1 em 1913, para 15:1 em 1950, 13:1 em 1973 e 19:1 em 1998. (68) Desde então, a globalização garantiu que essa lacuna cresceu ainda mais.

 

 

 

Tabela 47: Nível de PIB per capita e spreads inter-regionais, 1870-1998 (em 1990 dólares internacionais) (69

 

Europa Ocidental/Estados Unidos/Canadá/Austrália e Nova Zelândia/Japão/Ásia (excluído o Japão)/Europa Oriental & ex-URSS/África/Mundo

 

Interregional Spread=Spread interregional

 


 

 

 

Isso nos leva ao problema fundamental no conceito de "sub-imperialismo" do SWP/IST: é um conceito que é o principal critério é a vontade de uma determinada classe dominante para aumentar seu domínio regional. Isso se torna óbvio também a partir dos exemplos que Callinicos dá para seus países "sub-imperialistas": Israel, Irã, Iraque, Egito, Síria, Turquia, Grécia, Índia, Paquistão, Vietnã, África do Sul, Nigéria, Brasil e Argentina. O que eles têm em comum é que eles estiveram envolvidos em guerras com países vizinhos. Esses países não têm nada em comum em termos de desenvolvimento de grandes grupos de capitais, uma relação exploratória com outros países como uma forma dominante de suas relações econômicas externas, ou mesmo uma dominância regional real.

 

Vamos agora para uma tentativa um pouco mais séria de defender o conceito de "sub-imperialismo". O grupo turco Marxista Tutum, que está intimamente alinhado com o TIMR/CMR, publicou em 2009 um documento "Sobre o Sub-imperialismo: Turquia Potência Regional" no qual seu principal teórico Elif Çağlı explicou e defendeu sua posição. Citemos a passagem principal:

 

"O conceito sub-imperialismo define uma posição inferior aos países imperialistas que ocupam os degraus mais altos da pirâmide imperialista da hierarquia. Embora um país sub-imperialista ainda não seja tão poderoso economicamente quanto os países no andar de cima e não tão influente quanto eles na determinação da agenda mundial, ele conduz relações diretamente expansionistas em sua própria região na companhia de grandes potências imperialistas. É por isso que os países que atingem esse nível subindo entre os países desenvolvidos de nível médio são qualificados como sub-imperialistas. (...)

 

É muito importante compreender as leis de funcionamento do capitalismo, características do sistema e que o imperialismo é uma etapa diferente do colonialismo, a fim de analisar a situação de países como a Turquia de forma correta e satisfatória. Para repetir, o imperialista-capitalismo produz interdependência com base na desigualdade. Portanto, os problemas emergindo de posições desiguais e a possibilidade de poderosos intervirem em menos poderosos econômica e politicamente não desaparecem. No entanto, os estados-nação capitalistas em geral e sub-imperialistas, em particular, têm também suas próprias esferas de operação econômica e política em seus próprios direitos. Portanto, caracterizar esses países ainda como semicolônia (ou colônia neo-colônia/colônia moderna etc.) seria um grande erro ou falsificação. (...)

 

Deixando de lado as falsificações e focando no fato da questão, as realidades domésticas e internacionais há muito invalidam os argumentos da esquerda nacionalista. Mas a insensatez pequeno-burguesa é uma doença crônica e aqueles que sofrem dessa doença sempre se mostram incapazes de se recuperar e aceitar a realidade. Uma das questões importantes a serem sublinhadas neste contexto é que os pequeno-burgueses tomam relações desiguais entre diferentes países capitalistas como uma espécie de relações de exploração e ficam obcecados com isso. No entanto, dentro da hierarquia imperialista-capitalista, as relações entre "altos e baixos" ou "os fracos e fortes" não refletem uma relação de exploração, mas de desigualdade e hegemonia.

 

Países capitalistas ou potências capitalistas de diferentes níveis de desenvolvimento não exploram uns aos outros. Eles exploram completamente a classe trabalhadora. Mas eles compartilham o valor excedente de acordo com o poder e o tamanho de seus investimentos ou capital. Portanto, retratar a relação entre diferentes estados capitalistas com diferentes tamanhos e poder como uma relação de exploração em que os grandes exploram os fracos, e concluir uma concepção artificial do anti-imperialismo é incompatível com a perspectiva revolucionária da classe trabalhadora.

 

Em conclusão, o "anti-imperialismo" da esquerda pequeno-burguesa é um anti-imperialismo que não tem uma atitude radical contra o capitalismo interno, portanto, sem um conteúdo anticapitalista e é reduzido apenas a um fator estrangeiro! Por parte do anti-imperialismo pequeno-burguês consiste em tomar uma atitude contra as "políticas" colonialistas e de anexações. No entanto, não pode haver uma luta anti-imperialista sem o anticapitalismo. E uma concepção de luta contra o capitalismo arrancada do eixo de classe revolucionária estaria se rendendo a pequenos burgueses e nacionalistas quadros de esquerda.

 

Como evidenciado concretamente pela Turquia, os países sub-imperialistas geralmente se movem junto com uma grande potência imperialista em lutas imperialistas em curso para a re-divisão em várias regiões do mundo. Como regra geral, grande parte vai para o grande parceiro, mas não deve ser esquecido que os menores também recebem sua parte. Assim, a relação entre países imperialistas e países sub-imperialistas é uma relação de parceria na exploração. Uma expressão concreta disso são as instituições de cooperação econômica ou parcerias estratégicas que reúnem países capitalistas avançados e de médio nível sob o mesmo teto. É óbvio que essa situação não tem nada a ver com a "relação de dependência" na era colonial e "a burguesia colaboracionista". (70)

 

Os camaradas do Marxista Tutum erram em sua concepção. Os camaradas dizem que "países capitalistas ou poderes capitalistas de diferentes níveis de desenvolvimento não exploram uns aos outros". É verdade que existem países imperialistas maiores e menores que são desiguais, mas um não explora o outro. Por exemplo, os EUA e o Canadá certamente não são iguais, mas também não exploram sistematicamente uns aos outros. O mesmo vale para a Alemanha e Áustria ou França e Bélgica, Luxemburgo ou Suíça. No entanto, são todas nações imperialistas. Por que? Porque eles desenvolveram um capital monopolista significativo e capital financeiro que sistematicamente explora e transfere valor vindo do Sul e eles fazem parte de uma ordem imperialista internacional da qual eles lucram e se defendem por vários meios.

 

Os chamados países "sub-imperialistas", por outro lado, não estão nessa posição. Claro que algumas semicolônias avançadas têm uma certa influência regional, algumas são mais fortes e outras são mais fracas. Mas, como marxistas, devemos focar na lei do valor e na transferência de valor entre os países e a ordem política relacionada a isso. E aqui é óbvio que também as semicolônias industrializadas são super-exploradas pelos monopólios imperialistas.

 

 

 

O Exemplo da Turquia

 

 

 

Isso também é verdade para a Turquia. Os camaradas dizem que os países sub-imperialistas "também têm suas próprias esferas de operação econômica e política em seus próprios direitos". Sim, mas é preciso ver as proporções. Na Tabela 48 mostramos que até 2011 o Investimento Estrangeiro Direto proveniente dos monopólios imperialistas era 6 vezes maior do que o Investimento Estrangeiro Direto-IED exterior vindo da Turquia. E este número não nos diz o quanto esse IED exterior decorre direta ou indiretamente de corporações multinacionais que operam na Turquia. Portanto, é evidente que há uma enorme lacuna entre a exportação e a exploração de capital pelos Estados imperialistas em relação à Turquia e o mesmo da Turquia em relação a outros países. Esta é uma lacuna que não é apenas de natureza quantitativa, mas de natureza qualitativa.

 

 

 

Tabela 48: Ações do IED da Turquia, por Região e Economia, 1990-2011 (em Milhões de Dólares) (71)

 

FDI= Investimento Estrangeiro Direto/

 

inward stock= índice interno / outward stock= índice externo

 

 

 

 

 

Assim, vemos que o investimento estrangeiro da Própria Turquia é uma característica subordinada à super-exploração sistemática que eles sofrem do capital do monopolista imperialista. É uma responsabilidade básica para os marxistas não reduzir uma análise a um "por um lado – por outro lado", mas a uma avaliação dialética da essência da matéria. Deve-se focar na diferença entre quantidade e qualidade, na avaliação quando um processo entra em uma etapa qualitativamente nova, etc. O filósofo soviético Abraham Deborin uma vez comentou: "Para entender o caráter de uma época e suas guerras e todos os processos possíveis, é preciso identificar a 'verdadeira essência' da época, suas forças motrizes mais fundamentais, que determinam todas as outras aparências. É preciso interligá-los a um total unificado, independentemente das várias formas da aparência exterior." (72) Infelizmente, os camaradas do Marxista Tutum falham nisso.

 

Mas vejamos também mais evidências: Como no caso da Argentina, a Turquia também foi saqueada pelo capital financeiro imperialista por décadas. Também paga uma proporção significativa de sua renda de exportação para dívidas e interesses aos monopólios. Em 1974, tal soma era de 12,4% de sua receita anual de exportação; em 1988 era 41,9%. Na década de 1990, essa participação caiu, mas subiu novamente para 48,5% em 2002. Após outra queda, subiu novamente para 41,9% em 2009. Em outras palavras, a Turquia dá quase metade de sua renda total de exportação para as instituições financeiras estrangeiras! Se colocarmos esse valor em relação à renda nacional podemos ver o seguinte: Em 1970, o pagamento da dívida foi o equivalente a 1,2% de sua Receita Bruta Total, em 1988 8,5%, em 2002 até 12,2% e em 2009 ainda 10,7% de sua receita total anual. Então, no total, os tubarões financeiros imperialistas se apropriam de um décimo da renda nacional anual total da Turquia! (73)

 

Nos últimos dois anos, o endividamento da Turquia piorou ainda mais. Seu déficit em conta corrente está em 8% a 10% do PIB, quase o mesmo nível que a Grécia antes de seu colapso financeiro. A dívida de curto prazo dobrou desde 2010 para cobrir o déficit (Ver Figura 54). (74)

 

 

 

Figura 54: A crescente dependência da Turquia com a dívida externa de curto prazo (em milhões de dólares) (75)

 

 

 

 

 

Aqui também temos que lembrar aos nossos leitores que este não é todo o montante do roubo imperialista da Turquia, uma vez que estes são apenas os valores para os pagamentos da dívida e não das outras formas de transferência de valor para o Norte que explicamos nos capítulos acima.

 

Referimos nossos leitores também à Figura 43, que mostra que a Turquia e a Argentina não são exceções: em geral, os chamados "países de renda média alta" pagaram cerca de 40% de sua renda total de exportação para pagar suas dívidas com os monopólios imperialistas nos anos de 2005 e 2010.

 

Além disso, vimos particularmente no passado um enorme aumento da exportação de capital imperialista para a economia turca. No início dos anos 2000, 114 das 500 maiores empresas manufatureira eram controladas no exterior e quase 15% da produção industrial total foi produzida por empresas com determinadas quantidades de capital estrangeiro. (76) O aumento da propriedade estrangeira tem sido particularmente forte no setor financeiro. Após o colapso econômico em 2000-2001 que fortaleceu a subordinação imperialista da Turquia semicolonial, a participação dos bancos estrangeiros (em termos de ativos totais no setor bancário) aumentou drasticamente de cerca de 3% para 33% em 2006 e 40% em 2010. (77) Empréstimos em moeda estrangeira já representam mais de um terço do estoque total de empréstimos. (78)

 

Por fim, vamos lembrar que a Turquia também enfrentou um desastre econômico que os monopólios imperialistas infligiram a ela em 2000-2001 e depois. Aqui também o país foi levado a um colapso econômico e social e à falência. Foi forçado a subordinar-se sob o típico programa imperialista do FMI e sob controle de 1998 a 2008, o que o colocou em pequenos racionamentos. (79) Novamente, esta também é uma prova histórica da real posição da Turquia na ordem mundial.

 

 

 

"Sub-Imperialismo" ou Semicolônias avançadas?

 

 

 

Assim, quando os camaradas dizem que "o capitalismo-imperialista produz interdependência com base na desigualdade" eles estão, naturalmente, corretos. Mas eles não conseguem pensar sobre isso de uma forma dialética. A desigualdade que existe por um longo período transforma-se – em combinação com o crescimento das forças produtivas e a inevitável internacionalização econômica – em exploração. Com base nisso, não pode haver nações extremas e desiguais umas com as outras sem transformar e intensificar sua relação entre si. Isso leva inevitavelmente a uma relação de exploração. É por isso que com a internacionalização do capitalismo, emergiram inevitáveis nações opressoras e nações oprimidas, uma explorava a outra, uma se tornava imperialista e a outra colonial ou semicolonial. Dito de outra forma: a relação entre o imperialista e a nação semicolonial é desigual a tal ponto que essa desigualdade surge de uma relação sistemática de exploração e resulta em uma transferência sustentada de valores da nação semicolonial para a nação imperialista.

 

Como mostramos acima, é claro que há muitas diferenças entre vários tipos de semicolônias. Quando Trotsky apontou as enormes diferenças entre a África Equatorial e a Argélia, o Paraguai e o México, a Abissínia e a Índia ou a China, isso não é menos verdade hoje. Há enormes diferenças hoje entre Peru e Argentina ou Brasil, Congo e Egito, Paquistão e Turquia, Nepal e Tailândia. Mas o que Trotsky chamou de característica decisiva que todos eles compartilham é sua "dependência econômica comum da metrópole imperialista".

 

Em vez de introduzir uma fórmula errônea e politicamente revisionista de "sub-imperialismo", preferimos expressar as diferenças que existem entre os países do Sul de outra forma. É muito melhor diferenciar entre semicolônias avançadas ou industrializadas como, por exemplo, Argentina, Brasil, Egito, Turquia, Irã ou Tailândia, por um lado, e semi-colônias mais pobres ou semi-industrializadas como Bolívia, Peru, os países africanos subsaarianos (exceto África do Sul), Paquistão, Afeganistão, Indonésia etc.

 

 

 

Rejeição do Conceito de Aristocracia Do Trabalho

 

 

 

Um dos pilares sociais mais importantes do capital monopolista nos países imperialistas é a aristocracia trabalhista como a principal base social para o reformismo e a burocracia trabalhista. Como mostramos acima Lênin, Trotsky e a Internacional Comunista foram da opinião de que a base econômica da aristocracia trabalhista é a super-exploração dessas nações oprimidas pelos monopólios imperialistas e pelos lucros extras que o capital monopolista pode adquirir a partir dessa exploração. A partir desses lucros extras, os monopólios são capazes de subordinar os setores superiores e aristocráticos da classe trabalhadora e, em particular, a burocracia trabalhista nos países imperialistas.

 

Essa visão é, no entanto, ignorada ou abertamente rejeitada por muitos centristas. A corrente SWP/IST rejeita abertamente o conceito de Lênin. Eles argumentam que não há camada da classe trabalhadora no Ocidente que lucra com a super-exploração das semicolônias. Pelo menos eles são consistentes nisso, uma vez que para o SWP/IST também existem quase nenhuma super-exploração nem quaisquer semicolônias. Mas a consistência não faz um argumento, mas produz apenas uma teoria que está errada e fora de contato com a realidade em todos os relatos. Já no final de 1950 Tony Cliff, o falecido líder do precursor do SWP, argumentou que a teoria da aristocracia trabalhista era irrelevante. (80) Aqui está como Chris Harman coloca seu caso:

 

"Tais fluxos de investimento são uma indicação de onde os capitalistas pensam que os lucros devem ser feitos, e sugerem que é esmagadoramente dentro dos países avançados, e um punhado de países e regiões 'recém-industrializantes' (dos quais a China é agora a mais importante). Isso significa que, seja qual for o caso há um século, não faz sentido ver os países avançados como "parasitas", vivendo do antigo mundo colonial. Também não faz sentido ver os trabalhadores no Ocidente ganhando com a "super-exploração" no Terceiro Mundo. Aqueles que dirigem o sistema não perdem qualquer oportunidade de explorar trabalhadores em qualquer lugar, por mais pobres que sejam. Mas os centros de exploração, como indicado pelos números do Investimento Estrangeiro Direto-IED , são onde a indústria já existe." (81)

 

O SWP nega a existência de uma aristocracia trabalhista: "Na verdade, nem a exportação de capital nem os "super-profissões", do imperialismo, desempenham o papel que um dia tiveram... É discutível que não houve capital líquido (para o Terceiro Mundo) por longos períodos no passado recente.... A exportação de capital desempenha um papel vital no capitalismo moderno, mas é esmagadoramente exportada de um país desenvolvido para outro. Seu significado econômico é totalmente diferente... Não pode explicar a "corrupção", de "aristocracias trabalhistas",... pelas migalhas de super-profissões. (82)

 

Claro que, na realidade, a aristocracia trabalhista não é irrelevante. Isso tem sido sublinhado várias vezes nas últimas décadas. Uma indicação disso é a crescente desigualdade salarial dentro da classe trabalhadora. Os estratos superiores recebem uma parcela cada vez maior da soma salarial total, enquanto a parcela da massa do proletariado – os trabalhadores de baixa qualificação – aumentou enormemente. É claro que as seguintes estatísticas devem ser qualificadas no sentido de que nem todos os assalariados pertencem à classe trabalhadora. Uma minoria – e essa minoria é fortemente representada nos estratos superiores dos assalariados – faz parte de quem ganha salários mais vantajosos típicos da classe média . No entanto, se alguém fica entre os 10 ou 20% mais ricos, pode-se presumir que eles são compostos principalmente pela classe média assalariada e pela aristocracia trabalhista. Esperamos lidar com essa importante questão da aristocracia trabalhista – uma questão que é ignorada pela maioria da esquerda centrista – no futuro.

 

Na Tabela 49 podemos ver que a proporção dos salários dos 10% mais ricos tem sido em relação aos salários dos 10% mais baixos nas últimas quatro décadas em vários países da OCDE. Podemos ver que em todos os países, exceto na França, a proporção aumentou em favor dos estratos superiores. Assim, em 2008, os 10% salários mais altos ficaram entre 2,5 e 5 vezes mais do que os 10% mais baixos. Outra estatística da OCDE confirma que em 16 dos 19 países da OCDE "os ganhos dos 10% mais bem pagos aumentaram em relação aos dos 10% trabalhadores menos remunerados desde meados da década de 1990". (83)

 

 

 

Tabela 49: Desigualdade salarial: Relação de renda entre os 10% mais ricos e os 10% mais baixos dos assalariados nos países da OCDE, 1970-2008 (84)

 

Austrália/Dinamarca/Finlândia/França/Alemanha/Japão/Holanda/Nova Zelândia/Coreia do Sul/Suécia/ Reino Unido/Estados Unidos

 

 

 

 

 

Na Figura 55 podemos ver a crescente diferença entre os diferentes grupos de renda nos EUA desde 1979. Pode-se supor que o quinto mais alto consiste principalmente da burguesia e uma parte significativa da classe média, no segundo quinto superior provavelmente a classe média baixa e a aristocracia trabalhista estão dominando enquanto os 60% mais baixos são principalmente da classe trabalhadora.

 

 

 

Figura 55: Real Annual Family Income Growth by Quintile, 1947-1979 e 1979-2010 (85)

 

Crescimento Real da Renda Familiar Anual por Quintile, 1947-1979 e 1979-2010

 


 

Outro exemplo da crescente distância entre as camadas superiores aristocráticas da classe trabalhadora e as massas proletárias pode ser visto na figura 56 seguinte. Mostra a enorme e crescente lacuna entre os trabalhadores que possuem faculdade, e, em particular, uma educação de pós-graduação e aqueles sem. Entre 1963 e 2008, a diferença já existente aumentou 40% e 80%, respectivamente.

 

 

 

Figura 56: Mudanças nos salários dos trabalhadores em tempo integral masculinos dos EUA de acordo com seus diferentes níveis de educação, 1963-2008 (86)

 

Graduate school=Pós-graduação / college graduate=Graduação em faculdade

 

some college high school graduate= alguns graduadosno Ensino Médio

 

high school dropout=abandono do ensino médio

 


 

 

 

Economistas burgueses afirmam em algum momento que o aumento da desigualdade existe apenas para os mais baixos assalariados. Na próxima Figura 57 mostramos que isso não é verdade. Podemos ver – levando os números para 10 países da OCDE – que a proporção dos salários dos 10% mais ricos em comparação com os salários dos 10% médios aumentou desde 1985.

 

 

 

Figura 57: Aumento da desigualdade salarial nos países da OCDE, 1980-2005 (Relação de Renda entre os 10% mais ricos e o quinto médio 10% dos assalariados, Razão da Desigualdade no ano 1985=100) (87)

 

 

 

 

 

O aumento da desigualdade salarial e a crescente parcela dos estratos superiores da classe trabalhadora é, de fato, uma tendência histórica. Tomemos o exemplo dos Estados Unidos onde – após a depressão e as convulsões sociais relacionadas à guerra – houve uma tendência histórica de tal polarização começando com o início do Longo Boom no início dos anos 1950 até hoje (Longo Boom refere-se a vários períodos de crescimento econômico). A Figura 58 demonstra isso mostrando a razão dos salários masculinos dos 10% mais altos em comparação com os salários dos 10% mais baixos desde 1935.

 

 

 

Figura 58: Desigualdade salarial masculina dos EUA, 1937-2005 (Índice de Renda entre os 10% mais altos e os 10% mais baixos dos assalariados) (88)

 

 

 

 

 

Os privilégios relativos da aristocracia trabalhista e sua base entre os trabalhadores altamente qualificados também foram confirmados pelos resultados de um relatório da OIT publicado em 2011. Analisando os desenvolvimentos salariais nos países imperialistas, chega-se à seguinte conclusão:

 

"Também houve um importante efeito de preços, ou seja, os ganhos dos trabalhadores de alta qualificação aumentaram significativamente em relação aos ganhos dos trabalhadores de baixa qualificação. De fato, a proporção de salários altamente qualificados para salários de baixa qualificação aumentou 72 pontos percentuais." (89)

 

Um argumento frequentemente usado por economistas burgueses (incluindo reformistas) para justificar o aumento da desigualdade salarial é que os trabalhadores cujos salários estão em declínio têm o problema da educação insuficiente. Daí sua "solução" para os estratos inferiores dos trabalhadores saírem da pobreza: trabalhar mais, gastar menos tempo para si mesmo e gastar mais tempo para melhorar sua educação. Assim, eles cinicamente colocam a responsabilidade pelo aumento da pobreza longe dos capitalistas e seu sistema, e ao mesmo tempo colocam a culpa sobre os ombros dos trabalhadores de estratos inferiores. Ao fazer isso, eles muitas vezes tentam criar a impressão de que este é apenas um problema para uma pequena minoria dos estratos mais baixos de assalariados. Na realidade – como mostramos nas Tabelas 50 e 51 – os chamados trabalhadores de baixa qualificação constituem em todos os continentes (incluindo os estados imperialistas, os chamados "países de alta renda") a maioria entre todos os assalariados. De acordo com um relatório do Banco Mundial de 2007, os trabalhadores de baixa qualificação representam 86,9% da força de trabalho global, 68% nos países imperialistas e 90,4% no mundo semicolonial e emergentes imperialistas da China. Sua participação é ainda maior do que os números apresentados nestas tabelas sugerem porque – como já dissemos antes – uma minoria dos assalariados não faz parte da classe trabalhadora, mas da classe média. Podemos ter certeza de que há muito poucos assalariados de classe média entre os assalariados de baixa qualificação mencionados aqui.

 

 

 

Tabela 50: Participação de trabalhadores de baixa qualificação, 1995 (em % da Oferta Total de Mão-de-Obra) (90)

 

OCDE/Europa Oriental & Ex-URSS/América Latina/Ásia/Global

 

 

 

 

 

Tabela 51): Trabalhadores Não Qualificados e Qualificados, 2001 (em Milhões) (91)

 

World region= região do mundo/ All=todos/ Unskilled= Não qualificados

 

Skilled= qualificados

 

World total= Total mundial/

 

High-income countries=Países de alta renda

 

Developing countries= Países em desenvolvimento

 

East Asia & the Pacific= Leste da àsia & Pacífico

 

China

 

South Asia=Sul da Ásia

 

India= Índia

 

Europe & Central Asia= Europa e Ásia Central

 

Middle East & North Africa=Oriente Médio & Norte da África

 

Sub-Saharan Africa= África Sub-Sahariana

 

Latin America & the Caribbean= América Latina & Caribe

 

 

 

 

 

Para concluir, podemos ver que uma pequena minoria entre a classe trabalhadora (e a classe média que ganha salários) foi capaz de aumentar o valor de sua posição em comparação com a massa da classe trabalhadora. Os capitalistas monopolistas puderam suborná-los dando-lhes salários mais altos porque eles puderam aumentar seus lucros extras através da super-exploração do mundo semicolonial. Claro que para esta pequena camada aristocrática a vida sob o imperialismo capitalista não é tão difícil. Por isso, são uma importante base social para o sistema burguês e a colaboração de classes para garantir uma certa estabilidade social e política nos países imperialistas. São também uma importante base social para a burocracia trabalhista reformista que controla o movimento operário. Tudo isso demonstra novamente como Lênin estava certo quando alertou contra a influência retrógrada da burocracia e aristocracia trabalhista:

 

"Contra Liebknecht estão os Scheidemanns, os Südekums e toda a gangue de lacaios desprezíveis do Kaiser e da burguesia. Eles são tão traidores do socialismo quanto os Gomperses e Victor Bergers, os Hendersons e Webbs, os Renaudels e Vanderveldes. Eles representam essa camada superior dos trabalhadores que foram subornados pela burguesia, aqueles a quem nós bolcheviques chamamos (aplicando o nome aos Südekums russos, os mencheviques) "agentes da burguesia no movimento da classe trabalhadora", e a quem os melhores socialistas da América deram o título magnificamente expressivo e muito adequado: "tenentes trabalhistas da classe capitalista". Eles representam o mais recente, "moderno", tipo de traição socialista, pois em todos os países civilizados e avançados a burguesia rouba — seja pela opressão colonial ou por extrair financeiramente "ganhos" de países fracos formalmente independentes — roubam uma população muitas vezes maior que a de "seu próprio" país. Este é o fator econômico que permite à burguesia imperialista obter super-profissões, parte dos quais é usado para subornar a parte superior do proletariado e convertê-lo em uma pequena-burguesia reformista e oportunista que teme a revolução." (92)

 

Nikolai Bukharin, outro teórico bolchevique, escreveu em seu livro "Imperialismo e Economia Mundial" sobre as enormes possibilidades para o imperialismo subornar um setor da classe trabalhadora:

 

"Deste ângulo, devemos, antes de tudo, ver a política colonial dos Estados imperialistas.

 

Há uma opinião atual entre muitos internacionalistas moderados no sentido de que a política colonial não traz nada além de danos à classe trabalhadora e que, portanto, deve ser rejeitada. Daí o desejo natural de provar que as colônias não dão lucro algum, que representam um passivo, mesmo do ponto de vista da burguesia, etc. Tal ponto de vista está sendo proposto, por exemplo, por Kautsky.

 

A teoria infelizmente sofre de uma deficiência, ou seja, está completamente incorreta. A política colonial gera uma renda colossal às grandes potências, ou seja, às suas classes dominantes, à "confiança capitalista do Estado". É por isso que a burguesia segue uma política colonial. Sendo assim, há a possibilidade de aumentar os salários dos trabalhadores em detrimento dos selvagens coloniais explorados e dos povos conquistados.

 

Esses são exatamente os resultados da política colonial das grandes potências. A conta desta política é paga, não pelos trabalhadores continentais, e não pelos trabalhadores da Inglaterra, mas pelos pequenos povos das colônias. É nas colônias que todo o sangue e a sujeira, todo o horror e a vergonha do capitalismo, todo o cinismo, ganância e bestialidade da democracia moderna estão concentrados. Os trabalhadores europeus, considerados do ponto de vista do momento, são os vencedores, porque recebem incrementos em seus salários devido à 'prosperidade industrial'." (93)

 

Bukharin toca aqui uma questão importante: devemos dizer que os capitalistas monopolistas subornam a aristocracia trabalhista ou que subornam toda a classe trabalhadora nos países imperialistas? Queremos lidar brevemente com esta questão porque existem várias vertentes de esquerda – particularmente maoístas (como o antigo Movimento Internacionalista Maoísta nos EUA) – que acreditam que toda a classe operária branca nos EUA é subornada pelo imperialismo. (94)

 

É claro que é preciso levar em conta que Bukharin escreveu essas linhas quando os bolcheviques começaram a desenvolver sua teoria do imperialismo – na verdade, seu livro foi a primeira contribuição, para a qual Lênin escreveu o prefácio e que certamente o influenciou. No entanto, achamos que Lênin foi muito mais claro e correto ao enfatizar que os capitalistas monopolistas subornam o estrato superior aristocrático do proletariado e não toda a classe trabalhadora.

 

Isso significa que a massa dos trabalhadores nos países imperialistas não lucra com a super-exploração do mundo semicolonial? Não, esta seria uma conclusão errada e superficial. Até certo ponto, a massa dos trabalhadores dos países imperialistas ganha, por exemplo, com a importação de mercadorias baratas de consumo, como roupas, televisão ou telefones celulares. Esta não foi a primeira vez na história do capitalismo. Por exemplo, como resultado de seu papel hegemônico mundial como potência colonial o capitalismo britânico desfrutou da deflação de preços no último trimestre do século XIX. Theodore Rothstein – um publicitário russo-judeu que vive na Grã-Bretanha que era um apoiador dos bolcheviques e líder da ala esquerda do Partido Socialista Britânico – elaborou em seu livro sobre a história do movimento operário na Grã-Bretanha o importante papel da deflação de preços no fortalecimento do reformismo e da política de colaboracionismo de classe na classe trabalhadora e, portanto, na burocracia trabalhista. (95)

 

Mas isso deve ser qualificado como desvantagens da globalização capitalista para a massa dos trabalhadores nos países imperialistas. A terceirização da produção, a depressão dos salários por causa do comércio internacional e da migração etc. – tudo isso é em desvantagem dos estratos inferiores e médios do proletariado nos países imperialistas. Isso tem sido reconhecido às vezes até mesmo pelos economistas burgueses. A OCDE, por exemplo, admitiu – é claro, em palavras cautelosas e algébricas necessárias a intelectuais pagos pela burguesia:

 

"A teoria do comércio sugere que o crescimento do comércio com os países em desenvolvimento poderia ter desempenhado um papel na causa da desigualdade de ganhos para aumentar nos países da OCDE, deprimindo os salários dos trabalhadores de baixa qualificação. Embora seja muito difícil destacar o efeito do comércio, os dados sugerem que a globalização através do aumento da terceirização contribuiu para afastar a demanda de trabalho de trabalhadores menos qualificados e, consequentemente, para o aumento da desigualdade de ganhos" (96)

 

Para nós, na CCRI, é evidente que, embora a aristocracia trabalhista tenha alguns interesses de curto prazo (mas não fundamental, histórico) na manutenção do capitalismo, este não é o caso da massa dos trabalhadores nos antigos países imperialistas. Eles não têm interesse algum em defender o sistema capitalista. Seu interesse é se juntar à grande maioria do proletariado mundial que vive nos países imperialistas semicoloniais e emergentes e lutar juntos pela revolução permanente para construir o socialismo mundial.

 

 

 

Liga pela Quinta Internacional-LQI-LFI: Uma defesa formal da Teoria de Lênin que rompe com seu conteúdo revolucionário

 

 

 

Outro desvio revisionista da teoria leninista da Aristocracia Trabalhista foi realizado pela Liga para a Quinta Internacional (LQI) quando degenerou do autêntico marxismo ao centrismo no início dos anos 2010. Embora ainda defenda a posição da existência de uma Aristocracia Trabalhista, seus líderes minimizam ou mesmo recusam o fato de que ela é subornada pelo capital monopolista. Em vez disso, os camaradas reduzem a essência da Aristocracia Trabalhista aos seus salários mais altos. Isso supostamente não é o resultado dos esforços corruptos da burguesia, mas sim o resultado do alto nível de organização e luta de classes militantes da Aristocracia Trabalhista. Em relação a isso, os líderes da LQI superestimam o tamanho da Aristocracia Trabalhista e tendem a vê-los como um setor-chave para a luta de classes. Seu modo de pensar é uma cópia fraca dos argumentos que Eric Hobsbawm – um excelente historiador, mas um estalinista revisionista no campo da política – apresentou em 1970 em seu artigo "Lênin e a "Aristocracia do Trabalho". (97)

 

Esse entendimento se reflete na última edição da revista teórica da LQI (publicada no verão de 2010) na qual tratava da questão da Aristocracia Trabalhista. Matéria afirma que o suborno pelos capitalistas não é mencionado. O artigo argumenta que os altos salários da aristocracia trabalhista são apenas um produto de sua melhor organização sindical e força militante. Não negamos que isso possa desempenhar um papel também, mas esta não é nem a causa da existência da aristocracia trabalhista nem a principal razão para seus privilégios. Como resultado, o artigo não menciona os estreitos, curtos e pequenos interesses burgueses da aristocracia trabalhista. Assim, a LQI reduz o conceito de Lenin sobre a aristocracia trabalhista a uma simples descrição da estratificação social dentro do proletariado: "No cerne do conceito da 'aristocracia trabalhista', como usado por Lênin, então, está a simples ideia de que a classe trabalhadora é socialmente diferenciada e estratificada economicamente." (98)

 

A nova teoria da Aristocracia Trabalhista está errada em princípio, mas é particularmente errada dado o desenvolvimento real do proletariado mundial. Na verdade, corre em total contradição com o desenvolvimento real e a recomposição do proletariado. Primeiro, após o desenvolvimento do capitalismo em crise nas décadas desde a década de 1970 e os numerosos ataques da burguesia sob o pré-texto do neoliberalismo, a Aristocracia Trabalhista encolheu de tamanho. É claro que ainda existe e novas camadas aristocráticas trabalhistas surgiram (por exemplo, na indústria de TI). Mas o curso geral do desenvolvimento no período de declínio capitalista não é de uma importância crescente da Aristocracia trabalhista, mas de uma importância crescente.

 

Em segundo lugar, como também mostramos neste livro, uma característica essencial do desenvolvimento do proletariado mundial é que ele está se deslocando cada vez mais para o Sul e o Oriente, ou seja, para o mundo semicolonial e relativamente mais pobre, novas potências imperialistas emergentes como a China. (Veja as várias tabelas do sub-capítulo "Produção de valor capitalista e a classe trabalhadora se movem para o Sul" no Capítulo 4). Hoje, apenas 16,5% de todos os trabalhadores industriais vivem nos países imperialistas ricos, enquanto 83,5% deles trabalham nos países imperialistas semicoloniais e mais pobres emergentes como a China. Ao todo, pode-se ver que hoje cerca de 3/4 do proletariado mundial vivem nos países imperialistas semicoloniais e mais pobres emergentes como a China. Este é um fator adicional que mostra o declínio global do peso econômico da Aristocracia trabalhista nas metrópoles imperialistas.

 

No entanto, ao mesmo tempo, a Aristocracia Trabalhista – juntamente com a inteligência pequeno-burguesa progressiva – mantém uma forte influência dentro do movimento operário e da esquerda no Ocidente por seu domínio no topo dos sindicatos e partidos reformistas. Isso também se reflete no que rotulamos como "aristocrata", ou seja, os diversos preconceitos retrógrados da aristocracia trabalhista e da inteligência progressista que encontra seu caminho na política e em toda a cultura política do movimento operário no Ocidente. Isso leva à marginalização dos oprimidos e dos estratos inferiores da classe trabalhadora do movimento operário. Leva à ignorância de questões importantes e lutas dessas camadas pelo movimento operário nos países imperialistas. (por exemplo, as lutas anti-imperialistas no Sul ou os migrantes lutam por direitos democráticos). Um exemplo prático desse aristocratismo foi a vergonhosa ignorância ou mesmo a condenação pela esquerda centrista do evento conhecido como a Revolta dos Pobres, Negros e Migrantes na Grã-Bretanha em 2011, depois que a polícia racista atirou em Mark Duggan. (99)

 

O contínuo domínio do aristocratismo ajuda a burocracia trabalhista a manter seu controle sobre o movimento operário. Como afirmamos em nosso programa, o problema do aristocratismo deve, portanto, ser enfrentado para combater com sucesso o controle dos burocratas reformistas sobre o movimento operário:

 

"Por isso, vemos a crescente importância central dos estratos inferiores e médios do proletariado (incluindo muitos imigrantes, minorias nacionais, mulheres, jovens) para o avanço da luta de classes e a renovação do movimento sindical. (...) Segue-se que a luta pela independência política e organizacional da classe trabalhadora se concentra particularmente na ampla massa da classe trabalhadora – ou seja, suas classes baixa e média." (100)

 

Geralmente, um exagero tão oportunista do suposto caráter progressista da aristocracia trabalhista é combinado com uma subestimação da importância dos estratos médios e inferiores da classe trabalhadora e das camadas oprimidas nacionais. Para usar novamente a LQI como um exemplo de esquerda-centrista para esta aristocracia operária, tal atitude pode levar a uma negação da natureza sistemática da opressão nacional e da super-exploração econômica dos migrantes nos países imperialistas. É por isso que a LQI nega a natureza dos migrantes como "minorias nacionais oprimidas" – se colocando de forma oposta a importantes líderes marxistas como James P. Cannon, militante histórico dos trotskistas dos EUA, que disse que "os trabalhadores imigrantes de língua estrangeira ocupam a posição de uma minoria nacional " (101). É por isso que a LQI rejeita nossas análises sobre os migrantes nos países imperialistas em que afirmamos que "em sua enorme maioria, são camadas nacionalmente oprimidas e super-exploradas da classe trabalhadora". Ao mesmo tempo, eles tendem a acolher a assimilação dos migrantes na nação majoritária como progressista.

 

Uma conclusão muito mais reacionária de uma compreensão errônea das questões da aristocracia trabalhista e do caráter da opressão dos migrantes foi o vergonhoso apoio de muitos esquerdistas e centristas britânicos – como o estalinista Partido Comunista da Bretanha-PCB, o CWI, a TMI etc. – para a greve chauvinista "Empregos Britânicos para trabalhadores britânicos" em 2009. Naquela época, os trabalhadores britânicos na Refinaria de Petróleo Lindsey queriam impedir a contratação de trabalhadores migrantes – uma campanha social-chauvinista que os revolucionários marxistas condenaram corretamente e fortemente. (102)

 

Esses centristas ignoram a ideia fundamental do marxismo de que a luta consistente contra o chauvinismo é de maior importância para a libertação da classe trabalhadora da nação opressora. Enquanto a classe trabalhadora da nação opressora estiver cheia de preconceitos chauvinistas contra seus irmãos de classe e irmãs de uma nação oprimida, ela está ideologicamente ligada à sua classe dominante. É por isso que Friedrich Engels fez sua famosa declaração:

 

"Uma nação não pode se tornar livre e, ao mesmo tempo, continuar a oprimir outras nações." (103)

 

Nós, da CCRI, por outro lado, enfatizamos o caráter inerente à opressão nacional e à super-exploração aos migrantes nos países imperialistas. Salientamos que, para produzir a maior unidade possível da classe trabalhadora multinacional, o movimento operário deve lutar consistentemente contra todas as formas de opressão nacional e super-exploração dos migrantes, bem como contra preconceitos racistas. Com isso, podem enfraquecer o terreno para tendências de isolamento nacionalista, promovidas por líderes pequeno(burgueses) das comunidades migrantes. Os bolcheviques-comunistas defendem, portanto, a completa igualdade de todos os grupos nacionais em um país. Isso significa direitos de cidadania plena, salários iguais, tratamento igualitário das línguas dos migrantes nas escolas e em todas as instituições públicas, autogoverno local de áreas com alta proporção de migrantes etc.

 

Nosso objetivo é a integração revolucionária, não a "assimilação". Integração revolucionária significa o estabelecimento da unidade internacional da classe trabalhadora de todos os países e a unidade internacionalista da classe trabalhadora multinacional em cada país. Essa unidade nunca pode ser alcançada pela pressão e força, mas apenas com base na voluntariedade e na igualdade.

 

Tal unidade só pode ser alcançada na luta de classes em conjunto, através da luta de classes em conjunto, e através da organização revolucionária conjunta. A CCRI apela, portanto, por um movimento revolucionário dos migrantes como parte da 5ª Internacional dos Trabalhadores e pelo direito de reunião para os migrantes nos sindicatos e organizações do movimento operário! Uma organização revolucionária que quer construir um partido revolucionário – ou seja, um partido que tem o objetivo de libertar a classe trabalhadora e todos os oprimidos – deve ser liderada e dominada em sua composição por trabalhadores, mulheres, migrantes, nações oprimidas, etc. (104)

 

Os centristas não conseguem ver a estreita conexão entre o imperialismo e as divisões dentro do proletariado entre a aristocracia trabalhista e os estratos inferior e médio – entre os quais os migrantes desempenham um papel importante. Daí a necessidade indispensável de lutar contra todas as formas de "aristocracia" dentro do movimento operário e a favor da completa solidariedade internacionalista com as lutas de libertação dos povos oprimidos. É neste espírito que Lênin declarou:

 

"O importante não é se um cinquenta ou um centésimo das pequenas nações são libertadas antes da revolução socialista, mas o fato de que na época do imperialismo, devido a causas objetivas, o proletariado foi dividido em dois campos internacionais, um dos quais foi corrompido pelas migalhas que caem da mesa da burguesia da nação dominante — obtida, entre outras coisas. , da dupla ou tripla exploração das pequenas nações — enquanto a outra não pode se libertar sem libertar as pequenas nações, sem educar as massas em um espírito anti-chauvinista, ou seja, anti-anexacionista, ou seja, "auto-determinacionista",espírito." (105)

 

 

 

1 Programação der Kommunistischen Partei Rußlands (Bolschewiki) (1919); in: Boris Meissner: Das Parteiprogramm der KPdSU 1906-1961, Köln 1962, p. 124; em inglês: Programa da CPSU (bolcheviques): adotado em 22 de março de 1919 no Oitavo Congresso do Partido Comunista Russo

 

2 V. I. Lenin: Carta aos trabalhadores alemães e franceses. Sobre a Discussão sobre o Segundo Congresso da Internacional Comunista (1920), em: LCW Vol. 31, pp. 281-282

 

3 Leon Trotsky: Crise no Bloco centro-direito (1928); in: Leon Trotsky: O Desafio da Oposição de Esquerda (1928-29), pp. 311-12

 

4 Leon Trotsky: Independência da Ucrânia e Confusão Sectária (1939); in: Escritos 1939-40, p. 54

 

5 Veja, por exemplo, Leon Trotsky: Centrismo e a Quarta Internacional (1939), em: Leon Trotsky: On France, New York 1979, p. 214

 

6 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo, p. 71

 

7 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo, p. 33

 

8 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo, p. 32

 

9 John Rees: Imperialismo: globalização, estado e guerra; in: International Socialism Journal, Edição nº 93 (2001), p. 26f.; http://pubs.socialistreviewindex.org.uk/isj93/rees.htm

 

10 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Dominação imperialista moderna e fundamentalismo islâmico (2008); http://marxist.cloudaccess.net/impire/115-modern-imperialist-domination-and-islamic-fundamentalism.html#. Este é um documento do IRMT que eles originalmente escreveram na época em que eles eram membros da "Tendência Marxista Internacional" de Alan Woods e do falecido Ted Grant. Foi escrito no contexto de uma discussão antes e em torno do Congresso do IMT de 2008. Yossi Schwartz, um marxista israelense (que na época era membro do IMT também) tomou corretamente a posição de apoio à luta militar dos palestinos e do Hezbollah libanês contra o Estado israelense. Ele também defendeu a defesa do Irã – incluindo o apoio a uma luta militar do exército iraniano – contra um ataque imperialista. Os camaradas do IRMT e a liderança do IMT naturalmente argumentaram contra a posição anti-imperialista.

 

11 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Dominação imperialista moderna e fundamentalismo islâmico. (Ênfase no original)

 

12 Calculamos este número com base em números dados por Angus Maddison: Enquanto a população mundial em 1913 era de 1791 milhões de pessoas, 560,6 milhões de pessoas viviam nos países semicoloniais: China (437 milhões), América Latina (80,5 milhões), Turquia (15 milhões; este país não era uma semi-colônia em 1913, mas a partir de 1920), Irã (11 milhões), Tailândia (8,6 milhões), Afeganistão (5,7 milhões) e Arábia Saudita (2,6 milhões). Infelizmente Maddison não fornece números para a Libéria e Etiópia para 1913. (Ver Angus Maddison: A Economia Mundial, Volume 1: Uma Perspectiva Milenar, Volume 2: Estatística Histórica, Estudos do Centro de Desenvolvimento 2006, p. 175, 213 e 241)

 

13 Veja, por exemplo, V. I. Lenin: Imperialismo. O Estágio Mais Alto do Capitalismo (1916); in: LCW Vol. 22, p. 258

 

14 Comunista Internacional: Teses sobre a Questão Oriental, 5 de Dezembro de 1922, Quarto Congresso da Internacional Comunista, em: Jane Degras: The Communist International 1919-1943. Documentos Volume I 1919-1922, p. 383; Republicamos esta tese na revista de língua inglesa Revolutionary Communism nº 6 da CCRI. Na internet pode ser encontrado em http://marxists.org/history/international/comintern/4th-congress/eastern-question.htm (A tradução da versão da internet não é idêntica à versão do livro de Degas. Aqui usamos a versão de Degas.)

 

15 Comunista Internacional: Teses sobre a Questão Oriental, p. 384

 

16 Comunista Internacional: Teses sobre a Questão Oriental, p. 389

 

17 Leo Trotzki: Aussichten und Aufgaben im Osten (1924); in: Schriften 2.1, p. 52; em inglês: Leon Trotsky: Perspectivas e Tarefas no Oriente. Discurso no terceiro aniversário da Universidade Comunista para Toilers of the East (1924), http://www.marxists.org/archive/trotsky/1924/04/perspectives.htm

 

18 Leo Trotzki: Weitere Diskussionen über das Übergangsprgramm (1938) em: Der Todeskampf des Kapitalismus und die Aufgaben der IV. Internationale. Schriften zum Programação, p. 70; em inglês: Leon Trotsky: Discussões com Trotsky sobre o Programa transitório (junho de 1938), http://www.marxists.org/archive/trotsky/1938/tp/tpdiscuss.htm

 

19 Leo Trotzki: Revolução und Krieg na China (Vorwort zu Harold Isaacs' 'A Tragédia da Revolução Chinesa') (1938); in: Schriften 2.2, p. 911; em inglês: Leon Trotsky: A Revolução Chinesa (Introdução a Harold R. Isaacs, A Tragédia da Revolução Chinesa, Londres 1938); http://www.marxists.org/archive/trotsky/1938/xx/china.htm

 

20 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Onde devemos ficar se EUA-Israel atacar o Irã? 25 de janeiro de 2012, em: Renascimento Marxista nº 12, dezembro de 2011/janeiro de 2012, p. 3, http://marxist.cloudaccess.net/mideast/233-where-should-we-stand-if-us-israel-attack-iran.html

 

21 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, em: A. Callinicos, J. Rees, C Harman & M. Haynes: Marxismo e o Novo Imperialismo , Londres 1994, p. 22 e 27

 

22 V. I. Lenin: Imperialismo e a divisão no socialismo (1916); in: LCW Vol. 23, p. 106. Veja também, por exemplo V. I. Lenin: A Discussão sobre Autodeterminação Resumida (1916); in: LCW Vol. 22, pp. 341-42 ou várias observações de Lênin em seu livro sobre o imperialismo.

 

23 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, p. 825; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III, Capítulo 48

 

24 Abram Deborin: Lenin als revolutionärer Dialektiker (1925); in: Nikolai Bucharin/Abram Deborin: Kontroversen über dialektischen und mechanistischen Materialismus, Frankfurt a.M. 1974, p. 57 (nossa tradução)

 

25 W. I. Lenin: Randbemerkungen zu Nikolai Bucharins 'Ökonomik der Transformationsperiode' (1920), Wien 1929, p. 31; em inglês: W. I. Lenin: Notas sobre Nikolai Bukharins 'Economics of the Transformation period' (1920) (nossa tradução para o inglês)

 

26 V. I. Lenin: Rascunho de Teses sobre Questões Nacionais e Coloniais para o Segundo Congresso da Internacional Comunista); in: LCW Vol. 31, p. 150

 

27 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Onde devemos estar se EUA-Israel atacar o Irã?, p. 3

 

28 Leo Trotzki: Aussichten und Aufgaben im Osten (1924); in: Leo Trotzki: Europa und Amerika (Zwei Reden), Berlim 1926, pp. 110-111.; em inglês: Leon Trotsky: Perspectivas e Tarefas no Oriente. Discurso no terceiro aniversário da Universidade Comunista para Toilers of the East (1924), http://www.marxists.org/archive/trotsky/1924/04/perspectives.htm

 

29 V. I. Lenin: Uma caricatura do marxismo e do economismo imperialista; in: LCW Vol. 23, p. 64 (Ênfase no original)

 

30 UNIDO: Indústria em um Mundo Em Mudança, Nova Iorque 1983, p. 92

 

31 Celso Furtado: Desenvolvimento Econômico da América Latina. Histórico e problemas contemporâneos, Nova Iorque 1984, p. 105

 

32 Celso Furtado: Desenvolvimento Econômico da América Latina. Histórico e problemas contemporâneos, Nova Iorque 1984, p. 108

 

33 Gerold Ambrosiu e William H. Hubbard: Sozial- und Wirtschaftsgeschichte Europas im 20. Jahrhundert, München 1986, p. 61

 

34 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Dominação imperialista moderna e fundamentalismo islâmico (Ênfase no original)

 

35 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Dominação imperialista moderna e fundamentalismo islâmico

 

36 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Dominação imperialista moderna e fundamentalismo islâmico

 

37 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Onde devemos ficar se EUA-Israel atacar o Irã? 25 de janeiro de 2012, p. 2

 

38 Comunista Internacional: Teses sobre a Questão Oriental, 5 de Dezembro de 1922, Quarto Congresso da Internacional Comunista, em: Jane Degras: The Communist International 1919-1943. Documentos Volume I 1919-1922, p. 385

 

39 Roger Shrives: Falklands/Malvinas 1982 - Thatcher's War Of Saving Face, in: The Socialist (CWI) 3 may 2002, http://www.socialistparty.org.uk/html_article/2002-252-index#article4

 

40 Peter Taaffe: Afeganistão, Islã e a Esquerda Revolucionária (2002), CWI, http://www.socialistworld.net/pubs/afghanistan/afghanchp1.html

 

41 Grigori Sinowjew: Die russische Sozialdemokratie und der russische Sozialchauvinismus (1915); em: W. I. Lenin/G. Sinowjew: Gegen den Strom. Aufsätze aus den Jahren 1914-1916, Hamburgo 1921, pp. 174-175 (nossa tradução)

 

42 Leon Trotsky: A Terceira Internacional Depois de Lênin, Nova Iorque 1970, p. 174

 

43 Veja o BusinessWeek Global 1000, em: BusinessWeek, 14. julho de 2003

 

44 Ver Banco Mundial: Relatório de Desenvolvimento Mundial 2008, pp. 334-335

 

45 Ver Hans M. Kristensen e Robert S. Norris: Forças nucleares britânicas, 2011, Boletim dos Cientistas Atômicos 2011, http://bos.sagepub.com/content/67/5/89.full.pdf+html; Laurent Joachim: A despesa da guerra. Bilhões de dólares do Estado para chumbo, aço, explosivos e eletrônicos, 10.06.2012, http://heise-online.mobi/tp/artikel/37/37028/1.html?from-classic=1

 

46 Lynn Walsh: Falklands foi: que lições para o movimento trabalhista?; in: Militant International Review, nº 22, junho de 1982; reimpresso pelo Partido Socialista (CWI): Falklands foi: que lições para o movimento trabalhista?; in: Socialismo Hoje, nº 108, abril de 2007, http://www.socialismtoday.org/108/falklands.html

 

47 Daniel Chudnovsky e Andrés Lopez: Investimento Estrangeiro e Desenvolvimento Sustentável na Argentina, Grupo de Trabalho em Desenvolvimento e Meio Ambiente nas Américas, Artigo de Discussão nº 12, abril de 2008, p. 6; http://ase.tufts.edu/gdae/Pubs/rp/DP12Chudnovsky_LopezApr08.pdf

 

48 Mia de Graaf: Limitando a Propriedade da Terra Estrangeira: Uma Lei em Construção, 28 de Setembro de 2011. http://www.argentinaindependent.com/currentaffairs/newsfromargentina/limiting-foreign-land-ownership-a-law-in-the-making

 

49 Argentina - serviço total da dívida. Serviço total da dívida (% das exportações de bens, serviços e renda); http://www.indexmundi.com/facts/argentina/total-debt-service; Banco Mundial: Global: Financiamento do Desenvolvimento 2012. Dívida Externa dos Países em Desenvolvimento, p. 68

 

50 Wolfram Klein: Origens da Revolução Colonial (1991); in: Die Kolonialer Revolution, publicado por Stuttgart VORAN supporters (1991), p. 6 (Ênfase no Original; nossa tradução). O original alemão é: "Se um país é imperialista depende de sua estrutura econômica e dos interesses da classe dominante determinado por ele, mesmo um país subdesenvolvido, no qual a pouca indústria existente é altamente monopolizada e entrelaçada com os bancos, é imperialista. (se os capitalistas são pelo menos fortes que governam e não qualquer grande proprietário de terras). A burguesia de um país colonial como a Índia também tenta sugar seus lucros de outros países, se puder. Suas tentativas de trazer o Sri Lanka para a dependência mostraram isso. A anexação do Kuwait por Saddam Hussein também foi imperialista. No entanto, são apenas poderes regionais imperialistas."

 

51 Ver Peter Taaffe: Afeganistão, Islã e a Esquerda Revolucionária (2002), CWI, http://www.socialistworld.net/pubs/afghanistan/afghanchp1.html

 

52 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, em: A. Callinicos, J. Rees, C Harman & M. Haynes: Marxismo e o Novo Imperialismo , Londres 1994, p. 37

 

53 Arturo O'Connell: O Retorno da "Vulnerabilidade" e o Pensamento Precoce de Raúl Prebisch sobre o "Ciclo de Negócios Argentino"; in: CEPAL REVIEW 75 (dezembro de 2001), p. 61

 

54 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Onde devemos ficar se EUA-Israel atacar o Irã? 25 de janeiro de 2012, p. 2

 

55 Iwan K. Luppol: Lenin und die Philosophie. Zur Frage des Verhältnisses der Philosophie zur Revolution (1928), p. 202 (nossa tradução)

 

56 Leon Trotsky: Tendências Filosóficas do Burocratismo; in: Leon Trotsky: O Desafio da Oposição de Esquerda (1928-29), p. 399

 

57 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Dominação imperialista moderna e fundamentalismo islâmico (minha ênfase)

 

58 Tony Cliff (SWP): Revolução Permanente Desviada (1963), http://www.marxists.org/archive/cliff/works/1963/xx/permrev.htm; veja sobre este também Tony Cliff: Die Ursprünge der Internationalen Sozialisten. Die Weiterentwicklung der Theorien Trotzkis nach 1945, Frankfurt a. M. 2000, p. 76

 

Nigel Harris: Imperialismo Hoje, em: Nigel Harris, John Palmer (Editores): Crise Mundial. Ensaios em Socialismo Revolucionário, Londres 1971, p. 129

 

60 Comunista Internacional: Teses sobre a Questão Oriental, 5 de Dezembro de 1922, Quarto Congresso da Internacional Comunista, em: Jane Degras: The Communist International 1919-1943. Documentos Volume I 1919-1922, pp. 390-91

 

61 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, em: A. Callinicos, J. Rees, C Harman & M. Haynes: Marxismo e o Novo Imperialismo , Londres 1994, p. 45

 

62 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, p. 45

 

63 Alex Callinicos: Relatório da Conferência; in: Trabalhador Socialista, 29 de Setembro de 1987; citado em: Poder dos Trabalhadores: SWP: posições erradas sobre o Irã e o Iraque, 6.2.1988, http://www.fifthinternational.org/content/swp-wrong-positions-iran-and-iraq

 

64 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, pp. 50-51

 

65 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, p. 51

 

66 Alex Callinicos: Marxismo e Imperialismo hoje, p. 49

 

67 Referimos os leitores também a uma extensa crítica à distorção SWP/IST da teoria marxista do imperialismo que empreendemos em nossa organização antecessora – a Liga para uma Internacional Comunista Revolucionária (mais tarde renomeada para LFI): Paul Morris: O SWP, o imperialismo e a "verdadeira tradição marxista"; in: Trotskista Internacional, Nº 17 (1995)

 

68 Angus Maddison: A Economia Mundial, Volume 1: Uma Perspectiva Milenar, Volume 2: Estatística Histórica, Estudos do Centro de Desenvolvimento 2006, p. 126

 

69 Angus Maddison: A Economia Mundial, Volume 1: Uma Perspectiva Milenar, Volume 2: Estatística Histórica, Estudos do Centro de Desenvolvimento 2006, p. 126

 

70 Elif Çağlı: Sobre o Sub-imperialismo: Poder Regional Turquia, Tutum Marxista, Agosto de 2009, http://en.marksist.net/elif_cagli/on_sub_imperialism_regional_power_turkey.htm

 

71 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2012, p. 175

 

72 Abram Deborin: Lenin als revolutionärer Dialektiker (1925); in: Nikolai Bucharin/Abram Deborin: Kontroversen über dialektischen und mechanistischen Materialismus, Frankfurt a.M. 1974, p. 79 (nossa tradução)

 

73 Turquia - serviço total da dívida. Serviço total da dívida (% das exportações de bens, serviços e renda); http://www.indexmundi.com/facts/turkey/total-debt-service; Banco Mundial: Global: Development Finance 2012. Dívida Externa dos Países em Desenvolvimento, p. 294

 

74 Spengler: O horizonte entra em colapso no Oriente Médio, Asia Times Online, 10.10.2012, http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NJ10Ak02.html

 

75 Spengler: O horizonte entra em colapso no Oriente Médio, Asia Times Online, 10.10.2012

 

76 Ver Recai Coskun: Determinantes do investimento estrangeiro direto na Turquia; in: European Business Review Vol. 13, No 4 (2001), p. 221

 

77 Ver Yener Altunbas, Alper Kara e Ozlem Olgu Akdeniz: Produtividade dos Bancos Comerciais Turcos: Efeitos da Propriedade Estrangeira (2008); http://wolpertinger.bangor.ac.uk/papers_2008/productivity_altunbas.doc. Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento: Estratégia para a Turquia (2012), p. 37

 

78 Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento: Estratégia para a Turquia (2012), p. 21

 

79 Ver A. Erinc Yeldan: Turquia e a Longa Década com o FMI: 1998-2008, International Development Economics Associates, (IDEAs), 2008, www.networkideas.org

 

80 Tony Cliff: Raízes Econômicas do Reformismo (Londres 1957), citado em Workers Power: The British working class today; in: Permanent Revolution No. 7 (1988), p. 24. A Revolução Permanente foi o jornal da seção britânica da nossa organização antecessora, a Liga para a Internacional Comunista Revolucionária.

 

81 Chris Harman (SWP): Analisando o Imperialismo (Verão de 2003); in: Socialismo Internacional 2:99, pp. 39-40; http://pubs.socialistreviewindex.org.uk/isj99/harman.htm

 

82 Operário Socialista 28 de Abril de 1979. Citado em David Yaffe: A aristocracia e imperialismo trabalhista (Parte 4), em: FRFI 164 dezembro 2001 / janeiro de 2002, http://www.revolutionarycommunist.org/index.php/britain/1138-the-labour-aristocracy-and-imperialism-part-4-frfi-164-dec-2001-jan-2002

 

83 OCDE: Globalização, Empregos e Salários (2007), Política de Observadores da OCDE Breve, p. 4

 

84 Stephen Machin e John Van Reenen: Desigualdade: Ainda Maior, mas as políticas trabalhistas mantiveram-no para baixo (2010), p. 4; http://cep.lse.ac.uk/pubs/download/ea015.pdf

 

85 Center for Popular Economics: Economics for the 99%, New York 2012, p. 11

 

86 Derek Thompson: As 11 figuras que supostamente provam que o Ocidente está condenado, 7 de agosto de 2012, http://www.theatlantic.com/business/archive/2012/08/the-11-Figures-that-allegedly-prove-that-the-west-is-doomed/260750

 

87 OCDE: Perspectiva de Emprego (2007), p. 118

 

88 John Van Reenen: Desigualdade Salarial, Tecnologia e Comércio: Evidência do Século XXI (2011), Centro de Desempenho Econômico, p. 26

 

89 OIT: World of Work Report 2011, p. 59

 

90 Arjan M. Lejour e Paul J.G. Tang: Globalização e desigualdade salarial (1999), CPB Netherlands Bureau of Economic policy Analysis, p. 21; https://www.gtap.agecon.purdue.edu/resources/download/1260.pdf. Segundo os autores, os trabalhadores são rotulados como de alta habilidade quando concluíram pelo menos o ensino médio.

 

91 Banco Mundial: Perspectivas Econômicas Globais 2007. Gerenciando a próxima onda de globalização, p. 110

 

92 V. I. Lenin: Carta aos Trabalhadores da Europa e América (1919); em: LCW 28, p. 433

 

93 Nikolai Bucharin: Imperialismus und Weltwirtschaft (1915), Wien 1929, p. 185; em inglês: Nikolai Bukharin: Imperialismo e Economia Mundial (1915), Londres, Martin Lawrence Limited, pp. 164-165

 

94 Veja, por exemplo, as seguintes publicações do Movimento Internacionalista Maoísta (MIM): Enfrentando a Aristocracia Trabalhista, em: MIM THEORY nº 10 (1996); MIM: Imperialismo e Sua Estrutura de Classes em 1997 (1997). Embora discordemos fortemente da linha ultradireita e das conclusões expressas nestes documentos, não se pode deixar de observar que a tentativa desses camaradas maoístas de analisar a relação do proletariado e do imperialismo é certamente mais grave do que muitos escritos dos chamados trotskistas que preferem simplesmente ignorar a questão da aristocracia trabalhista.

 

95 Ver Theodore Rothstein: Beiträge zur Geschichte der Arbeiterbewegung na Inglaterra, Wien 1929, Capítulo "Die Periode des Trade Unionismus"

 

96 OCDE: Globalização, Empregos e Salários (2007), Política de Observadores da OCDE Breve, p. 4

 

97 Ver Eric Hobsbawm: Lênin e a "Aristocracia do Trabalho" (1970), republicado em Monthly Review 2012, Volume 64, Edição 07 (dezembro), http://monthlyreview.org/2012/12/01/lenin-and-the-aristocracy-of-labor

 

98 Luke Cooper "Teorias do desenvolvimento capitalista tardio: Harvey e Callinicos sobre o imperialismo contemporâneo"; in: Quinto Volume Internacional 3 Edição 4, Outono 2010, p. 21, http://www.fifthinternational.org/content/theories-late-capitalist-development-harvey-and-callinicos-contemporary-imperialism

 

99 Nossa análise, perspectivas e táticas da Revolta de Agosto na Grã-Bretanha de 2011 foram publicadas em nosso periódico Revolutionary Communism No. 1, pp. 17-41 (setembro de 2011). Eles também podem ser lidos em nosso site. Veja: Nina Gunić e Michael Pröbsting: A tarefa estratégica: Da revolta à revolução! Estes não são "motins"," – esta é uma revolta dos pobres nas cidades da Grã-Bretanha!, http://www.thecommunists.net/worldwide/europe/britain-uprising-of-the-poor; RKOB: A Revolta de Agosto na Grã-Bretanha - Um relatório da delegação do RKOB em sua visita em Londres em agosto de 2011, http://www.thecommunists.net/worldwide/europe/britain-report-from-uprising; Michael Pröbsting: O que uma organização revolucionária teria feito? Revolta de agosto dos pobres, os nacional e racialmente oprimidos na Grã-Bretanha, http://www.thecommunists.net/worldwide/europe/britain-august-uprising/; Michael Pröbsting: Cinco dias que sacudiram a Grã-Bretanha, mas não acordaram a esquerda. A falência da esquerda durante a revolta de agosto dos oprimidos na Grã-Bretanha: suas características, suas raízes e o caminho a seguir, http://www.thecommunists.net/theory/britain-left-and-the-uprising/)

 

100 Corrente Comunista RevolucionáriavInternacional (CCRI): O Manifesto Comunista Revolucionário, publicado em 2012, p. 30; online no site da CCRI em www.thecommunists.net/rcit-manifesto

 

101 James P. Cannon: A História do Trotskismo Americano (1942), Nova Iorque 1972, p. 7

 

102 Para nossa posição sobre essas greves reacionárias, referimos-nos à resolução da declaração da organização ainda revolucionária Poder dos Trabalhadores: Não às greves nacionalistas, 1 de fevereiro de 2009, http://www.workerspower.com/index.php?id=47,1821,0,0,1,0 e um artigo que Michael Pröbsting escreveu em língua alemã: Einleitung der Liga der Sozialistischen Revolution zur Stellungnahme Britannien: Nein zu den nationalistischen Streiks!, 5.2.2009, http://arbeiterinnenstandpunkt.net/phpwcms/index.php?id=25,579,0,0,1,0

 

103 Friedrich Engels: Reden über Polen (1847); in: MEW 4, p. 417; em inglês: Friedrich Engels: Speech on Poland (1847), Speeches at the International Meeting, realizado em Londres, em 29 de novembro de 1847, para marcar o 17º Aniversário da Revolta Polonesa de 1830, http://www.marxists.org/archive/marx/works/1847/12/09.htm#engels

 

104 Veja neste Michael Pröbsting: Marxismo, Migração und revolutionäre Integration (2010); in: Der Weg des Revolutionären Kommunismus, Nr. 7, http://www.thecommunists.net/publications/werk-7; em inglês: Michael Pröbsting: Marxismo, Migração e Integração Revolucionária, em: Comunismo Revolucionário, Nº 1 (English-Language Journal of the RCIT), http://www.thecommunists.net/oppressed/revolutionary-integration/; RCIT: O Manifesto Comunista Revolucionário (2012), p. 51, http://www.thecommunists.net/rcit-manifesto/fight-against-oppression-of-migrants

 

105 V. I. Lenin: A Discussão sobre Autodeterminação Resumida (1916) ; in: LCW Vol. 22, p. 343

 

 

 

10. Transformação da China em uma potência imperialista

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Neste capítulo queremos analisar a transformação da China de um Estado Operário Degenerado em um poder capitalista e, finalmente, imperialista. 1 Seria, naturalmente, superior aos limites deste livro para lidar com toda a história da economia chinesa nas últimas décadas. Em vez disso, nos concentraremos na questão que é de enorme importância para os marxistas desenvolverem perspectivas mundiais corretas e táticas revolucionárias na luta internacional de classes: Devemos considerar a China como uma potência imperialista ou melhor, como um país semicolonial que é super-explorado pelo imperialismo?

 

Nós da CCRI estamos convencidos de que a China é uma potência imperialista emergente e não um país semicolonial. 2 Na medida em que é um caso importante e historicamente excepcional dos países do Sul. Normalmente, como mostramos neste livro, os países do Sul não foram capazes de se tornar uma potência imperialista. Eles sofreram uma super-exploração crescente pelas antigas potências imperialistas na América do Norte, Europa Ocidental, Japão e Austrália.

 

No entanto, o desenvolvimento da China é diferente. Tornou-se um estado imperialista recentemente, no final dos anos 2000. Em comparação com a maior potência imperialista – os EUA – ainda é fraca (como muitos outros países imperialistas são). Como um novo país imperialista tardio, ele carrega várias características peculiares, incluindo a super-exploração pelo capital do monopolista estrangeiro. Essas características, no entanto, são superadas pela força crescente da burguesia doméstica da China. Em particular, temos de enfatizar o papel dos monopólios da China na produção global, no comércio e na exportação de capitais. Relacionado a isso está o surgimento indiscutível da China como uma potência política e militar na política internacional.

 

As principais razões para o sucesso da China em uma potência imperialista foram:

 

i) A existência contínua de uma forte burocracia estalinista centralizada que poderia suprimir a classe trabalhadora e garantir sua super-exploração.

 

ii) A derrota histórica da classe trabalhadora chinesa em 1989, quando a burocracia esmagou impiedosamente a revolta em massa na Praça tiananmen e em todo o país.

 

iii) O declínio do imperialismo dos EUA que abriu espaço para novas potências.

 

 

 

Quais são os critérios para um estado imperialista?

 

 

 

Antes de darmos uma visão concreta do desenvolvimento do imperialismo chinês, vamos tentar dar uma definição de estado imperialista "... sem esquecer o valor condicional e relativo de todas as definições em geral, que nunca podem abraçar todas as concatenações de um fenômeno em seu pleno desenvolvimento..." – como Lênin disse tão sabiamente. 3

 

No início do nosso primeiro capítulo "A teoria do imperialismo de Lênin" citamos a definição de Lenin do imperialismo. Ele descreveu como a característica essencial do imperialismo a formação de monopólios que estão dominando a economia. Em relação a isso, ele apontou a fusão do capital bancário e industrial em capital financeiro, o aumento da exportação de capital, além da exportação de commodities e a luta pela posse de colônias, respectivamente, esferas de influência.

 

Como resultado, podemos dizer que a característica de um poder imperialista deve ser vista na totalidade de sua posição econômica, política e militar na hierarquia global dos Estados. Assim, um determinado Estado deve ser visto não apenas como uma unidade separada, mas em primeiro lugar em sua relação com outros estados e nações. Um Estado imperialista geralmente entra em uma relação com outros estados e nações a quem oprime de uma forma ou de outra e super-explora – ou seja, se apropria de uma parte de seu valor capitalista produzido. Mais uma vez isso tem que ser visto em sua totalidade, ou seja, se um Estado ganha certos lucros com o investimento estrangeiro, mas tem que pagar (serviço da dívida, repatriação de lucros etc.) muito mais para outros países investimento estrangeiro, este Estado geralmente não pode ser considerado como imperialista. Por fim, queremos salientar a necessidade de considerar a totalidade da posição econômica, política e militar de um Estado na hierarquia global dos Estados. Assim, podemos considerar um determinado Estado como imperialista mesmo que seja economicamente mais fraco, mas possua uma posição política e militar relativamente forte (como a Rússia antes de 1917 e no início dos anos 2000). Uma posição política e militar tão forte novamente pode ser usada para oprimir outros países e nações e para se apropriar do valor capitalista deles.

 

Ver um Estado no contexto da ordem imperialista global também é importante porque estados imperialistas particularmente menores (como Austrália, Bélgica, Suíça, Holanda, Áustria, países escandinavos etc.) não são obviamente iguais com as Grandes Potências, mas subordinados a eles. Eles não podiam desempenhar um papel imperialista sozinhos. Mas, apesar de não serem iguais com as Grandes Potências – a propósito, mesmo entre as Grandes Potências há rivalidade constante e nenhuma igualdade – esses estados imperialistas menores não são super-explorados por eles. Como resultado, embora não haja nenhuma transferência significativa de valor desses estados imperialistas menores para as Grandes Potências, há uma transferência significativa de valor das semicolônias para esses estados imperialistas menores. Eles garantem essa posição privilegiada ao entrar em alianças econômicas, políticas e militares com as Grandes Potências (OTAN, UE, OCDE, FMI, Banco Mundial, OMC, várias "Parcerias" etc.)

 

Em suma, definimos um Estado imperialista da seguinte forma: Um Estado imperialista é um Estado capitalista cujos monopólios e aparatos estatais têm uma posição na ordem mundial onde dominam, em primeiro lugar, outros estados e nações. Como resultado, eles ganham lucros extras e outras vantagens econômicas, políticas e/ou militares de tal relação baseada na super-exploração e opressão.

 

Achamos que tal definição de estado imperialista está de acordo com a breve definição que Lênin deu em sua polêmica contra o economismo imperialista:

 

"... grandes potências imperialistas (isto é, que oprimem toda uma série de povos estrangeiros, que os amarram com as redes da dependência do capital financeiro, etc..." 4

 

Antes de avançarmos para a análise concreta, precisamos adicionar duas observações. Em primeiro lugar, para a definição do caráter de classe de um determinado estado é importante também vê-lo de uma perspectiva histórica. Por exemplo, um Estado imperialista pode faltar temporariamente a esta ou aquela característica essencial do imperialismo devido a circunstâncias históricas específicas. Por exemplo, após a Segunda Guerra Mundial, a Áustria foi ocupada pela primeira vez por tropas americanas, britânicas, francesas e russas até 1955 e mais tarde sua exportação de capital foi subdesenvolvida. No entanto, nós marxistas rejeitamos a posição do partido estalinista austríaco de que o país havia se tornado uma semicolônia da Alemanha. Por quê? Por várias razões: a Áustria teve um passado imperialista forte (o Império Habsburgo oprimindo muitas nações até 1918, depois disso uma forte capital bancária com muitos laços com a Europa Oriental etc.). Dada a sua estreita integração ao campo imperialista mundial, poderia depois de algum tempo recuperar uma posição onde sistematicamente e significativamente super explorava outras nações. Outro exemplo pode ser a Alemanha ou o Japão após a Segunda Guerra Mundial, que apesar de certos elementos de ocupação militar e restrições às suas próprias capacidades militares, obviamente permaneceu uma potência imperialista. Assim, ao analisar um estado imperialista temos que ver não apenas um determinado momento, mas a direção do desenvolvimento. Temos que ter em mente a observação de Trotsky: "O treinamento dialético da mente, tão necessário para um lutador revolucionário como exercícios de dedo para um pianista, exige abordar todos os problemas como processos e não como categorias imóveis." 5

 

Em segundo lugar, queremos responder a uma possível crítica à nossa posição de que a China é um Estado imperialista. Pode-se perguntar: como um país poderia se tornar imperialista se era antes – quando era capitalista – uma semicolônia? Claro que é verdade que geralmente as semicolônias não se transformam em países imperialistas. E, de fato, pode-se dizer que a China tinha – depois que o capitalismo foi restaurado por volta de 1992 – por vários anos mais características de uma semicolônia do que de um Estado imperialista. No entanto, seria completamente anti-dialético excluir tal salto no desenvolvimento de um país sob certas circunstâncias. Também houve exemplos na história de tal "salto". A Tchecoslováquia foi uma colônia do Império Habsburgo austríaco por séculos antes de 1918, mas quando se tornou independente, os comunistas (incluindo Lênin e Trotsky) reconheceram-no como um estado imperialista. A propósito, esse tipo de desenvolvimento dialético também pode ocorrer na outra direção – ou seja, um "salto" para trás quando um Estado imperialista se torna uma semicolônia. Lênin discutiu tal potencial desenvolvimento em sua polêmica contra o economismo imperialista quando falou sobre a possibilidade da transformação de uma guerra imperialista em uma guerra justa de defesa nacional.

 

 

 

O Avanço da China para se tornar uma grande economia no mundo

 

 

 

Desde que a antiga burocracia introduziu o capitalismo no início da década de 1990, o capitalismo chinês cresceu rapidamente. 6 Em termos da produção total medida pelo Produto Interno Bruto, a participação da China cresceu maciçamente nas últimas duas décadas. Enquanto a China produziu em 1991 4,1% da produção global, esse número subiu para 14,3% em 2011. Isso fez dela a segunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, a participação dos EUA caiu de 24,1% para 19,1% em 2011. 7 A Figura 59 dá uma visão geral da mudança da participação das 15 maiores economias do mundo nas últimas três décadas.

 

 

 

Figura 59: Participação na Produção Econômica Global, 1981-2011 (em %) 8

 


 

 

 

Na manufatura – o principal setor da produção de valor capitalista – a China até se tornou a principal economia do mundo. Com isso, encerrou a posição de 110 anos dos EUA como o maior produtor de commodities industriais. Em 2011, um quinto da manufatura mundial veio da China (19,8%) enquanto 19,4% se originaram na economia dos EUA. 9

 

Em uma das principais indústrias do mundo – o aço bruto – quase metade da produção global (48,6%) veio da China em 2011. 10

 

Paralelo a isso, tornou-se o maior exportador mundial. A Figura 60 dá uma visão geral sobre o recente processo de recuperação rápida da China e compara-o com o desenvolvimento dos EUA e do Japão.

 

 

 

Figura 60: Desempenho Econômico da China 11

 


 

Na Figura 61 podemos ver não apenas a crescente participação da China nas exportações mundiais, mas também uma comparação histórica interessante com o avanço dos EUA no primeiro trimestre do século XX.

 

 

 

Figura 61: Participação das exportações globais de manufatura; EUA e Grã-Bretanha 1906-29 e China 2000-09 (em %) 12

 


 

 

 

O Banco Mundial e o Centro chinês de Pesquisa em Desenvolvimento do Conselho de Estado apontaram em um estudo conjunto, que a China também alcançou uma série de outros avanços em seu desejo de modernizar sua economia: "A China abriga a segunda maior rede rodoviária do mundo, as três pontes marítimas mais longas do mundo e 6 dos 10 maiores portos de contêineres do mundo". 13

 

A força econômica da China também se reflete em seu baixo nível de endividamento com o mercado financeiro global. Sua dívida externa é de apenas 9,3% e seu serviço de dívida para exportações é de 2,5%. 14 Compare isso com os níveis muito mais elevados de outros países industrializados do Sul, como a Argentina ou a Turquia, com quem lidamos acima e a avaliação geral da UNCTAD (na Figura 43), que mostra que os chamados "países de renda média alta" pagaram entre 2005 e 2010 cerca de 40% de sua renda total de exportação para pagar suas dívidas aos monopólios imperialistas. Na verdade, é o contrário, como veremos abaixo: outros países estão em dívida com o capital financeiro da China! Assim, também vemos a partir deste ângulo que a China não é uma semicolônia dependente, super-explorada, mas sim uma potência imperialista emergente.

 

É claro que isso não deve ignorar a lacuna ainda existente entre as velhas economias imperialistas e a produtividade do trabalho da China. Embora a produção manufatureira dos EUA e da China seja quase a mesma, os capitalistas dos EUA produziram essa produção em 2010 com 11,5 milhões de trabalhadores, enquanto seus rivais chineses precisavam de 100 milhões. 15 Igualmente, o resíduo tecnológico da China por trás das antigas economias imperialistas também é indicado em seu emprego substancialmente menor de máquinas no processo de produção. Isso se reflete no nível de capital por trabalhador da China, que é menos de um décimo dos EUA (convertidos a taxas de câmbio de mercado). 16

 

No entanto, devido ao seu enorme tamanho, um aparato estatal unificado com um enorme setor capitalista estatal e uma classe operária super-explorada, a burguesia monopolista chinesa consegue não apenas desempenhar um papel no mercado mundial, mas também desempenhar um papel de liderança na economia capitalista mundial. Marx observou em Capital Vol. III que, no processo de acumulação capitalista, não apenas a taxa de lucro, mas antes de tudo a massa de lucros é decisiva. E os monopólios chineses, como podemos ver, possuem uma enorme massa de lucros!

 

"E assim o rio de capital rola (...), ou sua acumulação, não em proporção à taxa de lucro, mas em proporção ao impulso que já possui." 17

 

 

 

Monopólios da China

 

 

 

Apesar do importante investimento estrangeiro ocidental e japonês na China, a classe dominante em Pequim evitou o domínio de sua economia por monopólios estrangeiros. Muito pelo contrário, desenvolveu fortes monopólios chineses que hoje se tornaram um dos “globais players” (atores globais) – para usar uma categoria favorita dos economistas burgueses para quem os mistérios da lei de valor os fazem pensar na economia capitalista como o jogo em um cassino.

 

Isso se torna óbvio se olharmos para o avanço dos monopólios chineses na lista das maiores corporações globais. Na Forbes Global 2000 – uma lista das maiores e mais poderosas empresas listadas no mundo –, a China já ocupa o terceiro maior país nesse quesito. 121 empresas nesta lista são da China e apenas os EUA (524 empresas) e o Japão (258 empresas) fornecem mais membros. Esses 121 monopólios chineses têm um lucro agregado de US$ 168 bilhões (o que equivale a 7% do lucro total dos maiores monopólios de 2000). 18

 

Na Fortune Global 500 – outra lista das maiores empresas do mundo que usa critérios diferentes – podemos ver a mesma dinâmica do enorme e crescente lugar da China entre os super-monopólios do mundo. Entre as 10 maiores corporações globais – os mega-super monopólios, por assim dizer – três são chinesas: as empresas petrolíferas Sinopec e China National Petroleum e a empresa de energia State Grid. 19 Se alguém levar em conta as 500 maiores corporações vemos que a China já superou o Japão como o segundo maior país. 73 dessas corporações são chinesas, 132 vêm dos EUA, 68 do Japão e cada 32 da França e Alemanha. (Ver Tabela 52)

 

 

 

Tabela 52: Onde estão os maiores monopólios globais localizados? Lista dos 10 principais países das 500 empresas globais 20

 


 

 

 

A ascensão dos monopólios da China na última década torna-se óbvia se olharmos para o seu ranking na mesma lista no início do século. Como vimos, enquanto as corporações chinesas somavam 72 na lista Fortune Global 500 de 2012, eram apenas 12 em 2001 (ou seja, um sexto). 21

 

Mais uma vez, como na produção mundial e nas exportações, o avanço da China foi paralelo a um declínio semelhante da posição de liderança do imperialismo dos EUA. Enquanto no início do ano 2000 197 corporações entre a Fortune Global 500 tinham sua sede nos EUA, esse número caiu para 132 em 2012. 22

 

Vamos agora mostrar outro indicador da ascensão da China como uma potência imperialista. O economista marxista Martin Seelos publicou um estudo muito interessante com inúmeras estatísticas e cálculos sobre as tendências globais de acumulação de capital nas últimas décadas. Ele mostra que a participação da China na Formação Global de Capital Fixo Bruto cresceu dramaticamente desde a restauração do capitalismo no início dos anos 1990 e, em particular, desde o início dos anos 2000. A Figura 62 demonstra que o capital acumulado da China já é tanto quanto todo o capital acumulado dos chamados "Países em Desenvolvimento" juntos.

 

 

 

Figura 62: Formação bruta de capital fixo, países imperialistas, países semicoloniais e China, 1960-2011 (em USD real 2005) 23

 

 

 

 

 

Os governantes chineses criaram uma classe capitalista. Hoje, a participação majoritária na produção da China é produzida pelo setor privado. Isso se reflete nos seguintes números: De acordo com o Banco Mundial e o Centro chinês de Pesquisa em Desenvolvimento do Conselho de Estado, os setores não estatais contribuíram com cerca de 70% do PIB e do emprego do país. A participação do setor estatal no total de empreendimentos industriais (com vendas anuais acima de 5 milhões de YUANS) caiu de 39,2% em 1998 para 4,5% em 2010. No mesmo período, a participação das Empresas Estatais no total de ativos industriais caiu de 68,8% para 42,4%, enquanto sua participação no emprego caiu de 60,5% para 19,4%. Sua participação nas exportações chinesas também caiu de 57% em 1997 para 15% em 2010. 24

 

A burocracia estalinista chinesa criou uma nova burguesia nativa fora de suas próprias fileiras desde que a antiga classe capitalista chinesa foi expulsa após 1949-1952 para Hong Kong, Macau, Taiwan ou para o estrangeiro. Claro que também tenta atrair a sua antiga burguesia, mas não tem apetite para se retirar de cena e entregar a economia para a antiga burguesia. Por essa razão, iniciou-se um processo de rápida acumulação primitiva e – ao contrário de um mito generalizado – foi principalmente esse acúmulo de capital e não a exportação, que foi o principal fator para o crescimento da China nas últimas décadas. 25

 

Um dos principais resultados desse processo de rápida acumulação de capital foi o crescimento de um importante setor capitalista privado, como indicam os números acima. No entanto, dado o enorme tamanho da economia do país e o – em relação a isso – pequeno tamanho da nova classe capitalista chinesa, a classe dominante garantiu que um forte setor capitalista estatal garanta que a China evite o destino do colapso econômico como a antiga União Soviética após 1991. Muito pelo contrário, o setor estatal opera sob a lei do valor e é o núcleo da economia e a ponta de lança para sua operação no mercado mundial.

 

Na verdade, o setor capitalista estatal é o coração decisivo do imperialismo chinês. Hoje, as empresas estatais são responsáveis por cerca de 35% dos investimentos em ativos fixos feitos por empresas chinesas. Mais de dois terços das empresas chinesas na Global Fortune 500 são empresas estatais. As maiores Empresas estatais (em inglês State-owned enterprise-SOE), excluindo bancos e seguradoras, são dirigidas por meio de participações controladoras que pertencem a uma holding central conhecida como Comissão de Supervisão e Administração de Ativos estatais (SASAC). Bancos e companhias de seguros são de propriedade majoritária de outras agências do Estado. O setor bancário é totalmente dominado pelos bancos estatais, enquanto os bancos estrangeiros dificilmente desempenham qualquer papel. O setor bancário também é responsável por metade de todo o sistema financeiro. Se combinar esse valor com os títulos públicos, o setor estatal fornece quase 2/3 do sistema financeiro. (Ver Figura 63) Desde que Lênin desenvolveu a categoria de "capitalismo de monopólio do Estado", nunca houve uma forma mais pura de capitalismo monopólio estatal do que a China nas últimas duas décadas.

 

 

 

Figura 63: Comparação Internacional da Estrutura Acionária do Setor Bancário (2005) e Estrutura do Sistema Financeiro (2009) (em %) 26

 


 

Depois de introduzir a lei do valor no início da década de 1990, os governantes chineses realizaram uma transformação maciça do setor estatal. Isso era necessário, pois a tarefa era transformá-la de um estatal burocrático em um setor capitalista estatal. Portanto, um processo maciço de redução e reestruturação ocorreu na década de 1990, onde milhares de empresas estatais faliram e muitas outras foram fundidas em unidades maiores. (Veja a Figura 64 para a participação em declínio do SOE em números, emprego e ativos) Uma das principais instituições do imperialismo mundial – o Banco Mundial – formula com aprovação: "Muitas estatais (SOEs) foram corporativizadas, radicalmente reestruturados (incluindo o deslocamento de mão-de-obra) e esperavam operar com lucro. (...) Como resultado, a rentabilidade das SOEs da China aumentou." 27 De acordo com o relatório oficial da Comissão de Supervisão e Administração de Ativos estatais, os maiores 120 monopólios estatais (que estão principalmente em setores como eletricidade, petróleo, aviação, bancos e telecomunicações) obtiveram em 2011 lucros líquidos de 917 bilhões de Yuan (US$ 142 bilhões). 28

 

Como resultado, tanto o governo capitalista quanto o setor capitalista privado aumentaram maciçamente seus lucros. Na Figura 64 podemos ver os cálculos de dois economistas socialistas chineses, Zhang Yu & Zhao Feng. Eles tentam calcular a taxa de lucro na indústria manufatureira chinesa entre 1978 e 2004 do ponto de vista marxista. É claro que é preciso ter em mente que antes do início da década de 1990 os ganhos na indústria manufatureira não eram taxa de lucros no sentido como Marx a entendia. No entanto, a Figura indica as dificuldades do processo de restauração capitalista na década de 1990 e o aumento da taxa de lucro a partir do final dos anos 1990, quando quase triplicou.

 

 

 

Figura 64: A Tendência da Taxa de Lucro na Indústria De Manufatura Chinesa, 1978-2004 (em %) 29

 


 

 

 

Na Figura 65 podemos ver o crescimento contínuo dos lucros das estatais-SOE's e ainda mais das empresas não estatais. O retorno médio sobre o patrimônio líquido reportado pelas SOE cresceu de 2,2% em 1996 para 15,7% em 2007, antes de recuar um pouco para 10,9% em 2009. O retorno sobre o patrimônio líquido das empresas não estatais chegou a subir para mais de 20%.

 

 

 

Figura 65: Tamanho das empresas estatais e taxa de retorno em empresas privadas e estatais na China, 1998-2010 (em %) 30

 

 

 

 

 

Como dissemos, essas empresas estatais são operadas como unidades capitalistas. São principalmente empresas de ações com o Estado detendo a maioria das ações. (Este modelo, por sinal, também é frequentemente aplicado em empresas estatais capitalistas em países da Europa Ocidental.) Sua operação de acordo com a lei de valor é sublinhada pelo fato de não pagarem os dividendos, que aumentaram desde uma reforma em 2007 para 5-15% dos lucros, para o ministério da fazenda – o titular formal da maioria das ações. Eles pagam-lhes um orçamento especial reservado para o financiamento de empresas estatais, ou seja, para si mesmos. Como o The Economist – um dos principais porta-vozes do capital monopolista ocidental – colocou com precisão: "Os dividendos das SOE, em outras palavras, estão divididos entre as SOEs". 31

 

Sem surpresa, as primeiras posições nas empresas estatais são dominadas pelos filhos e filhas do partido no poder. Dois acadêmicos, Li-Wen Lin e Curtis J. Milhaupt, mostraram em um estudo real as relações muito próximas e entrelaçamento do partido, do Estado e das empresas estatais. Eles concluem com justificativa: "Chamamos a estrutura organizacional do capitalismo de Estado como praticada na China como uma hierarquia em rede". 32

 

De acordo com outro relatório, "mais de 90% das pessoas dos 20 mil mais ricos da China dizem estar 'relacionadas com altos funcionários do governo ou do Partido Comunista', criando toda uma classe de 'príncipes' milionários e bilionários, filhos de altos funcionários." 33

 

A criação de uma classe capitalista chinesa é refletida também no lugar proeminente o ganho dos super-ricos do país cada vez mais no clube exclusivo mundial de multimilionários. De acordo com o Hurun Report, o número de milionários ultrapassou um milhão pela primeira vez na China em 2010. 34 251 deles são bilionários em dólares, acima de apenas 15 bilionários há seis anos. 35 O relatório diz que "metade dos milionários são donos de empresas, e o resto são investidores em ações ou imóveis ou são conhecidos na China como "colares dourados", ou executivos de alto nível. Os super-ricos da China são principalmente proprietários de negócios." 36

 

Esta crescente classe capitalista chinesa é, é claro, ainda substancialmente menor do que seus rivais dos EUA, mas já está em pé de igualdade com outros rivais imperialistas. De acordo com o World Wealth Report 2012, publicado pela Capgemini e RBC Wealth Management, a China tem o quarto maior número de super-ricos, atrás apenas dos EUA, Japão, Alemanha, mas à frente da Grã-Bretanha, França e Canadá. 37 Outra lista dos super-ricos - medindo o número dos chamados “indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto”, definidos como aqueles com ativos líquidos superiores a US $ 50 milhões - coloca a China (atrás dos EUA) em segundo lugar, com 4.700 representantes (5,6% do total global), seguido pela Alemanha (4.000), Japão (3.400), Reino Unido (3.200) e Suíça. 38 O Boston Consulting Group chega a resultados ligeiramente diferentes, classificando a China em terceiro lugar na lista de famílias milionárias. 39 O quadro geral, no entanto, é bastante claro: a emergência da China como uma nova potência imperialista foi acompanhada pela formação de uma classe de capitalistas monopolistas super-ricos.

 

 

 

Exploração e superexploração da classe trabalhadora

 

 

 

A base material para o salto da China para uma potência imperialista foi a criação de uma enorme quantidade de valor capitalista através da enorme superexploração de sua classe trabalhadora. Quase não houve qualquer outro poder capitalista na história do século 20 (exceto a fase do fascismo), que poderia não só explorar sua classe trabalhadora, mas também extrair enormes lucros extras pela superexploração da maioria do proletariado. Este é o “segredo” por trás do milagre econômico chinês.

 

Após a derrota histórica da classe trabalhadora chinesa entregue pela burocracia estalinista reacionária em junho de 1989, a classe trabalhadora foi massivamente roubada de seus ganhos sociais. 40 Eles introduziram com sucesso a lei do valor na economia e transformaram os trabalhadores em uma mercadoria como no mundo capitalista. Um autor da China Left Review resumiu essa mudança fundamental adequadamente com as seguintes palavras:

 

A economia chinesa hoje é capitalista, argumentei, porque as relações de emprego foram transformadas ao longo das linhas capitalistas. Membros da unidade de trabalho foram expropriados; eles perderam seus direitos de membro e agora são simplesmente contratados. Essa mudança fundamental permitiu às empresas chinesas agirem como empresas capitalistas. Livres de responsabilidades de longo prazo para seus funcionários, eles agora podem tratar a mão de obra como um insumo flexível, o que lhes permite focar na maximização do lucro. Isso é verdade não apenas para as empresas privadas, mas também para as empresas estatais restantes e todos os híbridos público-privados intermediários. ” 41

 

Um dos ataques foi a introdução de salários por peça, em que cada trabalhador recebia um salário individual de acordo com seus resultados de trabalho individuais. Outro foi a mudança do emprego vitalício para um sistema de contratos de trabalho. Sob esse novo sistema, os trabalhadores tinham que assinar e renovar seus contratos com a administração anualmente, de forma individual. Apesar da longa resistência dos trabalhadores, a burocracia estatal finalmente conseguiu implementá-lo. Portanto, enquanto em 1986 apenas 6% dos trabalhadores nas empresas estatais eram colocados sob o sistema de contrato, essa proporção aumentou para um quarto de todos os trabalhadores das estatais em 1994. 42

 

Um passo decisivo na implementação do baixo valor nas empresas estatais da China foi uma onda implacável de demissões. De acordo com números oficiais, apresentados no Diário do Povo do Partido Comunista Chinês, fala-se de mais de 26 milhões de trabalhadores demitidos entre 1998 e 2002:

 

Na segunda sessão plenária da 30ª reunião do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo (CNP), a legislatura máxima da China, Zhang explicou aos legisladores chineses que, durante o período de 1998 a meados deste ano, um total de 26,11 milhões de funcionários das SOE foram demitidos, dos quais 17,26 milhões desde então foram reempregados. ” 43

 

Outro relatório de um pesquisador que trabalha no Instituto de Relações Industriais da China, que é o Instituto do sindicato oficial da Federação dos Sindicatos da China, dá a cifra de "cerca de 30 milhões de empregados, ou metade da força de trabalho total das SOE". 44 Se olharmos para um período mais longo, há estimativas de que a classe capitalista chinesa demitiu entre 1993 e 2006 aproximadamente 60 milhões de funcionários das empresas estatais. 45

 

Essa onda de demissões em massa fazia parte da implementação completa da lei capitalista de valor na economia estatal da China. Em 2005, mais de 85% das SOEs de pequeno e médio porte foram reestruturados e privatizados, de acordo com um relatório do pesquisador chinês Dongtao. 46

 

Outro instrumento decisivo foi a utilização do antigo sistema de registro domiciliar, criado pela burocracia estalinista em 1958. De acordo com esse sistema (chamado hukou na China) "os residentes não tinham permissão para trabalhar ou viver fora dos limites administrativos de seu registro doméstico sem a aprovação das autoridades. Uma vez que eles deixaram seu local de registro, eles também deixariam para trás todos os seus direitos e benefícios. Para fins de vigilância, todos, incluindo moradores temporários em trânsito, foram obrigados a se registrar junto aos policiais de seu local de residência e sua residência temporária. Na década de 1970, o sistema tornou-se tão rígido que 'camponeses poderiam ser presos apenas por entrar em cidades'." 47

 

Dada a pobreza rural e as oportunidades de emprego nas cidades, milhões e milhões de camponeses rurais, em sua maioria jovens, mudaram-se para as cidades para encontrar emprego. Esses ex-camponeses ou jovens camponeses que se mudaram para as cidades são chamados de migrantes na China. Essa categoria é enganosa, pois geralmente é usada para pessoas que se mudam de um para outro país. Na verdade, são trabalhadores migrantes rurais para urbanos. No entanto, não é por acaso que essas pessoas são chamadas de migrantes, porque há uma importante semelhança entre eles e aqueles que internacionalmente são chamados de migrantes: eles se mudam para áreas onde vivem muitas vezes ilegalmente e sem direitos e reivindicam a seguridade social. Assim, essas ex-pessoas rurais se mudam para as cidades onde muitas vezes são ilegais e – por causa do sistema hukou – não têm acesso a moradia, emprego, educação, serviços médicos e seguridade social.

 

O Estado lhes dá pouca educação, mas os joga como forragem de máquina no processo de produção. 40,3% dos trabalhadores migrantes têm apenas nível fundamental de escolaridade, 48% têm ensino médio e apenas 11,6% alta escolaridade. Os capitalistas empurram o valor dos trabalhadores migrantes como força de trabalho constantemente para o mínimo físico. Suas condições de vida são muito pobres; a maioria deles vive em casas de má qualidade, tendas, sob pontes e túneis ou até mesmo porta-malas de carros. 48

 

Esses migrantes logo se tornaram uma grande força motriz para o processo capitalista de super-exploração. O número de trabalhadores migrantes na China passou de cerca de 30 milhões (1989), para 62 milhões (1993), 131,8 milhões (2006) e, no final de 2010, seu número cresceu para cerca de 242 milhões. Na capital, Pequim, cerca de 40% da população total são trabalhadores migrantes, enquanto em Shenzhen cerca de 12 milhões do total de 14 milhões de pessoas são migrantes. Esses trabalhadores migrantes são geralmente empurrados para trabalhos pesados e com baixos salários. De acordo com o China Labor Bulletin, os migrantes compõem 58% de todos os trabalhadores da indústria e 52% no setor de serviços. A proporção de trabalhadores migrantes nas indústrias manufatureira e na construção civil atingiu 68% e 80%, respectivamente. 49

 

Outro estudo também mostra que os trabalhadores migrantes se dirigindo dos setores rurais para urbanos tornaram-se a maior proporção da força de trabalho, com cerca de dois terços de todos os trabalhadores não agrícolas. Tornaram-se dominantes em diversos setores importantes: 90% em Construção Civil, 80% em Mineração e Extração, 60% em Têxteis e 50% em Comércio de Serviços Urbanos. (Ver Tabela 53)

 

 

 

Tabela 53: Migrantes rurais-urbanos como proporção da força de trabalho total (em %) 50

 


 

Proporção da indústria da força de trabalho total (em porcentagem)

 

 

 

Relacionado a isso está a existência de um enorme setor informal que, dadas as suas condições precárias, é um terreno fértil para a super-exploração. De acordo com dados oficiais do Banco Mundial e de um instituto estatal chinês, o setor informal representou nos anos 2000 por 30%-37% da força de trabalho urbana total. (Ver Figura 66) 51

 

 

 

Figura 66: Participação do Emprego Informal no Mercado de Trabalho Urbano entre trabalhadores migrantes e locais na China, 2001-2010 (em %) 52

 

 

 

 

 

Essa super-exploração dos trabalhadores – onde a classe governista estalinista deprimiu seus salários abaixo de seu valor – é a principal razão para o espetacular crescimento dos lucros. Lembramos aos nossos leitores os números sobre a China que reproduzimos no Capítulo 5 "Exploração crescente, super-exploração e a redução do valor da força de trabalho". Eles mostraram que a participação dos salários dos trabalhadores industriais no valor de manufatura da China caiu acentuadamente de 52,3% em 2002 para 26,2% em 2008. Os salários totais caíram como parte do PIB de 57% em 1983 para apenas 37% em 2005 até 2010.

 

Com base nisso, os capitalistas conseguiram aumentar maciçamente a produtividade do trabalho na manufatura entre 2000 e 2008 em 6,7% e na economia total entre 1990 e 2008 em uma média de mais de 9% ao ano. 53 Isso significa nas palavras do The Economist: "A produção que costumava levar 100 pessoas em 1990 exigia menos de 20 em 2008." 54

 

A exploração maciça da classe trabalhadora chinesa torna-se também visível a partir de uma comparação dos gastos do governo. Embora a China gaste uma proporção semelhante ou não muito abaixo de sua renda anual total para educação e proteção ambiental, seus gastos para o apoio mais essencial para as massas trabalhadoras como a saúde e a proteção social estão muito atrás de outros países capitalistas – observe a comparação dos gastos entre 1/3 ou 1/5 dos países da OCDE . 55 (Ver Figura 67)

 

 

 

Figura 67: Comparação entre países dos gastos governamentais para educação, saúde, meio ambiente e proteção social como parte do PIB, China e outros países, 2007 e 2009 (em %) 56

 


 

 

 

O brutal processo de exploração capitalista piora cada vez mais as perspectivas de emprego para setores dos estratos superiores da classe trabalhadora e da classe média também. De acordo com um relatório oficial, em 2007 havia um total de 5,67 milhões de universitários e 4,95 milhões de universitários. Mais de 60% dos graduados da universidade enfrentarão o desemprego e seus salários médios são esperados ficarem em torno do nível dos trabalhadores migrantes. 57

 

Ao mesmo tempo já existem algumas tendências que indicam a formação de uma pequena camada de uma aristocracia trabalhista. Um estudo focado no desenvolvimento econômico e social das chamadas "Zonas Econômicas Especiais", onde existem condições particularmente favoráveis para os capitalistas e todas as outras cidades, mostrou a diferença entre os salários reais da camada superior e dos estratos mais baixos dos trabalhadores. Usando dados oficiais, chegou à conclusão de que tanto nas "Zonas Econômicas Especiais" quanto em todas as outras cidades a diferença entre os 10% mais altos e os 10% inferiores cresceu em 1988-2001 de menos de 2000 Yuan (em 1985 unidades), para quase 10.000 Yuan. Outra figura calculada pelo mesmo autor mostra a crescente diferença entre os salários de camada superior e os salários médios. (Ver Figuras 68 e 69)

 

 

 

Figura 68: Desigualdade nos Salários Reais em Zonas Econômicas Especiais e Todas as Outras Cidades entre a camada superior e inferior dos Trabalhadores, 1988-2001 (em Yuan em 1985 unidades) 58

 

 

 

 

 

Figura 69: Desigualdade nos Salários Nominais em Zonas Econômicas Especiais e Todas as Outras Cidades entre a camada superior e mediana dos Trabalhadores, 1988-2001 (em Yuan) 59

 

 

 

 

 

Como resultado desses ataques maciços, os capitalistas chineses recebem de seus trabalhadores uma taxa significativa de superávit. A taxa de exploração da classe trabalhadora chinesa é substancialmente maior do que, por exemplo, a taxa de exploração dos trabalhadores americanos ou europeus. O pesquisador chinês Dongtao apresenta uma série de números que indicam um enorme aumento da taxa de exploração da classe trabalhadora chinesa nas últimas duas décadas:

 

"Os salários constituem menos de 10% do custo total das empresas chinesas, enquanto que para os países desenvolvidos é de cerca de 50%. No Delta do Rio Pearl, a produtividade é de cerca de 17% da dos EUA, mas os salários dos trabalhadores são apenas cerca de 6,7% dos EUA. De 1990 a 2005, a remuneração do trabalho como proporção do PIB caiu de 53,4% para 41,4% na China. De 1993 a 2004, enquanto o PIB chinês aumentou 3,5 vezes, os salários totais aumentaram apenas 2,4 vezes. De 1998 a 2005, nas SOEs e empresas industriais de grande escala, o percentual do total de salários/lucros caiu significativamente de 240% para 43%." 60

 

Os trabalhadores da China estão furiosos com a brutal exploração capitalista. Um grupo de pesquisadores chineses pró-classe trabalhadora relatou recentemente sobre o aumento dos sentimentos entre os trabalhadores contra os chefes e a nostalgia da época antes das reformas de mercado serem introduzidas:

 

"As condições trazidas pelo desenvolvimento das relações capitalistas de produção proporcionaram aos trabalhadores tradicionais da China uma sólida percepção da realidade. Trabalhadores demitidos podiam ser ouvidos exclamando: "Mao nos deu a Tigela de Arroz de Ferro. Deng cutucou nossos olhos, Jiang Zemin pisou em nós, e Zhu Rongji nos chutou de lado. Um trabalhador da Jihua Tractor disse: "Nos últimos anos houve um rápido desenvolvimento, que está inegavelmente ligado a uma forma capitalista de acumulação primitiva. A acumulação primitiva que ocorreu ao longo de cem anos durante o início do capitalismo levou apenas alguns anos para ser realizada em Jihua! Os trabalhadores lamentariam que "Durante a Dinastia Qing, custaria uma fortuna para cuidar de um funcionário local. Os custos de um oficial qing pálido em comparação com os quadros de hoje! (...) Quando Mao estava no poder, os trabalhadores tinham bom humor, não eram facilmente intimidados e eram os mestres da fábrica. Desde Deng, os trabalhadores não têm um centavo para gastar. Agora seu poder foi entregue a estrangeiros e líderes que exploram e oprimem trabalhadores, servindo aos interesses de uma pequena minoria. O Estado é apenas socialista no nome, não na realidade." 61

 

É natural que a classe trabalhadora chinesa esteja se esforçando para lutar por seus direitos, apesar do regime draconiano da ditadura estalinista-capitalista. Os desenvolvimentos nos últimos anos indicam uma militância massivamente crescente. Os protestos populares chamados "incidentes em massa" aumentaram, de acordo com estatísticas oficiais da Academia chinesa de Ciências Sociais, de 60 mil (2006) para mais de 80 mil (2007). Esta publicação foi descontinuada – obviamente a burocracia temia que esses números pudessem ter um efeito ainda mais inspirador. No entanto, há estimativas de que em 2009 já ocorreram 90 mil "incidentes em massa" e o sociólogo chinês Sun Liping estima que o número para 2010 foi mesmo de 180 mil. 62

 

O foco dos protestos dos trabalhadores mudou nos anos 2000 do setor estatal para as empresas privadas. (Ver Figura 70) Isso não é surpreendente, uma vez que a classe trabalhadora está cada vez mais empregada neste setor. No entanto, como Pei Haide aponta na China Left Review, a resistência dos trabalhadores nas empresas estatais possui um potencial particularmente explosivo para lutas políticas e militantes. Só podemos concordar com a conclusão dos autores:

 

"... as contradições entre a classe trabalhadora tradicional e os capitalistas se aguçam à medida que as SOEs são reestruturados. De fato, a reestruturação torna-se o ponto de partida para as lutas dos trabalhadores. Em segundo lugar, a classe trabalhadora tradicional luta para seus interesses econômicos, exigindo que as fábricas paguem seus salários atrasados, e paguem o dinheiro de suas contas de pensão e seguro médico. Em essência, a luta da classe trabalhadora tradicional com a classe capitalista é uma luta política." 63

 

 

 

Figura 70: Distribuição de Protestos de Trabalhadores em Empresas Estatais e Privadas, 2000-2010 (em %) 64

 

 

 

 

 

O pesquisador chinês QI Dongtao relata que entre 1995 – quando a Lei do Trabalho chinês entrou em vigor em todo o país – e 2006, o número de casos de disputa trabalhista aumentou de 33.030 para 447.000, ou em mais de 12 vezes. O número de casos de disputa por milhão de trabalhadores aumentou de cerca de 48 para 585, ou em mais de 11 vezes. 65 Na Tabela 54 encontramos uma lista concreta do crescente número de trabalhadores que lutam na China e suas características.

 

 

 

Tabela 54: Aumento anual das disputas trabalhistas na China 1995-2006 66

 

Year=ano/ LDAC=Comitê de arbitragem de disputas trabalhistas

 

Cases accepted by LDAC=Casos aceitos pela LDAC

 

Workers involved in labour disputes=Trabalhadores envolvidos em disputas trabalhistas/ disputes per million workers=quantidade de trabalhadores com ações trabalhistas em milhões/ collective disputes= disputas trabalhistas coletivas/workers involved collective disputes=quantidade de trabalhadores em disputas trabalhistas/porcentage of workers in collective disputes against the total number of labourers in disputes=porcentagem de trabalhadores em disputas coletivas comparados como número total de trabalhadores em disputas individuais

 

 

 

 

 

O exemplo internacionalmente mais proeminente para a luta popular foi a Revolta em Wukan no final de 2011, onde o povo local expulsou os funcionários do partido e seus provocadores policiais e criou uma comuna na área liberada.

 

A classe dominante teme cada vez mais os protestos dos trabalhadores e, como reação, gasta grandes somas para construir um aparato de repressão ainda maior para esmagar a classe trabalhadora no caso de tentar repetir uma Revolta como na primavera de 1989. Em março de 2012, o governo anunciou que planejava gastar US$ 111 bilhões este ano em segurança doméstica – este é o orçamento global para polícia, segurança do Estado, milícia armada, tribunais e prisões e outros itens de "segurança pública". Trata-se de um aumento de 11,5% em relação a 2011, e US$ 5 bilhões a mais do que o orçamento militar deste ano. 67 Um observador observou que as crescentes desigualdades sociais e regionais na China levarão a uma rebelião "tão longa e árdua luta quanto foi a Guerra Civil nos Estados Unidos". 68

 

Este enorme aparato de repressão doméstica também é necessário porque outro aspecto do imperialismo emergente da China é a opressão de seus mais de 100 milhões de minorias nacionais e étnicas – suas colônias internas. E essas minorias nacionais também desejam se livrar do regime estalinista-capitalista dominado pelo Han, como mostrou a revolta repetida no Tibete e no Leste-Turquestão (chamado Xinjiang pelos han-chineses) nos últimos anos.

 

 

 

Exportação de capital como capital de títulos e empréstimos

 

 

 

Uma das características mais importantes de uma burguesia imperialista é a formação de monopólios que exportam capital. De fato, tal desenvolvimento aconteceu na China durante a última década. Já mostramos acima os números de monopólios chineses que entraram na liga das maiores corporações globais. Como resultado, a China aumentou enormemente sua exportação de capital.

 

O rápido crescimento da China como exportador de capital ocorre tanto no nível de investimento produtivo quanto no nível de capital monetário (títulos, empréstimos etc.). Como resultado de seu imenso processo rápido de acumulação de capital, o imperialismo chinês também acumulou enormes volumes de capital monetário. Isso se expressa em um extraordinário rápido crescimento de suas reservas cambiais. Essas reservas explodiram de US$ 165 bilhões em 2000 para US$ 3,305 bilhões em março de 2012. 69 Como tal, as reservas cambiais da China equivalem à soma combinada dos próximos 6 maiores detentores de reservas cambiais! É claro que as reservas cambiais não são pacotes de dinheiro em papel que é pessoal em um capital seguro, mas monetário, que é colocado em circulação para garantir ao titular um juro, ou seja, uma parte do valor excedente criado pelo respectivo país. Normalmente, as reservas cambiais são investidas em depósitos relativamente seguros, como títulos públicos, depósitos no Banco para Assentamentos Internacionais ou Direitos Especiais de Saque (SDRs) mantidos pelo Fundo Monetário Internacional. De fato, cerca de 83% dos ativos totais da China de US$ 3,4 trilhões são reservas cambiais e a maior parte é investida em títulos soberanos estrangeiros. 70

 

Na Figura 71 podemos ver o crescimento explosivo das reservas cambiais chinesas entre 2002 e 2011. Ao mesmo tempo, podemos ver que ela se tornou uma parte essencial da dívida pública dos EUA. Recentemente, tornou-se o maior detentor de títulos estrangeiros da dívida dos EUA. De todos os detentores de dívida dos EUA, a China está com US$ 1,73 trilhão o terceiro maior, atrás apenas de duas instituições governamentais dos EUA – as participações do Fundo de Seguridade Social de quase US$ 3 trilhões e as quase US$ 2 trilhões em investimentos do Tesouro. 71

 

Ao mesmo tempo, a classe dominante da China está diversificando seus depósitos de títulos públicos estrangeiros. Como mostra o mesmo valor, Pequim reduziu suas participações em títulos americanos como uma parte de suas participações totais. Essa participação caiu de 75% em 2002 para 54% em 2011. Recentemente, o capital estatal da China começou a comprar ações da dívida pública da zona do euro. Em fevereiro de 2012, o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, disse na cúpula UE-China: "A Europa é um principal destino de investimento para a China diversificar suas reservas cambiais." Já no primeiro semestre de 2011, os governos asiáticos – essencialmente Japão e China – representaram entre 14% e 24% das compras de três títulos da EFSF no valor de € 13 bilhões. Espera-se que esses volumes tenham crescido desde então. 72

 

 

 

Figura 71: Reservas cambiais da China e suas Participações em Valores Mobiliários dos EUA, 2002-2011 73

 

 

 

 

 

A China também é um credor ativo em empréstimos bilaterais. De acordo com o "Financial Times", os bancos chineses emergiram como um grande financiador nos últimos anos. Já está emprestando mais dinheiro aos chamados países em desenvolvimento do que ao Banco Mundial. O Banco de Importação de Exportação da China e o Banco de Desenvolvimento da China assinaram empréstimos de pelo menos US$ 110 bilhões para outros governos e empresas de países em desenvolvimento em 2009 e 2010 (o Banco Mundial se comprometeu com US$ 100,3 bilhões de meados de 2008 a meados de 2010). O objetivo desses empréstimos é – como geralmente é o caso de empréstimos estatais a governos estrangeiros – para apoiar as exportações chinesas e empresas no exterior. 74

 

Não surpreende, portanto, que a China esteja hoje perto de ser o maior exportador de capital líquido, apenas ligeiramente atrás da Alemanha. (Como podemos ver na Figura 72 que reproduzimos do Relatório global de estabilidade financeira do FMI em abril de 2012)

 

 

 

Figura 72: China como o segundo maior exportador de capital líquido do mundo, 2011 75

 

 

 

 

 

Exportação de capital como investimento estrangeiro direto

 

 

 

No entanto, o capital da China não está apenas ativo no mercado internacional de empréstimos e títulos, mas também como um investidor estrangeiro no setor industrial e de matérias-primas. Desde que a China emergiu recentemente como uma potência imperialista, ela ainda é mais fraca no mercado global do que as potências imperialistas que dominaram por mais de um século. Assim, na Tabela 55 vemos que as antigas potências imperialistas como os EUA, a Grã-Bretanha, a Alemanha ou a França ainda têm um estoque externo de Investimento Estrangeiro Direto (IED) maior que a China. No entanto, este último já não está muito atrás da Itália imperialista.

 

 

 

Tabela 55: índice de Investimentos Estrangeiros Diretos-IED por países, 2011 (índice de participação Global do IED) 76

 

 

 

 

 

No entanto, é preciso ter em mente que a China começou há apenas alguns anos seus enormes impulsos de investimento estrangeiro. Lembre-se que mostramos na Tabela 30 acima que a participação da China nas ações globais do IED foi de 0,2% em 1990 e 0,4% em 2000. Desde então, mais do que quadruplicou para 1,7%.

 

Isso é por causa do rápido processo de recuperação nos anos 2000. A Figura 73 demonstra esse rápido crescimento desde 2005. Esta figura, publicada pelo think tank burguês dos EUA The Heritage Foundation, compara os cálculos oficiais e o Patrimônio, mas as diferenças não são significativas. De acordo com as estatísticas oficiais chinesas, o IED do país nos anos de 2005 a meados de 2012 foi de US$ 344,8 bilhões, enquanto a Heritage Foundation dá a cifra de US$ 335 bilhões.

 

 

 

Figura 73: Investimento Externo da China, 2005 – meados de 2012 (em bilhões de dólares) 77

 


 

Na Tabela 56 comparamos os fluxos anuais do IED externo de vários países imperialistas nos últimos cinco anos. Pode-se ver que o imperialismo chinês já superou em rivais de Investimento Estrangeiro Direto como Canadá ou Itália e já atingiu o nível de países como a Alemanha.

 

 

 

Tabela 56: Fluxos de IED de países selecionados, 2006-2011 (em bilhões de dólares americanos)

 

78

 

 

 

Uma nota sobre o papel de Hong Kong no investimento estrangeiro direto

 

 

 

Neste ponto, precisamos fazer uma observação sobre o lugar de Hong Kong nestas estatísticas. Embora tenhamos apresentado os números para Hong Kong, nós nos referimos apenas aos números da China. Isso parece estranho, já que Hong Kong faz parte do Estado chinês desde 1997. No entanto, deixamos de fora Hong Kong deliberadamente porque uma série de investimentos estrangeiros diretos em Hong Kong são originários da China e voltam para a China. A razão para isso foi que o governo estalinista-capitalista da China ofereceu privilégios fiscais a empresas estrangeiras que investiram na China. Como resultado, muitos capitalistas chineses investiram formalmente em Hong Kong para reinvestir seu capital na China. No entanto, isso deveria ter terminado nos últimos anos desde que o governo da China parou esses privilégios fiscais em 2008.

 

O economista John Smith escreve: "Outro exemplo desse tipo de distorção é o chamado triplo do investimento chinês através de Hong Kong, no qual o investimento interno aparece como IED — estima-se que até metade de todo o IED para dentro na China se enquadra nessa categoria." 79

 

Este é um fato importante porque também significa que o papel dos investimentos estrangeiros diretos na China é substancialmente superestimado. Significa que o significado das antigas capitais imperialistas na China é menos do que se pensava.

 

Outra razão para dispensar Hong Kong é que esta ex-colônia britânica serve como um centro para muitas corporações multinacionais ocidentais para mais investimentos em outros países asiáticos. Portanto, uma parte significativa do IED saindo de Hong Kong é, na verdade, o IED imperialista ocidental.

 

No entanto, mesmo excluindo Hong Kong, a China tornou-se o quarto maior investidor externo do mundo em 2010. 80

 

 

 

Onde a China está investindo no exterior?

 

 

 

Para quais regiões e países a China está investindo no exterior? Na tabela 57 s – que se baseia nos cálculos mais recentes publicados pela The Heritage Foundation –, podemos ver que os capitalistas chineses investiram desde 2005 quantidades significativas de capital em todas as regiões. Os países mais importantes para os investimentos em títulos da China são (calculados em Bilhões de Dólares): Austrália (45,3), EUA (42), Brasil (25,7), Indonésia (23,3), Nigéria (18,8), Canadá e Irã (cada 17,2) e Cazaquistão (12,3). Não estão listados nesta tabela, mas também importantes são investimentos de cerca de US$ 5 bilhões na Grécia e na Venezuela de cerca de US$ 8,9 bilhões. (Números de 2005-2010) 81

 

 

 

Tabela 57: Destinos da Exportação de Capital da China (Investimento Não-Bond) de 2005 a meados de 2012 (em bilhões de dólares americanos) 82

 

 

 

 

 

Em quais setores o capital chinês investe? Dado o tamanho da China, o rápido crescimento e a falta de matérias-primas, muitos de seus investimentos estrangeiros vão para o setor de mineração. Desde 2003, quase 55% do Greenfield IED da China e 27% de suas transações de Fusões & Aquisições ocorreram no setor de mineração. 83 Este foco no petróleo, gás e outras matérias-primas também é visível da Tabela 58 que dá as somas dos Investimentos do tipo Não-Bond (títulos não obrigatórios) da China para os anos de 2005-2010. Essa tendência permaneceu inalterada nos últimos dois anos. (Ver Figura 74)

 

 

 

Tabela 58: Investimentos Não-Bond da China pelo Tipo 2005-2010 (em bilhões de dólares) 84

 

 

 

 

 

Figura 74: Composição setorial dos recentes investimentos estrangeiros da China, julho de 2009 ‐ junho de 2011 (em bilhões de dólares) 85

 

 

 

 

 

Os monopólios da China também compram cada vez mais grandes players ocidentais no mercado financeiro. Um autor do Federal Reserve Bank dos EUA publica relatórios de compras pela China Investment Corporation, o fundo soberano da China, de uma participação de 9,9% no Morgan Stanley e no The Blackstone Group. O Banco de Desenvolvimento da China, controlado pelo Estado, comprou uma participação de 3,1% no Barclays; e o grupo privado Ping An Insurance comprou uma participação de 4,2% na Fortis. O ICBC, o maior banco comercial controlado pelo Estado da China, comprou uma participação de 20% do South African Standard Bank Group. 86

 

Mostramos acima o domínio do setor capitalista estatal entre os monopólios da China. Portanto, não surpreende que as empresas estatais também desempenham um papel dominante nos investimentos estrangeiros do país, que é realizado pelas mais de 34 mil afiliadas estrangeiras controladas por cerca de 12 mil empresas-matrizes chinesas. 87

 

Em 2009, mais de 2/3 das saídas do IED da China eram das SOEs controladas centralmente e uma parte do restante era de empresas parcialmente de propriedade ou controladas pelo Estado, ou por governos provinciais ou municipais. 88

 

O domínio do setor estatal-capitalista é particularmente forte nos projetos maiores. A Heritage Foundation relata: "Em termos de grandes negócios, porém, as SOEs dominam absolutamente. As SOEs representaram 96% do valor do dólar dos investimentos chineses de 2005 a meados de 2012. O papel privado tem sido mínimo." 89

 

Segundo dados oficiais, os quatro super-monopólios estatais – as gigantes petrolíferas China National Petroleum Corporation-CNPC e China Petroleum and Chemical Corporation-Sinopec, o fundo soberano China Investment Corporation-CIC e o conglomerado de metais Aluminum Corporation of China Limited-Chinalco – respondem por cerca de metade dos gastos chineses desde 2005. 90 Na Figura 75 mostramos os ativos estrangeiros das SOEs não bancárias chinesas em 2010.

 

 

 

Figura 75: Ativos Estrangeiros das principais SOEs não-bancários da China, 2010 (em Bilhões de Dólares Americanos) 91

 

 

 

 

 

Super-exploração das semicolônias

 

 

 

Como vimos acima na Tabela 5, os monopólios da China direcionam uma proporção significativa de seus investimentos estrangeiros para países semicoloniais como Nigéria, Brasil, Indonésia, Irã, Cazaquistão, Grécia ou Venezuela. Pode-se assumir com segurança que um grande número dos cerca de 800 mil funcionários estrangeiros de corporações chinesas está localizado em países semicoloniais. 92

 

Embora seja verdade que a China ainda está substancialmente por trás das antigas potências imperialistas em ações de investimento estrangeiro direto externo, seu papel nos países semicoloniais está aumentando rapidamente. Em 2010, a China tornou-se o terceiro maior investidor da América Latina, atrás dos EUA e dos Países Baixos 93 A China também é o maior parceiro comercial da África e compra mais de um terço de seu petróleo do continente. 94 (Veja as duas Figuras 76 e 77)

 

 

 

Figura 76: Comércio da China com a África, 1995-2010 (Importação e Exportação em Bilhões de Dólares) 95

 

 

 

 

 

Figura 77: Comércio da China com Ásia Oriental e África Subsaariana (Participação das Exportações para a China em %), 1990 e 2010 96

 

 

 

 

 

Entre outros investimentos estratégicos, como companhias petrolíferas etc., os monopólios chineses se concentram no controle de projetos de infraestrutura centralmente importantes, como os portos. Por exemplo, a China já investiu US$ 200 milhões na construção de um porto moderno em Gwadar, na província do Sudoeste do Paquistão, Baluchistão, cuja minoria nacional é severamente reprimida pelo Estado paquistanês (com o apoio de dinheiro e armas dos EUA e da China). 97

 

Outro exemplo é a tomada da mina de níquel Ramu Nickel de US$ 1,37 bilhão da Papua-Nova Guiné pela China Metalurgical Construction Corporation (MCC) – uma das maiores e mais lucrativas empresas estatais da China – juntamente com três empresas siderúrgicas chinesas. É o maior investimento da China no Pacífico Sul. Nos próximos 20 anos, produzirá 31.150 toneladas de níquel e 3.300 toneladas de cobalto por ano, que serão enviadas para a China. 98 Comunidades locais resistiram o melhor possível contra esses projetos porque devasta a área e envenena a água. A baía local de Basamuk está ameaçada de se tornar a área de despejo de 100 milhões de toneladas de rejeitos da mina de Ramu nos próximos 20 anos. Isso destruirá as condições de vida da população local. 99

 

Da mesma forma, a gigante estatal chinesa de navegação Cosco assumiu recentemente o maior porto da Grécia, Pireu, que também é um dos portos mais importantes da região do Mediterrâneo Oriental. Cosco assinou um contrato de 35 anos e pagou US$ 4,2 bilhões pelos direitos. Segundo relatos, a Cosco está buscando transformar Pireus em um porto muito maior para rivalizar com Roterdã, na Holanda, que atualmente é o maior porto europeu. O objetivo é dobrar o tráfego em Pireu para 3,7 milhões de contêineres até 2015. Cosco também se expandiu recentemente na Itália, para o porto de Nápoles. 100

 

 

 

Forças Militares da China

 

 

 

A China é um poder crescente não só na economia, mas também no terreno político e militar. Entre 2002 e 2011, a China aumentou seus gastos militares em 170%. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI), tem hoje o segundo maior orçamento militar do mundo, superado apenas os EUA. (Ver Tabela 59)

 

 

 

Tabela 59: O 10 maior gastador militar em 2011 (em bilhões de dólares americanos) 101

 


 

Some-se a isso que a China é a quinta maior potência nuclear mundial, atrás dos EUA, Rússia, Grã-Bretanha e França. 102 Os militares da China se modernizaram rapidamente na última década e possui sérias capacidades militares para guerras ofensivas. Recentemente provou que é capaz de derrubar satélites.

 

A China não é apenas o segundo maior gastador militar e a quinta maior potência nuclear; também é o lar de grande fabricante de armas. Em sua lista, o SIPRI nomeia os monopólios de armas chineses como o quinto maior concorrente no mercado global de armamento, como podemos ver na Tabela 60.

 

 

 

Tabela 60: O 10 maior exportador de armas principais em 2010 (participação do mercado global) 103

 


 

O pano de fundo para este impulso ao armamento é que a China como uma nova potência imperialista emergente é marcada por um déficit histórico: é uma potência imperialista tardia. Isso significa que suas áreas circundantes já estão na esfera de influência de outros poderes hegemônicos. Para o Norte e Oeste, o rival é principalmente a Rússia, enquanto – e este é hoje o aspecto mais importante – ao seu Sul e Leste é os EUA e o Japão. Isso significa que a China só pode criar sua (semi-)esfera colonial de influência confrontando abertamente outras Grandes Potências. A este respeito, seu destino não é diferente da situação histórica da Alemanha no final do século XIX e na primeira metade do século XX, que só poderia criar seu império desafiando as grandes potências existentes como França, Grã-Bretanha e Rússia.

 

 

 

A Luta pelo controle sobre o Mar do Sul da China (ou Leste)

 

 

 

A China tem uma longa agenda de objetivos imperialistas para os quais precisará de forças militares fortes. Entre eles está seu objetivo de longa data de reconquistar Taiwan por qualquer meio necessário. Outra é garantir seu domínio em seu mare nostrum (nosso mar), o Mar do Sul da China (os chineses o chamam assim, enquanto o Vietnã o chama de Mar do Leste). Este mar não é apenas importante para a China, mas para toda a economia mundial capitalista: um quarto da tonelagem de petróleo do mundo e metade da tonelagem de mercadorias do mundo atualmente passam por suas águas. 104 Os estrategistas militares chineses desenvolveram o conceito Two Island Chains (Cadeias de duas Ilhas) – uma área que eles desejam dominar e controlar. Como se pode ver, a primeira linha – também chamada de "linha de nove traços" – na verdade reivindica o mar completo para a China, deixando apenas a área costeira para todos os outros países vizinhos como Vietnã, Malásia ou Filipinas. A segunda linha vai mais longe e, obviamente, o confronto é com os poderosos interesses dos vizinhos, em particular o Japão imperialista. (Ver Figura 78)

 

 

 

Figura 78: Cadeia de duas ilhas da China no Mar do Pacífico 105

 

 

 

 

Além de sua importância para o comércio marítimo mundial, o Mar do Sul da China (ou Leste) também contém grandes recursos naturais. É responsável por aproximadamente 10% da pesca global anual, tornando-a extremamente importante para as indústrias pesqueiras de países próximos. 106 A China é o maior consumidor e exportador de peixes do mundo. Para o Vietnã, a indústria pesqueira é ainda mais crucial. O comercio de frutos do mar foi o segundo maior ganhador de câmbio em 2010, respondendo por 7% de suas exportações de US$ 71,6 bilhões. A captura de pesca do Vietnã também fornece cerca de metade do consumo total de proteínas de uma parcela significativa da população. 107

 

O Mar do Sul da China (ou Leste) também é importante, uma vez que há indícios de existência de grandes recursos de petróleo e gás. Alguns já falam de um "segundo Golfo Pérsico". As estimativas sobre o tamanho do recurso diferem fortemente. Enquanto um levantamento geológico dos EUA em 1993-1994 sugeriu 28 bilhões de barris de petróleo dentro de toda a área, algumas estimativas chinesas reivindicaram cerca de 105 bilhões de barris de petróleo dentro das Ilhas Spratly e das Ilhas Paracel. O ministério chinês de terra e recursos estima recursos de 55 bilhões de toneladas de petróleo e 20 trilhões de metros cúbicos de gás. Embora sejam estimativas, reservas comprovadas já foram encontradas. Em 2006, a empresa canadense Husky Energy, que trabalha com a National Offshore Oil Corporation (CNOOC) anunciou uma descoberta de reservas comprovadas de gás natural de 4 a 6 trilhões de pés cúbicos. 108

 

Um resultado disso é o conflito persistente da China com seus países vizinhos como Filipinas, Taiwan, Vietnã e Malásia sobre o controle sobre as Ilhas Spratly, mas também outras áreas como as Ilhas Paracel. (Ver Figura 79) Toda classe capitalista quer obter uma parte o maior possível do mar rico em recursos.

 

 

 

Figura 79: Reivindicações de Soberania no Mar do Sul da China 109

 

 

 

 

É lógico que, como consequência desses interesses conflitantes, uma corrida armamentista tenha começado na região. A China – como mostramos acima – aumentou drasticamente suas capacidades militares. Mas não é apenas a China que está construindo dramaticamente seus recursos militares; militarização está progredindo em toda a região do Sudeste Asiático. Os orçamentos de defesa dos vizinhos da China aumentaram cerca de um terço na última década. As importações de armas para a Indonésia, Cingapura e Malásia aumentaram 84%, 146% e 722%, respectivamente, desde 2000. Os gastos são principalmente em plataformas navais e aéreas: navios de guerra de superfície, submarinos com sistemas avançados de mísseis e caças de longo alcance. O Vietnã recentemente gastou US$ 2 bilhões em seis submarinos russos de última geração da classe Kilo e US$ 1 bilhão em caças russos. A Malásia acaba de abrir uma base submarina em Bornéu. 110

 

Dada a importância estratégica do Mar ao sul da China, o imperialismo dos EUA está determinado a impedir o controle de seu rival. Até agora, os EUA construíram estreitas alianças com estados regionais que lhe permitem controlar bases militares no Japão, Coreia do Sul, Guam, Austrália, Cingapura ou Filipinas.

 

Recentemente, o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, realizou um discurso em 2 de junho de 2012 na décima primeira cúpula anual de defesa do Diálogo Shangri-La em Cingapura. Nesse encontro, ele enfatizou que desde que a guerra no Iraque acabou e os níveis de tropas dos EUA estão diminuindo no Afeganistão, o presidente Barack Obama aprovou uma estratégia direcionando para a Ásia no ano passado. Ele pediu a expansão das alianças americanas com "parceiros do tratado de defesa" na Ásia-Pacífico, como Austrália, Japão, Nova Zelândia, Filipinas, Coreia do Sul e Tailândia. Assim, os Estados Unidos planejam posicionar 60% de sua marinha na região até 2020. 111

 

Em um de seus mais recentes documentos de estratégia, o Pentágono dos EUA formula seu desejo de manter seu status hegemônico no Pacífico nas típicas palavras diplomáticas, que, no entanto, não devem cegar ninguém dos motivos imperialistas por trás deles:

 

"A longo prazo, o surgimento da China como potência regional terá o potencial de afetar a economia dos EUA e nossa segurança de várias maneiras. Nossos dois países têm uma forte participação na paz e estabilidade no leste da Ásia e no interesse em construir uma relação bilateral cooperativa. No entanto, o crescimento do poder militar da China deve ser acompanhado de maior clareza de suas intenções estratégicas, a fim de evitar causar atritos na região." 112

 

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, explicou a lógica por trás dessa mudança de estratégia no outono de 2011 em um artigo com o título simbólico America's Pacific Century O Século da América No Pacífico): Encaixado em frases diplomáticas, ela expressou claramente os interesses estratégicos do imperialismo dos EUA em fortalecer sua hegemonia sobre a região do Pacífico, a fim de aumentar os lucros dos monopólios dos EUA:

 

"Aproveitar o crescimento e o dinamismo da Ásia é central para os interesses econômicos e estratégicos americanos e uma prioridade fundamental para o presidente Obama. Mercados abertos na Ásia oferecem aos Estados Unidos oportunidades sem precedentes de investimento, comércio e acesso à tecnologia de ponta. Nossa recuperação econômica em casa dependerá das exportações e da capacidade das empresas americanas de explorar a vasta e crescente base de consumidores da Ásia. Estrategicamente, manter a paz e a segurança em toda a Ásia-Pacífico é cada vez mais crucial para o progresso global, seja através da defesa da liberdade de navegação no Mar do Sul da China, contra os esforços de proliferação da Coreia do Norte ou da garantia da transparência nas atividades militares dos principais atores da região." 113

 

Para enfatizar sua reivindicação de influência sobre o Mar do Sul da China, Hillary Clinton, declarou em um discurso no Fórum Regional da ASEAN no Camboja, em julho de 2012, que os Estados Unidos têm um "interesse nacional" nos assuntos do mar: "Como uma nação do Pacífico e poder residente, os Estados Unidos têm um interesse nacional na liberdade de navegação, na manutenção da paz e estabilidade , respeito ao direito internacional e comércio legal sem obstáculos no Mar do Sul da China." 114

 

A frase de Clinton "defendendo a liberdade de navegação no Mar do Sul da China" é claramente dirigida contra qualquer desejo hegemônico da China. Aqueles com conhecimento da história podem lembrar que o slogan "defender a liberdade de navegação" era a frase tradicional do colonialismo britânico para ameaçar a guerra contra qualquer rival.

 

Dadas as fraquezas militares do Japão, funcionários do governo em Tóquio elogiaram o plano dos EUA. Um alto funcionário do Ministério da Defesa japonês é citado dizendo: "O poder de dissuasão em todo o Pacífico Ocidental será mais forte."115

 

Não deve haver ilusões sobre uma solução pacífica da rivalidade interna-imperialista das Grandes Potências. Uma guerra imperialista entre as grandes potências EUA e China está se tornando cada vez mais inevitável na próxima década. Ambas as potências precisam de controle sobre o leste da Ásia, que é central para a produção de valor capitalista mundial, bem como para o comércio.

 

A crescente rivalidade entre essas duas Grandes Potências se reflete em vários livros e artigos de estrategistas burgueses ocidentais e chineses que já esperam uma guerra que se aproxima. Robert D. Kaplan, um estrategista altamente influente dos EUA que foi nomeado pelo ministro da Defesa Gates para o Conselho Consultivo de Política de Defesa, publicou um artigo em 2005 com o título programático: "Como lutaríamos contra a China". Ele advertiu: "Dadas as apostas, e dado o que a história nos ensina sobre os conflitos que emergem quando grandes potências buscam interesses legítimos, o resultado provavelmente será o conflito militar definidor do século XXI: se não uma grande guerra com a China, então uma série de impasses de estilo da Guerra Fria que se estendem ao longo de anos e décadas." 116

 

Michael Auslin, um estudioso do American Enterprise Institute, de direita dos EUA, declarou recentemente que as ações de Pequim no Mar do Sul da China "inflamaram ainda mais as tensões e tornaram menos provável um acordo negociado das disputas territoriais da Ásia-Pacífico". 117 Outro autor, escrevendo em um diário do establishment militar australiano, chega à conclusão de que "... tendências sistêmicas sugerem que um futuro de uma guerra de uma grande potência na Ásia-Pacífico parece cada vez mais provável." 118

 

Da mesma forma, o think tank imperialista International Crisis Group alertou em um estudo de julho de 2012:

 

"A falha em reduzir os riscos de conflitos, combinado com os fatores econômicos e políticos internos que estão empurrando os demandantes para um comportamento mais assertivo, mostra que as tendências no Mar do Sul da China estão indo na direção errada. O risco de escalada é alto, e como a pressão na região ameaça ferver, os reclamantes se beneficiariam de tomar medidas concretas em direção à gestão conjunta de recursos de hidrocarbonetos e pesca, bem como para chegar a um terreno comum sobre o desenvolvimento de um mecanismo para diminuir ou colocar em baixa escala os incidentes, mesmo que não possam concordar com uma abordagem global para a resolução de controvérsias. Na ausência de tal mecanismo, as tensões no Mar do Sul da China poderiam ser facilmente levadas a níveis irreversíveis." 119

 

É claro que os enormes riscos de tal guerra se tornar nuclear não passam despercebidos. Hugh White, um influente especialista em segurança australiano, está plenamente ciente dos riscos potenciais de tal conflito militar: "Qualquer conflito entre os Estados Unidos e a China tem uma chance real de se tornar nuclear". “120

 

O estrategista norte-americano Paul Stares, que está intimamente ligado ao círculo de poder de Washington, escreveu recentemente em seu prefácio para um estudo sobre as relações EUA-China: "Se a experiência passada for um guia, os Estados Unidos e a China se encontrarão envolvidos em uma grave crise em algum momento no futuro". (121) A mesma linha é propagada por Max Hastings, um influente jornalista britânico, que publicou em novembro de 2011 um artigo com o título característico "Será que a Terceira Guerra Mundial será entre os EUA e a China?" 122

 

Da mesma forma, o regime estalinista-capitalista em Pequim está determinado a obter controle total sobre o mar do Sul da China. O ministro das Relações Exteriores da China fez um discurso em 2011 no qual lembrou às nações do Sudeste Asiático que elas são pequenas, enquanto a China é muito grande. 123

 

O Global Times, o jornal em inglês do People's Daily (Diário do Povo) – o principal órgão do partido Comunista da China – que muitas vezes atua como porta-voz internacional do regime, ameaçou o Vietnã abertamente com a guerra em junho de 2011:

 

"A China tem que enviar uma mensagem clara de que tomará todas as medidas necessárias para proteger seus interesses no Mar do Sul da China. Se o Vietnã continuar a provocar a China nesta região, a China primeiro lidará com ela com as forças policiais marítimas e, se necessário, contra-atacará com as forças navais. A China deve afirmar claramente que, se decidir revidar, também retomará as ilhas anteriormente ocupadas pelo Vietnã. Se o Vietnã quer começar uma guerra, a China tem a confiança para destruir navios de guerra do Vietnã invasores, apesar das possíveis objeções da comunidade internacional. Os EUA podem adicionar alguma incerteza no Mar do Sul da China. A China lidará com isso com cuidado, e não é provável que se envolva em um confronto direto com os EUA. A ascensão da China veio ao custo do aumento dos riscos estratégicos no sul. A China continuará sua dedicação à paz e ao desenvolvimento, mas tem que estar pronta para enfrentar confrontos e confrontos. A provocação do Vietnã pode se tornar uma pedra de toque." 124

 

No entanto, os objetivos imperialistas da China não se limitam ao leste da Ásia. A revista geopolítica australiana "Desafios de Segurança" apontou recentemente:

 

"Com muita frequência, o engajamento da China com a África é visto historicamente e emanando puramente de motivações econômicas não adulteradas para recursos e acesso ao mercado. Essa leitura ignora a forma como o comércio da China e as buscas por segurança energética são indicativos de um plano estratégico mais amplo para desafiar a dominação ocidental tradicional dentro da África e, em última instância, criar uma alternativa crível à ordem global predominante que se alinha mais estreitamente com os interesses da China, ao mesmo tempo em que corroe os fundamentos do domínio global ocidental." 125

 

Resumindo, o Leste da Ásia e o Mar do Sul da China (ou Leste) é uma região prenhe de conflitos militares e guerras. Pode ser a arena para a próxima guerra imperialista – entre os EUA e a China.

 

 

 

Qual deve ser a posição da Classe Trabalhadora em possíveis guerras envolvendo o imperialismo americano e chinês e as nações do Sudeste Asiático?

 

 

 

Como observamos acima, a Emergente China imperialista reivindica o controle completo sobre o mar que deixaria apenas uma pequena faixa marítima para todos os outros países vizinhos. Já houve vários confrontos armados entre as forças navais chinesas e vizinhas. Ao mesmo tempo – como dissemos – os conflitos militares entre a China e os EUA são uma possibilidade crescente. Como parte dessa rivalidade, o exército dos EUA está determinado a "ajudar" seus aliados semicoloniais como as Filipinas, aumentando assim a probabilidade de guerras por procuração.

 

Por isso, veremos guerras com interesses complexos e diferentes. Lênin gostava de citar o teórico militar prussiano Clausewitz, que disse que "a guerra é a continuação da política por outros meios". Se os EUA forem para a guerra, será uma continuação de sua política para manter sua hegemonia imperialista por outros meios. Será uma guerra para manter a super-exploração imperialista dos EUA sobre os países semicoloniais nas regiões. Da mesma forma, se a China entrar em guerra, será uma continuação de sua política para se tornar uma das maiores potências imperialistas do mundo por outros meios. Neste caso, também será uma guerra para manter a super-exploração imperialista da China sobre países semicoloniais nas regiões.

 

Qual deve ser a abordagem da classe trabalhadora nos países em causa e globalmente? A Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI) escreveu em seu programa – O Manifesto Comunista Revolucionário – sobre guerras imperialistas:

 

"Os bolcheviques-comunistas lutam em todos os lugares contra o militarismo burguês e a guerra imperialista. Rejeitamos categoricamente a política dos pacifistas, social-democratas e estalinistas que apelam para o desarmamento, para a mediação da ONU, a coexistência pacífica entre os Estados e a promoção da resistência não violenta. Os governantes com seus órgãos falantes como a ONU ou seus tribunais internacionais hipócritas nunca conseguem abolir a guerra no mundo. Isso só pode ser alcançado pela classe trabalhadora e pelos próprios povos oprimidos através da luta de classes intransigente – incluindo a luta armada. É por isso que defendemos um treinamento militar da classe trabalhadora sob seu próprio controle.

 

Nas guerras imperialistas, rejeitamos qualquer apoio à classe dominante. Defendemos a derrota do Estado imperialista. Nosso slogan é o de Karl Liebknecht: "O principal inimigo está em casa". Nosso objetivo é transformar a guerra imperialista em uma guerra civil contra a classe dominante.

 

Em conflitos militares entre estados imperialistas e estados trabalhadores estalinistas (como Cuba ou Coreia do Norte) ou povos e estados semicoloniais, pedimos a derrota do primeiro e para a vitória do lado não imperialista. Defendemos o último..." 126

 

Assim, como bolcheviques-comunistas, rejeitamos tomar o lado de uma das duas potências imperialistas rivais – os EUA ou a China. É uma guerra das respectivas classes dominantes para aumentar sua hegemonia e super-exploração dos países semicoloniais. A tática correta, portanto, é o derrotismo revolucionário onde os trabalhadores em ambos os campos levantam o slogan "O principal inimigo está em casa" e se esforçam para transformar a guerra imperialista em uma guerra civil contra sua própria classe dominante.

 

É um absurdo perigoso, de fato uma posição profundamente reacionária, de muitas forças reformistas e populistas de esquerda considerar a China não como um imperialista, mas sim um poder "socialista". Tal apoio à China por forças "socialistas" é igual ao social-imperialismo como escrevemos em nosso Manifesto:

 

"Um desenvolvimento perigoso no passado recente é o apoio aberto ou semiaberto ao poder imperialista china por forças burguesas e pequeno-burguesas que se descrevem como socialistas. (Por exemplo, vários partidos estalinistas, Chávez e o movimento bolivariano) A classe trabalhadora não tem o menor interesse em apoiar uma fração de capital monopolista (por exemplo, a China e seus aliados) contra outro (por exemplo, EUA). O apoio de setores do reformismo ao grande poder emergente China nada mais é do que o "social imperialismo" – que é uma política imperialista disfarçada de frases sociais ou mesmo "socialistas". 127

 

Qual posição a classe trabalhadora deve assumir em um conflito militar entre a China (ou os EUA) com um dos menores países do Leste Asiático? Aqui temos que levar em conta o fato de que países como Vietnã, Filipinas e Taiwan etc. não são potências imperialistas. São países capitalistas semicoloniais. No caso do Vietnã, devemos acrescentar que primeiro o Norte e desde meados da década de 1970 todo o país tornou-se um Estado Operário Degenerado governado por uma burocracia estalinista. No entanto, semelhante à China, esta burocracia estalinista empreendeu a restauração do capitalismo na década de 1990. Todos esses países são governados por uma classe capitalista. Mas estas não são classes dominantes que exploram outros países, mas são bastante dominadas e exploradas por potências imperialistas. Como dissemos em nosso programa, é princípio marxista defender tais países semicoloniais contra potências imperialistas.

 

No entanto, não é suficiente afirmar os princípios marxistas sobre as guerras. Na vida real, todas as formas de combinações, alianças, amálgamas de diferentes interesses etc. são possíveis e, de fato, são um aspecto importante da luta de classes. Ao formular a tática revolucionária correta, os marxistas têm de fundir a aplicação dos princípios marxistas da abordagem de classe às guerras com uma análise concreta de cada guerra em sua peculiaridade e totalidade.

 

Em relação ao Mar do Sul da China (ou Leste), isso significa o seguinte: Países como as Filipinas ou Taiwan tiveram estreitas alianças com o imperialismo dos EUA por muitas décadas – ou mais concretamente são semicolônias dos EUA. Diante desses fatos, é bem possível que possa haver uma guerra, por exemplo, entre as Filipinas e a China, como quase aconteceu no verão de 2012. Concretamente, neste caso, as forças militares Filipinas agiram em conformidade com as forças armadas dos EUA. Em tal guerra teríamos formalmente um poder imperialista (China) de um lado e um país semicolonial (Filipino) do outro lado. No entanto, na verdade seria uma guerra por procuração no caso das Filipinas, ou seja, eles agiriam como uma extensão do imperialismo dos EUA. Assim, a classe trabalhadora não deve se juntar para defender as Filipinas, mas deve tomar uma posição de derrotismo revolucionário como fariam em uma guerra inter-imperialista.

 

No entanto, nem todas as guerras na região são necessariamente guerra por procuração. O Vietnã, por exemplo – cujo povo heroicamente derrotou primeiro os japoneses, depois o imperialismo francês e finalmente os EUA em suas guerras de libertação no século XX – tem uma história de ser intimidado pela China. Basta lembrar o ataque reacionário da burocracia estalinista chinesa sobre o Vietnã em coordenação com o imperialismo dos EUA em 1979. Em princípio, o Vietnã tem o direito de usar o Mar do Leste para pescar não menos que a China. Sua resistência é justificada contra ser expulsa do Mar para que a China imperialista possa explorá-la sozinha. Assim, os bolcheviques-comunistas poderiam tomar em tal guerra uma posição revolucionária defensista do lado do Vietnã e uma posição derrotista sobre a China.

 

No entanto, o que estamos delineando aqui são apenas exemplos e possibilidades e nenhum compromisso para qualquer possível guerra futura. A verdade é concreta, como Lênin gostava de enfatizar, e é o maior dever de todos os marxistas estudar qualquer guerra futura concretamente. Os marxistas devem deduzir de tal análise se os trabalhadores devem se juntar para uma posição revolucionária defensista para o país semicolonial em causa ou se eles devem tomar uma posição revolucionária derrotista pedindo a derrota de ambos os lados.

 

Resumindo, os marxistas devem analisar todas as guerras – em particular onde envolve as nações imperialistas e semicoloniais – concretamente. Eles têm que descobrir se o impulso imperialista para subjugar uma determinada nação semicolonial é o aspecto dominante na guerra ou se é uma luta justa de defesa nacional está subordinada a uma guerra por procuração para uma potência imperialista. A partir disso, segue-se se os bolcheviques-comunistas tomam uma posição revolucionária derrotista ou revolucionária defensista sobre a luta da nação semicolonial.

 

 

 

Por que os governantes da China conseguiram se tornar imperialistas onde outros falharam?

 

 

 

No final deste capítulo, queremos tratar brevemente de algumas questões teóricas sobre o surgimento da China como potência imperialista. Os governantes chineses certamente não foram os únicos que tentaram se tornar uma potência imperialista no passado recente. Mas eles tiveram mais sucesso do que outros. Por quê? Ao responder a esta pergunta, é interessante comparar a China com outra Grande Potência que também foi um Estado Operário Degenerado até o início dos anos 1990: a Rússia.

 

Os russos também tentaram se tornar uma potência imperialista e, de fato, tiveram sucesso por volta da virada do século. No entanto, apesar de a antiga URSS fosse muito mais industrializada que a China, possuísse um parque de máquinas muito mais desenvolvido, tecnologia e mão de obra qualificada, apesar de todas essas vantagens, a China hoje é o estado imperialista muito mais poderoso. Qual é a razão para isto?

 

Claro, existem vários motivos. Mas, como elaboramos aqui, a ascensão da China a uma potência imperialista tem como base seu rápido crescimento econômico. Como marxistas, sabemos que a única fonte de força econômica de uma classe capitalista é a quantidade de valor capitalista que ela se apropria. Este valor capitalista é o produto de uma classe - o proletariado. E a classe trabalhadora chinesa foi forçada a criar uma enorme quantidade de valor capitalista nas últimas duas décadas, que foi a base para a formação de monopólios chineses, toda uma classe de capitalistas e uma enorme quantidade de capital para exportar. Como apontamos acima, os governantes chineses foram capazes do que dificilmente qualquer outra classe capitalista conseguiu: subjugar sua força de trabalho em sua maioria à superexploração. Esta superexploração foi e é obviamente lucrativa para as empresas estrangeiras que produzem nas Zonas Económicas Especiais da China. Mas a classe capitalista chinesa lucrou muito mais com essa superexploração generalizada, uma vez que se apropriou de uma parcela muito maior da mais-valia produzida.

 

Mas por que os governantes chineses tiveram muito mais sucesso do que os russos? A resposta só pode ser encontrada na forma do processo de restauração capitalista. Tanto na China quanto na Rússia, o capitalismo foi restaurado no início dos anos 1990. Portanto, em ambos os casos, vimos contra-revoluções sociais. Mas as formas eram muito diferentes. Na China, a burocracia estalinista conseguiu esmagar brutalmente a classe trabalhadora e a juventude com o massacre na Praça Tiananmen em 4 de junho de 1989, onde matou milhares de ativistas. Depois de conseguir isso, eles puderam subjugar a classe trabalhadora, impor sobre ela a pior disciplina de trabalho possível (lembre-se do draconiano sistema hukou) e, portanto, espremeu por muitos anos, sem nenhuma interrupção, volumes maciços de valor capitalista.

 

Compare isso com os governantes russos. A burocracia estalinista estava em uma posição mais fraca contra sua classe trabalhadora. Não houve massacre da Praça Tiananmen. Quando uma ala dos burocratas dirigentes tentou uma “solução chinesa” entre 19 e21 de agosto de 1991 (o golpe de Yanayev), ela falhou. Assim, enquanto na China vimos uma forma ditatorial de restauração capitalista, na Rússia tivemos uma contra-revolução democrática sob a liderança da ala Yeltsin da burocracia estalinista.

 

Essa diferença de forma foi importante e não acidental. Na Rússia, já tínhamos várias lutas de classes antes do golpe de agosto de 1991 (como as famosas greves de mineiros). Além disso, houve uma série de movimentos de massa de libertação nacional e democrática (no Báltico, no Cáucaso, etc.). Claro, essas greves e movimentos não foram suficientes para impedir a restauração capitalista, mas criaram enormes fendas e divisões no governo da burocracia estalinista para que se dividisse e fosse incapaz de apresentar uma “solução chinesa”.

 

Portanto, a tática correta para os marxistas nesses eventos históricos foi combinar a luta pela revolução política pelo poder da classe trabalhadora e contra a restauração capitalista com o apoio total aos trabalhadores chineses e à revolta da juventude em 1989. Na Rússia, em agosto de 1991, a luta pela revolução política teve que incluir a defesa das massas contra uma “solução chinesa” através do golpe de Yanayev e - depois de derrotado com sucesso - lutar contra a introdução do capitalismo por Yeltsin.

 

Tratemos brevemente de outro argumento levantado pela FLTI, corrente internacional em torno da LOI-DO na Argentina. 128 Aceitar a tese de que a China se tornou imperialista implicaria que o capitalismo ainda tem potencial para desenvolver as forças produtivas e isso não seria uma refutação da teoria do imperialismo de Lenin? 129 Nossa resposta é não. Na verdade, tal argumento denuncia uma falta de pensamento dialético.

 

Em primeiro lugar, Lenin afirmou explicitamente que entender a época imperialista como uma época de decadência não impede o rápido crescimento do capitalismo por algum tempo ou em alguns países. Ele escreveu isso em seu livro sobre o imperialismo:

 

Os monopólios, a oligarquia, a tendência para a dominação em vez da tendência para a liberdade, a exploração de um número cada vez maior de nações pequenas ou fracas por um punhado de nações riquíssimas ou muito fortes: tudo isto originou os traços distintivos do imperialismo, que obrigam a qualificá-lo de capitalismo parasitário, ou em estado de decomposição. Cada vez se manifesta com maior relevo, como urna das tendências do imperialismo, a formação de “Estados” rentistas, de Estados usurários, cuja burguesia vive cada vez mais à custa da exportação de capitais e do “corte de cupões”. Seria um erro pensar que esta tendência para a decomposição exclui o rápido crescimento do capitalismo. Não; certos ramos industriais, certos setores da burguesia, certos países, manifestam, na época do imperialismo, com maior ou menor intensidade, quer uma quer outra dessas tendências. No seu conjunto, o capitalismo cresce corri uma rapidez incomparavelmente maior do que antes, mas este crescimento não só é cada vez mais desigual como a desigualdade se manifesta também, de modo particular, na decomposição dos países mais ricos em capital (Inglaterra).130

 

Na verdade, como mostramos em publicações anteriores sobre a crise da economia mundial capitalista, o capitalismo global em sua totalidade estagnou e agora está em um período de declínio histórico. 131 Mas este não é um conceito mecânico e não significa que cada país no mundo inteiro esteja em declínio. Muito pelo contrário, como mostramos, as tendências de declínio, as crises de lucros nos principais centros do capitalismo mundial - os velhos monopólios imperialistas - levaram a uma crescente exportação de capital e superexploração do mundo semicolonial. É claro que o rápido crescimento da China e de outras chamadas economias emergentes não conseguiu e não pode impedir o declínio do capitalismo mundial. Apenas alguns falsos marxistas e charlatães, como pessoas em torno do grupo britânico “Revolução Permanente”, poderiam dizer que a China está liderando a economia mundial em uma longa curva de ascensão. Esta tese foi esmagada pela depressão em 2008/09 - a recessão mais profunda do mundo desde 1929 - da qual o capitalismo ainda não se regenerou.

 

Além disso, é preciso reconhecer que temos visto nas últimas décadas um declínio de longo prazo do imperialismo japonês e, posteriormente, do imperialismo norte-americano. O imperialismo da Europa Ocidental também sofre de obstáculos importantes com a falta de um aparelho de estado pan-europeu e uma economia unificada. Portanto, havia um enorme espaço para outra potência potencial se desenvolver e se tornar imperialista.

 

Certamente, é preciso reconhecer o caráter contraditório do imperialismo da China. Como um novo imperialismo emergente, vindo de um país onde as forças produtivas ainda são muito menos desenvolvidas do que nos antigos países imperialistas, ele certamente é ainda mais fraco do que seus rivais em várias áreas. É natural que seja muito menos desenvolvido do que as antigas potências imperialistas que têm 100 anos ou mais atrás de si. No entanto, já ganhou uma força enorme, como mostramos. Na verdade, o imperialismo chinês é uma unidade contraditória de elementos avançados e atrasados em seu desenvolvimento econômico. Trai um pensamento muito mecanicista se excluirmos a possibilidade de saltos no desenvolvimento, inclusive no desenvolvimento econômico. Em uma de suas melhores apresentações da dialética materialista, Lenin enfatizou que uma característica essencial do desenvolvimento tanto na natureza quanto na história humana são os “'saltos”, a' quebra na continuidade ', a' transformação no oposto ', a destruição do antigo e o surgimento do novo”. 132 Será que tais saltos no desenvolvimento são realmente impossíveis se a China possui uma vantagem mais decisiva para seus rivais: a superexploração da maioria de sua classe trabalhadora?! Não pensamos assim e, de fato, sem uma aplicação correta da dialética materialista, não se pode entender o desenvolvimento da China em uma potência imperialista emergente.

 

Por fim, queremos responder a outra preocupação: não existe o perigo de que os esquerdistas pequeno-burgueses nos países ocidentais explorem a avaliação marxista da China como uma potência imperialista e usem isso como justificativa para se aliar - aberta ou dissimuladamente - à sua própria burguesia ocidental contra os “tiranos desumanos” em Pequim. Na verdade, os mencionados FLTI acusam aqueles que caracterizam a China como imperialista de “capitular a Obama”. 133

 

A isto respondemos: É verdade que a esquerda pequeno-burguesa dos países ocidentais apoiará prontamente o seu imperialismo “democrático” contra a China. Lembramos bem como os social-democratas, estalinistas e muitos centristas no Ocidente se aliaram à "sua" burguesia nas décadas de 1930 e 1940 contra a Alemanha, a Itália e o Japão fascistas. Na verdade, enquanto existir rivalidade entre as potências imperialistas - isto é, enquanto durar a época imperialista - haverá potências imperialistas que são rivais dos estados ocidentais. Isso significa que seria errado para os revolucionários nos países ocidentais negar o caráter imperialista de qualquer rival de sua “própria” burguesia ocidental ?! Claro que isso seria um absurdo.

 

Não, a consequência para os bolcheviques-comunistas não pode ser negar o caráter imperialista da China. Por quê? Porque somos proletários internacionalistas, que partimos do ponto de vista do proletariado internacional. Para os trabalhadores dos países imperialistas ocidentais - que aliás constituem apenas uma pequena minoria da classe trabalhadora mundial de não mais que 25% - o “principal inimigo está em casa”. Para a classe trabalhadora chinesa, o principal inimigo também está "em casa" - ou seja, sua própria classe dominante. E nos países semicoloniais a classe trabalhadora tem vários - e não apenas um - inimigos estrangeiros: os EUA, a UE, o Japão, a China e a Rússia.

 

A questão decisiva que diferencia os revolucionários proletários dos esquerdistas pequeno-burgueses nos países ocidentais não é se eles reconhecem ou não o caráter imperialista da China. São muito mais as conclusões que eles extraem disso. Os bolcheviques-comunistas no Ocidente nunca ficarão do lado de “sua” burguesia contra a classe dominante chinesa (ou qualquer outra). Eles assumirão uma posição revolucionária derrotista em relação a “sua” burguesia em qualquer conflito militar. Eles continuarão a luta de classes contra a classe capitalista ocidental sob quaisquer circunstâncias e rejeitarão qualquer frente conjunta com o imperialismo “democrático” ocidental. A esquerda pequeno-burguesa, por outro lado, capitulará à pressão de “sua” própria burguesia e a apoiará contra os rivais chineses. A base para o internacionalismo proletário consistente é uma linha política derrotista consistente da luta de classes e não negar a realidade de várias potências imperialistas rivais que existem em diferentes partes do mundo.

 

 

 

1 Este Capítulo sobre a China é uma versão editada e ampliada do estudo que publicamos em agosto de 2012. Michael Pröbsting: "A transformação da China em uma potência imperialista. Um estudo dos aspectos econômicos, políticos e militares da China como uma Grande Potência". Foi publicado tanto na revista de língua inglesa Revolutionary Communism No. 4, como em um panfleto separado. Veja http://www.thecommunists.net/publications/revcom-number-4

 

2 Chegamos à posição da China como potência imperialista em junho de 2010, quando aprovamos uma resolução delineando esta conclusão no VIII. Congresso da LFI (nossa organização antecessora). Infelizmente, poucas poucas organizações socialistas entendem e reconhecem o caráter imperialista da China. É ainda mais importante chamar a atenção para aqueles que já chegaram à mesma conclusão sobre a China como fizemos. Aqui devemos mencionar particularmente o trabalho dos camaradas do Grupo Comunista de Trabalhadores de Aotearoa/Nova Zelândia-CWG e do grupo americano Trabalhadores Humanista para o Socialismo Revolucionário-HWRS. Independentemente de nós, eles desenvolveram a mesma análise do imperialismo chinês documentado em um panfleto "A Ascensão do Imperialismo Chinês" (O documento principal deste panfleto também pode ser encontrado na internet no site cwg(A/NZ) em http://redrave.blogspot.co.at/2009/12/flti-minority-report-on-current-world_25.html) O CWG(A/NZ) também publicou recentemente um excelente artigo sobre o imperialismo chinês emergente, a restauração capitalista e as consequências para a luta de classes que a CCRI/RCIT publicou em sua revista Revolutionary Communism No. 3 em junho de 2012. Está no site da CWG(A/NZ) em http://redrave.blogspot.co.at/2012/01/chinese-workers-and-peasants-confront.html. Também queremos chamar a atenção para outro trabalho interessante sobre o imperialismo emergente da China: um grupo maoísta austríaco "Initiative für den Aufbau einer Revolutionär-Kommunistischen Partei" publicou na língua alemã um estudo extenso e muito detalhado sobre os aspectos econômicos, políticos e militares. ("China – ein imperialistaisches Land auf dem Weg zu einer globalen Hegemonialmacht", junho de 2011) Apesar das óbvias diferenças programáticas que nos separam de uma organização maoísta, reconhecemos sua contribuição bem elaborada para uma compreensão efetiva do imperialismo chinês.

 

3 V. I. Lenin: Imperialismo, fase superior do capitalismo; in: LCW 22, p. 266

 

4 V. I. Lenin: Uma caricatura do marxismo e do economismo imperialista; in: LCW Vol. 23, p. 34

 

5 Leon Trotsky: Uma oposição pequeno-burguesa no Partido Socialista dos Trabalhadores-SWP (1939); in: Leon Trotsky: Em Defesa do Marxismo, Nova Iorque 1990, p. 45

 

6 Em nossa organização antecessora, examinamos regularmente o processo de restauração capitalista e as lutas dos trabalhadores. Estes artigos – geralmente escritos pelo nosso antigo camarada Peter Main – eram: "China: 'socialismo' com características capitalistas" (em: Trotskista Internacional nº 11, 1993); "China: Estalinistas se aproximam de seu objetivo capitalista" (em: Trotskista Internacional Nº 22, 1997); "Restaurando o capitalismo na China"(2000), http://www.fifthinternational.org/content/restoring-capitalism-china; "China: De Mao ao mercado" (em: Fifth International, Vol. 2, No.4, 2007); "China e Perspectivas Internacionais" (2006), http://www.fifthinternational.org/content/china-and-international-perspectives. Para uma análise da revolução social liderada pelos estalinistas em 1949-52, veja: Poder dos Trabalhadores: A Revolução Degenerada. As origens e a natureza dos estados estalinistas (1982), Capítulo: A Revolução Chinesa, pp. 54-59.

 

7 David W. Stelsel: Participação dos EUA na produção econômica global encolhendo, 28 de junho de 2012, http://www.valeofinancial.com/2012/06/u-s-share-of-global-economic-output-shrinking/

 

8 David W. Stelsel: Participação dos EUA na produção econômica global encolhendo, 28 de junho de 2012. Os leitores devem ignorar os números de 2017 que são apenas prognósticos. Particularmente em um período de crise acentuada e declínio deve-se ser cauteloso com uma figura tão concreta para o prognóstico.

 

9 Peter Marsh: China está à frente como melhor produtor de bens, Financial Times, 13 de março de 2011, http://www.ft.com/cms/s/0/002fd8f0-4d96-11e0-85e4-00144feab49a.html#axzz21RSTHoK4

 

10 World Steel Association: World Steel in Figures 2012, 01.06.2012 http://worldsteel.org/media-centre/press-releases/2012/wsif.html

 

11 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda (2012), publicada pelo Banco Mundial e pelo Centro de Pesquisa em Desenvolvimento do Conselho de Estado, a República Popular da China, p. 5

 

12 Banco Mundial: Horizontes de Desenvolvimento Global 2011. Multipolaridade: A Nova Economia Global, p. 140

 

13 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 4

 

14 Banco Mundial: Global Development Finance 2012, p. 110 e Asian Development Bank: Asian Development Outlook 2012. Enfrentando o aumento da desigualdade na Ásia, p. 272

 

15 Peter Marsh: China avança como melhor produtor de bens, Financial Times, 13 de março de 2011, http://www.ft.com/cms/s/0/002fd8f0-4d96-11e0-85e4-00144feab49a.html#axzz21RSTHoK4

 

16 Existem diferentes cálculos que dão números de 7%, respectivamente, 8,7%. Calculado na taxa de PPP é cerca de um quinto do nível dos EUA. (Veja China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 8; The Economist: Economia da China: Pedalando prosperidade, 26 de maio de 2012, http://www.economist.com/node/21555762

 

17 Karl Marx: Das Kapital, Banda III, MEW 25, p. 255; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III, Capítulo 14, Exposição das Contradições Internas da Lei

 

18 As Maiores Empresas do Mundo, Revista Forbes, 18.4.2012, http://www.forbes.com/sites/scottdecarlo/2012/04/18/the-worlds-biggest-companies/; Um olhar regional para a Forbes Global 2000; Revista Forbes, 20.4.2011, http://www.forbes.com/sites/scottdecarlo/2011/04/20/a-regional-look-at-the-forbes-global-2000-2/

 

19 Fortune Magazine: Fortune Global 500 lista em 2012, http://money.cnn.com/magazines/fortune/global500/2012/full_list/index.html

 

20 Fortune Magazine: Lista Fortune Global 500 em 2012

 

21 David Shambaugh: As corporações multinacionais da China são realmente multinacionais?; in: EAST ASIA FORUM QUARTERLY, Vol.4 No.2 Abril-Junho 2012, p. 7

 

22 As empresas chinesas empurram o Japão na lista Fortune Global 500, por Agence France-Presse, 9 de julho de 2012, http://www.rawstory.com/rs/2012/07/09/chinese-companies-push-out-japan-on-fortune-global-500-list/

 

23 Martin Seelos: Globale Verlagerung von konstantem Kapital, em: wirtschafts_krise Nr. 5, 2012, p. 91, http://wirtschaftskrise.blogworld.at/2012/11/24/globale-verlagerung-von-akkumulation/. Seelos publicou em seu blog uma série de estudos econômicos interessantes do ponto de vista marxista.

 

24 Ver China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, pp. 110-11

 

25 Isso também foi reconhecido pelo "The Economist" britânico em 2008, quando escreveu: "A economia da China não é impulsionada pelas exportações, mas pelo investimento, que representa mais de 40% do PIB". (The Economist: Economics focus: An old chinese myth. Ao contrário da sabedoria popular, o rápido crescimento da China não depende muito das exportações, 3 de janeiro de 2008, http://www.economist.com/node/10429271)

 

26 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 124

 

27 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 111

 

28 The Economist: Economia da China: Pedalando a prosperidade, 26 de maio de 2012, http://www.economist.com/node/21555762

 

29 Zhang Yu & Zhao Feng: A Taxa de Valor Excedente, a Composição do Capital e a Taxa de Lucro na Indústria De Manufatura Chinesa: 1978-2005, Renmin University of China, Paper apresentado na Segunda Conferência Anual do Fórum Internacional sobre a Economia Política Comparativa da Globalização, 1-3 de Setembro de 2006, p. 1306, p. 130

 

30 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 111

 

31 The Economist: Economia da China: Pedalando a prosperidade, 26 de maio de 2012, http://www.economist.com/node/21555762

 

32 Lin, Li-Wen e Milhaupt, Curtis J., We are the (National) Champions: Understanding the Mechanisms of State Capitalism in China (1 de novembro de 2011). Columbia Law and Economics Working Paper nº 409. Disponível em SSRN: http://ssrn.com/abstract=1952623 ou http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1952623, p. 10

 

33 John Bellamy Foster e Robert W. McChesney: A Estagnação Global e a China, em: Monthly Review, Volume 63, Edição 09 (fevereiro de 2012), http://monthlyreview.org/2012/02/01/the-global-stagnation-and-china

 

34 Lilian Lin: Inquietação Entre as categorias Monetárias, 1.8.2012, http://blogs.wsj.com/chinarealtime/2012/08/01/unease-among-the-moneyed-ranks/

 

35 Os ricos da China estão ficando mais pobres na nova Lista de Ricos de Hurun, Hurun Report, 24.9.2012, http://www.hurun.net/usen/NewsShow.aspx?nid=349

 

36 Lilian Lin: Inquietação Entre as categorias Monetárias, 1.8.2012

 

37 Capgemini e RBC Wealth Management: World Wealth Report 2012, p. 9

 

38 Credit Suisse: Global Wealth Report 2012, p. 20

 

39 Boston Consulting Group: Global Wealth 2012, p. 9

 

40 Nós bolcheviques-comunistas nos solidarizamos com a revolta dos trabalhadores chineses e da juventude na primavera de 1989 e a perspectiva para a revolução política contra a burocracia estalinista. Publicamos nossa posição entre outros em duas resoluções em junho de 1989 "China: Revolução e Repressão" e "Declaração MRCI sobre a China"; in: Trotskista Internacional Nº 3, Verão de 1989.

 

41 Joel Andreas: Expropriação de Trabalhadores e Transformação Capitalista na China; in: China Left Review, Isue#4, Verão 2011, http://chinaleftreview.org/?p=477

 

42 Ver Gerard Greenfield e Apo Leong: O Capitalismo Comunista da China: O Mundo Real do Socialismo de Mercado; in: O Registro Socialista 1997, pp. 98-99

 

43 Demissões estatais da China .Procurando novos empregos: Ministro, Diário do Povo, 27 de outubro de 2002, http://english.peopledaily.com.cn/200210/27/eng20021027_105729.shtml

 

44 Jian Qiao: Entre o Estado e o Mercado: Múltiplos Papéis do Sindicato Chinês durante a Transição de Mercado. Uma pesquisa de 1811 Presidentes do Sindicato das Empresas, Instituto de Relações Industriais da China, p. 1, http://www.ilera-directory.org/15thworldcongress/files/papers/Track_2/Poster/CT2_59_Qiao.pdf

 

45 Paul Mozur: Revisão de "O Trabalhador Chinês Depois do Socialismo", de William Hurst, em: THE FAR EASTERN ECONOMIC REVIEW, maio de 2009, http://www.viet-studies.info/kinhte/chinese_worker_after_socialism.htm

 

46 Qi Dongtao: Classe trabalhadora chinesa em difícil situação, em: Leste Asiático Política Volume 2, Número 2, Abr/Jun 2010, p. 6

 

47 China Labor Bulletin: Trabalhadores migrantes na China, 6 de junho de 2008, http://www.clb.org.hk/en/node/100259

 

48 Pesquisa sobre o Editorial Coletivo dos Trabalhadores Chineses: A Condição Atual e Futura da Classe Trabalhadora da China; in: China Left Review, Isue#4, Verão 2011, http://chinaleftreview.org/?p=471

 

49 China Labor Bulletin: Trabalhadores migrantes na China, 6 de junho de 2008

 

50 Andrew Watson: Seguridade Social para os Trabalhadores Migrantes da China – Providenciando a Velhice (2009), em: Journal of Current Chinese Affairs, Vol. 38, No. 4, p. 91

 

51 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 351

 

52 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 351

 

53 Asian Development Bank: Asian Development Outlook 2012. Enfrentando o aumento da desigualdade na Ásia, p. 66

 

54 The Economist: Economia da China: Pedalando a prosperidade, 26 de maio de 2012, http://www.economist.com/node/21555762

 

55 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 99

 

56 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 99

 

57 Pesquisa sobre o Editorial Coletivo dos Trabalhadores Chineses: A Condição Atual e Futura da Classe Trabalhadora da China; in: China Left Review, Isue#4, Verão 2011, http://chinaleftreview.org/?p=471

 

58 Avraham Ebenstein: Vencedores e Perdedores da Entrada de Empresas Multinacionais em Países em Desenvolvimento: Evidências das Zonas Econômicas Especiais da República Popular da China, Série de Papel de Trabalho da ADB Economics, Nº 276, Outubro de 2011, Banco Asiático de Desenvolvimento, p. 23

 

59 Avraham Ebenstein: Vencedores e Perdedores da Entrada de Empresas Multinacionais nos Países em Desenvolvimento, p. 49

 

60 Qi Dongtao: Classe trabalhadora chinesa e sindicatos na Era Pós-Mao: Progresso e Situação, em: International Journal of China Studies, Vol. 1, No. 2, Outubro 2010, p. 420

 

61 Pesquisa sobre o Editorial Coletivo dos Trabalhadores Chineses: A Condição Atual e Futura da Classe Trabalhadora da China; in: China Left Review, Isue#4, Verão 2011, http://chinaleftreview.org/?p=471

 

62 Ver China Labour Bulletin: Uma década de mudança. O Movimento dos Trabalhadores na China 2000-2010 (2012), www.clb.org.hk, pp. 9-10 e Edward Wong: O Crescimento da China Desacelera, e seu modelo político mostra limites, New York Times, 10 de maio de 2012, http://www.nytimes.com/2012/05/11/world/asia/chinas-unique-economic-model-gets-new-scrutiny.html?pagewanted=all.

 

63 Pei Haide: O que dois estudos de caso nos dizem sobre a situação dos trabalhadores da empresa estatal hoje, China Left Review, Isue#4, Verão 2011, http://chinaleftreview.org/?p=483

 

64 China Labour Bulletin: Uma década de mudança. O Movimento dos Trabalhadores na China 2000-2010, p. 13

 

65 Qi Dongtao: Classe Trabalhadora Chinesa em difícil Situação (2010), EAI Background Brief nº 528, p. 10

 

66 Qi Dongtao: Classe trabalhadora chinesa em Situação, em: Leste Asiático Política Volume 2, Número 2, Abr/Jun 2010, p. 11

 

67 Ver China Labour Bulletin: Uma década de mudança. O Movimento dos Trabalhadores na China 2000-2010 (2012), www.clb.org.hk, p. 13 e Edward Wong: O crescimento da China desacelera, e seu modelo político mostra limites, New York Times, 10 de maio de 2012, http://www.nytimes.com/2012/05/11/world/asia/chinas-unique-economic-model-gets-new-scrutiny.html?pagewanted=all

 

68 Citado em Avraham Ebenstein: Vencedores e Perdedores da Entrada de Empresas Multinacionais nos Países em Desenvolvimento, p. 32

 

69 The People's Bank of China: Foreign Exchange Reserves em março de 2012, http://www.pbc.gov.cn/publish/html/2012s09.htm

 

70 Yiping Huang: As mudanças da face do investimento chinês; in: EAST ASIA FORUM QUARTERLY, Vol.4 No.2 Abril-Junho 2012, p. 13

 

71 Tom Murse: Quanto da dívida dos EUA a China realmente possui? http://usgovinfo.about.com/od/moneymatters/ss/How-Much-US-Debt-Does-China-Own.htm

 

72 Tom Orlik e Bob Davis: Beijing Diversifica Longe do Dólar americano, Wall Street Journal, 2 de março de 2012, http://online.wsj.com/article/SB10001424052970203753704577254794068655760.html

 

73 Tom Orlik e Bob Davis: Pequim diversifica longe do dólar americano, Wall Street Journal, 2 de março de 2012

 

74 International Rivers: Chinese Financiers, http://www.internationalrivers.org/campaigns/chinese-financiers

 

75 FMI: Relatório global de estabilidade financeira, abril de 2012, Apêndice Estatístico, p. 3

 

76 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2012, pp. 169-172

 

77 Derek Scissors: Investimento externo chinês: Aceleração Características dos EUA, Edição Breve nº 3656, 9 de julho de 2012, Publicado pela The Heritage Foundation, p. 2

 

78 UNCTAD: Relatório Mundial de Investimentos 2012, pp. 169-172

 

79 John Smith: Novidades sobre "Novo Imperialismo" (2007), p. 16; Veja também sobre isso Robert E. Lipsey e Fredrik Sjöholm: Sul-Sul FDI e Desenvolvimento no Leste da Ásia; in: Asian Development Review, vol. 28, nº 2, Asian Development Bank 2011, p. 15; Hal Hill e Juthathip Jongwanich: Investimento estrangeiro direto externo e a crise financeira no desenvolvimento da Ásia Oriental; in: Asian Development Review, vol. 26, nº 2, Asian Development Bank 2009, p. 5

 

80 Karl P. Sauvant: Novo garoto no pedaço aprendendo as regras; in: EAST ASIA FORUM QUARTERLY, Vol.4 No.2 Abril-Junho 2012, p. 7

 

81 Derek Scissors: Investimento da China no exterior em 2010, Web Memo nº 3133, 3 de fevereiro de 2011, Publicado pela The Heritage Foundation, p. 2

 

82 Derek Scissors: Investimento externo chinês: Aceleração Características dos EUA, Edição Breve nº 3656, 9 de julho de 2012, Publicado pela The Heritage Foundation, p. 3. Os números incluem apenas investimentos não-títulos acima de US $ 100 milhões. Eles dão os números totais para cada região e listam abaixo dos três maiores países únicos. O autor explica os dados: "A Heritage Foundation oferece o único conjunto de dados público do investimento externo chinês e data de 2005.1 O China Global Investment Tracker inclui mais de 300 investimentos de US$ 100 milhões ou mais entre o início de 2005 e 30 de junho de 2012. Além de transações avaliadas em menos de US$ 100 milhões, o conjunto de dados não inclui compras de títulos, comércio, empréstimos ou ajuda."

 

83 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 418

 

84 Derek Scissors: Onde a China investe, e por que importa, 17.8.2010, http://www.forbes.com/2010/08/17/china-spending-investment-overseas-markets-economy-china-tracker.html

 

85 Andrew Szamosszegi e Cole Kyle: Uma Análise das Empresas Estatais e capitalismo estatal na China, Comissão de Revisão Econômica e de Segurança dos EUA-China, 26 de outubro de 2011, p. 86

 

86 Titan Alon, Galina Hale e João Santos: O que a capital da China está buscando em um ambiente global?, Carta Econômica FRBSF, 22.3.2010, http://www.frbsf.org/publications/economics/letter/2010/el2010-09.html

 

87 Karl P. Sauvant: Novo garoto no pedaço aprendendo as regras; in: EAST ASIA FORUM QUARTERLY, Vol.4 No.2 Abril-Junho 2012, p. 7

 

88 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 420

 

89 Derek Scissors: Investimento externo chinês: Aceleração Características dos EUA, Emissão Breve nº 3656, 9 de julho de 2012, Publicado pela The Heritage Foundation, p. 4; veja também Andreas Lunding: Chinesische Firmen auf dem Vormarsch. Investitionen chinesischer Firmen im Ausland, Deutsche Bank Research, 7. setembro de 2006, p. 6

 

90 Andrew Szamosszegi e Cole Kyle: Uma Análise das Empresas Estatais e capitalismo estatal na China, Comissão de Revisão Econômica e de Segurança dos EUA-China, 26 de outubro de 2011, pp. 87-88

 

91 Andrew Szamosszegi e Cole Kyle: Uma Análise das Empresas Estatais e capitalismo estatal na China, p. 88

 

92 David Shambaugh: As corporações multinacionais da China são realmente multinacionais?; in: EAST ASIA FORUM QUARTERLY, Vol.4 No.2 Abril-Junho 2012, p. 7

 

93 Miguel Perez Ludeña: Adaptando-se à experiência latino-americana; in: EAST ASIA FORUM QUARTERLY, Vol.4 No.2 Abril-Junho 2012, p. 13

 

94 Os chineses na África: tentando se unir. Os africanos estão perguntando se a China está fazendo seu almoço ou comendo; in: The Economist, Apr 20th 2011, http://www.economist.com/node/18586448?story_id=18586448; veja também a SA, não a China, o maior investidor da África: estudo, 23 de julho de 2010, http://www.defenceweb.co.za/index.php?option=com_content&view=article&id=9049:sa-not-china-africas-biggest-investor-study&catid=7:Industry&Itemid=116; Sanne van der Lugt, Victoria Hamblin, Meryl Burgess, Elizabeth Schickerling: Avaliando o papel da China no investimento estrangeiro direto no sul da África, Oxfam Hong Kong e Centro de Estudos Chineses 2011, pp. 68-74; UNCTAD: Investimento Estrangeiro Direto Asiático na África. Rumo a uma nova era de cooperação entre países em desenvolvimento (2007)

 

95 Os chineses na África: tentando se unir. Os africanos estão perguntando se a China está fazendo seu almoço ou comendo; in: The Economist, 20 de abril de 2011, http://www.economist.com/node/18586448?story_id=18586448

 

96 China 2030. Construindo uma Sociedade Moderna, Harmoniosa e Criativa de Alta Renda, p. 412

 

97 Robert D. Kaplan: Porto da China no Paquistão? O sonho da China com os portos do Oceano Índico – a chamada cordão de pérolas – está aumentando as tensões geopolíticas em um bairro áspero; Política Externa, 27 de maio de 2011, http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/05/27/chinas_port_in_pakistan

 

98 Chris Richards: Made in China, in: New Internationalist No. 423 (junho de 2009), http://www.newint.org/features/2009/06/01/keynote-china

 

99 Ash Pemberton: Papua Nova Guiné: Colonialismo de recursos sangrando pessoas e natureza, Green Left Weekly No. 949, 9 de dezembro de 2012 http://www.greenleft.org.au/node/53020

 

100 Kelsie Brandlee: China faz mais investimentos na Grécia; Centro de Finanças e Desenvolvimento Internacional, 07 de novembro de 2010, http://uicifd.blogspot.com/2010/11/china-makes-more-investments-in-greece.html; veja também Nasos Mihalakas: Chinês 'Cavalo de Tróia' – Investindo na Grécia, ou Invadindo a Europa? (Parte I), 15 de janeiro de 2011, http://foreignpolicyblogs.com/2011/01/15/chinese-%E2%80%98trojan-horse%E2%80%99-investing-in-greece-or-invading-europe-part-i/

 

101 Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo: Armamentos, Desarmamento e Segurança Internacional, 2012, Resumo, p. 9

 

102 Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo: Armamentos, Desarmamento e Segurança Internacional, 2012, Resumo, p. 14

 

103 Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo: Armamentos, Desarmamento e Segurança Internacional, 2012, Resumo, p. 13

 

104 Peter Lee: Talvez essa guerra com a China não esteja tão longe, Asia Times Online 22.12.2011, http://www.atimes.com/atimes/China/ML22Ad05.html

 

105 Escritório do Secretário de Defesa (EUA): Desenvolvimentos Militares e de Segurança Envolvendo a República Popular da China 2012, maio de 2012, p. 40

 

106 International Crisis Group: Agitação do Mar do Sul da China (I); Relatório do Grupo de Crise Ásia N°223, 23 de abril de 2012, p. 1

 

107 Grupo de Crise Internacional: Agitando o Mar do Sul da China (II): Respostas Regionais; Relatório do Grupo de Crise Ásia N°229, 24 de julho de 2012, p. 16

 

108 International Crisis Group: Agitando o Mar do Sul da China (I), p. 1 e 25

 

109 International Crisis Group: Agitando o Mar do Sul da China (II), p. 35

 

110 Ver Robert D. Kaplan: O Mar do Sul da China é o futuro do conflito. O campo de batalha definidor do século 21 será na água; em: Política Externa Setembro/Outubro de 2011, http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/08/15/the_south_china_sea_is_the_future_of_conflict?page=full

 

111 Jim Garamone: Panetta descreve a mudança dos EUA na Ásia-Pacífico; Serviço de Imprensa das Forças Americanas, Cingapura, 1.6.2012, http://www.defense.gov/news/newsarticle.aspx?id=116591

 

112 Departamento de Defesa dos EUA: Sustentando a Liderança Global dos EUA: Prioridades para a Defesa do Século XXI (2012), p. 2

 

113 Hillary Clinton: Século da América no Pacífico. O futuro da política será decidido na Ásia, não no Afeganistão ou no Iraque, e os Estados Unidos estarão no centro da ação; em: Política Externa, novembro de 2011, http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/10/11/americas_pacific_century

 

114 Hillary Rodham Clinton: Observações ao Fórum Regional da ASEAN, Phnom Penh, Camboja, 12 de julho de 2012, http://www.state.gov/secretary/rm/2012/07/194987.htm

 

115 EUA expande suas bases marinhas em W. Pacific, Yomiuri Shimbun, 22 de março de 2012, http://www.yomiuri.co.jp/dy/national/T120321005812.htm

 

116 Robert D. Kaplan: Como lutaríamos contra a China; em: Atlantic Magazine, junho de 2005, http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2005/06/how-we-would-fight-china/3959/?single_page=true

 

117 Michael Auslin:Em Pé de Guerra no Mar do Sul da China? Se Pequim pensou que sua nova guarnição levaria outras nações a capotar, ela calculou mal. 30 de julho de 2012, http://online.wsj.com/article/SB10000872396390444405804577559100590929184.html

 

118 Daryl Morini: Mudança de Paradigma: A Ascensão da China e os Limites do Realismo; in: Desafios de Segurança, Vol. 7, Nº 1 (Outono 2011), p. 111; http://www.securitychallenges.org.au/ArticlePages/vol7no1Morini.html

 

119 International Crisis Group: Agitação do Mar do Sul da China (II): Respostas Regionais; Relatório do Grupo de Crise Ásia N°229, 24 de julho de 2012, p. 34

 

120 Hugh White: Mudança de poder: repensar o lugar da Austrália no século asiático; in: Australian Journal of International Affairs Vol. 65, No. 1 (fevereiro de 2011), p. 88

 

121 Paul Stares: Visão geral; in: Paul B. Stares, Scott A. Snyder, Joshua Kurlantzick, Daniel Markey e Evan A. Feigenbaum: Gerenciando a instabilidade no Conselho de Relações Exteriores da China, Conselho de Relações Exteriores 2011, p. 1

 

122 Max Hastings: A Terceira Guerra Mundial será entre os EUA e a China? The Daily Mail, 26 de novembro de 2011, http://www.dailymail.co.uk/debate/article-2066380/Will-World-War-III-U-S-China.html

 

123 Ver Max Hastings: A Terceira Guerra Mundial será entre os EUA e a China?

 

124 A China deve reagir à provocação do Vietnã, Global Times, 21 de junho de 2011, http://www.globaltimes.cn/NEWS/tabid/99/ID/662453/China-must-react-to-Vietnams-provocation.aspx. veja também Robert Johnson: China anuncia como iria entrar em guerra contra a frota dos EUA, Business Insider, Jun. 11, 2012, http://www.businessinsider.com/china-announces-how-it-will-decimate-the-us-fleet-should-conflict-ever-break-out-2012-6

 

125 Anna Sansão: The Grand Weiqi Board: Reconsiderando o papel da China na África; in: Desafios de Segurança, Vol. 7, No. 1 (Outono 2011), p. 77

 

126 Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI/RCIT): O Manifesto Comunista Revolucionário, publicado em 2012, p. 62; online no site da RCIT em www.thecommunists.net/rcit-manifesto

 

127 RCIT: O Manifesto Comunista Revolucionário, p. 21

 

128 A FLTI é uma organização com várias seções na América Latina, mas também no Zimbábue. Além disso, tem ativistas na Líbia e na Síria que participaram da luta de libertação revolucionária contra o Gaddafi, E respectivamente, contra o regime de Assad. Combina uma série de posições revolucionárias com fraquezas metodológicas de ultraesquerda como uma tendência a rejeitar a tática da frente unida.

 

129 Assim, a FLTI polemizou contra o CWG(A/NZ) e o HWRS(EUA): "Sem dúvida estamos diante das correntes revisionistas, seja em suas variantes catastróficos ou pacifistas, todas elas, como denunciamos, dando uma visão de um desenvolvimento progressivo no modo capitalista de produção no planeta, e que detêm a persistência do livre intercâmbio, da livre concorrência e de um desenvolvimento saudável das forças produtivas. E nós os denunciamos porque eles querem nos convencer da existência de um modo de produção que tem um longo caminho pela frente antes de esgotar sua potencialidade na História, quando estamos realmente testemunhando as piores crises, guerras e catástrofes de sua história." Veja o Documento majoritário da FLTI sobre a China como semi-colônia do imperialismo, 20 de fevereiro de 2010, http://redrave.blogspot.com/2010/02/flti-majority-document-on-china-as-semi.html

 

130 V. I. Lenin: Imperialismo, Fase Superior do capitalismo, em: LCW 22, p. 300

 

131 Veja, por exemplo, Michael Pröbsting: Vor einem neuen Wirtschaftsaufschwung? Thesen zum marxistischen Konzept des Zyklus, dem Verhältnis des gegenwärtigen Zyklus zur Periode der Globalisierung sowie den Aussichten und Widersprüchen der künftigen Entwicklung der Weltwirtschaft (2010), em: Revolutionärer Marxismus 41, Februar 2010, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm41/wirtschaftsaufschwung.htm; Michael Pröbsting: Economia mundial – rumo a uma nova ascensão? (2009), em: Quinto Vol Internacional 3, Nº 3, http://www.fifthinternational.org/content/world-economy-%E2%80%93-heading-new-upswing; Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und der Niedergang des Kapitalismus (2009), em: Revolutionärer Marxismus 39, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm39/rm39imperialismus.htm; em inglês: Michael Pröbsting: Imperialismo e o Declínio do Capitalismo (2008), em: Richard Brenner, Michael Pröbsting, Keith Spencer: The Credit Crunch - A Marxist Analysis (2008), http://www.fifthinternational.org/content/imperialism-and-decline-capitalism

 

132 V. I. Lenin: Sobre a Questão da Dialética (1915), em: LCW 38, p. 358

 

133 Veja, por exemplo: "Ou seja, eles estavam até dissimulando enquanto colocavam que a China estava disputando o mundo com os EUA como uma potência hegemônica; agora eles mantêm essa posição abertamente, passando claramente para o lado dos EUA com uma posição derrotista na frente da nação oprimida. Então e agora, eles estão sempre do mesmo lado de Obama, e confrontando os interesses do proletariado internacional. (...) Estamos na barricada oposta do documento minoritário do início de novembro que capitula ao imperialismo, e afirmamos que nas guerras inter-imperialistas nunca seremos para a defesa de qualquer país imperialista, mesmo o mais fraco, mesmo que tenha sido ocupado, mesmo que seus inimigos tentem colocá-lo de joelhos." Veja o Documento majoritário da FLTI sobre a China como semi-colônia do imperialismo, 20 de fevereiro de 2010, http://redrave.blogspot.com/2010/02/flti-majority-document-on-china-as-semi.html

 

 

 

11. A Teoria da Revolução Permanente e seu Programa para a Luta da Classe Trabalhadora

 

A teoria da Revolução Permanente foi desenvolvida por Trotsky a partir da experiência das Revoluções Russas em 1905 e 1917, os eventos revolucionários na década de 1920 e a Revolução Chinesa 1925-27. Ajudou a superar as fraquezas na estratégia pré-1917 de Lênin da "ditadura revolucionária-democrática do proletariado e dos camponeses" que compartilhavam muitos aspectos do conceito de Trotsky, mas era algébrica e inadequada em vários aspectos. 1

 

O conceito de Revolução Permanente de Trotsky baseia-se no conceito dialético de que a revolução não pode ser dividida esquematicamente em etapas separadas umas das outras. Isso não significa que não haja diferentes estágios no desenvolvimento da revolução. Este é, é claro, o caso. Mas em todas as fases da revolução é a mesma classe que deve liderar a luta para conquistar os objetivos democráticos e econômicos da revolução: a classe trabalhadora. Naturalmente, a classe trabalhadora deve buscar aliados entre os camponeses e a burguesia urbana. Mas é o proletariado e apenas o proletariado que pode levar a luta à vitória. A razão para isso é que os camponeses e a burguesia urbana – independentemente de seu tamanho numérico – não são classes que podem atuar de forma independente e, portanto, não podem desempenhar um papel de liderança. Eles devem sim se subordinar mais cedo ou mais tarde sob uma das duas principais classes da sociedade capitalista - o proletariado ou a burguesia.

 

A partir disso, em todas as etapas da revolução o objetivo estratégico é estabelecer a ditadura do proletariado e não o poder para qualquer outra classe. Embora blocos temporários com setores da burguesia não possam ser excluídos, seria criminoso para a classe trabalhadora subordinar seus objetivos e interesses, a fim de não destruir uma potencial aliança com tais forças burguesas. Seria ainda mais criminoso apoiar a tomada do poder pelas forças burguesas. Todos os setores da burguesia semicolonial procurarão um compromisso com o imperialismo e trairão a classe trabalhadora e as massas populares.

 

A teoria da revolução permanente pressupõe que se a revolução não continuar até a tomada socialista do poder, inevitavelmente terminará com a vitória da classe dominante e uma contrarrevolução. Da mesma forma, a teoria da Revolução Permanente considera que a revolução não pode durar vitoriosamente em um único país (como Stalin alegou), mas deve ser difundida internacionalmente. A economia moderna, especialmente na era do capitalismo global, torna todos os países dependentes do intercâmbio internacional de bens, tecnologia e conhecimento. Além disso, cedo ou tarde, as potências imperialistas não tolerariam uma revolução vitoriosa em um único país. Os marxistas, portanto, apoiam a estratégia de revolução permanente não porque ela seja mais radical ou "emocionante", mas porque representa a única maneira realista de superar o sistema capitalista e estabelecer uma sociedade verdadeiramente socialista.

 

Trotsky resumiu o conceito da revolução permanente da seguinte forma:

 

"Que diferença há, então, entre os países avançados e os países atrasados? Há uma diferença muito grande, mas sempre subordinada às relações da dominação capitalista. As formas e os métodos da dominação da burguesia são extremamente diversos nos diferentes países. Num dos pólos, temos a dominação direta e absoluta dos Estados Unidos; noutro pólo, o capital financeiro, adaptando-se às instituições caducas da Idade Média asiática, submete-as, utiliza-as e lhes impõe seus métodos — a Índia. Mas, tanto num pólo como no outro, domina a burguesia. Isso nos leva a supor que também a ditadura do proletariado terá, nos diferentes países, um caráter extremamente variado quanto à sua base social, às suas formas políticas, às suas tarefas imediatas e ao seu ritmo. Seja como for, só a hegemonia revolucionária do proletariado, transformando-se em ditadura do proletariado depois da conquista do poder, poderá dar às massas populares a vitória sobre o bloco dos imperialistas, dos feudais e dos burgueses nacionais." 2

 

O Programa de Revolução Permanente nos países semicoloniais contém numerosas demandas sociais, democráticas e anti-imperialistas e as combina com a questão do poder. A seguir, apresentamos as demandas mais importantes para a luta revolucionária no mundo semicolonial, como as resumimos no Programa da CCRI.

 

 

 

Libertar os povos oprimidos das garras dos bancos e das corporações!

 

* Sem mais juros e nenhum pagamento de dívidas! Cancelamento imediato e completo de toda a dívida pública e privada!

 

* Cancelar a dívida de todos os países semicoloniais da América Latina, Ásia, África e Europa Oriental! Em vez disso, os Estados imperialistas devem compensar o mundo semicolonial pelo saque de seus recursos naturais e humanos!

 

* Esmagar o FMI, o Banco Mundial e a OMC!

 

* Não ao protecionismo nos países imperialistas contra as mercadorias dos países mais pobres! Abolição do Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio-NAFTA e da política agrícola comum da UE e das armas protecionistas similares do imperialismo! Por outro lado, defendemos o direito dos países do "terceiro mundo" de proteger seus mercados das importações baratas dos países imperialistas.

 

* Nacionalização dos bancos imperialistas e corporações sob controle dos trabalhadores!

 

* Por um plano de emergência internacional para resgatar os famintos e lutar contra as consequências das mudanças climáticas – financiados pelos lucros dos bancos e corporações dos países ricos!

 

* Por um plano para pagar aos países semicoloniais a repatriação pelo o saque de um século praticado pelas potências imperialistas! Deve ser financiado ao expropriar a riqueza dos super-ricos.

 

Contra cortes salariais, a insegurança no emprego e o desemprego!

 

* Não a qualquer corte de salário! Por aumentos salariais maciços e um salário mínimo, os valores devem ser definidos por comitês independentes de trabalhadores!

 

* Lutar contra a insegurança nos contratos de emprego! Conversão de contratos precários, informais e temporários em contratos permanentes, com alinhamento das disposições de proteção ao emprego e salários. A adesão destes deve ser regulada por acordos tarifários coletivos e controlada por sindicatos e representantes dos trabalhadores!

 

* Lutar contra todas as demissões e fechamentos de fábricas! Desapropriação sem compensação de todas as empresas que não pagam salários em sua totalidade, que ameaçam com demissões, que não pagam seus impostos integralmente ou ameaçam com fechamento ou realocação da empresa! Nesses casos: os empreendedores devem ser obrigados a pagar com os recursos sua propriedade privada! Pela continuidade dessas empresas como empresas públicas sob a gestão dos funcionários!

 

Redução da jornada de trabalho agora! Apoiamos qualquer redução nas horas de trabalho. O objetivo deve ser a divisão do trabalho em todas as mãos. Isso significa que todos devem ter um emprego e trabalhar menos horas sem redução de salários!

 

Lutar contra a inflação! Pelo reajuste dos salários acompanhando a inflação! Pela formação comitês de controle de preços!

 

* Lute contra a inflação! Pelo reajuste automático dos salários e todos os benefícios sociais e pensões para corresponder ao aumento dos preços!

 

* Pelo controle dos preços através de comitês de monitoramento de preços, eleitos pelos trabalhadores, pelas mulheres e homens mantenedores do lar, assim como o controle dos preços pelos consumidores! A base deve ser um índice de custo de vida, que é determinado por representantes da classe trabalhadora, dos camponeses e dos pequenos comerciantes.

 

* Nacionalização de ativos no comércio de commodities nos mercados de ações e abolição do mercado de ações!

 

O fim do "segredo de negócios"! Pelo controle dos trabalhadores! Por um programa de empregos públicos!

 

* Abram os livros – a escrituração contábil, as contas bancárias, as declarações fiscais, etc.! Pela inspeção por contadores que gozam da confiança dos trabalhadores!

 

* Pela criação de comitês de inquérito dos trabalhadores para detecção abrangente da corrupção entre empresas, e entre empresas e órgãos governamentais!

 

* Pelo controle e veto dos trabalhadores contra todas as decisões da gestão! Contra qualquer participação dos representantes dos trabalhadores em cargos de gestão!

 

* Por um programa de emprego público para melhorar a infraestrutura (fornecimento de energia, transporte público, educação e cuidados infantis, etc.), para tomar medidas contra as mudanças climáticas, etc. Este programa não deve estar sujeito ao controle estatal dos burocratas, mas deve ser planejado e controlado pelos trabalhadores e pelos oprimidas. Tal programa deve ser pago com os lucros e os ativos dos super-ricos.

 

Nenhuma divisão – Luta conjunta, independentemente da nação e da localização!

 

* Em vez de divisões – luta conjunta de trabalhadores em diferentes locais em corporações multinacionais! Por negociações coletivas conjuntas e transnacionais de sindicatos dentro de uma multinacional! Salário igual por trabalho igual em corporações multinacionais – elevando o salário para a um nível superior! Organizações conjunta de trabalhadores em empresas multinacionais! Pelo controle dos trabalhadores sobre as corporações!

 

* Não à terceirização e remanejamento sem o consentimento dos trabalhadores! Em vez do conflito entre trabalhadores assalariados de diferentes nacionalidades sobre o mesmo trabalho: Igualdade salarial e divisão do trabalho em nossas mãos! Alinhamento total dos acordos coletivos e direitos trabalhistas dos empregados subcontratados ao nível do contrato geral!

 

* Luta conjunta dos sindicatos além das fronteiras nação-estado por um aumento das condições de trabalho e de vida!

 

Chega de incentivos fiscais para os ricos! Expropriar os super-ricos!

 

* Abolição de todos os impostos indiretos, como o Imposto sobre o valor acrescentado- IVA!

 

* Redução maciça de impostos sobre os salários! Aumento drástico dos impostos sobre lucros e especulação! Eliminação de brechas fiscais para empresas! Recuperação imediata de dívidas fiscais pendentes das empresas!

 

* Pelo confisco de bens das famílias poderosas e influentes e utilização desses recursos no contexto de um plano econômico nacional! Pela desapropriação dos super-ricos!

 

* Nacionalização de bancos, das grandes corporações e nas áreas de comércio e transporte atacadista, social, saúde, educação e comunicação, sem remuneração e sob o controle dos trabalhadores!

 

* Eliminar a evasão fiscal dos capitalistas em que vivem movendo suas riquezas para outros países! Desapropriação completa de todas as empresas associadas a empresas fantasmas! Abolir todas as facilidades das corporações multinacionais em mover seus lucros e perdas dentro do grupo empresarial em todos os países com a finalidade de benefícios fiscais!

 

* Confisco do capital nos chamados paraísos fiscais! Usar esse capital para combater a degradação ambiental, a fome e a pobreza nos países semicoloniais!

 

Luta Revolucionária pela Democracia

 

* Por uma Assembleia Constituinte revolucionária! Tal Assembleia Constituinte não deve ser convocada por um governo burguês, mas por um governo revolucionário de trabalhadores e conselhos de camponeses.

 

* Abaixo as monarquias e as ditaduras! Pela eliminação de instituições bonapartistas tais como o Conselho Militar ou Conselho de Segurança Nacional, uma segunda câmara parlamentar, a presidência, etc.

 

* Na luta contra as ditaduras, e também contra as corruptas "democracias", defendemos um expurgo radical do aparato estatal! Pela triagem completa de todos os funcionários do Estado e suas ações - especialmente polícia, exército, inteligência, administração, jurídico, diretores empresariais, etc. - sob o controle dos conselhos!

 

* Defesa do direito à greve, liberdade de expressão e reunião, liberdade de organização política e sindical, bem como a liberdade de fazer uso de toda comunicação e mídia de informação!

 

* Democratização radical da administração e do judiciário: eleição e possibilidade de do povo renovar todo o aparato administrativo! Julgamento de todos os crimes e contravenções! Abolição de cargos judiciais e substituição por um júri sob o conselho de peritos legalmente qualificados!

 

* Para ampliação do autogoverno local!

 

Não à polícia e à vigilância do Estado! Contra a expansão dos poderes da polícia e dos tribunais! Que o aparato de repressão seja substituído pelas milícias dos trabalhadores e do povo!

 

Apoiar as lutas de libertação nacional dos povos oprimidos!

 

* Direitos iguais e salário igual! Direitos de cidadania plena para todas as pessoas pertencentes às minorias nacionais!

 

* Por um programa público de emprego e educação sob o controle de representantes das minorias nacionais e do movimento operário - pago pelos lucros dos capitalistas!

 

* Pela abolição das línguas oficiais do Estado! Igualdade de tratamento e oferta igualitária de línguas de minorias nacionais nas escolas, tribunais, administração pública e na mídia!

 

* Pela ampla autonomia regional e autogoverno de regiões com composição nacional específica! Definindo as fronteiras dos territórios autogovernados pela própria população local!

 

* Não ao nacionalismo das forças pequeno-burguesas nas nações oprimidas! Contra a política de isolamento das comunidades uns dos outros e pela união o mais próximo possível de trabalhadores de diferentes nacionalidades!

 

* Pelo direito à autodeterminação dos povos oprimidos, incluindo o direito de formar seu próprio estado, se assim o desejarem! Onde quer que as pessoas oprimidas já tenham declarado claramente seu desejo por um Estado separado, apoiamos isso e combinamos isso com o slogan de uma república de trabalhadores e camponeses. Isso se aplica, por exemplo, a um socialista Tamil Eelam, uma Irlanda unida, uma Caxemira unida, um Curdistão independente, Chechênia, Tibete, etc.

 

* Apoio incondicional à luta de libertação – inclusive se for pelas armas!

 

Lutar contra a super-exploração e a opressão nacional sobre os imigrantes!

 

* Direitos de cidadania plena e abolição de todas as leis especiais para todos os imigrantes – independentemente da nacionalidade, raça, religião ou nacionalidade! Salário igual por trabalho igual!

 

* Pelo direito de permanência e legalização imediata de todos os imigrantes considerados ilegais e requerentes de asilo! Direito de asilo para aqueles que fogem da guerra, da opressão e da pobreza em seus países! Fronteiras abertas para todos!

 

* Lutar contra a incitação contra os muçulmanos. Pelo direito ao livre exercício da religião – incluindo o direito de construir mesquitas e o direito das mulheres muçulmanas de usar um véu (lenço, burqua etc.) onde quiserem! Da mesma forma, dizemos: Ninguém deve ser forçado contra ela ou sua vontade de seguir diretrizes religiosas (como o uso de um lenço de cabeça)! O mesmo se aplica, por exemplo, ao uso do Dastar dos Sikhs.

 

* Para a abolição das línguas oficiais do Estado! Igualdade de tratamento e oferta igualitária de línguas de imigrantes nas escolas, tribunais, administração pública e na mídia! Oferta gratuita e voluntária para todos aprenderem as línguas de outros grupos nacionais do país!

 

* Autogoverno local de áreas com alta proporção de imigrantes! Especial consideração aos desejos dos imigrantes na definição das fronteiras das regiões autônomas! Apoio financeiro do Estado!

 

* Por um movimento revolucionário dos imigrantes como parte da 5ª Internacional dos Trabalhadores! Pelo direito de reunião para os imigrantes nos sindicatos e organizações do movimento operário!

 

Salvar nosso planeta da catástrofe climática capitalista!

 

* Nacionalização sob o controle dos trabalhadores de todas as empresas de energia e de todas as empresas responsáveis por suprimentos básicos como água, agricultura e companhias aéreas, instalações de navios e ferrovias!

 

* Por um plano de emergência para converter o sistema de energia e transporte e por uma eliminação global de combustíveis fósseis e produção de energia nuclear conectado a um programa de emprego público! Pela exploração maciça e uso de formas alternativas de energia, como eólica, maré e energia solar! Por um programa global de reflorestamento da floresta! Expansão radical do transporte público para diminuir o tráfego de carros individuais!

 

* Proibição de manipulação genética e produtos químicos perigosos na agricultura! Abolição do sistema de cultura híbrida!

 

* Forçar as corporações e estados imperialistas a pagar indenização aos países semicoloniais pela destruição ambiental causada por eles! Sem comércio de emissões e sistema de "pontos ecológicos"!

 

* Abolição do sigilo comercial nos setores de tecnologia limpa e de energia! Reunir o conhecimento pela criação de alternativas eficazes!

 

Empregos e moradia para os pobres em favelas urbanas!

 

* Por um programa de emprego público sob o controle de representantes dos moradores de favelas e do movimento operário - pago pelos lucros dos capitalistas! Por um programa de investimento estatal em larga escala para o desenvolvimento de habitação, energia, saneamento e gestão de resíduos, hospitais e escolas, estradas e transporte público!

 

* Pela formação de comitês locais de ação e unidades de autodefesa dos moradores de favelas!

 

A terra é para os camponeses! Organizar os trabalhadores agrícolas!

 

* Proibição imediata da compra de terras por empresas multinacionais e fundos de hedge! Confisco imediato de todas as terras improdutivas pertencentes a grandes proprietários! Abolição de todas as patentes de monopólios capitalistas na agricultura!

 

* Pela expropriação dos grandes latifundiários, da igreja e das multinacionais! Pela nacionalização da terra sob o controle dos trabalhadores e pobres camponeses! A terra para quem a cultiva! Os representantes locais do conselho de ações democráticas dos camponeses pobres e sem-terra têm que decidir a questão da alocação e uso da terra! Promoção de cooperativas agrícolas voluntárias e formação de unidades de produção estaduais maiores!

 

* Cancelamento da dívida e abolição do aluguel dos camponeses! Nacionalização dos bancos! Empréstimos sem juros para pequenos camponeses!

 

* Por uma mudança radical de rumo na economia agrícola. Não mais monocultura! Por métodos de cultivo sustentáveis na agricultura! Transporte internacional de produtos agrícolas quanto necessário for para abastecer a população mundial e o máximo possível de suprimentos agrícolas no local!

 

Luta conjunta pela libertação das mulheres!

 

* Fim de todas as formas de discriminação legalizada contra as mulheres - seja no local de trabalho, no acesso à educação ou nas urnas!

 

* Pagamento igual para trabalho igual!

 

* Apoio maciço para a conversão de empregos de meio período em trabalho de tempo integral para mulheres!

 

* Pela construção massiva de creches gratuitas e bem equipadas, 24 horas por dia! Por uma ampla oferta de restaurantes públicos e lavanderia de alta qualidade a preços acessíveis! Nosso objetivo é a socialização do trabalho doméstico!

 

* Por um programa de emprego público que crie as condições para a socialização do trabalho doméstico e simultaneamente elimine o desemprego feminino!

 

* Acesso gratuito a anticoncepcionais e aborto gratuitos, independentemente da idade

 

e do mês de gravidez em que a mulher está!

 

* Lutar contra a violência contra as mulheres! Pela expansão de casas públicas de auxílio para mulheres, controladas por organizações de mulheres! Pela formação de unidades de autodefesa do movimento operário e de mulheres contra a violência sexista!

 

* Abaixo todas as leis e campanhas públicas sobre os códigos de vestimenta religiosos! Pelo direito de usar roupas religiosas, independentemente de ser uma forma de véu muçulmano, o Dastar dos Sikhs, etc. é! Mas também contra qualquer obrigatoriedade de usar essas roupas!

 

* Pela construção de um movimento revolucionário de mulheres! Pelo direito de reunião das mulheres nas organizações de massas de trabalhadores e oprimidos!

 

Combater a opressão sexual da igreja e do estado!

 

* Fim do paternalismo por parte do Estado e das instituições religiosas: todos devem poder realizar a sua sexualidade sem coerção e regulamentação, desde que isso aconteça com o consentimento mútuo dos parceiros.

 

* Por uma ampla gama de possibilidades de obter anticoncepcionais de alta qualidade e gratuitos em farmácias, em empregos e locais de treinamento!

 

* Igualdade completa para lésbicas, gays e transgêneros no casamento, direito de ter filhos, direito de demonstração pública de afeto, etc.!

 

* Nenhuma criminalização da sexualidade dos jovens por restrições legais de idade! No entanto, somos a favor de leis rígidas contra estupro e violência doméstica, para proteger as crianças de abusos. Os perpetradores de violência doméstica devem ser responsabilizados pelos comitês de bairro e escolas.

 

Fim da opressão dos jovens!

 

* Pagamento igual para trabalho igual! Proibição do trabalho infantil! Programas de treinamento completos com salário integral e emprego garantido para os jovens, em vez de programas de treinamento de baixo custo!

 

* Pelo pleno direito de voto, pelo menos a partir dos 16 anos!

 

* Pelo desenvolvimento de uma grande variedade de centros juvenis, pagos pelo Estado e sob a autogestão dos jovens!

 

* Pela construção de um movimento juvenil revolucionário! Pelo direito de reuniões para os jovens nas organizações de massas de trabalhadores e oprimidos!

 

Abaixo o militarismo e a guerra imperialista!

 

* Nenhum dinheiro, nenhum homem e nenhuma mulher para o exército burguês! Direitos democráticos para os soldados, pela construção de comitês de soldados e a livre eleição dos oficiais!

 

* Pelo treinamento militar sob controle do movimento operário! Por uma milícia operária e popular em vez do exército burguês!

 

* Retirada e dissolução de todas as alianças militares imperialistas (por exemplo, OTAN, Parceria para a Paz)! Dissolução de todas as bases militares imperialistas dos EUA e outras bases em todo o mundo!

 

* Não a todas as guerras e ocupações imperialistas (Afeganistão, Iraque, Chechênia, Chade, etc.)! Pela derrota dos imperialistas - pela vitória da resistência! Não a qualquer intervenção imperialista contra o Irã, Cuba, Venezuela e Coréia do Norte!

 

O armamento da classe operária e dos oprimidos! Por um governo dos trabalhadores, baseado nos camponeses pobres e nos pobres urbanos!

 

* Nacionalização de bancos e fusão em um único banco central, nacionalização de grandes empresas, do grande comércio atacadista e do setor de transporte, social, saúde, educação e comunicação sem remuneração e sob controle dos trabalhadores! Introdução de um monopólio de comércio exterior!

 

* Expropriação da classe capitalista e especialmente dos bancos, corporações e especuladores!

 

* Por um governo dos trabalhadores, baseado nos camponeses pobres e pobres urbanos, na base de conselhos nas empresas e nos bairros, bem como nas milícias armadas; Seus representantes escolhidos por eleição direta e podem ser substituídos pelos trabalhadores e não recebam mais do que um salário médio de trabalhador qualificado!

 

Avançar para a Quinta Internacional dos Trabalhadores, o partido mundial da revolução socialista!

 

 

 

1 Trotsky explicou em seu livro “Revolução Permanente”, escrito em 1929, as fraquezas históricas do conceito de Lenin: “Em 1905, era uma questão com Lenin de uma hipótese estratégica ainda a ser verificada pelo curso real da luta de classes. A fórmula da ditadura democrática do proletariado e do campesinato carregava em grande parte um caráter intencionalmente algébrico. Lenin não resolveu de antemão a questão de quais seriam as relações políticas entre os dois participantes da ditadura democrática assumida, ou seja, o proletariado e o campesinato. Não excluiu a possibilidade de o campesinato ser representado na revolução por um partido independente - um partido independente em duplo sentido, não só em relação à burguesia, mas também em relação ao proletariado, e ao mesmo tempo capaz de realizar a revolução democrática em aliança com o partido do proletariado na luta contra a burguesia liberal. Lênin até permitiu a possibilidade - como veremos em breve - de que o partido dos camponeses revolucionários pudesse constituir a maioria no governo da ditadura democrática.”

 

Trotsky também concluiu no resumo do mesmo livro: "Avaliado historicamente, o velho slogan do bolchevismo - 'a ditadura democrática do proletariado e do campesinato' - expressava precisamente a relação acima caracterizada do proletariado, do campesinato e da burguesia liberal. Isso foi confirmado pela experiência de outubro. Mas a velha fórmula de Lenin não resolveu de antemão o problema de quais seriam as relações recíprocas entre o proletariado e o campesinato dentro do bloco revolucionário. Em outras palavras, a fórmula reteve deliberadamente uma certa qualidade algébrica, que teve de abrir caminho para quantidades aritméticas mais precisas no processo da experiência histórica. No entanto, este último mostrou, e em circunstâncias que excluem qualquer tipo de interpretação errônea, que não importa quão grande seja o papel revolucionário do campesinato, ele não pode, no entanto, ser um papel independente e muito menos de liderança. O camponês segue o operário ou o burguês. Isso significa que a 'ditadura democrática do proletariado e do campesinato' só é concebível como uma ditadura do proletariado que lidera as massas camponesas por trás dela. ” (Leo Trotzki: Die permanente Revolution, em: Leo Trotzki: Ergebnisse und Perspektiven. Die permanente Revolution; Frankfurt a. M., 1971, p. 23 respectivamente p. 159; em inglês: Leon Trotsky: The Permanent Revolution)

 

Discutimos o conceito de Trotsky de desenvolvimento desigual e combinado, bem como da Revolução Permanente e dos contra-argumentos estalinistas / maoístas em nosso livro em língua alemã sobre a Revolução Árabe. Veja Michael Pröbsting: Die halbe Revolution. Lehren und Perspektiven des arabischen Aufstandes, pp. 19-25 e pp. 47-55. (A meia revolução. Lições e perspectivas da revolta árabe, em: Der Weg des Revolutionären Kommunismus, Theoretisches Journal der Revolutionär-Kommunistischen Organization zur Befreiung, RKOB), Nr. 8 (2011), http://www.thecommunists.net/publications/werk-8

 

2 Leo Trotzki: Die permanente Revolution, in: Leo Trotzki: Ergebnisse und Perspektiven. Die permanente Revolution; Frankfurt a. M., 1971, p. 136; in English: Leon Trotsky: The Permanent Revolution

 

 

 

12. A Luta contra As Agressões e Guerras Imperialistas: O Programa do Início da Internacional Comunista e a Quarta Internacional

 

 

Como mostramos neste livro, a época do imperialismo é uma época de enorme agudização de contradições entre as classes e os Estados. É por isso que é uma época marcada por conflitos – incluindo guerras – entre potências imperialistas e países semicoloniais (ou até 1991 também abrangendo os estados operários degenerados governados pelos estalinistas) e também entre potências imperialistas rivais.

 

Em seu famoso livro sobre imperialismo, Lênin enfatizou que "... uma característica essencial do imperialismo é a rivalidade entre várias grandes potências na luta pela hegemonia...". 1 Isto é – como Lênin apontou – inerentemente relacionado à tendência das potências imperialistas de subjugar a população do mundo colonial e semicolonial: "O imperialismo significa a opressão crescente das nações do mundo por um punhado de Grandes Potências". 2

 

Por essa razão, a pressão imperialista, os conflitos e as guerras são inevitáveis nesta época, como Lênin declarou repetidamente: "... resumo, por assim dizer, o capitalismo monopolista moderno em escala mundial. E este resumo prova que as guerras imperialistas são absolutamente inevitáveis sob tal sistema econômico, a partir do momento que exista a propriedade privada dos meios de produção." 3 E a conferência do Partido Bolchevique em Berna, em 1915, declarou da mesma forma: "Sob o capitalismo, particularmente em seu estágio imperialista, as guerras são inevitáveis".4

 

No entanto, os marxistas não colocam todas as guerras na mesma caracterização. Há guerras e guerras. Há guerras entre opressores rivais entre si e há guerras entre opressores e oprimidos. Portanto, há guerras reacionárias, guerras injustas e guerras progressistas, apenas guerras. Os marxistas apoiam aqueles que travam uma guerra justa e lutam contra aqueles que travam uma guerra injusta.

 

Friedrich Engels e V.I. Lenin foram grandes admiradores do teórico militar prussiano Carl von Clausewitz, que resumiu a essência de qualquer conflito militar pelas famosas palavras: "A guerra é uma mera continuação da política por outros meios." 5 Em seu livro "Sobre a Guerra" Clausewitz enfatizou e elaborou este ponto:

 

"A guerra é um instrumento de política; deve necessariamente ter esse caráter, deve medir com sua escala: a condução da guerra, em suas grandes características, é, portanto, a própria política, que ocupa a espada no lugar da caneta, mas não por isso deixa de pensar de acordo com suas próprias leis." 6

 

Traduzindo essas palavras na esfera da ciência marxista, isso significa que a questão central para caracterizar o caráter dos conflitos e das guerras é, portanto, identificar os interesses políticos da classe das classes que estão participando de um determinado conflito ou guerra. Para os bolcheviques-comunistas, os conflitos e as guerras são, portanto, uma mera continuação das lutas de classes por outros meios.

 

A partir dessa análise de classe das classes participantes segue a posição que os marxistas tomam em um determinado conflito ou guerra. Nossa atitude não é determinada em uma dada luta entre as classes, se ela está sendo fomentada por meios pacíficos ou meios militares. Os objetivos reacionários são reacionários, independentemente de serem perseguidos com meios políticos, econômicos ou militares. O mesmo se aplica ao contrário para interesses de classe progressistas.

 

Os marxistas nunca foram contra a guerra em princípio, mas distinguiram entre guerras que servem aos interesses das classes oprimidas e aquelas que só serviram as classes dominantes. Guerras entre classes imperialistas ou entre classes reacionárias em busca de seus interesses antipopulares são guerras reacionárias e injustas. A classe trabalhadora deve se opor aos dois campos e lutar pela transformação da guerra imperialista em uma guerra civil revolucionária contra as classes dominantes. Em guerras entre classes dirigentes imperialistas contra semicolonias ou entre classes reacionárias contra classes ou nacionalidades oprimidas, tais guerras são injustas do ponto de vista do campo imperialista/reacionário. Mas são guerras justas do ponto de vista do campo dos povos semicoloniais e respectivamente dos povos oprimidos.

 

 

 

i) Guerras Reacionárias e Conflitos entre Estados Imperialistas

 

 

 

A CCRI resumiu sua posição sobre as guerras imperialistas em seu programa da seguinte forma:

 

"Nas guerras imperialistas, rejeitamos qualquer apoio à classe dominante. Defendemos a derrota do Estado imperialista. Nosso slogan é o de Karl Liebknecht: "O principal inimigo está em casa". Nosso objetivo é transformar a guerra imperialista em uma guerra civil contra a classe dominante." 7

 

Por este meio, condensamos a posição marxista moderna sobre as guerras imperialistas como foi elaborada por Lênin e os bolcheviques no início da Primeira Guerra Mundial. Eles sempre recusaram qualquer forma de apoio na defesa da pátria imperialista e, pelo contrário, defendia a derrota de sua própria classe dominante. Por causa disso, os bolcheviques eram frequentemente chamados de "porashenzy" o que significa em russo "derrotista". Mais tarde, a estratégia bolchevique contra as guerras imperialistas foi denominada "derrotismo revolucionário". 8

 

A ideia central da abordagem de Lênin era a luta contra as guerras imperialistas através dos métodos da luta de classes e a utilização da crise causada pela guerra pela derrubada revolucionária da sua própria burguesia. Daí a postura inequívoca para a derrota do próprio governo na guerra:

 

"Durante uma guerra reacionária, uma classe revolucionária não pode deixar de desejar a derrota de seu governo. Isso é axiomático, e contestado apenas por partidários ou satélites indefesos dos social-chauvinistas." 9

 

Esta abordagem foi combinada com a luta pela revolução socialista. Daí o slogan central dos bolcheviques foi a "guerra civil":

 

"A conversão da atual guerra imperialista em uma guerra civil é o único slogan proletário correto", 10

 

Lênin explicou: "Nossa tarefa não é forçar os canhões a ficarem em silêncio, mas sim fazê-los servir aos nossos fins.": 11

 

Esta abordagem não foi impulsionada pelo desejo de uma frase particularmente radical. Foi bastante deduzido da percepção de que uma guerra imperialista inevitavelmente leva ao esforço total de todas as forças da sociedade e que uma derrota militar cria uma grave crise para a classe dominante. Em outras palavras, uma guerra imperialista coloca a questão: qual classe está governando? Quem decide se a guerra continua ou não, se mantimentos ou canhões são produzidos, se a paz é concluída ou não? A experiência das duas Guerras Mundiais – a criação de situações revolucionárias na Europa Oriental e Central 1918-23 e na Grécia, França e Itália 1944-45 – confirma essa tese dos bolcheviques. Por isso, os marxistas sempre enfatizaram que as guerras imperialistas podem levar a revoluções e os revolucionários devem fazer tudo ao seu alcance para liderar as massas em direção à conquista do poder.

 

Lênin e Zinoviev formularam esse pensamento em seu livro "Socialismo e Guerra" em 1915:

 

"Não há dúvida de que a guerra criou a mais grave das crises e acentuou incrivelmente as calamidades das massas. O carácter reaccionário desta guerra, as mentiras descaradas da burguesia de todos os países, que disfarça os seus objectivos de presa com uma ideologia "nacional", suscitam inevitavelmente, na situação revolucionária objectiva que se criou, um espírito revolucionário entre as massas. . Nosso dever é ajudar as massas a se conscientizarem desse espírito, aprofundá-lo e moldá-lo. Essa tarefa só é expressa com precisão pelo slogan da transformação da guerra imperialista em uma guerra civil, e toda luta de classes conseqüente durante a guerra, toda tática de "ações de massa", aplicada com seriedade, inevitavelmente leva a tal transformação. Não podemos saber se um forte movimento revolucionário estourará por ocasião da primeira ou segunda guerra imperialista das grandes potências, ou se estourará no curso desta guerra ou depois dela, mas em qualquer caso, nosso dever inescapável é trabalhar de forma sistemática e firme nessa direção.12

 

Embora as guerras imperialistas sejam completamente reacionárias, as guerras civis assim como a guerra dos oprimidos contra a classe dominante são altamente progressistas e merecem o apoio completo e incondicional de todos os revolucionários, como Lenin e Zinoviev enfatizaram:

 

"Consideramos as guerras civis, ou seja, guerras travadas por uma classe oprimida contra a classe opressora, por escravos contra os proprietários de escravos, por servos contra proprietários de terras e por trabalhadores assalariados contra a burguesia, como totalmente legítimos, progressistas e necessários." 13

 

Os bolcheviques concretizaram sua estratégia de transformar a guerra imperialista em uma guerra civil da seguinte maneira:

 

"Devem ser indicados os seguintes passos para a transformação da atual guerra imperialista em uma guerra civil: (1) uma recusa absoluta em votar por créditos de guerra e renúncia dos governos burgueses; (2) uma ruptura completa com a política de trégua de classe (bloco nacional, Burgfrieden); (3) a formação de uma organização subterrânea onde quer que os governos e a burguesia abolirem as liberdades constitucionais introduzindo a lei marcial; (4) apoio à confraternização entre soldados das nações beligerantes, nas trincheiras e nos campos de batalha em geral; (5) apoio a todo tipo de ação em massa revolucionária do proletariado em geral." 14

 

Com base nesses princípios, os marxistas tomaram uma posição derrotista na Primeira Guerra Mundial em ambos os campos imperialistas – as potências Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França, Rússia, EUA) – e as Potências Centrais (Alemanha, Áustria, Império Otomano). Isso significa que eles apresentaram em todos esses países os slogans de "O principal inimigo está em casa", "A derrota de seu próprio país é o mal menor" e a "Transformação da guerra imperialista em uma guerra civil". Durante a Segunda Guerra Mundial, os marxistas – na pessoa de Trotsky e da Quarta Internacional – tomaram uma posição semelhante na guerra entre, por um lado, a Alemanha imperialista e o Japão, e pelo outro lado a Grã-Bretanha imperialista, França e EUA. (No entanto, na guerra entre a Alemanha imperialista e a URSS, um Estado Operário degenerado, a Quarta Internacional chamou pela a defesa da URSS.) 15

 

Como descrevemos acima essa posição de derrotismo revolucionário de ambos os lados também seria a tática correta em uma possível guerra entre o Japão imperialista e/ou os EUA de um lado e a China imperialista do outro lado.

 

 

 

ii) Guerras Justas e Resistência dos Oprimidos

 

 

 

Como dissemos acima, existem também outros tipos de guerras. Guerras entre classes dominantes imperialistas e povos semicoloniais ou entre classes de reacionárias contra classes ou nacionalidades oprimidas. Em tais guerras, os revolucionários defendem a vitória dos povos de nações semicoloniais e/ou oprimidos, respectivamente. A CCRI resumiu sua posição sobre tais tipos de guerras em seu programa da seguinte forma:

 

"Em conflitos militares entre estados imperialistas e estados trabalhadores estalinistas (como Cuba ou Coreia do Norte) ou povos e estados semicoloniais, chamamos a derrota do primeiro e para a vitória do lado não imperialista. Defendemos este último não imperialista, mesmo que sejam liderados por forças burguesas (por exemplo, Saddam Hussein), ou forças pequeno-burguesas (por exemplo, Hamas na Palestina, Talibã no Afeganistão) ou estalinistas-burocráticos (por exemplo, o Partido Comunista de Cuba). Ao mesmo tempo, desejamos o rompimento da classe trabalhadora e dos oprimidos com relação a essas forças e ganhá-las para uma política de classe independente através da aplicação de táticas anti-imperialistas da frente Única. Isso significa fazer exigências sobre as lideranças existentes por uma luta comum contra o imperialismo sob nossas próprias bandeiras. Esta postura de princípio distingue o marxismo autêntico das variantes social-democratas, estalinistas e centristas do pseudo-marxismo que geralmente se recusam em uma guerra a pedir abertamente a vitória dos povos oprimidos contra o imperialismo ou confundem apoio militar com adaptação política aos regimes semicoloniais (por exemplo, o apoio das esquerdas a Gaddafi durante a guerra civil na Líbia 2011)" 16

 

Mais uma vez, esta é uma condensação da posição marxista como foi elaborada por Lênin e Trotsky. Toda a história da humanidade testemunhou tais guerras progressistas e justas. Por exemplo, a revolta de escravos de Espartacus contra os romanos foi progressista, bem como as revoltas camponesas de Thomas Münzer ou dos hussitas no século XVI. Pela mesma razão, Marx e Engels apoiaram os Estados do Norte contra os proprietários de escravos no Sul na guerra civil americana entre 1861-65 ou as revoltas dos poloneses contra o czar russo em 1830, 1846 e 1863. Lênin e Zinoviev escreveram:

 

"Houve no passado inúmeras guerras que, apesar de todos os horrores, atrocidades, angústias e sofrimentos que inevitavelmente acompanham todas as guerras foram progressistas, ou seja, beneficiaram o desenvolvimento da humanidade ajudando a destruir as instituições mais nocivas e reacionárias (por exemplo, um regime de autocracia ou de servidão) e os despotismos mais bárbaros da Europa (o turco e o russo). É por isso que as características historicamente específicas para a atual guerra devem vir a ser examinadas." 17

 

Isso também se aplica a guerras de nações oprimidas que lutam contra as potências imperialistas e seus fantoches. Lênin escreveu:

 

"Na época do imperialismo são não só prováveis mas inevitáveis as guerras nacionais por parte das colónias e semi-colónias. Nas colónias e semi-colónias (China, Turquia, Pérsia) vivem cerca de 1 bilhão de pessoas, isto é, mais de metade da população da Terra. Os movimentos de libertação nacional ou são ali já muito fortes ou estão a crescer e a amadurecer. Qualquer guerra é a continuação da política por outros meios. A continuação da política de libertação nacional das colónias serão inevitavelmente as guerras nacionais da parte delas contra o imperialismo." 18

 

Lênin e Zinoviev concluem a partir disso que é o dever mais alto para todos os socialistas tomar o lado dos oprimidos em tais guerras:

 

"Por uma guerra 'defensiva' os socialistas sempre entenderam uma guerra 'justa' neste sentido particular (Wilhelm Liebknecht uma vez se expressou precisamente desta maneira). É apenas nesse sentido que os socialistas sempre consideraram guerras "pela defesa da pátria", ou guerras "defensivas", como legítimas, progressistas e justas. Por exemplo, se amanhã, Marrocos declarasse guerra à França, ou Índia sobre a Grã-Bretanha, Pérsia ou China sobre a Rússia, e assim por diante, estas seriam guerras "justas", e "defensivas", independentemente de quem seria o primeiro a atacar; qualquer socialista desejaria aos estados oprimidos, dependentes e desiguais a vitória sobre o opressor, a escravidão e as predatórias "Grandes" Potências." 19

 

Foi nesse mesmo espírito que a Internacional Comunista em 1920 chamou pelo apoio ativo da luta pela libertação nacional como um dever de todos os revolucionários nos Estados imperialistas:

 

"Uma atitude particularmente explícita e clara sobre a questão das colônias e dos povos oprimidos é necessária para os partidos nos países onde a burguesia possui colônias e oprime outras nações. Todos os partidos que desejam se juntar à Internacional Comunista são obrigados a expor os truques e esquivas de "seus" imperialistas nas colônias, apoiar todos os movimentos de libertação colonial não apenas em palavras, mas em ações, exigir a expulsão de seus próprios imperialistas dessas colônias, para inculcar entre os trabalhadores de seu país uma atitude genuinamente fraternal para com o povo trabalhador das colônias e das nações oprimidas e continuar agitação sistemática entre as tropas de seu país contra qualquer opressão dos povos coloniais." 20

 

Em um discurso no Quarto Congresso da Comintern em 1922, Trotsky afirmou: "Todo movimento colonial, que enfraquece o domínio capitalista nas metrópoles, é progressista, porque torna as tarefas revolucionárias do proletariado mais fáceis de alcançar". 21

 

Diante da falta de apoio às lutas de libertação do povo oprimido pelos centristas, Trotsky enfatizou este princípio do anti-imperialismo revolucionário:

 

"A luta contra a guerra e sua fonte social, o capitalismo, pressupõe apoio direto, ativo e inequívoco aos povos coloniais oprimidos em suas lutas e guerras contra o imperialismo. Uma posição 'neutra' equivale a apoiar o imperialismo." 22

 

Da mesma forma, Trotsky explicou inequivocamente que a atitude dos revolucionários marxistas em relação a uma guerra não deve ser derivada de aparições superficiais no nível da superestrutura política, mas deve, em vez disso, focar-se no caráter objetivo das classes envolvidas. É importante, mas não decisivo para a formulação da tática revolucionária correta, se um determinado regime tem um caráter mais democrático ou mais fascista, se é religioso ou secular, se usa uma retórica mais progressista ou não – o que é decisivo é o seu caráter de classe, ou seja, em quais classes ele se apoia e em quais classes sua ação serve e, respectivamente, atacam. Assim, tomando o exemplo de uma guerra entre um Brasil semi-fascista e uma Grã-Bretanha democrática, Trotsky elaborou:

 

"Vou tomar o exemplo mais simples e óbvio. No Brasil, agora reina um regime semi-fascista que todo revolucionário só pode ver com ódio. Vamos supor, no entanto, que amanhã a Inglaterra entre em um conflito militar com o Brasil. Pergunto-lhe de que lado do conflito será a classe trabalhadora? Responderei pessoalmente — neste caso, estarei do lado do Brasil "fascista" contra a Grã-Bretanha "democrática". Por quê? Porque no conflito entre eles não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra sair vitoriosa, ela colocará outro fascista no Rio de Janeiro e colocará correntes duplas no Brasil. Se o Brasil, ao contrário, sair vitorioso, dará um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levará à derrubada da ditadura Vargas. A derrota da Inglaterra dará ao mesmo tempo um golpe no imperialismo britânico e dará um impulso ao movimento revolucionário do proletariado britânico. Na verdade, é preciso ter a cabeça vazia para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. Sob todas as máscaras é preciso saber distinguir exploradores, proprietários de escravos e ladrões!” 23

 

Com base nesses princípios, os marxistas sempre apoiaram a luta de libertação de povos oprimidos, mesmo que ocorressem sob a liderança de forças pequeno-burguesas. Naturalmente, eles apoiaram apenas a luta prática e militar sem dar um centímetro de apoio político para essas forças pequeno-burguesas. Lênin, Trotsky e a Internacional Comunista pediram o apoio para a Turquia em sua luta contra o imperialismo britânico e seus aliados gregos nos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, apesar do fato de que a Turquia era governada pelo regime burguês e anticomunista de Mustafa Kemal Pasha. Eles também apoiaram a luta dos berberes riffianos sob a liderança de Abd el-Krim na década de 1920 contra os imperialistas espanhóis e franceses que tentavam ocupar seu país. O Partido Comunista Francês (PCF) organizou uma campanha militante em massa anticolonial em solidariedade aos riffianos – incluindo uma greve geral em 12 de outubro de 1925. O PCF expressou publicamente seu apoio à luta dos Riffianos até que "o solo marroquino for completamente libertado" dos imperialistas espanhóis e franceses. 24

 

Leon Trotsky e a Quarta Internacional continuaram este revolucionário anti-imperialismo. Eles apoiaram a luta do povo chinês contra o imperialismo japonês nos anos 1930 e 1940, apesar do fato de ter sido liderado pelo general reacionário Chiang Kai-shek. Como dissemos, o apoio prático a medidas concretas contra o imperialismo é obrigatório para os marxistas. Isso é relevante para todas as formas práticas que atingem os capitalistas monopolistas, incluindo – mas não exclusivamente – ataques militares. Assim, os trotskistas apoiaram igualmente a nacionalização das companhias petrolíferas britânicas pelo governo mexicano de Cardenas em março de 1938. Trotsky caracterizou a desapropriação como parte da luta pela libertação nacional de um país semicolonial: "O México semicolonial está lutando por sua independência nacional, política e econômica. (...) Nessas condições, a desapropriação é o único meio eficaz de salvaguardar a independência nacional e as condições elementares da democracia." 25

 

Em seu balanço no aniversário de 90 anos do Manifesto Comunista de Marx e Engels, Leon Trotsky ressaltou o dever do proletariado nos países imperialistas de apoiar as lutas de libertação nacional nos países oprimidos:

 

"Os comunistas", declara o Manifesto, "em todos os lugares apoiam todos os movimentos revolucionários contra a ordem social e política existente das coisas". O movimento das raças cor contra seus opressores imperialistas é um dos movimentos mais importantes e poderosos contra a ordem existente e, portanto, exige o apoio completo, incondicional e ilimitado por parte do proletariado da raça branca. O crédito por desenvolver estratégia revolucionária para nacionalidades oprimidas pertence principalmente a Lênin." 26

 

Esta política foi mais tarde continuada pelos marxistas quando eles apoiaram as lutas de libertação nacional sem se identificar com a política de suas lideranças pequeno-burguesas. Para citar apenas alguns exemplos: era preciso apoiar a luta da Argélia e do povo vietnamita contra os imperialistas franceses, bem como a luta dos Vietcongs contra o imperialismo dos EUA.

 

Na guerra entre a Argentina semicolonial e o imperialismo britânico nas ilhas Malvinas em 1982, nossa organização antecessora – o então grupo revolucionário britânico Workers Power (Poder dos Trabalhadores)– chamou pela derrota do imperialismo britânico e a vitória da Argentina. Na primeira Guerra do Golfo, em 1991, nós, bolcheviques-comunistas, pedimos a defesa do Iraque contra o ataque imperialista sem dar qualquer apoio político ao regime de Saddam Hussein. 27 Da mesma forma, estamos do lado da resistência afegã contra os ocupantes imperialistas desde 2001, apesar de estarem liderados pelas forças reacionárias do Talibã. 28 E assim fizemos no Iraque em 2003 e depois. 29 E na mesma base do anti-imperialismo marxista apoiamos a resistência liderada pelo Hezbollah no Líbano em 2006, a resistência liderada pelo Hamas em Gaza em 2008/09 e 2012 contra Israel, bem como a resistência liderada pelo Islamismo no Mali contra os invasores imperialistas da França, da UE e de seus aliados africanos. 30

 

 

 

Pela Destruição do Estado do Apartheid Israel!

 

 

 

A opressão do povo palestino pelo Estado sionista Israel é uma questão muito importante não apenas por causa de sua realidade, mas também porque toca em princípios fundamentais do marxismo. Por isso, elaboramos brevemente a posição da CCRI sobre esta questão.

 

Sempre apoiamos a luta pela libertação nacional do povo palestino. É por isso que na luta entre os palestinos e o Estado israelense estamos do lado dos palestinos – apesar de nossa rejeição absoluta das forças burguesas e pequeno-burguesas na vanguarda dessas lutas (como o Hamas). Todos os palestinos devem ter o direito de voltar para sua terra natal. Da mesma forma, a ocupação das terras deve ser revertida e os palestinos devem ter suas terras devolvidas. O retorno dos palestinos exilados, é claro, significa que os palestinos constituirão a maioria da população.

 

Isso mostra que Israel não é um estado “normal” de classe capitalista. Sua existência como estado capitalista é historicamente e inseparadamente entrelaçada com sua existência como um estado colonial, que só pode manter as expulsões e repressão da população palestina original por meio do apartheid e do terror direto. Israel é um Estado capitalista, cuja essência é uma fusão inseparável de exploração de classes e opressão nacional. A abolição da exploração de classes, portanto, só pode ir de mãos dadas com a abolição da opressão nacional, e vice-versa, e isso só é possível através da destruição do Estado de Israel em sendo um Estado judeu separado. Embora Israel não seja um poder imperialista como os da Europa Ocidental, é, sem dúvida, um estado capitalista excepcionalmente privilegiado, que combina seu papel como um cão de guarda dos interesses imperialistas no Oriente Médio com o avanço de seus próprios interesses de poder.

 

Por isso, rejeitamos a existência de um Estado judeu na Palestina porque ele só pode existir enquanto à contínua expulsão dos palestinos. Por isso, rejeitamos uma "solução de dois estados". Isso negaria aos palestinos o direito de voltar à sua terra natal. Da mesma forma, um Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza seria reduzido a um Bantustão, uma colônia de fato dependente do Estado de Israel muito mais rico e poderoso. O Estado de Israel deve ser destruído e substituído por uma república secular, operária e camponesa em toda a Palestina – do rio ao mar. Neste estado, os palestinos e todos os judeus, que aceitam a eliminação de seus privilégios no estado do apartheid de Israel, podem viver juntos de forma igual e pacificamente. 3

 

 

 

Um parentese: O Capitalismo como unidade de esferas econômicas, políticas e ideológicas

 

 

 

Uma pré-condição para uma tradução da teoria da revolução permanente em táticas revolucionárias é fazer uma avaliação correta da composição de classe concreta da sociedade capitalista na era do imperialismo moderno. Diante dos conflitos entre potências imperialistas e países semicoloniais, muitos grupos centristas operam com base em uma compreensão aparentemente marxista, mas na realidade retrógrada e não científica. Consciente ou inconscientemente, reduzem todos os conflitos políticos e militares na sociedade de classe moderna a uma única contradiçãoou seja, entre capital e proletariado – e veem essa contradição principalmente do seu lado econômico. Tal visão – que, por exemplo, é típica para organizações centristas como a organização Comitê Por Uma Internacional dos Trabalhadores CIT ( em inglês CWI) ou Tendência Marxista Internacional- TMI – realmente não tem nada a ver com marxismo e muito com o economismo vulgar ou, para dizer nas palavras de Lênin, "economismo imperialista".

 

Tal abordagem errônea ignora completamente o fato de que o capitalismo como formação social só pode ser compreendido em sua totalidade – ou seja, como a totalidade da base econômica e da superestrutura política e ideológica. Emprestando uma frase de Lênin, é uma "totalidade das múltiplas relações dessa coisa com os outros" –. 32 O capitalismo, portanto, é uma unidade política e econômica dos opostos (de classe). Só pode ser entendido como a totalidade das relações econômicas da produção e da superestrutura política, social e ideológica. Esses diferentes níveis são mutuamente dependentes e só podem existir na dependência mútua. O capital e, portanto, o capitalismo pressupõe o trabalho que está relacionado uns com os outros e, portanto, é o trabalho social. Portanto, o capital só pode existir se houver uma regulação social e organização da troca de mercadorias e do processo de valorização do capital. Daí a importância do aparato estatal, leis etc. Além disso, o capital só pode existir se os trabalhadores – como poder de trabalho de criação de valor – forem constantemente produzidos e reproduzidos, ou seja, se puderem manter seu bem-estar físico para poder trabalhar (comer, dormir, etc.), se recuperar regularmente através de atividades sociais (lazer, família, etc.) e criar novos trabalhadores através do nascer e alimentar das crianças.

 

Karl Marx resumiu essas relações em seu famoso prefácio de "Uma Contribuição para a Crítica da Economia Política":

 

"A conclusão geral em que cheguei e que, uma vez alcançada, tornou-se o princípio norteador dos meus estudos pode ser resumida da seguinte forma. Na produção social de sua existência, os homens inevitavelmente entram em relações definitivas, que são independentes de sua vontade, ou seja, relações de produção adequadas a um determinado estágio no desenvolvimento de suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a verdadeira base, sobre a qual surge uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas definidas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo geral de vida social, política e intelectual." 33

 

Como já dissemos em um capítulo anterior, é por isso que Marx fala da economia política, não apenas da economia, e por que Trotsky afirmou sem rodeios: "Assim, a economia pura é uma ficção". Não poderia haver extração de valor excedente na esfera econômica se não houvesse também um aparato estatal burguês que assegure as relações jurídicas de acordo e que intervenha, se necessário, com meios violentos. A burguesia imperialista não poderia afirmar seus interesses no mercado mundial se não houvesse estados que assegurassem seus interesses em todo o mundo com força política e militar, se necessário (inclusive por meio de guerra e outros atos de violência).

 

Manter o equilíbrio conflitante da sociedade corroído por antagonismos de classe seria impensável sem uma teia finamente tecida e ideológica que liga as classes e estratos oprimidos à burguesia dominante e garante que eles aceitem até certo ponto sua exploração e opressão. Além disso, o modo capitalista de produção em si cria fetichismo de commodities, ou seja, em um contexto de uma forma de trabalho cada vez mais alienada, as mercadorias produzidas pela própria classe trabalhadora não são vistas como produto de seu trabalho social e, portanto, um sistema social de produção, mas são vistas apenas como coisas sobre as quais não têm poder.

 

Dada a essência da formação social burguesa como a totalidade da economia capitalista e da superestrutura política e ideológica capitalista, segue-se que os antagonismos de classe da ordem capitalista existem e aparecem em todos esses níveis. A luta de classes ocorre, portanto, não apenas no nível empresarial, mas também em numerosas questões políticas e democráticas (por exemplo, questões da Constituição, supressão do direito de greve, aumento do poder de vigilância para a polícia, opressão de migrantes ou minorias nacionais sobre sua linguagem materna, guerras imperialistas etc.) bem como no nível ideológico (por exemplo, propaganda anti-islâmica dos imperialistas , propaganda reacionária contra os direitos das mulheres, contra homossexuais etc.).

 

É, portanto, muito míope, se economistas imperialistas como O CWI ou o TMI reduzem todos os conflitos ao regime "A ou B", ou seja, dividem o mundo de acordo com as regras da lógica formal para que todas as forças que não pertençam ao proletariado, sejam automaticamente parte do outro campo, os capitalistas. Com um método tão mecanicista e anti-dialético, esses camaradas ignoram que o capitalismo não pode ser simplesmente reduzido ao capital e proletariado. Primeiro o capitalismo moderno imperialista conhece – além dos capitalistas e do proletariado – o camponês, a burguesia urbana e a classe média assalariada, bem como todas as numerosas camadas entre eles (as camadas semi-proletárias etc.). Em segundo lugar, também temos nos países imperialistas uma forte estratificação dentro do proletariado: em um polo, a aristocracia trabalhista privilegiada, e no outro polo a massa das camadas inferiores do proletariado. Em terceiro lugar, não se deve esquecer a divisão do mundo em países imperialistas e semicoloniais, ou seja, em nações opressoras e oprimidas e, portanto, a divisão em uma burguesia imperialista e uma burguesia semicolonial e pequeno-burguesa.

 

Claro que a partir disso não se deve seguir à outro desvio, uma forma de anti-imperialismo vulgar, ou seja, se alguém apoiaria a burguesia dos países semicoloniais acriticamente. A burguesia semicolonial briga com o imperialismo sem nenhuma perspectiva de uma sociedade sem classe, mas a fim de fortalecer sua própria posição para a exploração da classe trabalhadora contra a burguesia estrangeira. Portanto, a tática anti-imperialista correta nesses casos só pode ser que os comunistas apoiem ações práticas, incluindo lutas militares da burguesia semicolonial ou da pequena burguesia quando resistem ao imperialismo. Ao mesmo tempo, salientamos a necessidade da organização independente do proletariado de cada país. Também a luta anti-imperialista não deve ser entendida isoladamente da luta pelo socialismo. Em vez disso, só pode ser uma verdadeira luta anti-imperialista, se estiver integrada desde o início à luta pelo socialismo. Em outras palavras, a luta contra o imperialismo deve ser integrada à estratégia de revolução permanente; deve ser vista como a abertura de toda uma série de revoltas revolucionárias até a conquista do poder político pelo proletariado e o estabelecimento de uma economia planejada.

 

 

 

iii) A Luta pela Independência de Classe e a Tática da Frente Única Anti-Imperialista

 

 

 

A intensificação das contradições entre as classes e entre as nações opressoras e oprimidas na era do imperialismo provoca repetidamente resistência maciça da classe trabalhadora, bem como da classe média e, às vezes, até mesmo entre camadas burguesas nos países semicoloniais. Além disso, devido à fraqueza do movimento operário organizado, muitas vezes acontece que forças pequeno-burguesas ou burguesas constituem a liderança dos movimentos de resistência nacional. De fato, este foi o caso nos tempos em que Lênin e Trotsky viveram e geralmente também é o caso hoje (ver, por exemplo, Iraque, Palestina, Afeganistão, Sri Lanka etc.). Que conclusões táticas surgem dessa situação para os revolucionários marxistas?

 

Táticas revolucionárias são derivadas da estratégia de luta de classes independente. Isso significa que defendemos os interesses independentes da classe e a organização independente da classe trabalhadora. O que é independência de classe? Uma resposta clara e científica a esta pergunta é um pré-requisito para o desenvolvimento de uma tática apropriada na luta de classes.

 

A independência de classe do proletariado é, antes de tudo, uma categoria política e significa a independência da classe trabalhadora de toda a influência e dominação burguesas e pequeno-burguesas. Independência de classe significa o reconhecimento da necessidade pela classe trabalhadora de incessante luta de classes contra a burguesia; o reconhecimento de que só pode avançar seus interesses se se fizer como força líder na resistência das massas populares; que é necessário criar um partido político dentro de suas próprias fileiras em vez de subordinar-se a forças estranhas à sua classe e que ela próprio deve se tornar a classe dominante através da derrubada revolucionária dos governos capitalistas e da criação de uma sociedade socialista global. Daí a independência da classe significa a luta contra todos os fantoches da burguesia dentro das fileiras do movimento operário – ou seja, a burocracia reformista nos sindicatos, nos partidos social-democratas, ex-estalinistas e estalinistas – que dificultam a classe trabalhadora em sua luta através de inúmeros métodos de apaziguamento, enganos e aberta repressão. Da mesma forma, a independência de classe significa a luta política contra as forças burguesas e pequeno-burguesas que estão na liderança dos movimentos de resistência nacional. A natureza política da independência de classe deve necessariamente se expressar de forma organizada. Portanto, a independência de classe significa necessariamente a luta pela organização do proletariado de forma independente da burguesia e da burocracia, e, portanto, a construção de movimentos populares nos sindicatos, um movimento revolucionário da juventude e, sobretudo, um partido revolucionário dos trabalhadores nacional e internacionalmente.

 

Independência de classe significa para os marxistas, como os pioneiros de tal independência, guerra permanente contra a burguesia imperialista e seus patetas. A classe trabalhadora é uma classe explorada e oprimida pelo capital. É, portanto, exposto à pressão burguesa em todas as áreas da vida (local de trabalho, mídia, escola, etc.). Assim, a organização revolucionária deve atuar como vanguarda da classe para combater essa influência burguesa em todos os níveis – econômica, política e ideológica-teórica.

 

Tal luta pela independência de classes inclui a aplicação da tática da frente única. Os revolucionários levam em conta que as massas ainda têm ilusões em forças não revolucionárias. Quando os revolucionários defendem o avanço da luta de classes – com a formação de conselhos de ação, manifestações em massa, ocupações, greves, greves gerais etc. – eles direcionam esses apelos não só para as massas amplas dos trabalhadores, mas também para as organizações de massa da classe (incluindo suas lideranças). A liderança dessas organizações deve ser ativamente chamada para ações conjuntas. Dado o status de minoria extrema das forças revolucionárias, eles devem procurar participar em lutas em massa lideradas por reformistas e intervir nessas lutas com iniciativas práticas, um perfil de propaganda afiado e independente, incluindo explicar e alertar sobre o papel traiçoeiro das lideranças não revolucionárias e colocando demandas sobre essas lideranças. Ao fazer isso, os revolucionários não devem dar a impressão de que eles próprios acreditam nas boas intenções dos líderes reformistas, mas que querem ajudar as massas a fazer sua própria experiência. O objetivo de uma tática de frente tão única, como foi desenvolvida pela Internacional Comunista sob Lênin e Trotsky, é quebrar a influência das forças não revolucionárias entre as massas e reuni-las sob a liderança de um partido bolchevique.

 

Nos países semicoloniais e entre os povos oprimidos esta abordagem também inclui a tática da frente única anti-imperialista. Essa tática geralmente se concentra no terreno de demandas mínimas ou democráticas – como a luta contra a dominação imperialista, pela independência e unidade nacionais, pela democracia e pelos direitos democráticos, contra a dominação das indústrias e mercados domésticos por monopólios imperialistas etc. Os revolucionários buscam atrair tal frente única não só para as organizações dos trabalhadores, mas também as da pequena-burguesia (os camponeses, os pequenos proprietários de propriedades urbanas, os profissionais etc.) e até mesmo seções da própria burguesia nacional, quando até mesmo essa burguesia nacional é obrigada a resistir ao imperialismo pela pressão das massas.

 

A possibilidade de aplicar a tática de frente única anti-imperialista também aos setores da burguesia semicolonial baseia-se no fato de que ela é – como já delineamos – "uma classe semi-dominante, semi-oprimida" (Trotsky). 34 Em outras palavras, há uma base material para atritos entre o imperialismo e setores da burguesia semicolonial que, naturalmente, só pode ser de natureza temporária, uma vez que contra uma classe trabalhadora de combate eles unirão suas forças.

 

Exatamente por causa de sua natureza capitalista, a burguesia semicolonial tem mais em comum com seus compadres de classe imperialista do que com a classe trabalhadora em seu próprio país. É por isso que ela pode ser – na melhor das hipóteses – apenas aliado muito temporário e não confiável na luta contra o imperialismo, pois que em breve apunhalará os trabalhadores pelas costas.

 

De fato, na maioria das vezes, as forças pequeno-burguesas ou burguesas rejeitarão os apelos para formar uma frente única anti-imperialista. Ou se eles concordarem em formar tal frente, eles irão mais cedo ou mais tarde – mais cedo do que tarde – traí-la. No entanto, este não é um argumento contra a tática anti-imperialista da frente única, uma vez que esta é uma característica geral da tática da frente única. Normalmente, os burocratas trabalhistas reformistas também resistem a formar frentes única com forças revolucionárias ou logo a traem. Não esqueçamos que foi o governo social-democrata de Ebert e Noske que ordenou a supressão do levantamento Espartaquista (Berlim-Alemanha 1919) e levou ao assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht em janeiro de 1919. Mas os marxistas não seguem a tática da frente única (incluindo a tática anti-imperialista da frente unida) porque acreditam que a burocracia ou a burguesia semicolonial sejam parceiros leais. Eles preferem fazê-lo porque essas forças muitas vezes têm controle sobre a organização de massa ou instituições estatais (como o exército) em que muitos trabalhadores e camponeses têm ilusões. Para romper com tais ilusões, a burocracia e a burguesia semicolonial devem ser permanentemente "bombardeadas" com demandas por ações conjuntas. Só assim essas forças traiçoeiras podem ser testadas na prática e, portanto, as massas podem ser apoiadas para acabar com suas ilusões por sua própria experiência.

 

Assim, o objetivo da tática da frente única anti-imperialista é avançar a organização independente dos trabalhadores, camponeses e oprimidos em conselhos de ação ou formas similares de organização soviética e fomentar neles o rompimento com as lideranças burguesas e ganhá-las para a perspectiva da revolução socialista. 35

 

Como todas as frentes únicas, a frente única anti-imperialista também deve estar focada em acordos para ações práticas e não programas políticos conjuntos. E também da mesma forma, as lideranças pequeno-burguesas se recusarão em nove em cada dez vezes a formar tal frente única. Isso, no entanto, não tira da tática da frente única a sua importância. Chamar essas lideranças para ações conjuntas continua sendo uma tática importante para mostrar às massas nossa disposição para a luta conjunta e expor esses líderes – se eles falharem em lutar – aos olhos das massas. Juntar-se a qualquer luta prática contra o imperialismo e seus cúmplices reacionários é uma necessidade importante, mesmo que seja liderada por forças pequeno-burguesas e mesmo que recusem qualquer colaboração com os revolucionários. Só com isso os revolucionários podem provar às massas que são os melhores lutadores pela independência nacional, pela democracia etc. Só com isso eles podem ganhar a confiança das massas e finalmente separá-las das lideranças apodrecidas.

 

A Internacional Comunista desenvolveu a tática de frente única anti-imperialista em sua "Teses sobre a Questão Oriental" em seu Quarto Congresso em 1922. Enfatizou a natureza progressista da luta contra a dominação imperialista – mesmo que ocorra sob a liderança de forças pequeno-burguesas:

 

"A principal tarefa que é comum a todos os movimentos revolucionários nacionais é trazer unidade nacional e alcançar a independência política. A solução real e logicamente consistente desta questão depende da medida em que tal movimento nacional é capaz de romper com os elementos feudais reacionários e conquistar as amplas massas de trabalho à sua causa, e em seu programa para dar expressão às demandas sociais dessas massas.

 

Tendo plena consciência do fato de que aqueles que representam a vontade nacional à independência do Estado podem, devido à variedade de circunstâncias históricas, ser eles mesmos do tipo mais variado, o Internacional Comunista apoia todos os movimentos revolucionários nacionais contra o imperialismo. Ao mesmo tempo, não se esquece que apenas uma política revolucionária consistente, projetada para atrair as massas mais amplas para a luta ativa, e uma ruptura completa com todos os adeptos da reconciliação com o imperialismo por causa de sua própria dominação de classe, pode levar as massas oprimidas para a vitória. 36

 

A Internacional Comunista ressaltou que os marxistas não devem ter ilusões nas forças pequeno-burguesas no topo dos movimentos de libertação nacional. Eles devem aplicar a tática da frente única para maximizar o poder de mobilização e para enfraquecer a influência dessas lideranças.

 

"A conveniência deste slogan vem da perspectiva de uma luta prolongada e prolongada com o imperialismo mundial que exige a mobilização de todos os elementos revolucionários. Essa mobilização é mais necessária, pois as classes dominantes indígenas estão inclinadas a realizar compromissos com o capital estrangeiro direcionados contra os interesses vitais das massas do povo. E assim como no Ocidente o slogan da frente unida proletária ajudou e ainda está ajudando a expor a traição social-democrática dos interesses proletários, de modo que o slogan da frente unida anti-imperialista ajudará a expor a vacilação de vários grupos burgueses-nacionalistas. Este slogan também promoverá o desenvolvimento da vontade revolucionária e o esclarecimento da consciência de classe das massas trabalhadoras e as colocará nas fileiras da frente daqueles que lutam não apenas contra o imperialismo, mas também contra as sobrevivências do feudalismo." 37

 

No entanto, repetimos que uma pré-condição para isso é a participação ativa dos revolucionários nessas lutas como os lutadores mais ativos. Os revolucionários devem unir essas lutas contra as dominações imperialistas, pelos direitos democráticos, pelos direitos nacionais etc. onde e como ocorrem concretamente. Eles não devem recusar a participação em tais movimentos porque são liderados por forças pequeno-burguesas (como é frequentemente o caso hoje). Somente com essa abordagem os revolucionários podem quebrar a influência dessas lideranças e conquistar os trabalhadores e oprimidos para a política independente da classe.

 

Por essas razões, comunistas e posteriormente os trotskistas participaram de muitas lutas de libertação nacional e democrática, apesar do fato de terem sido liderados por forças burguesas. Em vários casos, essas lideranças até tentaram suprimir e matar os comunistas por todos os meios. Por exemplo, o líder Kemal Pasha na Turquia ou o Kuomintang chinês.

 

Portanto, enquanto os marxistas denunciavam fortemente tais lideranças burguesas, eles os apoiavam na medida em que tomavam ações concretas contra o inimigo imperialista. A Internacional Comunista e mais tarde a Quarta Internacional de Trotsky recusaram um anti-imperialismo platônico, ou seja, um anti-imperialismo que "em princípio" apoiava um determinado país semicolonial, mas se recusou a aplicar a tática da frente única às forças muito concretas que estavam no comando dessas lutas. Eles se opuseram a qualquer apoio político às forças burguesas na luta contra o imperialismo, mas pediram apoio prático e participação nessas lutas, mesmo quando estava sob tais lideranças burguesas. 38

 

A União Soviética apoiou a Turquia sob Kemal Pasha em sua luta contra o imperialismo britânico e seus aliados gregos. Esta política foi apoiada pela Internacional Comunista e também defendida mais tarde por Trotsky. Trotsky também pediu o apoio crítico, mas incondicional, da luta de Chiang Kai-Shek contra os invasores japoneses no final dos anos 1920 e 1930 (apesar do fato de que mais tarde ele assassinou dezenas de milhares de comunistas em 1927!):

 

"Muito bem: contra o imperialismo é obrigatório ajudar até mesmo os carrascos de Chiang Kai-shek." 39

 

O líder da Quarta Internacional criticou duramente os ultra-esquerdistas que se recusaram a participar de uma luta anti-imperialista sob uma liderança burguesa, alegando que isso constituiria uma forma de Frente Popular. Ele convocou revolucionários em 1937 para participar e apoiar a luta militar contra o Japão sob a liderança de Chiang Kai-shek, desde que os revolucionários não eram fortes o suficiente para substituí-lo. Ele comparou a tática necessária para os revolucionários com aqueles durante uma greve de trabalhadores sob a liderança de burocratas reformistas e traiçoeiros. Seria dever de todo trabalhador consciente da classe aderir a tal greve sem apoiar politicamente os burocratas. A atitude de Trotsky torna-se clara a partir de um documento que ele escreveu sobre a guerra chinesa contra o Japão em 1937, da qual citamos aqui extensivamente:

 

"Mas Chiang Kai-shek? Não precisamos de ilusões sobre Chiang Kai-shek, seu partido, ou toda a classe dominante da China, assim como Marx e Engels não tinham ilusões sobre as classes dominantes da Irlanda e da Polônia. Chiang Kai-Shek é o carrasco dos trabalhadores e camponeses chineses. Mas hoje ele é forçado, apesar de si mesmo, a lutar contra o Japão pelo resto da independência da China. Amanhã ele pode trair novamente. É possível. É provável. É até inevitável. Mas hoje ele está lutando. Apenas covardes, ou completos podem se recusar a participar dessa luta.

 

Usemos o exemplo de uma greve para esclarecer a questão. Não apoiamos todas as greves. Se, por exemplo, uma greve for convocada para a exclusão de trabalhadores negros, chineses ou japoneses de uma fábrica, somos contra essa greve. Mas se uma greve visa melhorar, na medida do possível, as condições dos trabalhadores, somos os primeiros a participar dela, seja qual for a liderança. Na grande maioria das greves, os líderes são reformistas, traidores por profissão, agentes do capital. Eles se opõem a cada ataque. Mas de tempos em tempos a pressão das massas ou da situação objetiva os força a seguir o caminho da luta.

 

Imaginemos, por um instante, um trabalhador dizendo a si mesmo: "Não quero participar da greve porque os líderes são agentes do capital". Esta doutrina deste imbecil ultra-esquerdista serviria para marcá-lo pelo seu nome real: um fura-greves. O caso da Guerra Sino-Japonesa é deste ponto de vista. Se o Japão é um país imperialista e se a China é vítima do imperialismo, nós favorecemos a China. Patriotismo japonês é a máscara odiosa do roubo mundial. O patriotismo chinês é legítimo e progressista. Colocar os dois no mesmo plano e falar de "patriotismo social" só pode ser feito por aqueles que não leram nada de Lênin, que não entenderam nada da atitude dos bolcheviques durante a guerra imperialista, e que podem apenas comprometer e prostituir os ensinamentos do marxismo. (...) Mas o Japão e a China não estão no mesmo avião histórico. A vitória do Japão significará a escravidão da China, o fim de seu desenvolvimento econômico e social, e o terrível fortalecimento do imperialismo japonês. A vitória da China significará, pelo contrário, a revolução social no Japão e o livre desenvolvimento, ou seja, sem obstáculos pela opressão externa, da luta de classes na China.

 

Mas Chiang Kai-Shek pode garantir a vitória? Acho que não. É ele, no entanto, quem começou a guerra e quem hoje a dirige. Para poder substituí-lo é necessário ganhar influência decisiva entre o proletariado e o exército, e para isso é necessário não permanecer suspenso no ar, mas se colocar no meio da luta. Devemos ganhar influência e prestígio na luta militar contra a invasão estrangeira e na luta política contra as fraquezas, as deficiências e a traição interna. Em um certo ponto, que não podemos corrigir com antecedência, essa oposição política pode e deve ser transformada em conflito armado, uma vez que a guerra civil, como a guerra em geral, nada mais é do que a continuação da luta política. É necessário, no entanto, saber quando e como transformar a oposição política em insurreição armada.

 

Durante a revolução chinesa de 1925-27 atacamos as políticas do Comintern. Porque? É preciso entender bem as razões. Os eiffelitas afirmam que mudamos nossa atitude sobre a questão chinesa. Isso porque os pobres não entenderam nada da nossa atitude em 1925-27. Nunca negamos que era dever do Partido Comunista participar na guerra da burguesia e da burguesia mesquinha do Sul contra os generais do Norte, agentes do imperialismo estrangeiro. Nunca negamos a necessidade de um bloco militar entre o PC e o Kuomintang. Pelo contrário, fomos os primeiros a propô-lo. Exigimos, no entanto, que o PC mantivesse toda a sua independência política e organizacional, ou seja, que durante a guerra civil contra os agentes internos do imperialismo, como na guerra nacional contra o imperialismo estrangeiro, a classe trabalhadora, enquanto permanece na linha de frente da luta militar, preparasse a derrubada política da burguesia. Temos as mesmas políticas na guerra atual. Nós não mudamos nossa atitude nem um pouco. Os oehleritas e os eiffelitas, por outro lado, não entenderam nem uma única parte de nossas políticas, nem as de 1925-27, nem as de hoje.

 

Em minha declaração à imprensa burguesa no início do recente conflito entre Tóquio e Nanquim, enfatizei sobretudo a necessidade da participação ativa dos trabalhadores revolucionários na guerra contra os opressores imperialistas. Por que eu fiz isso? Porque, em primeiro lugar, está correto do ponto de vista marxista; porque, em segundo lugar, era necessário do ponto de vista do bem-estar de nossos amigos na China. Amanhã a GPU, que está em aliança com o Kuomintang (como com Negrin na Espanha), representará nossos amigos chineses como "derrotistas" e agentes do Japão. O melhor deles, com Chten Tu-hsiu na cabeça, pode ser comprometido nacional e internacionalmente e morto. Era necessário enfatizar, energeticamente, que a Quarta Internacional estava do lado da China contra o Japão. E eu adicionei ao mesmo tempo: sem abandonar seu programa ou sua independência.

 

Os eiffelitas tentam brincar com essa reserva. "Os trotskistas", dizem eles, "querem servir Chiang Kai-shek em ação e o proletariado em palavras." Participar ativamente e conscientemente da guerra não significa "servir Chiang Kai-Shek", mas servir a independência de um país colonial, apesar de Chiang Kai-Shek. E as palavras dirigidas contra o Kuomintang são os meios de educar as massas para a derrubada de Chiang Kai-Shek. Ao participar da luta militar sob as ordens de Chiang Kai-Shek, já que infelizmente é ele quem tem o comando na guerra pela independência — preparar politicamente a derrubada de Chiang Kai-Shek . . . essa é a única política revolucionária. Os eiffelitas contrapõem a política de "luta de classes" a esta política "nacionalista e social patriótica". Lênin lutou contra essa oposição abstrata e estéril toda a sua vida. Para ele, os interesses do proletariado mundial ditavam o dever de ajudar os povos oprimidos em sua luta nacional e patriótica contra o imperialismo. Aqueles que ainda não entenderam que, quase um quarto de século após a Guerra Mundial e vinte anos após a revolução de outubro, devem ser impiedosamente rejeitados como os piores inimigos por dentro pela vanguarda revolucionária. Este é exatamente o caso com Eiffel e sua espécie!” 40

 

Vemos que Trotsky continuou a aplicação da tática anti-imperialista da frente única. Em sua crítica ao Programa estalinista para a Internacional Comunista, ele defendeu tal tática em uma base geral:

 

"Não é preciso dizer que não podemos renunciar antecipadamente a acordos tão rigidamente delimitados e rigidamente práticos como servem a cada vez um objetivo bastante definido. Por exemplo, casos como envolvem acordos com a juventude estudantil do Kuomintang para a organização de uma manifestação anti-imperialista, ou de obter assistência dos comerciantes chineses para grevistas em uma concessão estrangeira, etc. Esses casos não são de todo excluídos no futuro, mesmo na China." 41

 

Ele repete essa ideia de uma tática de frente única até mesmo para figuras reacionárias como Chiang Kai-Shek:

 

"Por suas condições absurdas, que servem para pintar a burguesia com cores brilhantes antecipadamente, o projeto do programa afirma clara e definitivamente (apesar do caráter diplomático e incidental de sua tese) que aqui estão precisamente blocos políticos de longo prazo e não acordos para ocasiões específicas celebrados por razões práticas e rigidamente confinados a objetivos práticos. Mas, nesse caso, o que significa exigir que a burguesia faça uma luta "genuína" e que ela "não obstrua «os trabalhadores? Apresentamos essas condições à própria burguesia e exigimos uma promessa pública dela? Ele vai fazer-lhe qualquer promessa que você quiser! Ele até enviará seus delegados para Moscou, entrará na Internacional dos Camponeses, adere como um partido "simpatizante", ao Comintern, espiará a Red International of Sindical. Em suma, ele prometerá qualquer coisa que lhe dê a oportunidade (com nossa ajuda) de enganar os trabalhadores e camponeses, de forma mais eficiente, mais fácil e mais completa para jogar areia em seus olhos - até a primeira oportunidade, como foi oferecida em Xangai." 42

 

Com base em tal compreensão da tática da frente única, a fim de quebrar sua base, Trotsky considerou até mesmo uma tática de entrada em tais partidos de massa burguesa com uma base ativa de trabalhadores como uma possibilidade de princípio para os revolucionários. Embora às vezes ele não tivesse certeza se a tática de entrada do Partido Comunista Chinês no Kuomintang no início da década de 1920 estava certa ou errada desde o início, ele certamente não era, em princípio, contra tais táticas. Tal que ele escreveu:

 

"A participação do PCC no Guomindang foi perfeitamente correta no período em que o PCC era uma sociedade de propaganda que estava apenas se preparando para futura atividade política independente, mas que, ao mesmo tempo, buscava participar da luta de libertação nacional em curso." 43

 

Ele repetiu seu apoio ao caráter de princípio de tal tática de entrada várias vezes: "A entrada temporária no SFIO, ou mesmo o Kuomintang, não é um mal em si; no entanto, é necessário saber não só quando entrar, mas também quando sair." 44

 

Os trotskistas tentaram – com suas forças limitadas – colocar em prática a tática da frente única anti-imperialista. Ch'en Pi-lan, um dos principais trotskistas chineses e esposa do mais proeminente líder trotskista da China, Peng Shu-tse, relata que a seção chinesa da Quarta Internacional decidiu em uma conferência em 1937 "apoiar a luta armada travada pelo governo kuomintang contra o imperialismo japonês. Acompanhando isso estava uma crítica do ponto de vista político da política reacionária do governo." 45

 

Gregor Benton relata em seu estudo sobre os trotskistas chineses como eles tentaram entrar nas fileiras do exército oficial e participar da luta anti-japonesa e construir células revolucionárias ao mesmo tempo. Eles até formaram unidades de guerrilha durante a guerra. Um dos principais trotskysta chinês, Wang Fanxi, relata o mesmo. Desnecessário dizer que tudo isso foi conduzido sob as circunstâncias mais difíceis e com pesadas perdas. 46

 

Nossa compreensão do anti-imperialismo encontra uma expressão clara na condenação da Internacional Comunista de todos aqueles pseudo-marxistas que se recusaram a apoiar uma luta concreta contra as forças imperialistas lideradas por forças pequeno-burguesas com o argumento de que isso estaria em contradição com a independência de classe:

 

"A recusa dos comunistas nas colônias de participar da luta contra a tirania imperialista, no terreno da ostensiva 'defesa' de seus independentes interesses de classe, é oportunismo da pior espécie, que só pode desacreditar a revolução proletária no Oriente." 47

 

 

 

iv) Lutas de Libertação, Interferência Imperialista e as duais Táticas Militares

 

 

 

A história mostrou que as lutas de libertação em países semicoloniais contra as forças reacionárias domésticas ou imperialistas estrangeiros podem enfrentar o problema da interferência imperialista. A seguir faremos uma breve apresentação do método geral de como a CCRI aborda as lutas de libertação democrática nacional em países semicoloniais que estão interligados com a interferência imperialista. 48 Comecemos citando o resumo de nosso método em nosso programa O Manifesto Comunista Revolucionário :

 

Particularmente, onde os regimes autoritários ou os militares pisam abertamente nos direitos democráticos, os movimentos de massa se levantam e lutam com determinação por seus direitos. Outros estados e até mesmo Grandes Potências imperialistas tentam explorar tais crises internas e ficam muito felizes em expandir sua influência. Os bolcheviques-comunistas apoiam qualquer movimento real das massas populares contra a supressão dos direitos democráticos. Rejeitamos qualquer influência das forças reacionárias e defendemos a soberania nacional dos países semicoloniais contra o imperialismo. Isso não significa que os revolucionários renunciem ao apoio ao movimento democrático-revolucionário. Na realidade, a intromissão imperialista não ajuda a luta democrático-revolucionária, mas ameaça enfraquecê-la. É por isso que apoiamos as lutas de libertação progressistas das massas contra as ditaduras, mas ao mesmo tempo rejeitamos agudamente as intervenções imperialistas. (Por exemplo, a luta dos bósnios de 1992-95, dos albaneses de Kosovo em 1999, o levante contra a ditadura de Kadafi na Líbia em 2011). Somente quando a intervenção imperialista está se tornando a característica dominante da situação política, os revolucionários devem subordinar a luta democrática à luta contra tal intervenção. Os revolucionários devem subordinar a luta democrática à luta contra tal intervenção.

 

Da mesma forma, este é o caso nos estados operários degenerados ainda existentes (como Cuba ou Coréia do Norte). No passado apoiamos o verdadeiro movimento de massa contra a burocracia dominante (como as do Leste Europeu, China e URSS, 1989-91) e defendemos a revolução política. No entanto, defendemos as conquistas do Estado dos trabalhadores (planejamento, propriedade estatal, monopólio do comércio exterior, etc.) contra qualquer tentativa de introdução do capitalismo. ” 49

 

Vamos agora elaborar nossa abordagem. Muitos esquerdistas não conseguem entender a relação correta entre o anti-imperialismo e a solidariedade internacional da classe trabalhadora. Somos anti-imperialistas porque apoiamos consistentemente a luta de libertação da classe operária e dos povos oprimidos, da qual o imperialismo é o maior inimigo. Nosso anti-imperialismo é uma consequência de nossa posição fundamental na luta de classes e não um princípio dominante, que reside acima da luta de classes .

 

É por isso que os marxistas são capazes de chegar a posições independentes do que pensa a "opinião pública" imperialista e pequeno-burguesa e ao mesmo tempo somos "dependentes" dos interesses de classe da classe trabalhadora internacional. É por isso que não nos confundimos quando a 'opinião pública' imperialista e pequeno-burguesa apoia uma luta de libertação nacional ou democrática justa. Os marxistas não fazem - como o cachorrinho das experiências de Pavlov - nós nos certificamos de desenvolver uma posição de classe independente.

 

Nosso método é que durante essas lutas de libertação nacional ou democrática estejamos do lado dos lutadores pela libertação (mesmo as que estão principalmente sob lideranças burguesas ou pequeno-burguesas) e apoiamos sua vitória militar. Nós diferenciamos nitidamente entre essas lutas de libertação progressistas e entre os interesses das potências imperialistas. Enquanto apoiamos o primeiro, nós nos opomos totalmente ao último. Portanto, nós bolcheviques-comunistas rejeitamos qualquer interferência imperialista e clamamos pela derrota das forças imperialistas.

 

 

 

A opinião pública no mundo imperialista não deve ser o ponto de partida para o desenvolvimento de uma posição em direção à guerra!

 

 

 

Setores de esquerda centrista no Ocidente defendem uma versão sectária - ou melhor, uma caricatura - de anti-imperialismo. Eles não olham para uma certa luta em sua totalidade, com todos os seus vários e muitas vezes contraditórios aspectos. Em vez disso, eles tentam avaliar qual é a posição oficial do imperialismo ocidental. Geralmente fazem isso olhando para a chamada opinião pública, ou seja, a retórica dos funcionários e da mídia burguesa. E onde a opinião pública ocidental faz um ponto positivo, o sectário faz um ponto negativo. Em outras palavras, ele ou ela simpatiza com aqueles que estão em uma determinada guerra contra o que a opinião pública ocidental despreza. Como exemplos de tal atitude, mencionamos o Workers World Party nos EUA, o World Socialist Web Site de David North, o Comitê de Ligação para a Quarta Internacional (Luta Socialista na Grã-Bretanha, Liga Comunista do Brasil, Tendência Militante Bolchevique da Argentina). 50 Este último dedicou uma polêmica especial contra à CCRI sobre esta questão.

 

Assim, eles chegam à mesma posição em todos os diferentes tipos de guerras: a guerra do Iraque de 1991, a guerra da Bósnia de 1992-95, a guerra do Kosovo de 1999, a guerra do Afeganistão de 2001, a guerra do Iraque de 2003 e a guerra civil da Líbia de 2011. Este é completamente errado. Para os marxistas, a opinião pública imperialista, embora seja um fator que deve ser levado em consideração, não é o ponto de partida nem o fator mais importante para derivar para posições revolucionárias!

 

Deixe-nos dar alguns exemplos históricos: Durante a luta de libertação nacional dos eslavos nos Bálcãs contra o Império Otomano em 1912/13, o imperialismo russo estava cheio de simpatia por eles - é claro por causa de seus próprios interesses de classe expansionistas. Porém, Lenin e os bolcheviques não concluíram disso que ninguém deveria apoiar sua luta de libertação nacional. Que conclusão Trotsky e a Quarta Internacional tiraram do fato de que a opinião pública imperialista e pequeno-burguesa na Europa Ocidental e na América do Norte era fortemente a favor do governo antifascista republicano na Espanha em 1936-39 ou pela luta de libertação nacional do Trabalhadores chineses sob a liderança de Chiang Kai-Shek contra o imperialismo japonês de 1937 em diante? Eles certamente não sucumbiram 'opinião pública dos imperialistas e pequeno-burgueses 'quando eles deram apoio crítico, mas incondicional ao governo antifascista republicano ou às lutas chinesas, mas seguiram o ponto de vista da classe trabalhadora de forma independente e internacionalista.

 

Os marxistas não devem partir da consideração: “ Como podemos nós, como revolucionários lutando nos países imperialistas ocidentais, nos opor melhor à pressão de 'nossa' burguesia? “Isso é unilateral e, portanto, abre a porta a erros graves. Seria anti-imperialismo para tolos. É preciso começar a pensar do ponto de vista “ qual é a política independente de classe no interesse da classe trabalhadora internacional e do povo oprimido” . Em outras palavras, como podemos fortalecer as lutas, organizações e consciências da classe trabalhadora? Este é o único método legítimo de como abordar as questões da luta de classes. Do contrário, cairíamos nos métodos dos esquerdistas dos países imperialistas que começam e terminam pensando em como se opor à sua própria burguesia.

 

Trotsky explicou muito bem essa abordagem em um artigo em que polemizou contra o método sectário:

 

Em noventa por cento dos casos, os trabalhadores colocam realmente um sinal de menos onde a burguesia coloca um sinal de mais. Em dez por cento, entretanto, eles são obrigados a fixar o mesmo sinal que a burguesia, mas com seu próprio selo, no qual está expressa sua desconfiança em relação à burguesia. A política do proletariado não deriva de forma alguma automaticamente da política da burguesia, tendo apenas o sinal oposto - isso faria de todo sectário um estrategista mestre; não, o partido revolucionário deve orientar-se cada vez com independência, tanto na situação interna como na externa, chegando às decisões que melhor correspondam aos interesses do proletariado. Esta regra se aplica tanto ao período em períodos de guerra quanto aos períodos de paz . ” 51

 

 

 

Como abordar as várias formas de intervenção militar imperialista?

 

 

 

A que respeito podemos falar de diferentes formas de intervenções militares imperialistas? Vamos explicar isso lidando com alguns exemplos das últimas duas décadas. Qual foi a diferença entre as guerras do Iraque em 1991 e 2003, o Afeganistão em 2001 por um lado e a Bósnia 1992-95, Kosovo 1999 e a Líbia 2011? Qual é o nosso método comum? Por que defendemos o Afeganistão em 2001 (embora o Talibã certamente não fosse menos ditatorial do que Kadafi) e por que continuamos a apoiar a revolução democrática na Líbia contra o regime de Kadafi, apesar da limitada campanha militar imperialista contra o regime? Os sectários nos acusam de capitulação à “opinião pública democrático-burguesa dos países imperialistas”? Mas houve uma diferença na 'opinião pública' imperialista e pequeno-burguesa? Dificilmente se pode dizer que a opinião pública foi menos hostil contra o Taleban do que contra Gaddafi. Pelo contrário. Muitos governos imperialistas tiveram reuniões públicas com Gaddafi, fizeram uma série de bons negócios e tiveram que eliminar às pressas as fotos de seus sites oficiais onde se podia ver Sarkozy, Berlusconi, Blair etc. apertando as mãos e trocando piadas com o ditador líbio.

 

Então, qual foi a diferença entre as guerras do Iraque em 1991 e 2003, o Afeganistão em 2001 por um lado e a Bósnia 1992-95, Kosovo 1999 e a Líbia 2011 por outro? A resposta é muito simples. Como materialistas históricos, primeiro olhamos para o desenvolvimento das classes. Na Bósnia, a guerra começou em abril de 1992 como uma luta de libertação nacional dos trabalhadores e camponeses sob a liderança da burocracia Izetbegovic contra a opressão ameaçadora do estado chauvinista sérvio. Desde 1987, o regime de Milosevic na Sérvia iniciou uma campanha virulenta de chauvinismo sérvio que visava, em particular, os albaneses Kosovo, mas também a maioria das outras nacionalidades na Iugoslávia. Com isso, a casta burocrática sérvia desejava assegurar sua posição dominante no processo de restauração capitalista. A burocracia croata tentou conter isso aumentando a opressão sobre suas minorias sérvias em Krajina e na Eslavônia. Essa crescente opressão nacional estava relacionada à restauração capitalista para desviar a atenção das massas de suas consequências sociais. Foi este pano de fundo que deu início à série de guerras dos Bálcãs em 1991 e nas quais várias potências imperialistas tentaram interferir.

 

Foi o mesmo em Kosovo, que teve uma história de opressão assassina pelo estado sérvio desde sua anexação em 1913 e muitos levantes de libertação nacional desde então. A última começou em março de 1998. 52 A Revolução Líbia e a Síria em 2011 também começaram como uma revolução democrática como parte das revoluções árabes contra as ditaduras burguesas. Portanto, ao contrário da interpretação dos sectários, essas guerras civis não começaram como uma conspiração do imperialismo - foram autênticas lutas de libertação dos trabalhadores e camponeses. 53

 

Ao contrário desses exemplos, as situações no Iraque em 1991 e 2003 ou no Afeganistão em 2001 foram diferentes. No Afeganistão, em 2001, nenhuma luta de massas progressista ocorreu - a guerra civil local da chamada Aliança do Norte de Ahmad Shah Massoud contra o Taleban não tinha nenhum potencial progressista. A luta de libertação nacional do povo curdo contra o regime do Baath no Iraque teve um caráter justo e progressista, mas dada a sua natureza local no Norte, não se tornou o fator dominante na situação política.

 

Relacionado a isso está outra diferença importante entre os dois tipos de guerra: a guerra do Iraque de 1991, 2003 ou a guerra do Afeganistão de 2011 não foram uma interferência do imperialismo nas lutas de libertação em curso. Foram ataques imperialistas totais para subjugar esta ou aquela nação.

 

É preciso olhar concretamente para essas guerras. Por exemplo, na Bósnia ou em Kosovo, os objetivos da guerra imperialista não eram conquistar e subjugar a Sérvia, mas sim conter a expansão da luta de libertação nacional e, com isso, deter a desestabilização da ordem regional. No caso de Kosovo, é preciso lembrar que pouco antes da guerra, na primavera de 1997, ocorreu o levante de massas armadas na Albânia. 54 Uma luta de libertação bem-sucedida em Kosovo teria consequências decisivas para o início de uma luta de libertação semelhante entre as minorias albanesas oprimidas na Macedônia, Montenegro e a própria Sérvia.

 

É claro que a interferência imperialista pode mudar o caráter de uma luta de libertação nacional. Mas nem sempre é esse o caso. Em nosso livro sobre a Revolução Árabe já nos referimos a exemplos que mostraram que os imperialistas também interferiram na luta de libertação nacional chinesa nas décadas de 1930 e 40 ou nos movimentos de guerrilha de massas no Leste Europeu contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Por exemplo, os britânicos enviaram armas e oficiais aos partidários estalinistas de Tito e os EUA enviaram até aviões militares com pilotos americanos para apoiar as forças burguesas de Chiang Kai-Shek. Isso levou os revolucionários da Quarta Internacional a parar de apoiar essas lutas?! Não, e eles estariam terrivelmente errados se o fizessem.

 

É preciso analisar concretamente se uma dada luta de libertação democrática ou nacional fica totalmente subordinada às manobras imperialistas e não possui nenhuma dinâmica interna significativa de luta de libertação operária e camponesa. Se for esse o caso, os marxistas devem mudar de posição e desistir de seu apoio crítico à luta de libertação nacional.

 

Porém, mesmo aqui é preciso analisar o processo e sua possível transformação e, portanto, estar preparado para uma necessária mudança de posição. Por exemplo, quando os trabalhadores e camponeses xiitas no sul do Iraque se revoltaram contra Saddam Hussein em março de 1991, tanto nós, marxistas, quanto imperialistas, entendemos o significado de classe desta insurreição. Foi uma verdadeira revolução democrática dos operários e camponeses. Portanto, em represália, o exército baathista o esmagou, as tropas dos EUA e a 'opinião pública' imperialista e pequeno-burguesa choraram lágrimas de crocodilo sobre os pobres iraquianos e o malvado regime de Saddam Hussein ... mas ficaram parados e olharam aliviados quando o levante foi esmagado. E nós, bolcheviques-comunistas? Nós - em nossa organização predecessora LRCI - defendemos o exército iraquiano contra as tropas dos EUA, mas também defendemos as massas xiitas contra o exército baathista. Tanto os imperialistas quanto o LRCI / CCRI mudaram de posição não porque fossem inconsistentes, mas porque a luta entre as classes mudou seu caráter. Também pode ser o contrário, que os marxistas podem primeiro apoiar uma revolução democrática e depois mudar essa posição. Somente tal abordagem concreta e dialética permite aos marxistas elaborar uma posição independente e internacionalista da classe trabalhadora. Isto significa um ponto de vista que se centra no avanço da luta, das organizações e da consciência da classe operária e não na 'opinião pública' imperialista e pequeno-burguesa. Também pode ser o contrário, que os marxistas podem primeiro apoiar uma revolução democrática e depois mudar essa posição. Somente tal abordagem concreta e dialética permite aos marxistas elaborar uma posição independente e internacionalista da classe trabalhadora. Isto significa um ponto de vista que se centra no avanço da luta, das organizações e da consciência da classe operária e não na 'opinião pública' imperialista e pequeno-burguesa.

 

Vejamos brevemente outro exemplo histórico. Que posições os marxistas deveriam ter desenvolvido nos anos de 1953, 1956, 1968 ou 1980-81, quando os trabalhadores se rebelaram contra a burocracia estalinista na Alemanha Oriental, Hungria, Tchecoslováquia e Polônia ?! Claro, a 'opinião pública' imperialista e pequeno-burguesa no Ocidente era verbalmente a favor da revolta desses trabalhadores porque eles esperavam enfraquecer os estalinistas explorando-os taticamente. Mas apenas os estalinistas e caricaturas vivas do trotskismo como os espartaquistas chegaram à conclusão de que, por causa da 'opinião pública' ocidental, deve-se defender a ditadura burocrática contra os trabalhadores. Para os marxistas, é claro, o ponto de partida não era a 'opinião pública' imperialista e da pequena-burguesia do ocidente, mas os interesses da classe proletária independente. Apoiamos naquela época, portanto, de forma crítica, mas incondicional, os levantes dos trabalhadores no bloco Oriental. Enquanto apoiamos essas - infelizmente derrotadas - revoluções operárias, ao mesmo tempo, nos opusemos a qualquer forma de ataque imperialista.

 

 

 

Consequências para a tática militar

 

 

 

Assim, vemos que ao implementar a mesma linha independente e internacionalista da classe trabalhadora, é necessário chegar em diferentes situações a diferentes conclusões porque diferentes fatores objetivos e interesses de classe estão envolvidos. A mesma estratégia de revolução permanente conduz em diferentes tipos de guerras a diferentes táticas. Somente um cabeça-dura mecanicista pode se surpreender com isso.

 

Onde a classe trabalhadora e os oprimidos não estão engajados em uma luta direta pelo poder, ou seja, fora de uma situação revolucionária, a tarefa de derrubar um determinado regime está subordinada à tarefa de defesa de um país semicolonial (ou estado operário degenerado) contra um ataque imperialista. Por outro lado, onde temos a mobilização da classe trabalhadora e dos oprimidos em uma luta direta pelo poder como é o caso em uma situação revolucionária, uma guerra civil etc., os bolcheviques-comunistas lutam pelo resultado vitorioso da classe trabalhadora. Claro que combinamos isso com a luta contra os ataques imperialistas.

 

A Segunda Guerra Mundial é um modelo para uma situação tão contraditória. Lá, pudemos ver a aplicação de uma abordagem combinada e dialética de táticas militares. Os marxistas revolucionários da Quarta Internacional defenderam a União Soviética contra o imperialismo alemão - apesar da aliança da URSS com o imperialismo ocidental. Eles se aliaram ao povo colonial contra seus ocupantes imperialistas - apesar do apoio dos estalinistas aos ocupantes britânicos e franceses e apesar do apoio dos imperialistas Aliados à resistência chinesa contra o imperialismo japonês. A Quarta Internacional também se aliou aos exércitos partidários de libertação nacional contra o imperialismo alemão na Europa e assumiu uma posição derrotista contra os dois campos imperialistas em seus conflitos entre si.

 

Assim, vemos que em tais casos contraditórios, onde, por assim dizer, várias guerras acontecem em uma guerra, seria desastroso seguir uma única e mesma tática para todas as guerras ou “sub-guerras” diferentes. Muito pelo contrário, os marxistas devem exigir uma tática militar dupla.

 

Somente quando as forças imperialistas ameaçam conquistar um determinado país semicolonial (ou um estado operário degenerado) e ao mesmo tempo a classe operária não é forte o suficiente para tomar o poder, só então se torna necessário subordinar a luta contra o regime em prol da defesa de um determinado país semicolonial (ou um estado operário degenerado).

 

É por isso que - como já afirmamos acima - apoiamos a luta de libertação nacional do povo bósnio contra a burocracia restauracionista sérvia em 1992-95, enquanto nos opusemos a quaisquer ataques da OTAN. É por isso que apoiamos a revolta dos albaneses do Kosovo em 1997-99, ao mesmo tempo que nos opusemos à guerra da OTAN contra a Sérvia. É por isso que dissemos durante a Guerra do Golfo em 1991 e 2003 “ Defender o Iraque! Derrotar o imperialismo! ” Quando a agressão imperialista contra o Afeganistão começou em 07 de outubro de 2001, chamamos pela vitória militar da resistência afegã, apesar da liderança do Taleban. Da mesma forma, chamamos hoje pela vitória militar dos rebeldes islâmicos no Mali contra os invasores franceses e seus aliados. E chamamos pelo apoio à resistência liderada pelo Hezbollah no Líbano em 2006 e à resistência liderada pelo Hamas em Gaza em 2008/09, bem como em 2012, ambas contra o estado israelense do Apartheid.

 

Essas complicações, amálgamas de interesses diferentes e contraditórios em um determinado conflito militar, provavelmente aumentarão no futuro . Por quê? Por causa do aprofundamento da crise do sistema capitalista em todo o mundo e da crescente rivalidade associada entre as potências imperialistas. É por causa dessa rivalidade que as potências imperialistas estão cada vez mais motivadas a interferir nos conflitos locais e nas guerras civis e a explorá-los para avançar sua influência e aumentar seus lucros. Infelizmente, este aspecto é completamente ignorado por muitos sectários que não conseguem reconhecer que além da velha potência imperialista - na América do Norte, Europa Ocidental e Japão - existem também novas potências imperialistas emergentes, particularmente a Rússia e a China.

 

 

 

Os clássicos marxistas sobre fatores contraditórios nas guerras

 

 

 

É verdade que as potências imperialistas em algum momento tentaram utilizar essas lutas democráticas para seus fins e interferiram. Isso deve ser combatido pelas forças marxistas. Mas, como disse Lênin, na época do imperialismo as grandes potências sempre tentarão interferir e utilizar os conflitos nacionais e democráticos. Isso não deve levar os marxistas a assumir automaticamente uma posição derrotista nesses conflitos. Depende de qual fator se torna o aspecto dominante - a luta de libertação democrática nacional ou a guerra de conquista imperialista. Lenin explicou isso com os seguintes exemplos:

 

A Grã-Bretanha e a França lutaram na Guerra dos Sete Anos pela posse de colônias. Em outras palavras, eles travaram uma guerra imperialista (que é possível com base na escravidão e no capitalismo primitivo, bem como com base no capitalismo moderno altamente desenvolvido). A França sofreu uma derrota e perdeu algumas de suas colônias. Vários anos depois, começou a guerra de libertação nacional dos Estados da América do Norte contra a Grã-Bretanha. A França e a Espanha, então com posse de algumas partes dos atuais Estados Unidos, concluíram um tratado de amizade com os Estados Unidos que estava em rebelião contra a Grã-Bretanha. Isso eles fizeram por hostilidade à Grã-Bretanha, ou seja, em seus próprios interesses imperialistas. As tropas francesas lutaram contra os britânicos ao lado das forças americanas. O que temos aqui é uma guerra de libertação nacional em que a rivalidade imperialista é um elemento auxiliar , algo que não tem importância séria. Isso é exatamente o oposto do que vemos na guerra de 1914-16 (o elemento nacional na Guerra Austro-Sérvia não tem grande importância em comparação com o elemento determinante da rivalidade imperialista). Seria absurdo, portanto, aplicar indiscriminadamente o conceito de imperialismo e concluir que as guerras nacionais são “impossíveis”. Uma guerra de libertação nacional, travada, por exemplo, por uma aliança da Pérsia, Índia e China contra uma ou mais potências imperialistas, é possível e provável, pois resultaria dos movimentos de libertação nacional desses países. A transformação de tal guerra em guerra imperialista entre as potências imperialistas de hoje dependeria de muitíssimos fatores concretos, cuja surgimento seria ridículo garantir. Isso é exatamente o oposto do que vemos na guerra de 1914-16 (o elemento nacional na Guerra Austro-Sérvia não tem grande importância em comparação com o elemento determinante da rivalidade imperialista). Seria absurdo, portanto, aplicar indiscriminadamente o conceito de imperialismo e concluir que as guerras nacionais são “impossíveis”. Uma guerra de libertação nacional, travada, por exemplo, por uma aliança da Pérsia, Índia e China contra uma ou mais potências imperialistas, é possível e provável, pois resultaria dos movimentos de libertação nacional desses países. A transformação de tal guerra em guerra imperialista entre as potências imperialistas atuais dependeria de muitíssimos fatores concretos, cujo surgimento seria ridículo garantir. 55

 

Em outro artigo, Lenin comparou a possibilidade de interferência imperialista nas lutas de libertação nacional por seus objetivos com a possível interferência de setores do capital monopolista nas lutas democráticas nos países imperialistas. Em ambos os casos, argumentou Lenin, seria errado recusar o apoio a essas lutas por causa dessa interferência:

 

Por outro lado, os socialistas das nações oprimidas devem, em particular, defender e implementar a unidade plena e incondicional, incluindo a unidade organizacional, dos trabalhadores da nação oprimida e da nação opressora. Sem isso, é impossível defender a política independente do proletariado e sua solidariedade de classe com o proletariado de outros países diante de todos os tipos de intrigas, traição e malandragem por parte da burguesia. A burguesia das nações oprimidas utiliza persistentemente os slogans da libertação nacional para enganar os trabalhadores; em sua política interna, eles usam esses slogans para acordos reacionários com a burguesia da nação dominante (por exemplo, os poloneses na Áustria e na Rússia que chegam a um acordo com os reacionários pela opressão dos judeus e ucranianos); em sua política externa, eles se esforçam para chegar a um acordo com uma das potências imperialistas rivais com o objetivo de implementar seus planos predatórios (a política dos pequenos estados balcânicos, etc.). O facto de a luta pela libertação nacional contra uma potência imperialista poder, sob certas condições, ser utilizada por outra "grande" potência para os seus próprios objectivos, igualmente imperialistas, é igualmente improvável que faça com que os social-democratas se recusem a reconhecer o direito de nações à autodeterminação, visto que os numerosos casos de utilização burguesa de slogans republicanos para fins de engano político e pilhagem financeira (como nos países românicos, por exemplo) dificilmente farão os social-democratas rejeitarem seu republicanismo. 56

 

Esta abordagem metodológica foi posteriormente defendida e desenvolvida pelos trotskistas. Rudolf Klement, secretário de Trotsky e membro dirigente da Quarta Internacional assassinado pela GPU estalinista, escreveu sobre essa questão em um excelente artigo intitulado “ Princípios e Táticas na Guerra ”. Nesse artigo, elogiado por Trotsky 57 , Klement elaborou a posição dos trotskistas e a defendeu contra seus críticos sectários:

 

A luta de classes e a guerra são fenômenos internacionais decididos internacionalmente. Mas como cada luta permite apenas dois campos (bloco contra bloco) e como as lutas imperialistas se entrelaçam com a guerra de classes (imperialismo mundial - proletariado mundial), surgem casos múltiplos e complexos. A burguesia dos países semicoloniais ou a burguesia liberal ameaçada pelo seu “próprio” fascismo, apela por ajuda aos imperialismos “amigáveis”; a União Soviética tenta, por exemplo, utilizar os antagonismos entre os imperialismos, concluindo alianças de um grupo contra outro, etc. O proletariado de todos os países, a única solidariedade internacional - e não menos importante por isso, o único progressista - classe, assim se encontra na situação complicada em tempo de guerra, especialmente na nova guerra mundial, de combinar o derrotismo revolucionário em relação à sua própria burguesia com o apoio às guerras progressistas. ”.58

 

Klement defende uma abordagem dialética, argumentando que “o proletariado, especialmente nos países imperialistas, requer, nesta situação aparentemente contraditória, uma compreensão particularmente clara dessas tarefas combinadas e dos métodos para cumpri-las ”. Posteriormente, no final de seu artigo, ele passa a enfatizar: “Vemos assim como as diferentes situações de guerra exigem do proletariado revolucionário dos vários países imperialistas, se ele deseja permanecer fiel a si mesmo e ao seu objetivo, diferentes formas de luta , que podem parecer aos espíritos esquemáticos “desvios” do princípio básico do derrotismo revolucionário, mas que resultam na realidade apenas da combinação do derrotismo revolucionário com a defesa de certos campos progressistas.

 

É este método concreto e dialético que os clássicos marxistas desenvolveram e que aplicamos hoje aos diferentes tipos de guerras que ocorrem em uma situação mundial caracterizada por crescentes contradições e rivalidades.

 

 

 

1 V. I. Lenin: Imperialismo. Fase Superior do capitalismo (1916) ; em: LCW Vol. 22, pág. 269

 

2 V. I. Lenin: O proletariado revolucionário e o direito das nações à autodeterminação (1915); em: LCW 21, p. 409

 

3 V. I. Lenin: Imperialismo. Fase Superior do capitalismo (1916) ; em: LCW Vol. 22, pág. 190

 

4 V. I. Lenin: A Conferência dos Grupos do POSDR no Exterior (1915); em CW 21, p. 162

 

5 Carl von Clausewitz: Vom Kriege (1832), Hamburgo 1963, p. 22; em inglês: Carl von Clausewitz: On War, http://www.gutenberg.org/files/1946/1946-h/1946-h.htm

 

6 Carl von Clausewitz: Vom Kriege (1832), Hamburgo 1963, p. 221; em inglês: Carl von Clausewitz: On War, http://www.clausewitz.com/readings/OnWar1873/Bk8ch06.html#B

 

7 RCIT: O Manifesto Comunista Revolucionário, p.62

 

8 Para um exame mais detalhado da elaboração do conceito bolchevique de derrotismo, nos referimos a um estudo que o autor dessas linhas publicou há alguns anos em língua alemã: Michael Pröbsting: Umwandlung des imperialistischen Krieges in den Bürgerkrieg. Die Strategie Lenins und der Bolschewiki; em: Revolutionärer Marxismus Nr. 40 (2009), pp. 58-94, http://www.thecommunists.net/theory/lenin-und-der-imperialistische-krieg

 

9 V.I. Lenin: a derrota do próprio governo na guerra imperialista (1915); em: LCW 21, p.275

 

10 V.I. Lenin: A Guerra e a Social-democracia Russa (1914); em: LCW 21, p.34

 

11 Foi assim que Leon Trotsky citou Lenin em um relatório do Conferencista de Zimmerwald em setembro de 1915; ver Leon Trotsky: The Work of the Zimmerwald Conference (1915); in: Lenin's Struggle for a Revolutionary International, New York 1986, p. 331

 

12 V.I. Lenin / G. Zinoviev: O Socialismo e a Guerra (1915); em: LCW 21, p.313

 

13 V.I. Lenin / G. Zinoviev: O Socialismo e a Guerra (1915); em: LCW 21, p.299

 

14 V.I. Lenin: A Conferência dos Grupos do POSDR no Estrangeiro (1915); em: LCW 21, p. 161

 

15 Ver, por exemplo, Quarta Internacional: Guerra Imperialista e a Revolução Proletária Mundial; Manifesto adotado pela Conferência de Emergência da Quarta Internacional em maio de 1940; em: Documents of the Fourth International, New York 1973, http://www.marxists.org/history/etol/document/fi/1938-1949/emergconf/fi-emerg02.htm ; Manifesto da Quarta Internacional: Pela Defesa da União Soviética !, agosto de 1941, Quarta Internacional, Nova York, Volume II No. 8, outubro de 1941, pp. 229-31, http://www.marxists.org/history/ etol / document / fi / 1938-1949 / ww / 1941-ww02.htm

 

16 RCIT: The Revolutionary Communist Manifesto, pp. 62-63

 

17 V.I. Lenin / G. Zinoviev: O Socialismo e a Guerra (1915); em: LCW 21, p. 299

 

18 V.I. Lenin: O Panfleto Junius (1916); em: LCW 22, p. 310

 

19 V.I. Lenin / G. Zinoviev: O Socialismo e a Guerra (1915); em: LCW 21, pp. 300-301

 

20 Internacional Comunista: Condições de Admissão à Internacional Comunista, aprovado pelo Segundo Congresso do Comintern (1920); em: The Communist International 1919-1943. Documentos. Selecionado e editado por Jane Degras, Volume I 1919-1922, p. 170

 

21 Leo Trotzki: Auszug aus einer Rede zur französischen Frage auf dem IV. Weltkongreß der Kommunistischen Internationale (1922); reimpresso em: Jakob Moneta: Die Kolonialpolitik der französischen KP, Hannover 1968, p. 22 (tradução nossa)

 

22 Resolução sobre o Congresso Anti-guerra do Bureau de Londres (1936), em: Documents of the Fourth International, New York 1973, p. 99

 

23 Leon Trotsky: A luta antiimperialista é a chave para a libertação. Entrevista com Mateo Fossa (1938); em: Writings of Leon Trotsky 1938-39, p. 34

 

24 Citado em: David H. Slavin: The French Left and the Rif War, 1924-25: Racism and the Limits of Internationalism, em: Journal of Contemporary History, vol. 26, No. 1, janeiro de 1991, p. 10; ver também numerosos documentos do PCF que são reproduzidos (na língua alemã) em Jakob Moneta: Die Kolonialpolitik der französischen KP, Hannover 1968, S. 42-61

 

25 Leon Trotsky: Mexico and British Imperialism (1938), em: Writings 1937-38, p. 359

 

26 Leon Trotsky: Noventa anos do Manifesto Comunista (1937); em: Writings 1937-38, p. 25

 

27 Ver, por exemplo, Michael Pröbsting: Am Beispiel des Iraks: Anti-Imperialistische Strategie und Taktik, ArbeiterInnenstandpunkt (outubro de 1990); Michael Pröbsting: Kampf dem Imperialismus! Verteidigt den Irak !, em: ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 32 (janeiro de 1991); Michael Pröbsting: Stoppt den imperialistischen Massenmord !, em: ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 33 (fevereiro de 1991); Workers Power (Grã-Bretanha): Ação da classe trabalhadora para derrotar o imperialismo Vitória para o Iraque! (1991), http://www.fifthinternational.org/content/working-class-action-defeat-imperialism-victory-iraq ;

 

28 Ver, por exemplo, Workers Power (Grã-Bretanha): Perguntas e Respostas sobre a guerra do Afeganistão (2001), http://www.fifthinternational.org/content/qa-afghan-war ; Michael Pröbsting: Die Lehren aus dem imperialistischen Sieg im Afghanistan-Krieg, em: ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 118 (janeiro de 2002)

 

29 Ver, por exemplo, Michael Pröbsting: Krieg den Kriegstreibern !, em: ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 126 (março de 2003); Workers Power (Grã-Bretanha): Iraque: cresce a resistência à ocupação (2003), http://www.fifthinternational.org/content/iraq-resistance-grows-occupation ;

 

30 Ver, por exemplo, Michael Pröbsting: Der israelische Terrorkrieg gegen das libanesische und palästinensische Volk, em: ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 144 (agosto de 2006); Michael Pröbsting: Der Libanon-Krieg und die Linke: Pazifistische Linke als verkleidete Diener des Imperialismus, em: Revolutionärer Marxismus Nr. 36 (2006), http://www.thecommunists.net/theory/libanon-krieg-und-linke ; Michael Pröbsting: Solidarität mit dem palästinensischen Widerstand, em: BEFREIUNG Nr. 172 (janeiro de 2009); Nina Gunić: Islamismus - Was sind seine Ziele und was ist unsere Haltung ?, em: BEFREIUNG Nr. 173 (fevereiro de 2009); Michael Pröbsting: Palästina: Solidarität und Widerstand, em: BEFREIUNG Nr. 188 (junho de 2010); RCIT: Nova Onda de Terror Israelense contra Gaza: Apoie a Resistência Palestina! Derrote a máquina de matar sionista! Declaração de 15.11.2012, http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/defend-gaza ; Johannes Wiener: Nach dem Waffenstillstand im Gaza: Friede em Palästina? 22.11.2012, http://www.rkob.net/international/nordafrika-und-der-arabische-raum/gaza-friede ; RCIT: Abaixo a Guerra Colonial da França no Mali! Solidariedade com a Resistência! Vamos transformar Mali em outro Afeganistão para o imperialismo! Lute por um governo operário baseado nos camponeses e pobres! Pela Revolução Socialista no Norte da África e no Oriente Médio! Resolução de 19.1.2013, http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/no-to-france-s-war-in-mali ; veja também as observações dos camaradas da Fracción Leninista Trotskista Internacional (FLTI) em http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/flti-remarks-on-mali-resolution respectivamente http://www.democraciaobrera.org/Art%20aun%20no%20publicados/ rcit / declaracion_mali.html ; Discursos de Michael Pröbsting e Johannes Wiener em uma manifestação de protesto em 25.1.2013 em Viena: Vitória para a resistência em Mali contra as tropas imperialistas !, http://www.thecommunists.net/multimedia-1/mali-rally-25- 1-videos-and-pictures

 

31 Ver sobre este - além dos artigos mencionados anteriormente que publicamos sobre as várias guerras israelenses nos últimos anos - os seguintes documentos do nosso movimento: MRCI: Teses sobre Sionismo, Israel, Palestina e Nacionalismo Árabe (1989), em : Trotskyist International No. 2, http://www.fifthinternational.org/content/theses-zionism-israel-palestine-and-arab-nationalism ; Michael Pröbsting: Zur Geschichte des Sionismus: Von Anfang an reaktionär, em: Israel, Zionismus und Antisemitismus. Eine Auseinandersetzung mit den Mythen und Legenden der Antinationalen (2006); Michael Pröbsting: Über den politischen Charakter der Antinationalen, den Holocaust, den Zionismus, em: Israel, Zionismus und Antisemitismus (2006), http://www.rkob.net/marxistische-theorie/politischer-charakter-antinationale ; Michael Pröbsting: Der Verrat der 'Linken' im Gaza-Krieg. Warum ist Neutralität im Kampf zwischen Unterdrückten und Unterdrückern Verrat und warum scheitern die meisten „marxistischen“ Linken an der Solidarität mit dem palästinensischen Volk, em: Unter der Fahne der Revolution Nr. 4 (2009), http://www.thecommunists.net/theory/gaza-krieg-und-linke ; RKOB: Após a tomada da embaixada israelense no Cairo: A luta contra o Estado do Apartheid israelense é parte integrante da Revolução Árabe (2011), http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/israel-and-arab -revolução ; Johannes Wiener: Antinationale: Rassisten im „linken“ Gewand.Was bedeutet Zionismus, ist die Shoah einzigartig und was sind Antinationale? (2012), http://www.rkob.net/marxistische-theorie/gegen-antinationale . Neste ponto, é útil referir-se aos marxistas antisionistas de princípio em Israel na Liga Socialista Internacional em torno de Yossi Schwartz que, apesar de seu tamanho pequeno e difícil condição de trabalho, permaneceram firmes contra a pressão sionista maciça. Seu site pode ser visto em http://www.the-isleague.com .

 

32 V. I. Lenin: Conspectus of Hegel's Science of Logic (1914); in: Collected Works Vol. 38, pág. 220 (ênfase no original)

 

33 Karl Marx: Vorwort zur Kritik der politischen Ökonomie (1859); in: MEW, Bd. 13, pp. 9-10; em inglês: Karl Marx: uma contribuição para a crítica da economia política, Prefácio (1859); http://www.marxists.org/archive/marx/works/1850/pol-econ/index.htm

 

34 Leon Trotsky: Não é um Estado operário e não é burguês? (1937); em: Writings of Leon Trotsky 1937-38, p. 70

 

35 Resumimos nosso entendimento da tática da frente única anti-imperialista nas teses do MRCI: A frente única anti-imperialista (1986); in: Revolução Permanente No. 5.

 

36 Internacional Comunista: Teses sobre a Questão Oriental, 5 de dezembro de 1922, Quarto Congresso da Internacional Comunista, em: Jane Degras: The Communist International 1919-1943. Documentos Volume I 1919-1922, pp. 385-386

 

37 Internacional Comunista: Teses sobre a Questão Oriental, p. 390

 

38 Para uma elaboração da tática anti-imperialista da frente única e uma defesa de sua aplicação pelo Comintern e pela Quarta Internacional em língua alemã, ver, por exemplo, Michael Pröbsting: Am Beispiel des Iraks: Anti-Imperialistische Strategie und Taktik, ArbeiterInnenstandpunkt (outubro de 1990 )

 

39 Leon Trotsky: A Defesa da União Soviética e a Oposição (1929); em: Writings 1929, p. 262

 

40 Leo Trotzki: Über den chinesisch-japanischen Krieg ( 1937), em: Schriften 2.2, pp. 865-867; em inglês: Leon Trotsky: On the Sino-Japanese War (1937), http://marxists.org/archive/trotsky/1937/10/sino.htm (Ênfase no original)

 

41 Leon Trotsky: The Third International After Lenin (1928), New York 1970, p. 168

 

42 Leon Trotsky: The Third International After Lenin, pp. 169-170

 

43 Leon Trotsky: Die Kommunistische Partei Chinas und die Guomindang (1926); em: Schriften 2.1, p. 104; em inglês: Leon Trotsky on China, New York, 1976, p. 114

 

44 Leon Trotsky: Against False Passport in Politics (1935); in: The Crisis in the French Section (1935-36), New York 1977, p. 116 (ênfase no original). Veja também Leo Trotzki: Brief an Harold Isaac (1.11.1937); em: Schriften 2.2, p. 889 e Leon Trotsky: os erros da oposição - reais e alegados (1928); in: Leon Trotsky: O Desafio da Oposição de Esquerda (1928-29), p. 90

 

45 Ch'en Pi-lan: Olhando para trás, ao longo de meus anos com Peng Shu-tse; em: Peng Shu-tse: The Chinese Communist Party in Power, Nova York, 1980, p. 37

 

46 Gregor Benton: os revolucionários urbanos da China. Explorations in the History of Chinese Trotskism, 1921-1952, New Jersey 1996, pp. 81-84. Wang Fanxi: Erinnerungen eines chinesischen Revolutionärs 1919-1949, Frankfurt AM 1983, pp. 256-286

 

47 Internacional Comunista: Teses sobre a Questão Oriental, p. 389

 

48 Este subcapítulo “ Lutas de Libertação, Interferência Imperialista e as Táticas Militares Duplas ” é uma versão editada de uma seção de um ensaio de Michael Pröbsting: “Lutas de libertação e interferência imperialista. O fracasso do “anti-imperialismo” sectário no Ocidente: Algumas considerações gerais do ponto de vista marxista e o exemplo da revolução democrática na Líbia em 2011 ”, in: Revolutionary Communism, No. 5 (English-language Journal of the RCIT), http://www.thecommunists.net/theory/liberation-struggle-and-imperialism

 

49 RCIT: The Revolutionary Communist Manifesto, pp. 45-46, www.thecommunists.net/rcit-manifesto/revolutionary-struggle-for-democracy .

 

50 Ver, por exemplo, Workers World Party: US Hands of Libya (2011), http://www.workers.org/ebooks/Libya2011.pdf ; Alex Lantier, WSWS: A guerra por procuração da CIA na Síria e a “esquerda” pró-imperialista, 3.8.2012, http://www.wsws.org/articles/2012/aug2012/pers-a03.shtml ; Comitê de Ligação para a Quarta Internacional (LCFI): Aqueles que 'uivaram junto com os lobos' e aqueles que tomaram uma posição neutra sobre a guerra na Líbia, 14 de setembro de 2011, em: Socialist Fight No. 7 (2011); LCFI: Que cara estranha, mas deliciosamente dialética, a 'libertação' tem na Líbia hoje! Resposta a Michael Pröbsting (RCIT), em: Socialist Fight No. 11 (2012)

 

51 Leon Trotsky: Aprenda a pensar: uma sugestão amigável para certos ultra-esquerdistas (1938); em: Writings of Leon Trotsky 1937-38, pp. 332-333. (Ênfase no original) O RCIT publicou novamente este texto no Revolutionary Communism No. 5 (2012).

 

52 Publicamos no final de 1980 e nos anos 1990 muito material analítico e programático - incluindo dois livretos - sobre a história da Iugoslávia e as guerras dos Bálcãs em língua alemã e alguns em servo-croata. Ver, por exemplo, LRCI: A situação na Iugoslávia e a posição dos revolucionários proletários, 30.09.1991, http://www.fifthinternational.org/content/situation-yugoslavia-and-position-proletarian-revolutionaries ; LRCI: Bósnia - de que lado você está ?, 05.03.1993, http://www.fifthinternational.org/content/bosnia-which-side-are-you ; LRCI: Guerra e Paz na Bósnia. Sem soluções imperialistas !, 30.05.1993, http://www.fifthinternational.org/content/war-and-peace-bosnia-no-imperialist-solutions; Michael Pröbsting: Os muçulmanos bósnios são uma nação ?, Trotskyist International No. 13/14 (1994) http://www.fifthinternational.org/content/are-bosnian-muslims-nation ; Michael Pröbsting: Arbeitersolidarität mit den muçulmanos, aber UNO: Raus aus dem Balkan! (1993), http://www.rkob.net/geschichte/bosnienkrieg-und-linke ; Michael Pröbsting: Für das nationale Selbstbestimmungsrecht der AlbanerInnen im Kosovo! Einem Aufstand entgegen! ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 88 (1997), http://arbeiterinnenstandpunkt.net/alt/ast88kosovo.html ); Michael Pröbsting: Discussion über die Frage der Balkanföderation und der internationalen ArbeiterInnensolidarität: Welche Perspektive für den Balkan? ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 90 (1998), http://arbeiterinnenstandpunkt.net/alt/ast90kosovo.html ); Michael Pröbsting: Freiheit für Kosova! Ein revolutionäres Aktionsprogramm (1998); Michael Pröbsting: Marxismus, Imperialismus und der Balkankrieg, ArbeiterInnenstandpunkt Nr. 98 (1999), http://arbeiterinnenstandpunkt.net/alt/ast98kosovo5.html ; LRCI: Pare com a NATO-Angriffe! Unabhängigkeit für Kosovo! (1999), http://arbeiterinnenstandpunkt.net/alt/ast100kosova.html . Veja também Nina Gunić: Bósnia: Nunca se esqueça de Sebrenica - aprenda as lições de hoje! (2012), http://www.thecommunists.net/worldwide/europe/bosnia-war/

 

53 A FLTI, que interveio com ativistas revolucionários nas guerras civis da Líbia e da Síria, publicou uma série de excelentes relatórios e artigos sobre essas revoluções. Consulte o blog http://libyarevolutionupdate.blogspot.com.ar , bem como o site http://www.democraciaobrera.org .

 

54 Ver, por exemplo, LRCI / PTS: Der albanische Aufstand (1997), http://arbeiterinnenstandpunkt.net/alt/rm21albanischeraufstand.html ; Michael Pröbsting, Aufstand em Albanien: Das Volk wehrt sich! (1997), http://arbeiterinnenstandpunkt.net/alt/ast82albanien.html

 

55 V. I. Lenin: The Junius Panphlet (1916); em: LCW 22, pp. 310-11

 

56 V. I. Lenin: A Revolução Socialista e o Direito das Nações à Autodeterminação (1916); em: LCW 22, p. 148

 

57 Ver Leon Trotsky: Um Excelente Artigo sobre Derrotismo (1938); em: Writings of Leon Trotsky 1937-38, pp. 153-154

 

58 Rudolf Klement: Principles and Tactics in War (1938); em The New International (jornal teórico do Socialist Workers Party, seção EUA-American da Quarta Internacional), maio de 1938, vol. 4, No. 5, pp. 144-145. O RCIT publicou novamente este texto em: Revolutionary Communism No. 4 (2012), pp. 44-46.

 

 

 

13. O Fracasso do Centrismo na Luta Contra as Guerras Imperialistas

 

 

Observamos acima que o centrismo não é capaz de assumir uma posição internacionalista consistente porque reflete de uma forma ou de outra um ponto de vista da classe pequeno-burguesa, em particular a pressão da burocracia trabalhista e da aristocracia trabalhista que novamente se adapta à classe capitalista e seus Estado. Demonstramos em capítulos anteriores como isso leva vários centristas a rejeitar ou a fazer distorções grosseiras de aspectos-chave da teoria marxista do imperialismo - como nas questões de países semicoloniais, superexploração, “sub-imperialismo”, aristocracia operária, etc.

 

Naturalmente, a adaptação ao reformismo pequeno-burguês se expressa não apenas na esfera teórica e analítica. Isso tem consequências inevitáveis na posição prática do centrismo na luta de classes internacional para as táticas que essas organizações defendem. E, de fato como mostraremos, esse é o caso.

 

O que quase todos os centristas nos países imperialistas têm em comum é um anti-imperialismo ” platônico . Isso significa uma capitulação social-pacifista ou mesmo social-imperialista à pressão de sua burguesia imperialista transmitida através da burocracia operária e da intelectualidade liberal de esquerda - encoberta por uma oposição formal ao imperialismo e guerras somente em palavras. Eles se adaptam à pressão imperialista de sua própria burguesia, deixando de convocar e trabalhar pela derrota de sua própria classe dominante, ao deixar de convocar e trabalhar pela vitória do povo oprimido no mundo semicolonial contra seu próprio imperialismo. Veremos isso se olharmos para uma série de guerras imperialistas contra os oprimidos nas últimas três décadas. 1

 

 

 

i) A Guerra das Malvinas em 1982

 

 

 

Na primavera de 1982, a Argentina - governada por uma ditadura militar reacionária na época - recuperou as Ilhas Malvinas, que ficam em frente ao seu litoral, mas ocupadas pelo imperialismo britânico. O governo conservador de direita de Margaret Thatcher enviou a Marinha britânica e tropas e - depois de uma guerra de 74 dias com mais de 900 mortos - eles reocuparam as ilhas. The Militant - a seção mãe do Comitê Por uma Internacional dos Trabalhadores-CIT (em inglês-CWI) (que naquela época também tinha o quadro de liderança da divisão posterior do TMI, Ted Grant e Alan Woods, em suas fileiras) - capitulou completamente à pressão imperialista. O CIT apoiou e ainda apoia até hoje as reivindicações da Grã-Bretanha sobre as Malvinas. Não só falhou em apoiar a Argentina, mas também falhou em pedir o fim da guerra e a retirada das tropas britânicas! Ele calunia os oponentes da guerra imperialista como “as seitas ultra-esquerdistas que, desamparadas, gritam 'Pare a guerra!' 2 Em vez disso, o centrista CIT convocou novas eleições para trazer o Partido Trabalhista ao poder e ... para continuar a guerra contra a Argentina “em linhas socialistas”!

 

O movimento trabalhista deve ser mobilizado para forçar uma eleição geral para abrir o caminho para o retorno de um governo trabalhista para implementar políticas socialistas em casa e no exterior. A vitória de um governo socialista na Grã-Bretanha transformaria imediatamente a situação em relação às Malvinas. A junta não poderia mais alegar estar lutando contra o imperialismo britânico ... Um governo trabalhista não poderia simplesmente abandonar os Falklanders e permitir que Galtieri continuasse com isso. Mas continuaria a guerra em linhas socialistas . ” 3

 

Enquanto se opunha formalmente ao governo de direita Thatcher, o CIT pediu medidas alternativas para lutar contra a Argentina semicolonial e apoiar as reivindicações do imperialismo britânico sobre as Malvinas: “Como alternativa à guerra de Thatcher, pedimos uma ação de classe internacional contra a junta como a negação do comércio por sindicatos”. 4 E isso ao mesmo tempo em que o governo britânico travava uma guerra imperialista contra a Argentina!

 

Como justificativa, referiu-se ao direito à autodeterminação nacional dos 1.800 colonos britânicos que vivem nas Ilhas Malvinas! A liderança do CIT defende sua capitulação até hoje. Em seu livro sobre a história do Militant, o líder do CIT Peter Taaffe argumenta: “Os direitos democráticos dos 1.800 Falklanders, incluindo o direito à autodeterminação, se eles assim desejassem, era uma questão chave na consciência dos trabalhadores britânicos. (...) Os marxistas não podiam ser indiferentes ao destino dos Falklanders, especialmente dada a consciência da classe trabalhadora britânica à medida que se desenvolvia em relação a essa questão. 5

 

Em outras palavras, uma vez que a liderança do CIT acredita que o imperialismo britânico conseguiu equilibrar a consciência da classe trabalhadora britânica por preconceitos coloniais e aristocráticos, ela se considera impotente para se opor a isso, mas ao invés disso se junta ao “cuidado” do imperialismo britânico para com os colonos! Naturalmente, esse apoio mal disfarçado à lógica do colonialismo é uma vergonha para qualquer grupo que se autodenomine “marxista”. A propaganda do CIT é exatamente um reflexo da propaganda imperialista para justificar suas intervenções globais referindo-se ao destino de seus colonos. Veremos mais tarde que o CIT repete essa lógica reacionária em seu apoio ao sionismo e ao direito de existência de Israel.

 

A mesma suposta consciência retrógrada da classe trabalhadora britânica foi utilizada pela liderança do CIT para justificar sua recusa em se mobilizar para o fim da guerra: “ Forçar a retirada da Força-Tarefa teria envolvido a organização de uma greve geral, que por si só teria levantado a questão da chegada ao poder de um governo socialista. Ainda assim, no início da guerra, tal demanda não teria recebido nenhum apoio dos trabalhadores britânicos. (…) Nem o apelo para parar a guerra ou para retirar a frota teria fornecido uma base para uma campanha em massa de manifestações, reuniões e agitação. 6

 

Outro argumento que os líderes do CIT inventaram foi o suposto caráter “imperialista” da Argentina: “ A invasão do regime argentino não foi uma guerra de 'libertação nacional' contra o imperialismo. Pelo contrário, ao tomar as Falklands / Malvinas, a Junta Argentina estava perseguindo os objetivos 'imperialistas' do capitalismo argentino.” 7 Já tratamos desse absurdo no capítulo 9 deste livro.

 

Os líderes do CIT também tentaram justificar seu apoio aos “nossos meninos” - isto é, aos soldados do exército imperialista britânico - referindo-se a eles como “trabalhadores uniformizados”. Isso foi usado como um argumento para se opor aos apelos para que os membros do Parlamento do Partido Trabalhista votassem contra qualquer crédito de guerra, já que eles deixariam "nossos meninos" indefesos. 8

 

Tudo isso é um exemplo gráfico de que o centrismo compartilha um terreno comum com o reformismo de esquerda e o social-imperialismo.

 

O Cliffitista SWP/IST também não se posicionou ao lado da Argentina contra seu “próprio” imperialismo britânico, mas assumiu uma posição neutra na guerra. Como citamos acima, sua liderança justificou tal posição social-pacifista em uma guerra contra um país oprimido, alegando que a Argentina era supostamente um país “sub-imperialista”. 9

 

Portanto, para esses centristas, a guerra entre a Grã-Bretanha e a Argentina pelas Malvinas em 1982 foi reacionária de ambos os lados. A liderança do SWP afirmou:" Não foi uma luta anticolonial nem uma luta entre nações oprimidas e opressoras. Os partidos contendores eram um país capitalista emergente com características imperialistas regionais e continentais e uma potência imperialista de longa data que, embora em declínio acentuado, ainda é uma força poderosa. Não havia um campo progressista e reacionário." 10

 

A liderança do SWP conseguiu negar qualquer aspecto anticolonial na guerra das Malvinas do lado argentino - apesar do fato de as Malvinas estarem obviamente apenas sob o controle britânico por causa de seu passado como tendo sido o maior império colonial por muito tempo e apesar do fato de que a Argentina é obviamente um país dependente e superexplorado! Ao negar a diferença de classe decisiva entre a Argentina semicolonial e a Grã-Bretanha imperialista, os centristas britânicos conseguem justificar uma posição neutra. Eles se opõem a ambos os lados e comparam sua posição com a posição dos socialistas na Primeira Guerra Mundial, quando também se opuseram à Entente e às Potências Centrais como campos imperialistas:

 

Não somos pacifistas, detestamos a ditadura de Galtieri, rejeitamos a noção de que a apreensão argentina das Malvinas é progressista em bases anticolonialistas. No entanto, acreditamos que, em uma guerra entre a Grã-Bretanha e a Argentina, a derrota do imperialismo britânico é o mal menor. O principal inimigo está em casa.

 

Apoiamos movimentos anticoloniais como movimentos de luta de pessoas oprimidas contra seus opressores e os apoiamos porque, como disse Marx, “nenhuma nação pode ser livre se oprime outras nações”.

 

Nada disso tem muita relevância para as Malvinas. (...) Somos irreconciliavelmente hostis aos governos e aos dois regimes. Mas estamos na Grã-Bretanha e não na Argentina e, portanto, o governo britânico, o estado britânico, é o nosso principal inimigo. (…)

 

Lenin e Trotsky e Rosmer e Connolly e MacLean e Debs disseram, com variações nacionais apropriadas, exatamente a mesma coisa. Todos se opuseram a seu “próprio” governo e sua guerra. E eles estavam absolutamente certos. O apoio à “própria” classe dominante em tal guerra é equivalente a abandonar a luta pelo socialismo. Pois a guerra deles é uma continuação de sua política por outros meios. E assim, exatamente, com a Guerra da Face de Thatcher. 11

 

A direção do IST rejeitou a aplicabilidade do método anti-imperialista de Trotsky ao comentar sobre sua declaração sobre uma guerra potencial entre um Brasil semifascista e uma Grã-Bretanha imperialista democrática - que citamos acima - que “Leon Trotsky mostrou alguma confusão sobre esses assuntos. 12 Infelizmente é mais acentuado o IST, não Trotsky, que se confunde com o anti-imperialismo.

 

Para resumir, a Guerra das Malvinas com o imperialismo britânico em seu centro mostrou a verdadeira cor social-pacifista ou mesmo social-imperialista das tendências centristas que têm - como o CIT/CWI, TMI ou IST - sua maior seção na Grã-Bretanha. A sua política nada tinha a ver com o internacionalismo proletário necessário que apoia as lutas do povo oprimido e que Trotsky considerava dever de todos os socialistas:

 

O imperialismo só pode existir porque há países atrasados em nosso planeta, países do tipo colonial e semicolonial. A luta destes povos oprimidos pela unidade nacional e pela independência tem um duplo caráter progressista, pois, por um lado, prepara condições favoráveis de desenvolvimento para seu próprio uso e, por outro, golpeia o imperialismo. Daí, em parte, a conclusão de que em uma guerra entre uma república democrática imperialista civilizada e a atrasada monarquia bárbara de um país colonial, os socialistas estarão inteiramente do lado do país oprimido, não obstante sua monarquia, e contra o país opressor, não obstante a sua “democracia”. 13

 

 

 

ii) A Guerra do Golfo em 1991

 

 

 

Quando os imperialistas sob a liderança dos EUA atacaram o Iraque em janeiro de 1991, os stalinistas desempenharam um papel patético. A maioria dos estalinistas apoiou o embargo da ONU contra o Iraque imposto no outono de 1990 e que preparou o ataque imperialista. Eles seguiram a liderança dos estados stalinistas. A burocracia stalinista da URSS votou a favor de todas as resoluções da ONU relativas à crise do Golfo até a guerra em janeiro de 1991, incluindo a autorização dos exércitos imperialistas para atacar o Iraque. A burocracia stalinista chinesa votou pelas sanções imperialistas contra o Iraque e se absteve na questão da autorização de guerra. A burocracia stalinista cubana se absteve na questão das sanções (tanto pelo “anti-imperialismo” de Castro!) E votou contra a autorização de guerra.

 

No entanto, as principais correntes centristas no Ocidente também falharam novamente em defender o país semicolonial. É claro que eles se opuseram à guerra - como quase todos os pacifistas também. Claro, eles não foram tão longe quanto os stalinistas e, portanto, não apoiaram as sanções imperialistas. Mas eles se recusaram a tomar partido na guerra entre as maiores potências do planeta e um único país semicolonial clássico.

 

A liderança do CIT justificou sua posição abstencionista argumentando que a política externa de Saddam Hussein era “agressiva”, “expansionista” ou mesmo “imperialista” também. Por algum tempo, eles chegaram a afirmar que o Iraque era uma “potência imperialista regional”, como mostramos na citação acima. 14

 

O SWP / IST mencionou algumas vezes antes do início da guerra que “seria por uma derrota americana e, portanto, uma vitória iraquiana”. No entanto, quando a guerra realmente começou, essa promessa foi esquecida e o SWP falhou em defender publicamente a derrota dos imperialistas pelas forças iraquianas. 15

 

Isso foi obviamente o resultado da pressão dos pacifistas e reformistas da esquerda liberal. Daí o SWP na Grã-Bretanha se recusar a lutar pelo slogan “Tropas Fora do Golfo” para se tornar parte da plataforma oficial do “Comitê para Acabar com a Guerra no Golfo” - a principal aliança anti-guerra. Eles se opuseram a isso porque isso colocaria em risco sua aliança com os pacifistas pequeno-burgueses e os burocratas trabalhistas. Eles também ajudaram a garantir que ninguém pudesse falar em defesa do Iraque da plataforma nas manifestações e comícios - porque isso teria chocado os aliados pequeno-burgueses no movimento anti-guerra. 16

 

Trotsky certa vez caracterizou esse medo de romper com a burocracia e fazer concessões sem princípios para evitar tal ruptura como uma característica essencial do centrismo:

 

Os centristas de esquerda, que por sua vez se distinguem por um grande número de matizes (SAP na Alemanha, OSP na Holanda, ILP na Inglaterra, os grupos Zyromsky e Marceau Pivert na França e outros) chegam em palavras à renúncia à defesa da pátria. Mas dessa simples renúncia eles não tiram as necessárias conclusões práticas. A maior metade de seu internacionalismo, senão nove décimos dele, tem um caráter platônico. Eles temem romper com os centristas certos; em nome da luta contra o “sectarismo”, eles lutam contra o marxismo, recusam-se a lutar por uma Internacional revolucionária e continuam a permanecer na Segunda Internacional, à frente da qual está o lacaio do rei, Vandervelde. Expressando em certos momentos o deslocamento para a esquerda das massas, em última análise, os centristas travaram o reagrupamento revolucionário do proletariado e, por conseguinte, também a luta contra a guerra.

 

Em sua própria essência, centrismo significa indiferença e vacilação. Mas o problema da guerra é o que menos favorece a política de vacilação. Para as massas, o centrismo é sempre apenas um curto estágio de transição. O perigo crescente da guerra fará uma diferenciação cada vez mais nítida dentro dos grupos centristas que agora dominam o movimento dos trabalhadores. A vanguarda proletária estará mais bem armada para a luta contra a guerra quanto mais cedo e mais plenamente libertar sua mente da teia do centrismo. Uma condição necessária para o sucesso nesta estrada é colocar de forma clara e irreconciliável todas as questões relacionadas com a guerra.” 17

 

 

 

iii) A Guerra Imperialista ao Terror desde 2001

 

 

 

Quando a “guerra ao terror” imperialista - iniciada pela administração estadunidense de George Bush - começou, ela provocou um movimento de massa mundial. O ataque imperialista dos EUA / UE ao Afeganistão em outubro de 2001 encontrou oposição de massa. No entanto, isso foi ofuscado pelo enorme movimento que surgiu contra a ameaça da guerra contra o Iraque. No seu ápice, de 15 a 20 milhões de pessoas marcharam em protesto em 15 de fevereiro de 2003. Como parte dessa “guerra ao terror”, mais tarde, o Estado sionista de Apartheid de Israel, que já havia enfrentado a segunda Intifada começando em 2000, lançou várias guerras - a primeira contra o Hezbollah no Líbano e depois duas vezes contra Gaza em dezembro de 2008 e janeiro de 2009 e em novembro de 2012. E em janeiro de 2013, o imperialismo francês - com o apoio da UE e dos EUA - invadiu Mali em nome da “Guerra ao Terror”.

 

 

 

Sociais-imperialistas Ex-Stalinistas

 

 

 

Os partidos stalinistas e ex-stalinistas na Europa - a maioria deles unidos no Partido de Esquerda Europeu (PEE) - desempenharam um papel duplo. Por um lado, participaram do movimento anti-guerra com o objetivo de aumentar a sua visibilidade e também de divulgar as ideias pacifistas e de conter as vozes anti-imperialistas. No entanto, enquanto muitos membros comuns desses partidos participavam honestamente dessas atividades anti-guerra, os líderes dos partidos comunistas tinham um cálculo diferente e cínico. Para eles, as atividades anti-guerra eram manobras para aumentar seu peso no sistema político. Onde eles puderam entrar no governo capitalista, eles se tornaram apoiadores ativos da guerra imperialista contra o terror.

 

Por exemplo, o Parti Communiste Français (Partido Comunista da França, PCF) fez parte do governo Jospin 1997-2002 que participou ativamente nas guerras da OTAN contra a Sérvia em 1999 e o Afeganistão em 2001. Na Itália, o Partito della Rifondazione Comunista de Fausto Bertinotti aderiu ao governo neoliberal de Prodi e apoiou a participação italiana na ocupação imperialista do Afeganistão. Tal é a “oposição de princípio” dos Partidos “Comunistas” às guerras e ocupações imperialistas. É lógico que colaboraram e elogiaram o Partido Comunista Iraquiano, que - como já dissemos - apoiou a ocupação norte-americana do Iraque.

 

Diante da intervenção imperialista francesa no Mali desde 01/10/2013, o PCF volta a demonstrar o seu social-imperialismo. O PCF - um partido constituinte do reformista Partido de Esquerda Europeia e também da Frente de Gauche na França - expressou em suas declarações públicas que “compartilha os objetivos do governo de Mali de derrotar os terroristas jihadistas no Norte”. Estes ex-stalinistas social-democratizados estão cinicamente preocupados que a intervenção francesa “possa arriscar uma guerra”, então eles “pedem que as autoridades francesas respondam às questões colocadas por uma forte intervenção militar”. 18 Em outras palavras, eles são verdadeiros social-imperialistas que apoiam implicitamente os objetivos de guerra de sua classe dominante. O Front de Gauche (Frente de Esquerda) de Jean-Luc Mélenchon vai ainda mais longe e apoia explicitamente a guerra!

 

Outro exemplo da política social-imperialista do Partido da Esquerda Europeia-PEE é a sua posição sobre o estado de apartheid sionista de Israel. Em suas declarações oficiais, eles naturalmente se opõem à guerra e à ocupação. Mas eles apoiam-na tradição stalinista clássica - a existência do estado colonial israelense e endossam um estado palestino apenas na Cisjordânia e em Gaza ao lado de Israel, muito mais poderoso e rico. Na verdade, figuras importantes como Gregor Gysi, o presidente do grupo parlamentar alemão LINKE, referem-se orgulhosamente ao fato de que a União Soviética stalinista e a Tchecoslováquia foram os primeiros estados a reconhecer Israel durante sua guerra de limpeza étnica contra os palestinos em 1948 - o an- Nakba, como os árabes a chamam - e para fornecer ajuda militar substancial. 19

 

O reconhecimento do PEE do "direito de existir" do Estado de Apartheid de Israel leva a uma recusa em apoiar a resistência palestina. 20 Em vez disso, assume uma posição neutra na luta de décadas entre o imperialista Golias e o David colonial - uma posição vergonhosa para o chamado “Partido de Esquerda”!

 

A sua posição social-imperialista pró-Israel torna natural que procure as Grandes potências imperialistas e as suas conversas nas Nações Unidas para resolver os “conflitos no Médio Oriente”. Isso pode ser visto, por exemplo, em várias declarações que a liderança da PEE publicou durante a guerra de Gaza em 2008/09:

 

Totalmente comprometida com a resolução pacífica de conflitos, o PEE exorta o Conselho de Segurança da ONU a adotar medidas concretas para acabar com o massacre, levantar o bloqueio e promover a paz com base nas resoluções da ONU.” 21

 

Pedimos aos governos europeus que façam o possível para lutar pela interferência imediata da ONU para impedir a guerra. As pedras angulares de uma solução política e as negociações políticas necessárias, as condições para tais conversações - todos estes aspectos são conhecidos há muito tempo - e, portanto, o PEE está exigindo da UE e dos governos dos países da UE um papel finalmente ativo neste sentido - conforme várias vezes votado por larga maioria no Parlamento Europeu.” 22

 

Da mesma forma, a liderança do PEE convocou durante e após a guerra do Líbano - na qual naturalmente assumiu uma posição neutra em vez de se aliar ao Hezbollah - repetidamente pela criação de uma "zona tampão controlada pela ONU entre Israel e Líbano "e uma "internacional força de manutenção da paz” da ONU. 23

 

Embora a PEE condene as guerras israelenses, também é inequivocamente solidária com o próprio estado sionista de apartheid. De fato, partidos importantes como o LINKE alemão afirmam repetidamente que estão em “Solidariedade com Israel”. Gregor Gysi afirmou isso repetidamente e até mesmo rotulou “a solidariedade com Israel como um elemento moral bem fundado para a razão de Estado alemã”. 24

 

Figuras importantes da PEE como Petra Pau, líder do LINKE alemão e vice-presidente do parlamento alemão, e Walter Baier, coordenador da rede transform! A Europa - o Think Tank do Partido de Esquerda Europeu - é partidária da famosa campanha “Stop the Bomb”. Esta é uma campanha sionista agressiva que exige que as grandes potências pressionem e isolem o Irã e inclui proponentes de um ataque nuclear preventivo contra o Irã. 25 Esta é apenas uma campanha ligeiramente oculta por uma guerra e interferência imperialista e não é por acaso que também é apoiada por extremistas de direita famosos como o político holandês Leon de Winter. 26

 

Durante a guerra de Gaza em 2008/09, o presidente do LINKE em Berlim, Klaus Lederer, juntou-se a uma manifestação com o slogan „ Apoie Israel - Operação Chumbo Fundido “e foi - ao lado de políticos de outros partidos burgueses - um dos alto-falantes principais.

 

O LINKE alemão chega a denunciar como antissemitismo o apoio a um único estado na Palestina, os apelos ao boicote de mercadorias israelenses ou à participação em comboios de solidariedade de Gaza”. Também declara o apoio a tais posições como incompatíveis com a adesão ao grupo parlamentar! 27 Estas posições foram adotadas em 2011 por unanimidade pela liderança, e respectivamente pelo grupo parlamentar, do LINKE!

 

Como uma forma particularmente repulsiva de cinismo, os líderes da PEE apresentam seu pró-sionismo como uma forma de luta contra o anti-semitismo. Nem é preciso dizer que toda organização progressista séria não deve fazer a menor concessão ao anti-semitismo e lutar contra tais sentimentos. É por isso que sempre dizemos que lutamos contra o sionismo e o Estado de apartheid de Israel, não contra o povo judeu em Israel. No entanto, confundir o anti-sionismo com o anti-semitismo nada mais é do que uma capitulação ao imperialismo e ao sionismo.

 

Qual a razão para esta posição reacionária do LINKE, que é ainda mais de direita do que a de outros partidos da PEE (dos quais alguns deputados participaram dos comboios de solidariedade de Gaza)? A razão é simplesmente que o imperialismo alemão tem uma relação muito próxima com Israel. É impossível para um partido se tornar parte de um governo sem uma posição inequivocamente pró-Israel. Visto que ingressar em um governo de coalizão é o objetivo estratégico do LINKE, eles devem provar às outras partes que estão preparados para sacrificar a solidariedade internacional com o povo palestino. Decisões como as mencionadas acima são passos nessa direção. Não há dúvida de que o LINKE abandonará posições internacionalistas muito mais formais se chegar a hora de conseguir alguns cargos em um governo.

 

Assim, vemos com os exemplos da Alemanha, França e Itália que os ex-stalinistas da ELP são contra as guerras, mas as apoiam se esse for o preço por uma vaga no governo capitalista.

 

 

 

A Forma Específica de Oportunidade do IST

 

 

 

Dado o fato de que, em oposição à Guerra das Malvinas, um movimento de massa contra a guerra do Iraque existiu na Grã-Bretanha, foi mais fácil para as internacionais centristas centradas na Grã-Bretanha falar mais de esquerda contra o imperialismo e a guerra. No entanto, novamente, os centristas falharam em tomar uma posição anti-imperialista de princípios. O SWP certamente foi uma força importante na organização da coalizão “Stop the War” e na mobilização de manifestações de massa. Mas embora tenham se adaptado oportunisticamente aos líderes empresariais muçulmanos, eles falharam em clamar abertamente pela derrota das forças imperialistas e pela vitória militar das forças afegãs, que estavam sob a liderança do Taleban.

 

Eles seguem a mesma política de anti-imperialismo platônico no Mali em 2013: semelhantes ao centrista Novo Partido Anticapitalista Francês (NPA), eles se opõem à intervenção francesa, mas não pedem sua derrota e a vitória militar dos rebeldes islâmicos. 28

 

Certamente, o SWP / IST às vezes deu / dá em sua imprensa declarações platônicas de apoio à defesa do Afeganistão ou do Iraque contra a ocupação imperialista. Isso certamente os torna mais esquerdistas do que os pacifistas sociais abertos como o CIT, TMI ou a Britânica Aliança pela Liberdade dos Trabalhadores (ALT). Porém, o apoio do IST à resistência do povo afegão e iraquiano, respectivamente, não vai além desta ou daquela nota lateral em um artigo e não aparece nas manchetes, ou nos milhares de pôsteres que distribui regularmente nas manifestações, etc. Pior, eles se oporiam até mesmo a ser levantado em moções em conferências da Coligação Stop the War. Eles até se opunham a slogans como “Saiam as Tropas Agora” Para se tornar parte da plataforma da Coalizão. Em suma, sua oposição à guerra sempre foi marcada por um oportunismo grosseiro, pela adaptação política à burocracia trabalhista, setores liberais de esquerda da burguesia e - na Grã-Bretanha - pela formação do partido político de frente popular RESPECT junto com empresários muçulmanos.

 

A orientação oportunista do SWP em relação a essas camadas foi expressa de forma codificada em uma declaração do então líder do SWP, John Rees: “A Stop the War Coalition se comprometeu com a questão central de se opor aos ataques ao Afeganistão e ao Iraque e, por extensão, à 'guerra contra o terror' da qual fizeram parte. … Em torno desses objetivos, os militantes tradicionais da paz, membros do Partido Trabalhista, Liberal e Verde, sindicalistas, muçulmanos, socialistas, ativistas antiglobalização e muitos outros sem afiliações organizacionais anteriores poderiam todos concordar em se organizar. Tenta estreitar a campanha para que adotasse objetivos especificamente anti-imperialistas, excluindo potencialmente os pacifistas ou simplesmente os que se opunham a esta guerra por razões particulares ou, mais importante, aqueles que acabaram de entrar no movimento e não tiveram a oportunidade de se tornarem anti- imperialistas por princípio foram rejeitados. 29

 

Claro que é correto organizar campanhas de frente única em uma plataforma limitada. Sempre rejeitamos as críticas aos ultra-esquerdistas que exigem organizar uma ampla frente única em uma plataforma anti-imperialista completa, incluindo o chamado à derrota do imperialismo. Por mais que seja baseado em princípios colaborar nessa frente única, é dever dos marxistas argumentar abertamente em sua agitação e propaganda por posições revolucionárias - incluindo a derrota do imperialismo e o apoio à resistência anticolonial - e lutar pelo direito de ter oradores, etc. para os pontos de vista anti-imperialistas consistentes nas manifestações da frente única.

 

Os líderes do SWP têm uma abordagem diferente. Seu apetite para encontrar aliados entre a burocracia trabalhista e a pequena burguesia levou-os até agora a dar a Charles Kennedy, o líder do partido liberal-democrata burguês (hoje o parceiro de coalizão dos Conservadores!) um palco na maior manifestação anti-guerra pacífica em 15 de fevereiro de 2003. Kennedy, claro, tornou-se um defensor aberto da guerra imperialista apenas algumas semanas mais tarde!

 

Outro exemplo do oportunismo grosseiro do SWP na prática é seu papel em um incidente vergonhoso no Fórum Social Europeu-FSE em outubro de 2004. Os organizadores - incluindo o SWP - convidaram Sobhi Al-Mashadani, secretário-geral da Federação dos Sindicatos do Iraque (IFTU) e membro do Partido Comunista Iraquiano, a falar em uma grande sessão durante o FSE. Seu partido apoiou a ocupação do Iraque pelos Estados Unidos e fez parte do governo fantoche colonial. O próprio Mashadani argumentou algumas semanas antes a favor da continuação da ocupação imperialista e contra os pedidos de retirada. A sua presença foi amplamente condenada - inclusive por George Galloway - e junto com vários ativistas iraquianos protestamos no início do planejado debate contra a presença deste apoiador da ocupação imperialista. No final, Mashadani saiu sem fazer um discurso, mas fomos fortemente denunciados por nosso protesto pelos líderes do SWP, que temiam por suas relações acolhedoras com os burocratas.

 

 

 

Como lutar pela posição anti-imperialista e como não lutar por ela

 

 

 

Vamos dar um exemplo concreto do contraste entre a abordagem marxista e a oportunista da política da frente única na luta contra a guerra imperialista. Em 2006 iniciamos na Áustria uma frente única para protestar contra a visita do então presidente Bush em Viena em 21 de junho. Nossa organização juvenil foi fundamental na organização de uma greve de estudantes escolares da qual participaram 2.000 estudantes. Na noite do mesmo dia, cerca de 25.000 pessoas marcharam pela cidade. 30

 

Nossos camaradas, que falaram tanto durante a greve de estudantes da escola quanto na manifestação noturna - entre eles a hoje liderança do CCRI/RCIT, Nina Gunić - pediram abertamente a derrota do imperialismo dos EUA e de Israel, pela vitória da resistência iraquiana e da Intifada Palestina e pela solidariedade internacional da classe trabalhadora. Durante a campanha de mobilização, que durou vários meses, a frente única se dividiu em duas alianças. Um se chamava BUSH GO HOME (Bush Volte pra casa!), no qual nossa organização participou junto com vários outros grupos de esquerda e de migrantes e dos quais o autor deste livro foi um porta-voz. O outro chamava-se STOP BUSH (Parem Bush) e centrava-se na organização social-democrata da juventude e no Partido Comunista. A questão da divisão era que os reformistas se opunham categoricamente a permitir oradores que defendessem um ponto de vista anti-imperialista consistente. Eles, portanto, se opuseram categoricamente a que Al-Kalemji, um porta-voz da Resistência Iraquiana, ou eu mesmo, Michael Pröbsting, podíamos falar na plataforma da manifestação à noite. No final, manifestamos juntos, mas tivemos comícios separados no início e no final da manifestação, para que milhares de pessoas pudessem ouvir as vozes dos anti-imperialistas em nossos comícios. 31

 

Caracteristicamente, a seção austríaca do IST juntou-se à aliança da juventude social-democrata e apoiou sua recusa em permitir oradores anti-imperialistas. Formalmente, isso parecia contraditório: em seu jornal, os Cliffitas falaram positivamente sobre a resistência iraquiana, mas ao mesmo tempo apoiaram a rejeição do reformista de ter um orador da mesma resistência iraquiana em uma manifestação. Mas isso é uma contradição apenas na superfície. Os princípios anti-imperialistas do IST estão subordinados ao seu impulso de encontrar aliados entre a burocracia trabalhista e a intelectualidade liberal de esquerda. Se eles puderem encontrar tais aliados - pelo menos temporariamente - eles estão preparados a rifar todos os princípios do programa da classe trabalhadora.

 

Na Grã-Bretanha, esse oportunismo levou às consequências de os líderes do SWP evitarem constantes slogans anti-imperialistas nas manifestações, bem como evitar ações práticas que iriam enfurecer seus aliados na burocracia trabalhista e os líderes da comunidade muçulmana. Eles, portanto, deixaram a situação escapar em fevereiro / março de 2003, quando o protesto de massa poderia ter se transformado em resistência de massa contra a guerra imperialista. Qualquer proposta de greve contra a guerra ou a construção de conselhos de ação poria em risco suas amizades burocráticas com seus aliados reformistas. 32

 

Em vez de uma frente única de princípios com reformistas e líderes comunitários muçulmanos, a liderança do SWP / IST preferiu construir o partido pequeno-burguês de frente popular RESPECT junto com o ex-parlamentar trabalhista George Galloway e empresários muçulmanos e com base em um programa reformista. 33

 

 

 

Política do IST: Dê-nos alguns cargos e paramos de lutar por nossos princípios

 

 

 

Dissemos antes que os princípios anti-imperialistas do IST estão subordinados ao seu impulso de encontrar aliados entre a burocracia trabalhista e a intelectualidade liberal de esquerda. Deixe-nos dar outro exemplo disso. Na Alemanha, o IST faz parte do LINKE - a seção alemã do Partido de Esquerda Europeia - há muitos anos. Eles têm vários cargos na liderança regional, na liderança central e no aparelho parlamentar, bem como dois deputados no parlamento federal - Christine Buchholz e Nicole Gohlke. Como informamos acima, a liderança do LINKE declarou explicitamente sua solidariedade com Israel e proibiu o apoio de seus funcionários a um estado único na Palestina, proibiu apelos para boicotar mercadorias israelenses ou a participação em comboios de solidariedade de Gaza. Como também relatamos, essas decisões foram adotadas por unanimidade.

 

Coloca-se a questão de como tal unanimidade é possível, já que vários membros do IST estão na direção e no grupo parlamentar deste partido. A razão é simplesmente que os líderes alemães do IST não se atrevem a votar contra essas resoluções pró-sionistas reacionárias! Por que eles não ousam? Porque isso significaria, muito provavelmente, o fim imediato de sua tolerância nos escalões superiores do partido pela burocracia reformista. Isso é o que eles - em palavras codificadas - se admitem publicamente.

 

Em comunicado, as duas deputadas alemãs do IST, Nicole Gohlke und Christine Buchholz, escreveram:

 

“A decisão (no grupo parlamentar, MP) foi aprovado por unanimidade. No entanto, essa 'unanimidade' foi alcançada porque a aprovação para isso foi feita indiretamente como uma questão de sobrevivência. Neste contexto, os deputados, que inicialmente anunciaram que votariam contra a resolução, agiram de forma diferente: alguns saíram da sala e por isso não participaram na votação, outros estiveram presentes, mas não participaram na votação e outros votaram relutantemente para a resolução. Decidimos sair da sala. (…) Como muitos outros no grupo parlamentar, nos encontramos em um dilema tático e político: deveríamos ter evitado uma decisão politicamente errada e arriscar a divisão do grupo parlamentar em torno de uma questão, em que a esquerda na Alemanha atua fora da defensiva e que se tornou um dos mais importantes pontos de ataque da mídia burguesa e dos partidos concorrentes? Para nós, continua a ser verdade que o LINKE é o único partido que se opõe sistematicamente ao capitalismo e à guerra e, portanto, desempenha um papel único internacionalmente. O preço, em estragar esse projeto, era alto demais. 34

 

Esta carta é patética é reveladora de várias maneiras. Em primeiro lugar, os autores do IST afirmam que a prevenção desta resolução pró-sionista teria “risco de divisão do grupo parlamentar”. Se isso for verdade, mostra que o IST prefere manter a unidade com os burocratas reformistas em comparação com um voto contra uma denúncia pró-sionista da luta de libertação palestina. Na verdade, como revela um relatório baseado em informações internas, a liderança pró-sionista tinha uma clara maioria para sua resolução de qualquer maneira, mas havia cerca de 15 (de 76) deputados que não quiseram votar a favor da resolução. A liderança pró-sionista ameaçou renunciar ao cargo e deixar o grupo parlamentar se a votação não fosse unânime. 35 Como resultado, todos os deputados oposicionistas do LINKE cederam e deixaram a sala ou não votaram. Eles - incluindo os deputados do IST - não podiam arcar com a responsabilidade de ter “empurrado” a liderança pró-sionista à resignação! Os deputados do IST provaram a sua lealdade à burocracia partidária e subordinados a esta decisão pró-sionista: desde então não manifestaram publicamente o seu apoio a uma solução de um estado e não participaram na flotilha de Gaza (como deputados membros do partido PEE em outros países fizeram).

 

Vamos comparar esta atitude covarde com outros deputados marxistas: Os deputados socialistas de esquerda alemães Karl Liebknecht e mais tarde Otto Rühle votaram em 1914 (Rühle em 20.3.1915) contra os créditos de guerra - em contraste com o resto do grupo parlamentar social-democrata que apoiou os esforços de guerra do imperialismo alemão. Vários deles se opunham à guerra em seus corações, mas se subordinaram à disciplina do partido e votaram pelos créditos de guerra. Imagine o que Liebknecht e Rühle teriam feito se aplicassem o método IST! Certamente, votar contra os créditos de guerra “arriscava a divisão do grupo parlamentar”. Mas, ao contrário dos líderes do IST, eles não se importaram com isso. Eles colocam seus princípios acima da equivocada lealdade ao imperialismo. Buchholz e Gohlke afirmam que sobre a questão de Israel “a esquerda na Alemanha atua fora da defensiva e se tornou um dos mais importantes pontos de ataque da mídia burguesa e dos partidos concorrentes”. Bem, Liebknecht e Rühle certamente sentiram mais pressão do que os deputados do IST, eles certamente agiram mais “fora da defensiva” e sua oposição à guerra imperialista certamente se tornou muito mais “um dos pontos mais importantes de ataque da mídia burguesa e as partes concorrentes”. Mas ao contrário dos deputados do IST, Liebknecht e Rühle permaneceram leais aos seus princípios anti-imperialistas e ao marxismo em geral.

 

Caracteristicamente, os deputados do IST começaram a se adaptar à pressão pró-sionista já anos antes da mencionada resolução da liderança do LINKE em 2011. A deputada do IST, Nicole Gohlke, publicou um artigo em 2009, no qual caracterizou uma solução de dois estados como “preferível”. Ela observou apenas que tem “dúvidas” se Israel está preparado para aceitar “uma solução justa de dois Estados”. 36

 

Tudo isso é uma farsa terrível para os chamados “marxistas revolucionários”! Os deputados do IST Buchholz e Gohlke têm, como deputados há pelo menos quatro anos, uma plataforma perfeita para agitar pela solidariedade com a resistência palestina e o esmagamento do estado do Apartheid israelense. Tal agitação seria ouvida por literalmente milhões de pessoas na Alemanha e em todo o mundo. Claro, eles provavelmente seriam imediatamente expulsos do grupo parlamentar LINKE, permaneceriam deputados sem um grupo parlamentar (como por exemplo o reformista de esquerda, mas certamente menos covarde deputado do RESPEITO George Galloway na Grã-Bretanha) e eles enfrentariam uma campanha de ódio pela mídia burguesa pró-sionista. E eles também, muito provavelmente, não teriam a chance de serem nomeados novamente como candidatos do LINKE nas próximas eleições parlamentares. No entanto, como essas posições não são um objetivo em si para os revolucionários, é certamente um preço que vale a pena pagar. Por quê? Porque discursos ousados de membros do parlamento em solidariedade com a resistência palestina e contra a existência de um estado de apartheid iriam despertar a simpatia das massas em todo o mundo, daria coragem para construir um movimento de massas em solidariedade com a resistência palestina, etc. aqui apenas a questão da Palestina, mas nem é preciso dizer que o IST também se opôs em adotar uma política revolucionária consistente em todas as outras questões políticas da luta de classes nesses anos.

 

Superficialmente, esses comportamentos dos deputados alemães do IST estão em franca contradição com as declarações do IST sobre a Palestina. O IST não pediu repetidamente em seus jornais uma solução de um estado na Palestina? eles não expressaram sua solidariedade com a flotilha de Gaza etc.?! Claro que sim. Para seus partidários radicais, para um público militante, o IST está sempre disposto a levantar slogans radicais. Mas se tais slogans colocariam em risco o objetivo final - reconhecimento e incorporação como parceiro júnior da burocracia trabalhista - os dirigentes do IST não perdem um segundo em abandonar esses slogans e subordinar-se às demandas da burocracia. Este espírito de liquidacionismo e capitulacionismo torna-se particularmente óbvio na abordagem oportunista do IST ao entrismo nos partidos reformistas.

 

A ex-burocracia stalinista do LINKE certamente recompensa a lealdade dos líderes do IST. Em janeiro de 2013, Nicole Gohlke foi indicada pela liderança do partido como uma das 8 principais candidatas do LINKE para as próximas eleições federais. 37 Que exemplo clássico de que o centrismo se adapta à burocracia reformista e se corrompe pelo estado burguês!

 

Trotsky certa vez observou que esse tipo de dupla contabilidade política é característica do centrismo:

 

A correspondência entre palavras e ações é uma marca distintiva de uma organização revolucionária séria. Para uma organização revolucionária séria, as resoluções que adota em suas assembleias não são meras formalidades, mas o resultado registrado das experiências que acumulou na ação e um guia para sua ação no futuro. Para os centristas, uma tese "revolucionária", adotada em uma ocasião cerimonial, tem o objetivo de servir como uma decoração enganosa, como um disfarce para divergências irreconciliáveis em suas próprias fileiras, como um disfarce para seus feitos não revolucionários no período anterior assim como no período vindouro." 38

 

Todos esses exemplos revelam o seguinte: Os reformistas vendem seus princípios políticos à burguesia em troca de cargos e privilégios no governo. Os centristas têm a mesma mentalidade do comerciante pequeno-burguês. Eles vendem seus princípios políticos à burocracia trabalhista e ao aparato acadêmico do Estado em troca de um ou outro cargo em um partido reformista, no parlamento ou nas universidades. Sem dúvida, os centristas são mais baratos do que os reformistas. Mas, como os primeiros são geralmente menores em número do que os últimos, isso não é surpreendente.

 

 

 

O CIT e Sua Capitulação ao Imperialismo

 

 

 

O CIT demonstra sua adaptação à burocracia trabalhista desde o início da “Guerra ao terror” dos imperialistas, recusando-se a clamar pela derrota das Grandes Potências e seus aliados e pela vitória das forças que os combatem. Como veremos, eles perseguem essa política social-pacifista de uma forma mais aberta do que oculta do que, por exemplo, o IST.

 

Em 2002, a figura principal do CIT, Peter Taaffe, apresentou seu método em um longo artigo. Ele explicou que, devido à suposta consciência diferente da classe trabalhadora, os marxistas não podem levantar as mesmas posições de princípio anti-imperialistas nas guerras coloniais que os trotskistas fizeram na década de 1930. Ele argumenta que as massas na década de 1930 tinham muito mais simpatia pelo reino etíope do que pelo Talibã. Portanto, conclui Taaffe, a Quarta Internacional estava correta em defender a resistência etíope sob a liderança do regime reacionário de Haile Selassie. Hoje, no entanto, os trabalhadores nos países imperialistas não entenderiam defender a resistência afegã sob a liderança reacionária do Taleban e, portanto, os marxistas - ou seja, o CIT - deveriam se limitar a uma oposição platônica à guerra e à ocupação:

 

As massas na década de 1930 pouco teriam entendido dos detalhes precisos do regime de Haile Selassie. Além disso, a Etiópia estava sob ataque do regime fascista de Benito Mussolini na época em que Trotsky escrevia. Dadas as ilusões democráticas da classe trabalhadora da Europa ou dos Estados Unidos em particular, junto com o recente exemplo sangrento do que o fascismo significaria para eles na chegada ao poder de Adolf Hitler e Mussolini, era natural que a simpatia das massas em a década de 1930 seria com a Etiópia contra a Itália fascista. Os britânicos e a maior parte da burguesia europeia, juntamente com os EUA, por seus próprios interesses estratégicos imperialistas, também jogaram com esta simpatia pela Etiópia. É um absurdo sugerir, no entanto, como as organizações sectárias fazem ao citar essas observações de Trotsky, que a massa da população na maioria dos países industrializados poderia ter a mesma atitude hoje em relação a Bin Laden e ao Taleban.” 39

 

Os leitores provavelmente verão a semelhança com a argumentação do CIT na época da guerra das Malvinas em 1982: os trabalhadores britânicos não entenderiam slogans como “Abaixo a guerra!”, eles não entenderiam a oposição em defender os colonos “Falklanders” e certamente não teriam um apoio para a tentativa dos argentinos de retomar as ilhas. Portanto, de acordo com a lógica do CIT, ele não deve levantar quaisquer slogans consistentes contra a guerra britânica e deve até mesmo prometer continuar a guerra “em uma base socialista” quando o Partido Trabalhista chegar ao poder.

 

Portanto, o líder do CIT declara inequivocamente: “É errado clamar direta e grosseiramente pela 'derrota do imperialismo dos EUA' e de seus aliados de coalizão como um slogan de agitação”.

 

Naturalmente, o CIT se depara com o problema de que sua posição está em completo e óbvio contraste com todas as declarações da Internacional Comunista de Lenin e da Quarta Internacional de Trotsky sobre as guerras imperialistas no mundo colonial. Assim, eles afirmam que “em princípio” apoiam a resistência dos oprimidos contra o imperialismo, mas não as lutas daqueles que estão de fato colocando a resistência em prática. Este é um modelo de “anti-imperialismo platônico”: Resistência contra a ocupação imperialista? Sim, claro, “em princípio”. Apoio para aqueles que lutam hoje contra a ocupação imperialista no Afeganistão, no Iraque ou na Palestina? Não, nunca, eles são reacionários e os trabalhadores do Ocidente não entenderiam. Esta é a política vergonhosa do CIT, como mostram as seguintes citações do seu mesmo documento:

 

“Nós diferenciamos claramente entre os países imperialistas avançados e aqueles no mundo colonial ou neo-colonial. Em geral, ainda apoiamos os povos do mundo neocolonial na luta contra a dominação imperialista, principalmente quando esta assume a forma, como no Afeganistão, de intervenção militar. Neste caso, estávamos claramente do lado do povo afegão e nos opusemos à guerra nos países imperialistas. Apoio ao povo afegão e sua resistência contra as incursões armadas do imperialismo não é o mesmo que apoio ao Talibã, ainda que esse apoio seja 'crítico', como algumas organizações de esquerda o colocaram.

 

Então, Taaffe contrasta a política do CIT com aquelas de anti-imperialistas de princípios como nossa organização:

 

Se, portanto, percebemos esta guerra como totalmente reacionária por parte do imperialismo, isso significa que jogamos nossa sorte, ainda que 'criticamente', com aqueles que supostamente 'resistiram' ao rolo compressor dos EUA, ou seja, Bin Laden, seu a Al Qaeda e o governo do Taleban? Inacreditavelmente, esta é a posição de alguns pequenos grupos trotskistas, como Workers Power (nossa organização antecessora, MP) e o Morenista LIT. Este último está baseado principalmente na América Latina. A abordagem deles não encontrará absolutamente nenhum eco entre a classe trabalhadora mundial, particularmente o proletariado nos países capitalistas desenvolvidos. No entanto, como utilizaram alguns dos escritos anteriores de Trotsky para justificar sua posição durante a guerra, eles puderam, e em alguns casos, confundiram e confundiram alguns jovens e trabalhadores que tiveram contato com eles. É necessário, portanto, lidar com seus argumentos aqui como um meio de esclarecer as questões dentro de nossas próprias fileiras. Eles também mostram total confusão sobre os desenvolvimentos dentro do 'Islã’.

 

É apenas consistente que o CIT não só falhou em apoiar a resistência afegã contra a ocupação imperialista, mas também a resistência no Iraque, no Líbano em 2006 e na Palestina em 2008/09 e 2012 contra Israel, bem como no Mali em 2013. 40 A ênfase de Lenin em seu relatório sobre a Tese sobre as Questões Nacionais e Coloniais no Segundo Congresso Mundial da Internacional Comunista é completamente estranha ao método do CIT: “Qual é a ideia fundamental que está por trás de nossas teses? É a distinção entre nações oprimidas e opressoras. 41

 

Portanto, quando o CIT às vezes escorrega em uma pequena frase como “Nós apoiamos o direito do povo palestino de se defender”, não passa de uma frase sem sentido. Em primeiro lugar, nada mais é do que arrogância imperialista permitir ao povo oprimido “o direito” de se defender. Em segundo lugar, não é uma declaração clara de que uma organização está comprometida em apoiar essa resistência e pedir um apoio de massa para ela. Em terceiro lugar, como dissemos acima, tais formulações têm a intenção de cobrir o fato de que o CIT na verdade não apoia a resistência que vem do Hamas e de outros islâmicos contra Israel, mas que é a forma concreta da resistência palestina hoje.

 

O TMI - que compartilha o mesmo método com o CIT - tem uma abordagem covarde e pacifista social semelhante. Isso é verdade tanto para as guerras na Palestina quanto no Mali. 42

 

Para ilustrar esse ponto, queremos dar ao leitor o seguinte exemplo. Vamos imaginar que não estamos lidando com a resistência palestina contra o terrorismo de Estado de Israel, mas com uma greve de trabalhadores na Grã-Bretanha que é organizada por um sindicato burocrático como o UNISON (ou qualquer outro sindicato). Este sindicato é obrigado, sob a pressão do ataque feroz dos patrões e do espírito militante dos trabalhadores, a convocar uma greve por tempo indeterminado a partir de hoje e que se realiza neste e naquele empreendimento nas cidades X, Y e Z. É dever óbvio de qualquer revolucionário apoiar esta greve, apesar da direção burocrática do sindicato, pedir o apoio concreto desta greve específica em todas as empresas e cidades onde ela ocorre. Imaginemos agora que a polícia ataca os dirigentes sindicais - ou mesmo tenta matá-los. Mais uma vez, apesar de todas as nossas críticas aos dirigentes sindicais, somente um traidor negaria a eles a defesa completa e incondicional contra a polícia.

 

Certamente, os camaradas do CIT concordariam com tal atitude. Mas quando o CIT tem que lidar com uma luta política e militar pela libertação nacional de um povo oprimido e não com uma greve econômica em um país imperialista, eles recusam tal solidariedade incondicional. Imagine, uma organização - diante de uma greve de trabalhadores na Grã-Bretanha - se limitaria a afirmar: “Nós apoiamos o direito dos trabalhadores britânicos à greve” sem convocar uma manifestação em apoio à greve liderada pela UNISON sobre isso e aquilo! Nós os chamaríamos de traidores. Mas isso é exatamente o que o CIT está fazendo com as lutas dos povos oprimidos se eles entrarem em conflito com as potências imperialistas ou seus aliados! O fracasso do CIT no dever anti-imperialista é um exemplo flagrante de como uma teoria confusa e turva leva a uma tática turva e impotente em face da opressão imperialista e das guerras.

 

Leon Trotsky fez uma observação semelhante quando observou: “… é um mau marxista quem tenta estabelecer regras comuns para a França imperialista e a China colonial. Não distinguir os países opressores dos oprimidos é o mesmo que não distinguir entre a classe exploradora e a classe explorada. Aqueles que colocam os países imperialistas e coloniais no mesmo nível, não importando as frases democráticas que usem para ocultar esse fato, não passam de agentes do imperialismo.” 43

 

É claro que os marxistas não devem dar nenhum apoio político ao Hamas ou a outras forças, como afirmamos em nossa declaração sobre a última guerra de Gaza. Mas isso não deve levar os revolucionários a negar apoio à resistência palestina que hoje ocorre sob a liderança do Hamas.

 

A CCRI condena todas as forças reformistas (como a maioria dos social-democratas de esquerda e ex-partidos stalinistas) que criticam igualmente Israel "organizações terroristas" como o Hamas, que defendem o direito de existência de Israel (incluindo centristas como o CIT) ou que se recusam a apoiar a resistência palestina porque ela é liderada por forças islâmicas pequeno-burguesas como o Hamas (incluindo muitos outros grupos centristas baseados no mundo ocidental como o TMI ou o ALT britânico). Claro, os socialistas revolucionários não compartilham uma polegada dos objetivos políticos do lideranças pequeno-burguesas do Hamas. Porém, apenas um tolo ou um servo do imperialismo pode negar que esta é uma guerra entre um estado opressor (Israel) e um povo oprimido - os palestinos! Os palestinos lutam por seu direito de viver e existir! Qualquer organização de esquerda que se coloque de lado nesta guerra, que se recusa a apoiar a luta da resistência palestina sob sua liderança existente contra a agressão israelense, sob o pretexto da democracia secular ou do socialismo, trai exatamente esses princípios democráticos e socialistas!

 

Enquanto apoiamos a luta heroica dos combatentes palestinos do Hamas, Jihad Islâmica e outras organizações de resistência, advertimos contra qualquer ilusão nas lideranças pequeno-burguesas dessas organizações. A classe trabalhadora na Palestina e internacionalmente precisa de seu partido de luta independente para o socialismo. Avante na construção de um partido operário revolucionário como parte de uma Quinta Internacional baseada em um programa revolucionário! Viva a solidariedade internacional!” 44

 

O CIT comete uma falha característica de centrismo: eles clamam pela solidariedade com as vítimas, mas falham em apoiar suas lutas concretas pela libertação. A condenação de Trotsky ao político centrista Georg Ledebour, escrita em 1932, também atinge bem as falhas políticas do CIT hoje:

 

No entanto, a posição de Ledebour, mesmo sobre esta questão, não deixa o recinto do centrismo. Ledebour exige que uma batalha seja travada contra a opressão colonial; ele está pronto para votar no parlamento contra os créditos coloniais; ele está pronto para assumir uma defesa destemida das vítimas de uma insurreição colonial esmagada. Mas Ledebour não participará da preparação de uma insurreição colonial. Tal trabalho ele considera golpismo, aventureirismo, bolchevismo. E aí está toda a essência da questão.

 

O que caracteriza o bolchevismo na questão nacional é que em sua atitude para com as nações oprimidas, mesmo as mais atrasadas, ele as considera não apenas o objeto, mas também o sujeito da política. O bolchevismo não se limita a reconhecer o seu “direito” à autodeterminação e aos protestos parlamentares contra o esmagamento deste direito. O bolchevismo penetra no meio das nações oprimidas; levanta-os contra seus opressores; vincula sua luta com a luta do proletariado nos países capitalistas; instrui os oprimidos chineses, hindus ou árabes na arte da insurreição e assume total responsabilidade por esse trabalho diante dos algozes civilizados. Aqui apenas começa o bolchevismo, isto é, o marxismo revolucionário em ação. Tudo o que não ultrapassa essa fronteira permanece centrismo.“ 45

 

 

 

Sionismo Socialista à la CIT

 

 

 

Uma forma particular de adaptação ao social-imperialismo é o apoio do CIT (e de sua seção israelense Maavak Sozialisti) para a solução "socialista" de dois estados, ou seja, a existência contínua de um Estado judeu "socialista" separado, Israel ao lado de um "socialista” estado palestino. Assim, o último Congresso Mundial do CIT em 2010 declarou:

 

É somente através dos movimentos de massa unidos da classe trabalhadora e dos pobres na Palestina, e também em Israel, que uma solução será encontrada; opondo-se à opressão nacional, aos partidos patronais e ao imperialismo; e trazendo uma verdadeira autodeterminação para os palestinos - para uma Palestina socialista e democrática e um Israel socialista, como parte de uma confederação socialista igual e voluntária do Oriente Médio. 46

 

Certamente, o CIT enfatiza que esses dois estados devem ser estados socialistas. Mas isso torna as coisas ainda mais confusas e sem sentido. Como você pode ter uma solução socialista sem reverter a limpeza étnica, sem conceder aos 7,5 milhões de refugiados palestinos o direito de retornar às suas cidades e aldeias natais?! 47 Como todos sabem, esta é uma das demandas mais profundas e importantes dos palestinos e, na verdade, de todo o mundo árabe. O CIT às vezes até reconhece que a classe trabalhadora árabe apoia a destruição do estado de Apartheid israelense. No livro do CIT “Marxismo no mundo de hoje”, seu líder Peter Taaffe admite: “Aceitamos que muitos trabalhadores árabes têm a esperança de que o estado israelense seja destruído. É uma cunha imperialista contra a Revolução Árabe.” 48

 

No entanto, o CIT pede a continuação do estado israelense (em uma “base socialista”) e, portanto, a continuação da expulsão coletiva do povo palestino de seu território natal. Como a liderança do CIT justifica tal ignorância terrível dos desejos do povo palestino oprimido? Referindo-se aos desejos do povo judeu-israelense, como mostra a seguinte citação:

 

“Eles não darão em nada, pois as massas palestinas não desistirão de suas demandas por um Estado separado. Da mesma forma, a população israelense não aceitará a exigência de que formem uma possível minoria em um 'estado comum'. Fazer isso significaria que eles tomariam o lugar dos palestinos oprimidos; isso seria inevitável em uma base capitalista. Nossa demanda por uma Palestina socialista e democrática e um Israel socialista vinculado a uma confederação socialista do Oriente Médio mantém toda a sua validade.” 49

 

A mesma justificativa foi expressa por Taaffe em outro livro onde ele polemiza contra os defensores de uma solução de um estado:

 

“Com efeito, na conferência do SSP de 2002, eles aceitaram o falso slogan do Partido Socialista dos Trabalhadores de 'um estado palestino com direitos de minoria para os israelenses'. Embora em uma conferência subsequente essa posição tenha sido atenuada, nos jornais do SSP e nas declarações públicas dos principais membros do SSP, a ideia de um Estado palestino com direitos de minoria para os israelenses ainda aparece. Tal slogan abstrato nunca seria aceito pela população israelense, com a implicação de que seu próprio estado separado seria liquidado e eles seriam incorporados à força em outro, 'estado palestino'. 50

 

Portanto, vemos que o CIT aceita a continuação da expulsão coletiva do povo palestino porque - assim ele pensa - o povo colonizador não deseja abrir mão de seus privilégios. Ele coloca os desejos da nação oprimida (os palestinos) em um nível de igualdade com os desejos da nação opressora (os judeus israelenses). Isso transforma o internacionalismo socialista como uma estratégia de libertação nacional em uma estratégia reacionária para justificar a opressão nacional. Alguém acredita seriamente que os refugiados palestinos seriam libertados se você apenas colocasse a palavra “socialista” antes dos empobrecidos Gaza e Cisjordânia ao lado do rico “socialista” Israel?!

 

Na verdade, o sionismo socialista do CIT nada mais é do que uma capitulação aos preconceitos aristocráticos e privilégios materiais de setores da população judaica em Israel. Esvazia completamente o conteúdo revolucionário da estratégia de libertação nacional de Lenin. Para ele, como para todos os marxistas, o direito à autodeterminação nacional era a resposta revolucionária contra a opressão nacional e uma parte integrante da estratégia total da revolução socialista.

 

“É por isso que o ponto focal do programa social-democrata deve ser aquela divisão das nações em opressores e oprimidos que forma a essência do imperialismo e é enganosamente evitada pelos social-chauvinistas e Kautsky. Essa divisão não é significativa do ponto de vista do pacifismo burguês ou da utopia filistina da competição pacífica entre as nações independentes sob o capitalismo, mas é mais significativa do ponto de vista da luta revolucionária contra o imperialismo. É desta divisão que deve seguir nossa definição do “direito das nações à autodeterminação”, uma definição que é consistentemente democrática, revolucionária e de acordo com a tarefa geral da luta imediata pelo socialismo. 51

 

No entendimento marxista, o direito à autodeterminação nacional é, portanto, o direito das nações oprimidas. Não pode e não implica o “direito” de uma nação opressora de continuar a opressão nacional. Lenin foi absolutamente inequívoco sobre isso:

 

O direito das nações à autodeterminação implica exclusivamente o direito à independência no sentido político, o direito à separação política livre da nação opressora. (…) Implica apenas uma expressão consistente de luta contra toda opressão nacional. 52

 

Não negamos as dificuldades de superar os preconceitos reacionários de muitos trabalhadores israelenses judeus, uma vez que se baseiam em privilégios materiais aristocráticos concretos. No entanto, a solução dificilmente pode ser colocar os desejos de remover a opressão nacional da população de maioria palestina (além dos mesmos desejos de centenas de milhões de árabes) no mesmo nível que os desejos de um pequeno povo colonizador extremamente privilegiado (os judeus israelenses). Nem colocamos o desejo de um homem de estuprar uma mulher e o desejo da mulher de evitar isso no mesmo nível. Não procuramos um compromisso entre esses dois desejos. Tampouco buscamos um compromisso entre um povo colonizado e um povo expulso.

 

É óbvio que o CIT aplica tal método reacionário na questão nacional onde os interesses do imperialismo e dos privilégios aristocráticos das nações opressoras estão envolvidos.

 

Isso é como o apoio do CIT à reivindicação britânica das ilhas Malvinas da Argentina por causa do “direito de autodeterminação nacional” de 1.800 colonos. Neste contexto, deve-se também mencionar o apoio reacionário do CIT “à autodeterminação” da minoria protestante pró-britânica na Irlanda do Norte contra os desejos de unificação da Irlanda por toda a nação irlandesa.

 

Como dissemos, não negamos os enormes obstáculos para em que a maioria dos trabalhadores israelenses judeus rompa com sionismo. Na verdade, eles provavelmente farão isso apenas como os últimos na região, como resultado das lutas de libertação nacional e social bem-sucedidas da classe trabalhadora árabe, berbere e curda e oprimidos em todo o Oriente Médio. Somente se os trabalhadores israelenses judeus romperem com seus preconceitos aristocráticos - o que muitos deles provavelmente farão quando forem confrontados com a destruição iminente de seu estado de Apartheid por uma onda de revoluções operárias e camponesas bem-sucedidas no mundo árabe - somente neste caso eles podem ser ganhos para o socialismo. Isso deveria ser óbvio, uma vez que um dos pilares mais importantes do socialismo é a liquidação de todas as formas de opressão nacional e a igualdade absoluta entre as nações. Tal igualdade nacional é impossível sem superar a terrível situação do povo palestino, do qual a maioria absoluta são refugiados. Isso significa o direito de voltar para suas casas. É uma ilusão grotesca do CIT esperar ganhar os trabalhadores israelenses judeus para o socialismo sem separá-los de sua mentalidade reacionária de colonos!

 

Na verdade, o socialismo é a única possibilidade de uma verdadeira libertação nacional. Por quê? Porque o direito incondicional de retorno do povo palestino ao que é hoje Israel exige a expropriação da classe capitalista (que hoje é, obviamente, principalmente de origem judaico-israelense). Somente se as empresas forem nacionalizadas sob o controle dos trabalhadores (a classe trabalhadora, é claro, seria em sua maioria trabalhadores palestinos), apenas se a terra for nacionalizada e controlada pelos trabalhadores (novamente, a maioria deles seria de palestinos), apenas sob tais circunstâncias podem ocorrer uma transferência controlada e regulamentada de riqueza e recursos para o povo palestino. Somente sob tal estado palestino socialista podem ser construídas novas casas para a população que retorna, empregos podem ser criados e terras podem ser dadas aos camponeses palestinos. Tal Palestina socialista não expulsaria os colonos judeus. Se eles estão preparados para aceitar a perda de seus privilégios aristocráticos, se eles estão preparados para aceitar seu status como uma minoria nacional, se eles estão preparados para aceitar o povo palestino como igual, então eles podem continuar a viver na Palestina.

 

Por isso, aliás, a palavra de ordem de um único estado democrático na Palestina é uma ilusão pequeno-burguesa. Uma Palestina “democrática” seria uma Palestina democrático-burguesa e, portanto, uma Palestina capitalista. Haveria naturalmente uma continuação de desigualdade maciça em favor dos já ricos judeus israelenses e em desvantagem para os palestinos. Estas são as lições da África do Sul após a queda do Apartheid em 1994.

 

Infelizmente, o CIT é incapaz de apoiar tal estratégia de libertação nacional contra o sionismo como parte da luta pela revolução socialista na região. Como resultado de sua adaptação ao social-imperialismo, eles são incapazes de apoiar a luta de libertação palestina - como muitas outras lutas de libertação no mundo - sob sua forma concreta hoje. Assim, eles falham em um dos princípios mais importantes do marxismo. Eles são - como disse Trotsky - “lacaios, apologistas, agentes dos imperialistas, dos proprietários de escravos”:

 

Bandidos capitalistas sempre conduzem uma guerra “defensiva”, mesmo quando o Japão está marchando contra Xangai e a França contra a Síria ou Marrocos. O proletariado revolucionário distingue apenas entre guerras de opressão e guerras de libertação. O caráter de uma guerra é definido não por falsificações diplomáticas, mas pela classe que conduz a guerra e os objetivos que persegue nessa guerra. As guerras dos estados imperialistas, além dos pretextos e da retórica política, são de caráter opressor, reacionário e hostil ao povo. Só as guerras do proletariado e das nações oprimidas podem ser caracterizadas como guerras de libertação (...)

 

A Liga das Nações é a cidadela do pacifismo imperialista. Representa uma combinação histórica transitória de Estados capitalistas em que o mais forte comanda e compra o mais fraco, então rasteja diante da América ou tenta resistir; em que todos são igualmente inimigos da União Soviética, mas estão preparados para encobrir todo e qualquer crime dos mais poderosos e vorazes entre eles. Apenas os politicamente cegos, apenas aqueles que estão totalmente desamparados ou que deliberadamente corrompem a consciência do povo, podem considerar a Liga das Nações, direta ou indiretamente, hoje ou amanhã, um instrumento de paz. (...)

 

Quem apoia direta ou indiretamente o sistema de colonização e protetorados, o domínio do capital britânico na Índia, o domínio do Japão na Coréia ou na Manchúria, da França na Indochina ou na África, quem não luta contra a escravidão colonial, quem não apoia os levantes das nações oprimidas e sua independência, quem defende ou idealiza o a política de Ghandi, ou seja, a política de resistência passiva sobre questões que só podem ser resolvidas pela força das armas, é, apesar das boas ou más intenções, um lacaio, um apologista, um agente dos imperialistas, dos proprietários de escravos, dos militaristas, e os ajuda a preparar novas guerras em busca de seus objetivos antigos ou novos ”. 53

 

 

 

É Demais para a Classe Trabalhadora a Política do Derrotismo Revolucionário? Sobre a Falsificação do Método de Lênin e Trotsky por Parte do CIT e do TMI

 

 

 

Tanto o CIT quanto o TMI consistentemente tentam falsificar a abordagem de Lênin e Trotsky à questão do derrotismo revolucionário. Já mostramos em várias questões que eles se recusaram a ficar do lado dos povos oprimidos que lutam contra os imperialistas e não vamos repetir esses argumentos aqui. Agora, queremos lidar com outro argumento dos líderes do CIT e do TMI. Eles afirmam que para Lênin e Trotsky o derrotismo revolucionário era apenas uma ideia para pequenos círculos de marxistas, mas não para as massas. Em segundo lugar, eles afirmam que a defesa de Trotsky do Brasil “semifascista” contra a Grã-Bretanha “democrática” foi um “exemplo hipotético” sem relevância para hoje.

 

Vamos primeiro apresentar os argumentos de nossos oponentes centristas: Os líderes do CIT escrevem:

 

No entanto, as seitas ultra-esquerdistas de hoje, determinadas a demonstrar sua abordagem "marxista" intransigente, continuam a promover slogans com base em seu conceito equivocado de "derrotismo". Mesmo eles - confusos como estão - não afirmam ter o apoio da maioria da classe trabalhadora. Mas como eles pensam que podem ganhar a maioria para se opor aos objetivos de guerra do capitalismo britânico, para forçar os conservadores a abandonar sua aventura militar? Aparentemente, eles acreditam que isso pode ser feito pelo apoio à Junta, quando a maioria dos trabalhadores tem um ódio instintivo pelo que veem o regime como um regime 'fascista' e um desejo compreensível de vê-lo derrotado. Os conservadores, é claro, estão explorando cinicamente os sentimentos antifascistas dos trabalhadores; mas o apoio à Junta colocaria os marxistas muito além aos olhos dos trabalhadores, deixando os conservadores hipocritamente livres para capitalizar na 'luta contra o fascismo'.

 

Os pseudo-marxistas também acreditam, ao que parece, que o apoio a uma oposição socialista à guerra pode ser conquistado por meio de uma política que abandone os ilhéus das Ilhas Malvinas à misericórdia da Junta, anulando seus direitos em favor da reivindicação legalista da Junta de a terra sob seus pés.

 

O mais monstruoso absurdo da posição das seitas, no entanto, é a ideia de que os trabalhadores podem ser conquistados para uma posição socialista com base no apelo à derrota da Força-Tarefa, convocando literalmente - como os representantes das seitas declararam em público - para "o naufrágio da frota"! Eles são a favor do massacre de trabalhadores nas fileiras da marinha e do exército, e com base nisso, ganharão o apoio de massa da classe trabalhadora! Isso é uma caricatura do marxismo que, na medida em que tem algum efeito, só pode fazer o jogo dos conservadores e da direita trabalhista, permitindo-lhes retratar os 'marxistas' como idiotas que apoiam a junta argentina”. 54

 

O líder do TMI, Alan Woods, apresenta uma linha de argumento muito semelhante:

 

A diferença entre a política abstrata e o método dialético é mostrada pela evolução da posição de Lenin sobre a tática revolucionária no período de 1914 a 1917. Em agosto de 1914, a cisão na 2ª Internacional criou uma situação inteiramente nova. À luz da traição sem precedentes da social-democracia, era necessário reagrupar e reeducar as pequenas e isoladas forças do marxismo internacionalmente. Lenin nesse período deu grande ênfase aos princípios básicos do internacionalismo revolucionário, acima de tudo a impossibilidade de retornar à velha Internacional e a oposição implacável a todas as formas de patriotismo (derrotismo revolucionário). Para combater as dúvidas e vacilações dos dirigentes bolcheviques, Lenin deu a expressão mais contundente possível a essas ideias, como "transformar a guerra imperialista em guerra civil, "e" a derrota da própria burguesia é o mal menor. "Pode-se argumentar que, às vezes, exagerou. Não seria a primeira vez que, para "endireitar o pau", Lenin o dobrou demais. na outra direção. Sobre as questões fundamentais, não há dúvida de que Lenin estava certo. Mas, a menos que entendamos seu método, não apenas o que ele escreveu, mas porque ele escreveu isso, podemos terminar em uma bagunça completa.

 

Grupos de ultra-esquerda e sectários sempre repetem as palavras de Lenin sem entender uma única linha. Eles consideram seus escritos sobre a guerra algo absoluto, fora do tempo e do espaço. Eles não entendem que, neste momento, Lenin não estava escrevendo para as massas, mas para um pequeno punhado de quadros em um determinado contexto histórico. A menos que entendamos isso, podemos cometer um erro fundamental. Para combater o chauvinismo e sublinhar a impossibilidade de qualquer reconciliação com a social-democracia e, em particular, com a sua esquerda (Kautsky e o "centro"), Lenin utilizou algumas formulações indubitavelmente exageradas. Tais exageros, por exemplo, o levaram a caracterizar a posição de Trotsky como "centrismo", o que era totalmente incorreto. Confusões sem fim surgiram da interpretação unilateral da posição de Lênin nesse período.

 

Quando Lenin retornou à Rússia depois de março de 1917, ele modificou fundamentalmente sua posição. Não que sua oposição à guerra imperialista fosse menor, ou sua oposição ao chauvinismo social menos implacável. Ele continuou vigilante em relação a qualquer retrocesso por parte dos líderes bolcheviques na questão da guerra. Mas aqui não se tratava mais de uma questão de teoria, mas do movimento vivo das massas. A posição de Lenin depois de março de 1917 tinha pouca semelhança com os slogans que ele havia proposto anteriormente. Ele viu que, nas circunstâncias concretas, a massa dos operários e camponeses tinha ilusões na "defesa da Revolução", como a entendiam. Era absolutamente necessário levar isso em consideração, se os bolcheviques queriam se conectar com o verdadeiro humor das massas. Se Lenin tivesse mantido a antiga posição, sido meramente doutrinário. Teria cortado totalmente os bolcheviques do movimento real dos trabalhadores e camponeses. Apenas sectários e doutrinários desesperados poderiam deixar de ver a diferença.

 

Em um discurso aos delegados da facção bolchevique dos soviéticos, Lenin explicou:

 

"As massas abordam esta questão não do ponto de vista teórico, mas do ponto de vista prático. Nosso erro está em nossa abordagem teórica. O proletariado com consciência de classe pode consentir em uma guerra revolucionária que realmente derrube o defencismo revolucionário. Diante dos representantes dos soldados o assunto deve ser posto de uma forma prática, senão não sairá nada. Não somos pacifistas. A questão fundamental é: que classe está a fazer a guerra? A classe capitalista, ligada aos bancos, não pode travar nada que não seja uma guerra imperialista. Já a classe trabalhadora pode fazer a guerra revolucionária. (Lenin, Collected Works, Vol. 20, p. 96.).

 

Na verdade, os slogans do "derrotismo revolucionário" não desempenharam nenhum papel na preparação das massas para a revolução de outubro.” 55

 

Quase nenhuma frase desses pacifistas sociais centristas faz sentido. Esses fanfarrões, que riem das “seitas ultra-esquerdistas”, não entendem a posição de Lênin e Trotsky nem os fatos históricos. Eles dizem que a maioria da classe trabalhadora não entende e não apoia uma posição revolucionária derrotista. Os trabalhadores “não teriam abandonado os Falklanders”. Nunca se poderia ganhar os trabalhadores apelando para a derrota de “seu exército” e “seu país”. E, diz-se que o próprio Lenin abandonou o derrotismo em 1917.

 

É certamente verdade que no início da Primeira Guerra Mundial e mesmo por um período mais longo durante a guerra, a maioria da classe trabalhadora não poderia ter sido conquistada para uma posição revolucionária derrotista. Pode-se dizer igualmente que no início de uma situação revolucionária e talvez mesmo durante toda a fase, a maioria da classe trabalhadora não será conquistada por um programa socialista revolucionário. Os medrosos centristas tiram dessa possibilidade real a conclusão de que não deveriam defender abertamente uma posição revolucionária derrotista ou um programa revolucionário socialista. Os marxistas sabem que, se sua organização está em minoria, devem explicar ainda mais enérgica e pacientemente sua política revolucionária. Em vez de abandonar as ideias centrais do programa, elas devem ser resolutamente defendidas, propagadas e explicadas. Todo o argumento, de que “os trabalhadores não entendem uma posição derrotista”, apenas indica que a tarefa dos marxistas de convencer os trabalhadores de seus interesses ainda não foi cumprida. Mas os centristas à la CIT e TMI são o que Lenin chamou em “O Que Fazer?” como “ chvostists ”, ou seja, tailists. Eles se adaptam à burocracia trabalhista reformista e se desculpam por isso referindo-se à consciência política temporária, muitas vezes atrasada, da classe trabalhadora hoje. Em vez disso, a tarefa dos marxistas é servir aos interesses de sua luta de libertação e defender as tarefas necessárias para realizá-la.

 

O fato de a maioria da classe trabalhadora apoiar a defesa de sua pátria imperialista no início de uma grande guerra, não é uma exceção histórica. É antes a regra, como Lenin e Trotsky explicaram repetidamente. Ao resumir a experiência dos bolcheviques durante a Primeira Guerra Mundial, Lenin escreveu em 1922 sobre a política em relação ao movimento operário em relação a uma guerra que se aproxima: “ Devemos nos esforçar especialmente para explicar que a questão da“ defesa da pátria ”inevitavelmente surgem, e que a esmagadora maioria dos trabalhadores irá inevitavelmente decidir em favor de sua burguesia. 56

 

Trotsky também enfatizou essa ideia em seu Programa de Transição em 1938: “No início da guerra as seções da Quarta Internacional se sentirão inevitavelmente isoladas: toda guerra pega as massas nacionais de surpresa e as impele para o lado do aparelho governamental. Os internacionalistas terão de nadar contra a corrente. 57

 

Mas o que Lenin e Trotsky concluíram disso? Que não se deve pedir a derrota da própria pátria imperialista? Dificilmente! Lenin bastante enfatizado - continuando seu raciocínio na citação que acabamos de mencionar:

 

“Portanto, em primeiro lugar, é necessário explicar o que significa “defesa da pátria”. Em segundo lugar, em conexão com isso, é necessário explicar o que significa “derrotismo”. Por último, devemos explicar que o único método possível de combater a guerra é preservar as organizações existentes e formar novas organizações ilegais nas quais todos os revolucionários que participam de uma guerra desenvolvam atividades antiguerra prolongadas - tudo isso deve ser colocado na linha de frente.” 58

 

Da mesma forma, Trotsky não concluiu das dificuldades dos revolucionários em nadar contra a corrente para abandonar as posições revolucionárias derrotistas, mas antes confirmou esses princípios no programa da Quarta Internacional:

 

“O conteúdo fundamental da política do proletariado internacional será consequentemente uma luta contra o imperialismo e sua guerra. Nesta luta, o princípio básico é: “o principal inimigo está em seu próprio país” ou “a derrota de seu próprio governo (imperialista) é o mal menor”. (…) Será dever do proletariado internacional ajudar os países oprimidos em sua guerra contra os opressores. O mesmo dever se aplica em relação a ajudar a URSS, ou qualquer outro governo operário que possa surgir antes ou durante a guerra. A derrota de todos os governos imperialistas na luta com o estado operário ou com um país colonial é o mal menor. 59

 

Além disso, se a maioria da classe trabalhadora ainda se mobiliza em defesa de sua pátria imperialista, a tarefa dos marxistas é primeiro ganhar e consolidar a vanguarda da classe para uma posição revolucionária derrotista. Os bolcheviques certamente se concentraram em 1914-16 em conquistar a vanguarda para uma posição revolucionária derrotista consistente enquanto, ao mesmo tempo, tentavam influenciar tanto quanto possível a massa dos trabalhadores nessa direção. Só depois de terem alcançado a consolidação revolucionária da vanguarda, eles puderam começar a conquistar as massas. 60 Mas o CIT e o TMI nem mesmo tentaram ganhar a vanguarda do derrotismo revolucionário. Eles se desculpam referindo-se ao problema de que “os trabalhadores não entendem isso”. Como se o CIT e o TMI fossem confrontados com a tarefa de ganhar a maioria da classe trabalhadora! Eles nunca foram tão fortes quanto os bolcheviques, mesmo em sua fase mais fraca! Antes de convencerem o desafio de vencer a maioria da classe trabalhadora, eles deveriam tentar ganhar alguns milhares de trabalhadores de vanguarda para o derrotismo revolucionário em uma guerra! Eles não fizeram e eles não podiam. Por quê? Porque eles próprios, os dirigentes e provavelmente muitos dos seus membros que foram treinados durante anos no oportunismo, não partilhavam de uma posição marxista na guerra imperialista! Esta é a verdade que os dirigentes do CIT e do TMI tentam esconder atrás de suas frases sobre o que os trabalhadores entendem e não entendem!

 

Portanto, quando os líderes do CIT e do TMI dizem que Lenin formulou políticas apenas para "pequeno círculo de marxistas", respondemos: "deixando de lado que isso não é verdade (como mostraremos a seguir), mesmo que ele tenha feito apenas isso, ele fez mais do que você porque você nem mesmo ganhou seu próprio “pequeno círculo de marxistas” para o derrotismo revolucionário! ”

 

Mas, como dissemos, mesmo sua apresentação da política de Lenin durante a Primeira Guerra Mundial é uma falsificação histórica. Os bolcheviques levantaram as palavras de ordem do derrotismo não apenas em cartas e contribuições teóricas, mas em suas declarações públicas que foram distribuídas ilegalmente nas fábricas. Em seu primeiro Manifesto público, A Guerra e a Social-Democracia Russa, escrito em setembro de 1914, o Comitê Central declarou à classe trabalhadora:

 

Mas para nós, social-democratas russos, não pode haver a menor dúvida de que, do ponto de vista da classe trabalhadora e das massas trabalhadoras de todas as nações da Rússia, a derrota da monarquia czarista, o mais reacionário e bárbaro dos governos, que está oprimindo o maior número de nações e a maior massa da população da Europa e da Ásia, seria o mal menor. Eles concluíram: “A conversão da atual guerra imperialista em uma guerra civil é o único slogan proletário correto. 61

 

Lembremos como o CIT / TMI justificou seu fracasso em pedir a retirada imediata da Marinha Britânica e o fim da guerra durante a aventura nas Malvinas do governo Conservador. Eles argumentaram: “Forçar a retirada da Força-Tarefa teria envolvido a organização de uma greve geral, que por si mesma colocaria a questão da chegada ao poder de um governo socialista. Ainda assim, no início da guerra, tal demanda não teria recebido nenhum apoio dos trabalhadores britânicos. (…) Nem o apelo para parar a guerra ou para retirar a frota teria fornecido uma base para uma campanha em massa de manifestações, reuniões e agitação. 62

 

Os bolcheviques agiram de maneira muito diferente. Alexander Shlyapnikov, um de seus líderes durante o período da guerra, relatou em sua lembrança do trabalho dos bolcheviques durante a Primeira Guerra Mundial sobre a agitação anti-guerra do partido nas ruas e nas fábricas. Ele cita um folheto, publicado pelo Comitê de Petersburgo do partido no início da guerra:

 

“'Abaixo a guerra! ' 'Guerra à guerra!' deve rolar poderosamente pela cidade e pelo vilarejo em toda a extensão de nossa Rússia. Os trabalhadores devem lembrar que eles não têm inimigos na fronteira: em todos os lugares a classe trabalhadora é oprimida pelos ricos e pelo poder dos proprietários. Em toda a parte, é oprimido pelo jugo da exploração e pelas cadeias da pobreza. (...) Sem ter tempo para lavar o sangue dos trabalhadores das ruas de Petersburgo e ainda ontem rotulando toda a Petersburgo da classe trabalhadora, bem como todos os trabalhadores da Rússia como "inimigos internos" contra os quais cossacos selvagens e polícia mercenária entraram em ação, eles agora clamam pela defesa da pátria. Soldados e trabalhadores! Você está sendo chamado para morrer pela glória do chicote cossaco e pela glória de uma pátria que atira camponeses e trabalhadores famintos e estrangula seus melhores filhos na prisão. Não, não queremos a guerra, você deve declarar. Queremos a liberdade da Rússia. (…) Abaixo a guerra, abaixo o governo czarista! Vida longa à revolução! 63

 

Em outro folheto, no outono de 1914, eles chamaram os trabalhadores para se organizarem e obterem armas para a luta que se aproximava. 64

 

Ao contrário das falsificações históricas dos centristas do CIT e do TMI, Lenin enfatizou a necessidade de explicar as posições revolucionárias derrotistas não apenas para a vanguarda, mas também para as massas. Essa foi uma das razões pelas quais ele considerou importante o trabalho dos deputados bolcheviques na Duma e seu papel no julgamento contra eles após sua prisão. Ele até os criticou por não defenderem a posição derrotista revolucionária com força suficiente. No entanto, ele elogiou o resultado do julgamento por espalhar as palavras revolucionárias sobre "virar as armas contra o governo imperialista" para as massas:

 

“Os fatos mostram que, nos primeiros meses após a eclosão da guerra, a vanguarda com consciência de classe dos trabalhadores da Rússia se reuniu, de fato, em torno do Comitê Central e do Órgão Central. Por mais desagradável que este fato possa ser para certos “grupos”, é inegável. Graças ao julgamento, as palavras citadas na acusação: “As armas devem ser dirigidas, não contra nossos irmãos, os escravos assalariados de outros países, mas contra os governos e partidos reacionários e burgueses de todos os países” - essas palavras se espalharão— e já o fizeram - em toda a Rússia como um apelo ao internacionalismo proletário, à revolução proletária. Graças ao julgamento, a palavra de ordem de classe da vanguarda dos trabalhadores da Rússia chegou às massas. 65

 

Alan Woods afirma que Lenin “modificou fundamentalmente sua posição” em 1917 e que “a questão da guerra ... não era mais uma questão de teoria, mas do movimento vivo das massas”. Na verdade, a questão da guerra era, já antes de 1917, não apenas uma questão de teoria, mas também do “movimento vivo das massas”. Mas as próprias massas mudaram. Embora estivessem relativamente atrasados e passivos em 1914-17, eles encenaram um levante revolucionário em fevereiro de 1917 e derrubaram o regime czarista. Disto surgiu um novo governo que dependia fortemente das massas revolucionárias e no qual essas massas tinham grandes ilusões no início. As massas tornaram-se - como Lenin as chamou - “defensores honestos da pátria” porque eles queriam defender sua revolução. É por isso que os bolcheviques concretizaram os slogans para a nova situação sem, entretanto, abandonar o derrotismo revolucionário como os centristas sugerem.

 

Nenhuma dessas especificidades da Revolução Russa em 1917 é relevante para a situação na Grã-Bretanha durante a Guerra das Malvinas em 1982 ou qualquer outra guerra desde então. Não havia uma situação revolucionária, nem as massas queriam defender uma revolução, nem o CIT ou o TMI tinham qualquer influência entre as massas como os bolcheviques tinham. Além disso, a Grã-Bretanha não estava envolvida em uma guerra imperialista interna onde os revolucionários lutavam - como os bolcheviques durante a Primeira Guerra Mundial - pela derrota de ambos os lados, mas sim em guerras imperialistas contra países semicoloniais. Em tais guerras - como a Quarta Internacional afirmou em seu Programa de Transição - “o dever do proletariado internacional é ajudar os países oprimidos em sua guerra contra os opressores.

 

No entanto, em vez de compreender o método da Quarta Internacional, os centristas continuam sua tentativa de falsificar a posição de Trotsky sobre as guerras imperialistas no mundo colonial. É assim que eles relativizam o princípio de defesa de Trotsky dos países semicoloniais contra o imperialismo:

 

“Não contentes em distorcer Lenin, as seitas também arrastam Trotsky para apoiar sua posição ridícula. Não disse Trotsky pouco antes da Segunda Guerra Mundial - argumentam as seitas - que, em caso de guerra entre a Grã-Bretanha e o Brasil, "neste caso estarei do lado do Brasil 'fascista' contra a Grã-Bretanha 'democrática". Trotsky fez essa observação em 1938 em uma entrevista com Mateo Fossa, o líder dos partidários de Trotsky na (por acaso) Argentina. (A entrevista foi publicada em Writings of Leon Trotsky, 1938-39, pp31-36)

 

Mais uma vez, os pseudomarxistas tomaram as observações de Trotsky completamente fora de contexto, sem analisar a situação ou o raciocínio de Trotsky. Ele estava obviamente lidando com um caso hipotético. Mas ele formulou sua posição agudamente dessa forma a fim de se opor à ideia, então propagada pela liderança stalinista do Comintern e dos partidos "comunistas" do mundo, de que a luta da "democracia" contra o "fascismo" deveria ter prioridade sobre uma luta revolucionária contra o imperialismo. No interesse dos acordos diplomáticos da burocracia russa com as classes dominantes das democracias capitalistas, a luta revolucionária internacional foi adiada indefinidamente.

 

Trotsky explicou que na próxima guerra mundial - que ele previu claramente a partir de meados da década de 1930 - a classe capitalista, se confrontada com uma crise agravada e crescente oposição ao seu governo, poderia facilmente tirar sua máscara democrática e recorrer ao fascismo totalitário formas de governo. Por outro lado, em países coloniais ou semicoloniais, a guerra poderia estimular movimentos revolucionários dos trabalhadores e camponeses explorados que poderiam derrubar regimes fascistas.

 

No caso da guerra entre a Grã-Bretanha e o Brasil, “Se a Inglaterra sair vitoriosa, ela porá outro fascista no Rio de Janeiro, e colocará correntes duplas no Brasil. Se o Brasil, ao contrário, vencesse, daria um poderoso impulso para a consciência nacional e democrática do país e levará à derrubada da ditadura de Vargas. A derrota da Inglaterra irá ao mesmo tempo desferir um golpe no imperialismo britânico e dar um impulso ao movimento revolucionário do proletariado britânico”. (p34) Mesmo neste caso hipotético, Trotsky analisou claramente os processos prováveis e as perspectivas alternativas que seriam abertas. Mesmo assim, diante de uma guerra real no Atlântico Sul na atualidade, as seitas pseudomarxistas são incapazes de analisar os reais interesses de classe ou processos envolvidos. 66

 

O CIT diz que “as observações de Trotsky tratam de um caso hipotético”. Isso é verdade. Ele mesmo disse. Mas o que eles querem sugerir? Querem dizer que em guerras concretas e reais Trotsky não estava preparado para defender os países semicoloniais, que tinham um regime reacionário no topo, contra o imperialismo?! Mas Trotsky também defendeu a China sob o reacionário Chiang Kai-cheque contra o Japão e a Etiópia sob o rei Haile Selassie contra a Itália!

 

Eles sugerem que a posição de Trotsky foi influenciada pela possibilidade de que “a classe capitalista, se confrontada com uma crise agravada e crescente oposição ao seu governo, poderia facilmente tirar sua máscara democrática e recorrer a formas totalitárias fascistas de governo.” Os líderes do CIT querem seriamente sugerir que se eles não pudessem facilmente tirar sua máscara democrática e recorrer ao fascismo, Trotsky teria preferido não defender o Brasil?! Que sugestão absurda! Como mostramos acima, Lenin, Trotsky e a Internacional Comunista também apoiaram rebeliões anticoloniais sob lideranças islâmicas e ditatoriais contra a França imperialista “democrática” e a Grã-Bretanha! E em oposição às sugestões do CIT, esta posição anti-imperialista de princípio também não estava de forma alguma relacionada com a possibilidade de outra guerra mundial no futuro próximo.

 

O CIT escreve que “em países coloniais ou semicoloniais, a guerra poderia estimular movimentos revolucionários dos trabalhadores e camponeses explorados que poderiam derrubar regimes fascistas. “Sim, de fato foi o que aconteceu na Argentina em 1983 após a Guerra das Malvinas. Novamente, isso dificilmente é um argumento de que o método anti-imperialista de Trotsky não seja aplicável hoje!

 

Assim, vemos que a interpretação do CIT e do TMI da posição marxista clássica sobre o derrotismo revolucionário é baseada em uma falsificação completa. No entanto, não é uma falsificação acidental. Toda a tradição de Ted Grant, que formou tanto o CIT de Peter Taffee quanto o Alan Woods TMI, é marcada pela adaptação sistemática aos preconceitos ideológicos da burocracia reformista. Daí o absurdo do CIT / TMI da transformação pacífica do capitalismo em socialismo, a estranha ideia da possibilidade de tal transformação por meio de uma "maioria socialista" no parlamento burguês, a caracterização de policiais e mulheres como "trabalhadores uniformizados" e em breve. 67 Este oportunismo de extrema direita também encontra naturalmente sua expressão na questão das guerras imperialistas, que é uma das formas mais agudas de contradição de classe.

 

 

 

CRM / TMRI: Rejeição ao Anti-imperialismo com Roupagens Ultra-esquerdistas

 

 

 

O Comitê para o Renascimento Marxista (CRM), com base na Grã-Bretanha, e seu principal componente, a tendência marxista revolucionária iraniana exilada (TMRI), segue uma tática em conflitos entre imperialismo e semicolônias que soa mais à esquerda do que as do CIT / TMI, mas em suas conclusões práticas chega ao mesmo resultado. Não é por acaso que o CRM fez parte do TMI de Alan Wood durante anos.

 

Como mostramos no capítulo 9, o CRM / TMRI afirma que a divisão do mundo por Lênin e Trotsky em países imperialistas e (semi-) coloniais, opressores e oprimidos não é mais exata hoje. Eles concluem disso - como enfatizaram em uma polêmica contra a CCRI no início de 2012:

 

“Portanto, quando um país está ameaçado de alguma forma, a esquerda internacional não deve procurar defender a soberania nacional ou a integridade territorial desses países.” 68

 

Isso significa que nas guerras das últimas duas décadas o TMRI se recusou a defender os países sob ataque do imperialismo:

 

“Em 1990-91 não nos aliamos ao regime Baath contra o imperialismo dos EUA. Apoiamos as massas iraquianas contra o imperialismo e seu fantoche local.” 69

 

Da mesma forma, o TMRI afirma que foi errado defender o Iraque em 2003 contra o ataque dos EUA ou defender o Irã de um possível ataque futuro dos EUA e / ou Israel.

 

“Em lugares como Iraque ou Irã, portanto, a classe trabalhadora deve liderar as massas na formação de um terceiro campo independente - nem com sua 'própria' burguesia em defesa de um 'interesse nacional', nem com o imperialismo. Esta é uma frente única dos trabalhadores e de todas as camadas exploradas e oprimidas da sociedade. Não deve ser apenas anti-imperialista, mas também lutar pela derrubada do capitalismo por meio de demandas transitórias como o controle dos trabalhadores.

 

Exortaria todas as organizações internacionais de esquerda ou progressistas a lhe dar apoio para fazer dessa frente independente e verdadeiramente revolucionária uma alternativa real aos outros dois campos. Em vez de convocar os trabalhadores para o exército da burguesia marionete reacionária, os marxistas deveriam convocar os trabalhadores convocados para o exército a atirar em seus oficiais, formar conselhos de soldados, armar as massas com armamento pesado para defender suas fábricas e bairros , para treinar as massas em habilidades militares a um alto nível e para conduzir uma guerra revolucionária contra o imperialismo e a burguesia local. ” 70

 

Como vemos, esta é uma conclusão prática muito semelhante à que chegaram os centristas da corrente dominante no Ocidente. No entanto, a forma como a tática é formulada é ultra-esquerdista. A posição anti-imperialista dos bolcheviques-comunistas - “Defender as semicolônias e virar as armas dos soldados dos exércitos imperialistas contra seus inimigos internos” - não é suficiente para o TMRI. “Queremos atirar nos oficiais do exército semicolonial também e travar uma guerra revolucionária contra o imperialismo e a burguesia local” dizem os ultra-esquerdistas. Por quê? Porque eles afirmam que não importa se o Sul é totalmente dominado pelos monopólios imperialistas ou se o controle dos monopólios imperialistas é enfraquecido enquanto a burguesia semicolonial ainda governa. O capitalismo é sempre ruim, então enquanto não tivermos socialismo, não nos importamos com as condições concretas pelas quais a classe trabalhadora e as massas populares são oprimidas e exploradas. Essa é a lógica do CRM / TMRI.

 

Como citamos acima, os camaradas dizem que “não se deve defender a soberania nacional ou a integridade territorial desses países”. Por quê? Porque tais países são governados por uma classe dominante burguesa e reacionária. Com a mesma lógica, pode-se dizer que quando há uma rebelião popular sob, digamos, uma liderança islâmica, ou se há uma luta de libertação nacional sob, digamos, uma grande liderança de proprietários de terras curdos, os marxistas não deveriam apoiá-los. porque essas são lideranças reacionárias. Em vez disso, eles devem lutar contra os dois ao mesmo tempo. Não deve passar despercebido que os membros britânicos do CRM (que vêm do TMI) têm uma longa história de entrismo profundo no Partido Trabalhista. Eles defenderam veementemente sua liderança completamente podre e burguesa contra todos os ataques dos conservadores. Eles fizeram campanha para trazer esta liderança trabalhista para o governo do estado imperialista britânico, um governo - lembremos nossos camaradas - que lançou pacotes de austeridade massivos contra a classe trabalhadora e que lançou os ataques à Sérvia em 1999, Afeganistão em 2001 e Iraque em 2003 e que apoiou a guerra de Israel no Líbano em 2006. Embora eles não tenham o mínimo problema com tal tática, eles nunca poderiam defender um país semicolonial contra um ataque imperialista porque ... ele tem uma liderança reacionária! Poderia esta política inconsistente - para colocá-lo educadamente - estar conectada com o fato de que este grupo está localizado na Grã-Bretanha?

 

Como mostramos, Lênin e Trotsky defenderam países semicoloniais que tinham um governo reacionário (até mesmo “semifascista”) contra os ataques imperialistas. Temos certeza de que os principais dirigentes do CRM / TMRI estão bem cientes da posição clássica de Leon Trotsky. Eles estão vivendo na Grã-Bretanha no exílio por mais de duas décadas e têm feito parte da liderança de duas organizações “trotskistas” internacionais (a Quarta Internacional Mandelista e Alan Woods TMI) e, portanto, certamente têm acesso aos Escritos de Trotsky. Mas, apesar desse fato, eles optam por ignorar completamente a posição de Trotsky na luta de libertação nacional da China semicolonial na década de 1930 e a posição que ele assumiu em relação à luta que ocorreu sob a liderança de Chiang-Kai-shek. Quando criticamos os camaradas por seu fracasso no anti-imperialismo, eles apresentam em sua resposta um - mais uma vez dizemos educadamente - argumento extraordinário em defesa:

 

“Para os marxistas revolucionários, a palavra 'Irã' não tem sentido, a menos que seja específica e concreta em termos de tempo e classe. A defesa de Trotsky do Brasil ou da Etiópia foi uma defesa do estado burguês desses países contra a agressão imperialista - numa época em que tal estado era um novo desenvolvimento. Mas quando as organizações "trotskistas" de hoje usam os argumentos de Lenin e Trotsky de mais de cem anos atrás ou mesmo nos anos 1930 que se relacionam com a "burguesia nacional", elas ficam (com razão) envergonhadas de dizer que defendem o estado iraniano totalmente reacionário contra um ataque imperialista. Então, eles apenas usam a palavra 'Irã' para minimizar seu constrangimento! Esta é certamente uma abordagem 'oportunista' em relação a uma questão tão importante.” 71

 

Vemos que não só o programa marxista, mas também o conhecimento da história tem um triste destino nas páginas das publicações do CRM / TMRI. Lembremos aos camaradas que nem para o Brasil nem para a Etiópia ter um Estado burguês “era uma novidade”. A Etiópia sempre foi um estado independente que poderia se defender contra os apetites dos impérios coloniais até 1936 - também devido ao fato de ter derrotado os imperialistas italianos em avanço na batalha de Adwa no dia 1º. Março de 1896 sob a liderança do Imperador Menelik II (podemos ter certeza de que ele também foi reacionário). O Brasil se tornou independente de Portugal em 1821-24 e na mesma época os povos de todo o continente da América Latina expulsaram a ocupação espanhola, ou seja, mais de 110 anos antes de Trotsky expressar sua posição de apoio ao Brasil (bem como ao México) contra Imperialismo britânico. Tanto para o “novo desenvolvimento” que os camaradas CRM / TMRI inventam em defesa de uma posição desesperadora e sem defesa.

 

Mas é claro que a principal falha dos camaradas do CRM / TMRI não é a falta de conhecimento histórico, mas a falta de um método marxista. Eles afirmam que tais conflitos entre imperialismo e semicolônias são sobre uma “questão abstrata de integridade territorial”. Isso está totalmente errado. A questão da independência nacional está sempre relacionada à questão de classe. Esses conflitos, portanto, são sobre a relação de forças entre as classes.

 

* É sobre a relação de forças entre o capital monopolista imperialista e a burguesia semicolonial. Quanto mais a burguesia imperialista conseguir subordinar a burguesia semicolonial, melhor será sua posição para super-explorar o Sul, deformar os mercados internos das semicolônias e extrair os superlucros. Quanto mais as pessoas do mundo semicolonial conseguirem enfraquecer o domínio imperialista - mesmo que já não possam derrubar o capitalismo como tal - melhores se tornarão suas condições para a luta futura pela libertação socialista.

 

* É sobre a relação de forças entre a burguesia imperialista e a classe trabalhadora nos países imperialistas. As derrotas da burguesia imperialista contra os países semicoloniais enfraquecem os monopólios. Se os imperialistas perdem em um conflito com os países semicoloniais, eles têm menos recursos materiais para subornar a aristocracia operária ou para integrar a classe média a fim de usá-los contra a classe trabalhadora. Além disso, eles são politicamente e ideologicamente humilhados aos olhos das massas - não apenas em todo o mundo, mas também nas próprias metrópoles.

 

* É sobre a relação de forças entre a burguesia semicolonial e a classe trabalhadora nos países semicoloniais. Não é óbvio que o fortalecimento da superexploração imperialista do mundo semicolonial na era da globalização neoliberal não só enfraqueceu a posição da burguesia semicolonial contra os monopólios imperialistas, mas também agravou a situação dos trabalhadores classe no Sul?! Como mostramos acima, esse foi realmente o caso.

 

Como já observamos acima, o CRM / TMRI segue uma versão do “economismo imperialista”. Eles dizem que" a esquerda internacional não deve procurar defender a soberania nacional ou a integridade territorial desses países" e, em seguida, justificam isso referindo-se às posições opostas de Lenin e Trotsky de que nas décadas de 1920 e 1930"tal estado (semi-colonial, MP) era um novo desenvolvimento”. Como sabemos, Lenin criticou duramente os bolcheviques ultra-esquerdistas Pyatakov, Bosch e Bukharin quando eles argumentaram que a defesa das nações oprimidas era inútil e errada na então nova época do imperialismo. No entanto, em defesa dos ultra-esquerdistas bolcheviques, pode-se dizer que em 1914-1918 essa questão era nova, como era a época como tal. Os camaradas CRM / TMRI, entretanto, não têm tal desculpa. Já estamos na época imperialista há mais de 100 anos e acumulamos muita experiência com a opressão e as guerras imperialistas. Embora os camaradas não adotem formalmente a posição de Pyatakov e outros, eles afirmam que tal economismo imperialista se justifica no período desde a Segunda Guerra Mundial, quando os países coloniais se tornaram semicolônias. Podemos, portanto, chamar o método do CRM / TMRI de "economismo imperialista 2.0".

 

Ambas as versões do economicismo imperialista têm em comum o fato de ignorarem a natureza extraordinariamente contraditória e multifacetada da época imperialista. Embora esses centristas vejam esta época como uma época de suavização das contradições, uma simplificação da contradição entre capitalistas e trabalhadores apenas, preferimos seguir o entendimento de Lenin. Vemos a época imperialista como um período em que as contradições de classe se acentuam, tornam-se mais explosivas, onde se aglutinam diferentes formas de contradições já existentes e emergem novas contradições. Só assim a época imperialista pode ser entendida de um modo dialético-materialista como uma “totalidade das múltiplas relações desta coisa com os outros. 72

 

Por isso, Lenin destacou em sua polêmica contra os economistas imperialistas que com o desenvolvimento do capitalismo a questão nacional e sua natureza explosiva também aumentam:

 

A maior parte das nações dependentes da Europa são capitalisticamente mais desenvolvidas do que as colônias (…). Mas é justamente isso que gera maior resistência à opressão e anexações nacionais!” 73

 

Além disso, Lenin estava certo quando escreveu que “O imperialismo é a época da opressão constantemente crescente das nações do mundo por um punhado de “Grandes Potências”; portanto, é impossível lutar pela revolução socialista internacional contra o imperialismo, a menos que o direito das nações à autodeterminação seja reconhecido. “Nenhuma nação pode ser livre se oprime outras nações” (Marx e Engels). Um proletariado que tolera a menor coerção de outras nações por sua “própria” nação não pode ser um proletariado socialista.” 74

 

Iludidos por seu economismo imperialista, os camaradas do CRM / TMRI infelizmente não conseguem entender isso. Eles, portanto, se encontram nas alianças mais embaraçosas com o grupo britânico Aliança pela Liberdade dos Trabalhadores (ALT). O ALT é uma forma particular de direita de centrismo que apoia a existência de Israel. Não só eles nunca poderiam vir a apoiar o povo colonial que é oprimido pelo “seu” imperialismo britânico: nem os irlandeses, nem na guerra das Malvinas, nem em qualquer guerra do Oriente Médio. Pior ainda, seu líder histórico, Sean Matgamna, até escreveu em seu jornal que dificilmente se poderia criticar o Estado de apartheid sionista arqui-reacionário de Israel se atacasse o Irã! Tal Matgamna escreveu em 2008:

 

“Não defendemos um ataque israelense ao Irã, nem o endossaremos ou assumiremos responsabilidade política por ele. Mas se a força aérea israelense tentar impedir o Irã de desenvolver a capacidade de eliminá-lo com uma bomba nuclear, em nome de que alternativa condenaríamos Israel?” 75

 

Que papel pode uma organização desempenhar na luta de classes cujos líderes implicitamente estão do lado do cão de guarda mais reacionário do imperialismo contra um país semicolonial que é estrangulado pelas grandes potências ocidentais?! Mas os camaradas do CRM / TMRI estão tão cegos por sua ignorância ultra-esquerdista que acabam na cama com o centrista de direita sionista do ALT. Um desenvolvimento triste, mas não acidental.

 

 

 

1 Em língua alemã, já publicamos uma série de estudos críticos sobre o fracasso dos centristas em seu dever anti-imperialista. Ver, por exemplo: Michael Pröbsting: „ Partido da Esquerda Europeia, CIT e a Guerra do Líbano: A esquerda pequeno-burguesa como servos disfarçados do imperialismo ”(Marxismo Revolucionário Nr. 36, 2006, http://www.thecommunists.net/theory/libanon-krieg -und-linke ; Martin Suchanek: Berliner Linkspartei unterstützt zionistische Kriegshetzer, http://www.arbeitermacht.de/infomail/403/berlinerlinkespartei.htm ; Roman Birke “Partido da Esquerda Europeia e KPÖ: O processo de degeneração é evidente em Kosova-François; Michael Pröbsting "O conflito do Chade e a esquerda: falso anti-imperialismo camuflado com frases marxistas", em "Sob a bandeira da revolução “Nr. 2/3 (abril de 2008), http://www.thecommunists.net/theory/tschad-intervention-und-linke ; Michael Pröbsting: A traição da 'esquerda' na guerra de Gaza; em: Sob a bandeira da revolução,Nr. 4 (2009), http://www.thecommunists.net/theory/gaza-krieg-und-linke

 

2 Lynn Walsh: Guerra das Malvinas: que lições para o movimento sindical? em: Militant International Review, Nr. 22, Juni 1982 (reimpresso em: Socialism Today, Nr. 108, abril de 2007, http://www.socialismtoday.org/108/falklands.html )

 

3 Lynn Walsh: Guerra das Malvinas: que lições para o movimento sindical?

 

4 Roger Shrives: Falklands / Malvinas 1982 - Thatcher War Of Saving Face, The Socialist (CWI) 3 de maio de 2002, http://www.socialistparty.org.uk/html_article/2002-252-index#article4

 

5 Peter Taaffe: The Rise of Militant, Londres 1995, Capítulo 20 “The Falklands / Malvinas War”, http://socialistalternative.org/literature/militant/

 

6 Peter Taaffe: The Rise of Militant, Londres 1995, Capítulo 20 “The Falklands / Malvinas War”

 

7 Peter Taaffe: The Rise of Militant, Londres 1995, Capítulo 20 "The Falklands / Malvinas War"

 

8 Ver Workers Power: Communism and the test of War. A esquerda e as Malvinas; in: Workers Power No. 33, junho de 1982

 

9 Ver Alex Callinicos: Marxism and Imperialism today, em: A. Callinicos, J. Rees, C Harman & M. Haynes: Marxism and the New Imperialism, Londres 1994, p. 45

 

10 Alex Callinicos: Marxism and Imperialism today, pp. 50-51

 

11 Duncan Hallas: Socialism and war (1982), Socialist Review 82:05, maio de 1982; http://www.marxists.org/archive/hallas/works/1982/05/socwar.htm

 

12 Chris Harman: Analyzing Imperialism (2003); em: International Socialism 2:99, verão de 2003, p. 78, http://pubs.socialistreviewindex.org.uk/isj99/harman.htm , http://www.marxists.org/archive/harman/2003/xx/imperialism.htm

 

13 Leo Trotzki: Stalin - Eine Biographie , München 1952, pp. 246-247; em inglês: Leon: Trotsky: Stalin - Uma Avaliação do Homem e sua Influência (1940), Capítulo VI: Guerra e Exílio, http://www.marxists.org/archive/trotsky/1940/xx/stalin/ch06. htm

 

14 Wolfram Klein: Hintergründe der kolonialen Revolution (1991); em: Die koloniale Revolution, Herausgegeben von Stuttgarter VORAN-Unterstützern (1991), p. 6

 

15 Paul Morris: A esquerda e a guerra: o teste ácido; em: Workers Power No. 139 (fevereiro de 1991), p. 14

 

16 Workers Power (Grã-Bretanha): Movimento Anti-Guerra: Onde Agora ?; em: Workers Power No. 139 (fevereiro de 1991), p. 6

 

17 Leon Trotsky: War and the Fourth International (1934); em: Writings of Leon Trotsky 1933-34, p. 311

 

18 Ver PCF: L'intervenção militaire française comporte de grands risques de guerre (12.1.2013), http://www.pcf.fr/33977 ; PCF: C'est le Mali qu'il faut reconstruire, (11.1.2013), http://www.pcf.fr/33940

 

19 Ver Gregor Gysi: Die Haltung der deutschen Linken zum Staat Israel, Vortrag von Dr. Gregor Gysi auf einer Veranstaltung "60 Jahre Israel" der Rosa-Luxemburg-Stiftung am 14.4.2008, http://www.juedische.at/TCgi /_v2/TCgi.cgi?target=home&Param_Kat=3&Param_RB=33&Param_Red=9722

 

20 Ver, por exemplo, reunião do Conselho Executivo da EL: A ELP condena a violenta escalada do governo de Israel na Faixa de Gaza e insta a UE a reconhecer o Estado da Palestina, Copenhague, 2012-11-17 / 18, http: //www.european- left.org/nc/english/home/news_archive/news_archive/zurueck/latest-news-home/artikel/the-elp-condems-the-violent-escalation-by-the-israel-government-in-gaza-strip- e-urges-the-eu-to-re /

 

21 ELP: Cessar-fogo agora! Stop the war !, Berlin, 10 de janeiro de 2009, http://www.european-left.org/nc/english/news/news_archive/news_archive/zurueck/latest-news-home/artikel/ceasefire-now-stop-the -war-el-mobilize-for-peace /

 

22 Secretariado do Conselho Executivo da ELP: Cessar-fogo agora! Stop the war !, Bruxelas, 29 de dezembro de 2008

 

23 Europäische Linkspartei: Appell der Europäischen Linken an die Staatschefs in Europa, 1. Agosto de 2006; http://www.european-left.org/Members/mherberg/pressrelease.2006-08-01.7915015341-de?set_language=de&cl=de ; ver também Gregor Gysi: Krieg ist eine Höchstform von Terror, 19.09.2006, http://www.linksfraktion.de/rede.php?artikel=1386814495

 

24 Ver Gregor Gysi: Die Haltung der deutschen Linken zum Staat Israel, Vortrag von Dr. Gregor Gysi auf einer Veranstaltung "60 Jahre Israel" der Rosa-Luxemburg-Stiftung am 14.4.2008, http://www.juedische.at/TCgi /_v2/TCgi.cgi?target=home&Param_Kat=3&Param_RB=33&Param_Red=9722

 

25 Consulte o site da campanha http://stopthebomb.net . A convocação em alemão pode ser encontrada aqui: http://www.stopthebomb.net/img/anzeige_falter.pdf . Um relatório em um jornal diário burguês sobre uma reunião pública desta campanha em que um chamado para um ataque nuclear preventivo contra o Irã foi emitido pode ser encontrado aqui: András Szigetvari: Kriegsdrohungen aus dem Hörsaal, DER STANDARD, 5.5.2008, http : //derstandard.at/? url = /? id = 3325059

 

26 Publicamos várias declarações sobre o apoio vergonhoso dos políticos da PEE a essa campanha de guerra. Ver, por exemplo, Michael Pröbsting: KPÖ-Baier unterstützt neokonservative Anti-Iran-Kampagne. Wie tief kann man sinken? Kommentar zur Unterstützung des KPÖ-Funktionärs Walter Baier für die neokonservative „STOP THE BOMB“ -Kampagne gegen den Iran (2007), http://arbeiterinnenstandpunkt.net/phpwcms/index.php?id=25.348,0,0,1, 0 ; Michael Pröbsting: Atomkriegstreiber hetzen auf der Wiener Universität: Es ist höchste Zeit, den antinationalen Kriegshetzern Einhalt zu gebieten! 30.10.2008, http://arbeiterinnenstandpunkt.net/phpwcms/index.php?id=25,436,0,0,1,0

 

27 Veja LINKE weist Antisemitismus-Vorwürfe zurück. Der Parteivorstand der LINKEN hat am 21. Mai 2011 ohne Gegenstimmen die folgende Erklärung verabschiedet: http://www.die-linke.de/partei/organe/parteivorstand/parteivorstand20102012/beschluesse/linkeweistantisemitismusvorwuerfezurueck/ ; Grupo Parlamentar do LINKE: Entschieden gegen Antisemitismus, 8. Juni 2011, http://www.die-linke.de/nc/dielinke/nachrichten/detail/artikel/entschieden-gegen-antisemitismus

 

28 Ver: Ken Olende (SWP): O ataque francês ao Mali é um empreendimento imperialista, http://www.socialistworker.co.uk/art.php?id=30307 ; O racismo dos governantes mascara a guerra imperialista no Mali, http://www.socialistworker.co.uk/art.php?id=30351 , ambos os artigos foram publicados como Editorials in Socialist Worker Issue: 2336, 19.1.2013; SWP: Milhares de tropas francesas em 'reconquista total' do Mali, Socialist Worker Issue: 2337, 26 de janeiro de 2013, http://socialistworker.co.uk/art.php?id=30390 ; Ken Olende (SWP): Cameron junta-se à guerra imperialista da França no Mali, Socialist Worker Issue: 2338, 2 de fevereiro de 2013, http://socialistworker.co.uk/art.php?id=30455 . Consulte também a declaração NPA: NÃO! à intervenção militar francesa no Mali, 14 de janeiro de 2013, http://www.internationalviewpoint.org/spip.php?article2862

 

29 John Rees: Imperialism and Resistance, Routledge, 2006, p. 225, citado em: Alec Abbott; Kautskyism past and present, Volume 1: Modern-day Kautskyism (2007), p. 21, http://www.rosclar.webspace.virginmedia.com

 

30 Para mais informações, consulte Michael Pröbsting: Áustria: Viena era a cidade anti-Bush !, 24.06.2006, http://www.fifthinternational.org/content/austria-vienna-was-anti-bush-city

 

31 Nós nos tornamos figuras odiadas para as forças pró-sionistas, reformistas e “anti-alemãs” por causa da posição anti-imperialista consistente e da prática de nossa organização. O autor deste livro já foi condenado pela corte burguesa em 2006 por participação em atividades anti-imperialistas, o que interrompeu uma reunião de forças pró-sionistas que convocavam a guerra contra o Irã. Uma chamada da frente única em solidariedade a Michael Pröbsting pode ser encontrada aqui : Gegen die Kriminalisierung der demokratischen und antiimperialistischen Kräfte! Für das Recht auf Meinungsfreiheit! (Abril de 2006) http://arbeiterinnenstandpunkt.net/alt/unterstuetzung_proebsting.html ; O então presidente do Partido Comunista, Walter Baier, publicou um artigo no principal jornal conservador diário da Áustria " Die Presse ", no qual chamou Michael Pröbsting de " uma estrela da cena anti-imperialista " e o associou à " esquerda Anti-semitismo ”. (Walter Baier: Können Linke antisemitisch sein? Antiintellektualistische und antisemitische Ressentiments haben auch in der Linken eine lange Geschichte; 30. 8. 2006, http://www.gegendenantisemitismus.at/00092006.php ) Hoje, Walter Baier é o Coordenador do transformação da rede ! Europa - o Think Tank do Partido de Esquerda Europeu. Durante a Guerra de Gaza em novembro de 2012, o RKOB (seção austríaca do RCIT) desempenhou um papel ativo e de liderança na organização de protestos e manifestações. Como resultado, as forças sionistas acusaram um de nossos camaradas líderes, Johannes Wiener, de “sedição”. As razões apresentadas para a acusação são partes de um discurso que proferiu num comício Pró-Palestina em 16.11.2012 em Viena, no qual apelou ao apoio da Intifada, à solidariedade com a resistência armada e desarmada e a um único Estado em toda a Palestina, do rio ao mar. Iniciamos uma campanha de solidariedade nacional e internacional e as acusações foram retiradas. Mais sobre os antecedentes desta acusação e a campanha de solidariedade a ele podem ser encontrados no site do RCIT:

 

Vitória! A acusação contra o porta-voz da RKOB e o ativista de solidariedade à Palestina, Johannes Wiener, foi retirada!

 

Áustria: a Comunidade Cultus israelita sofre derrota em seu ataque à liberdade de expressão e à solidariedade à Palestina, Declaração da RKOB, 10.1.2013, http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/solidarity-with-wiener-won ; Áustria: A Comunidade Cultus israelita tenta criminalizar o partidarismo para a Resistência Palestina! Acusação de “sedição” contra o porta-voz da RKOB e o ativista de solidariedade à Palestina Johannes Wiener é um pretexto para um ataque à liberdade de expressão, declaração da RKOB, 20.12.2012, http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/no-criminalization -de-solidariedade-com-palestina ; Áustria: Fomentadores de guerra pró-israelenses tentam jogar um ativista do Solidariedade Palestina de 20 anos na prisão. O porta-voz da RKOB, Johannes Wiener, é acusado de “sedição” por causa de um discurso pró-Palestina durante a Guerra de Gaza, Declaração da RKOB, 13.12.2012, http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/no-to-criminalization -of-rcit-ativista ; Declarações em Solidariedade com o ativista RCIT Johannes Wiener, http://www.thecommunists.net/worldwide/africa/solidarity-with-johannes-wiener . Vários relatórios sobre o trabalho da seção RCIT austríaca durante a guerra de Gaza também foram publicados neste site.

 

O papel patético dos “anti-alemães” sionistas, que atuam como aríete contra a esquerda anti-imperialista, é bastante conhecido. Isso, entretanto, infelizmente não impede que associações de esquerda como “ Playtypus ” nos EUA dêem uma plataforma a esses reacionários. Ver, por exemplo, Stephan Grigat: Para saber o pior: Anti-semitismo e o fracasso da esquerda no Irã, Platypus Review 49, setembro de 2012, http://platypus1917.org/2012/09/01/anti-semitism-and- falha-da-esquerda-no-iran / . Nesse discurso o autor, uma palestra na universidade vienense e um apoiador da campanha para criminalizar nossos camaradas, associa Michael Pröbsting ao “ Anti-semitismo ”.

 

32 Ver Dave Stockton: The People's Assembly - uma oportunidade perdida; in: Workers Power No. 274, abril de 2003, p. 5

 

33 Para uma análise detalhada e crítica do projeto do partido RESPECT do SWP, consulte Luke Cooper: The Road to Respect: The SWP'S march to the right; em: Quinto Vol. Internacional 1, No. 3, (2005)

 

34 Carta de Nicole Gohlke und Christine Buchholz, reproduzida em http://www.palaestina-portal.eu/kampagnenjournalismus_hasbara_jagd_auf_die_linke-2.htm (nossa tradução)

 

A carta completa em original em alemão:

 

Nicole Gohlke und Christine Buchholz. - Liebe Freundinnen und Freunde der Friedens- und Antikriegsbewegung, Liebe Bündnispartner / innen, Wahrscheinlich haben mittlerweile schon all von der am letzten Dienstag gefassten Erklärung der Linksfraktion gehört oder gelesen - viele die Irritationen, die dieser Beschluss ausgelöst hat, sind beträchtlich. Zu recht. Die Erklärung ist deswegen so problemtisch und aus unserer Sicht politisch falsch, weil er durch seine Überschrift und durch seine Kontextualisierung wichtige Aktivitäten der Palästina-Solidaritätsarbeit in den Zusammenhang mit Antisemitismus stellt.

 

Der Beschluss wurde einstimmig gefasst. Diese "Einstimmigkeit" kam allerdings nur dadurch zustande, weil die Zustimmung indirekt zur Überlebensfrage der Fraktion gemacht wurde.

 

Vor diesem Hintergrund haben sich diejenigen Abgeordneten, die zunächst angekündigt hatten, gegen die Erklärung stimmen zu wollen, unterschiedlich verhalten: einige haben die Sitzung verlassen und somit gar nicht an der Abstimmungre zähneknirschend zugestimmt. Wir haben uns entschieden, den Raum zu verlassen.

 

Während der mehrstündigen und sehr emocional geführten Fraktionsdebatte begründeten die Kritiker / innen der Erklärung ihre Kritik damit,

 

- dass sie eine politisch verheerende Gleichsetzung oder zumindest Vermischung von Antisemitismus und Israel-Kritik betreibe,

 

- dass die Erklärung der in Zusammenarbeit von bürgerlicher Presse und antideutsch geprägten Gruppierungen in und um der LINKEN initiierten Kampagne gegen die LINKE, die die Partei als antisemitisch denunziert, Vorschub leiste,

 

- dass sie letztlich den Charakter eines Unvereinbarkeitsbeschlusses trage - auch vor dem Hintergrund, dass auch die Mitarbeiter / innen der Fraktion und die persönlichen Mitarbeiter / innen der einzelnen MdB aufgefordertert werden, sichuprechend

 

- und schließlich dass sie insgesamt dem Charakter einer pluralen LINKEN zuwider laufe.

 

Wir bedauern und kritisieren daher, dass und wie es zu dem Beschluss gekommen ist. Wir wollen aber auch gerade Euch gegenüber betonen, dass wir froh sind, dass es so viele kritische Stimmen in der Fraktion gab, und dass ohne den massiven Druck des Vorstandes die Erklärung so nicht verabschiedet worden wäre.

 

Wie viele andere in der Fraktion befanden wir uns in einem taktischen und politischen Dilema: verhindern wir einen politisch falschen Beschluss und riskieren wir eine Spaltung der Fraktion um einer Frage, in der die Linke aus der Defensive heraus agiert, und die zteu einer der bürgerlichen Medien und der konkurrierenden Parteien geworden ist?

 

Für uns ist weiterhin richtig, dass die LINKE die einzige Partei ist, die sich konsequent gegen Kapitalismus und Krieg stellt und so eine im internationalen Maßstab einmalige Rolle spielt. Der Preis, morre Projekt an die Wand zu fahren ist sehr hoch. Und für uns ist richtig, dass wir in diesem Sinne um eine internationalistische und antikapitalistische Ausrichtung der LINKEN kämpfen müssen. Wir wissen aber auch, dass es insbesondere die außenpolitischen Positionen sind, an denen der Anpassungsdruck auf linke Parteien im Sinne der "Regierungsfähigkeit" am stärksten und als erstes entsteht, und dass für uns gelten muss auf linke erpressbar machen.

 

Hierbei ist wichtig zu wissen:

 

- Die Mehrheitsverhältnisse in der Partei sind anders als in der Fraktion. Der Verlauf der Programmdebatte, aber auch viele Aktivitäten in den verschiedenen Gliederungen der Partei machen deutlich, dass die LINKE unmissverständlich an der Seite der Friedensbewegung steht, und dass die Haltung, keinerlei Kriegseinsät zicht zichtezimzt zeinerlei.

 

Statt der Aufgabe oder der Anpassung von politischen Positionen mit Blick auf eine mögliche Regierungsbeteiligung 2013 diskutiert die Mehrheit der Partei die stärkere Profilbildung gegenüber den in der Oppositionsrolle rhetorisch linker auftretenden SPD und Grünen.

 

- Die Fraktion wird sich in den nächsten Monaten und Wochen weiter mit dem Nahost-Konflikt auseinanderzusetzen haben, weil absehbar mehrere Ereignisse der Palästina-Solidarität Aufwind verleihenden: Der arabische Frünhling verleiht auchonhüst auchis de Fühling verleiht vünchen-auchis . Die Aktionen des zivilen Ungehorsams an der Grenze zu Syrien, die israelische Regierung derzeit mit der grausamen Erschießung vor allem junger entschlossener Aktivist / innen beantwortet, sind ein erstes Zeichen dafür.

 

Im setembro soll ein palästinensischer Staat ausgerufen werden. Auf der selben Sitzung auf der oben genannte Beschluss gefällt wurde, wurde ein Antrag beschlossen, in dem wir die Bundesregierung auffordern, den neuen Staat anzuerkennen. Hierfür werden wir streiten. Zugleich müssen wir die aufkommenden Probleme (Weigerung Israels, weitere Zersiedelung des Westjordanlands, etc.) kritisch begleiten, weil nicht undahrscheinlich ist, dass die Staatsgründung an der Haltung Israels scheitern wird.

 

Und nicht zuletzt ist die internationale Palästina-Solidaritäts-Bewegung überaus aktiv: Ende des Monats startet auch unter Beteiligung Linker Europa Abgeordneter eine neue Flotille, die Die Blockade des Gaza-Streifens durchbrechen testará; am 08. Juli werden internationale Aktivist / innen versuchen mit der Aktion "Willkommen in Palästina" mit gewaltlosem zivilem Ungehorsam die Einreise nach Palästina am Ben Gurion Flughafen zu erstreiten.

 

Natürlich werden wir und viele andere in der Fraktion weiterhin dafür streiten, dass die LINKE hier eine klare Haltung einnehmen muss, wenn sie glaubwürdig bleiben will. Doch nicht zuletzt brauchen wir Euch dabei, wenn es darum geht, die LINKE als Bündnispartnerin und Sprachrohr der Friedensbewegung weiterhin zu etablieren. Euer Engagement und Eure Aktivitäten sind Rückendeckung in der innerparteilichen Auseinandersetzung um die Ausrichtung der Partei. Darum auch ein Appell an Euch: lasst die Linksfraktion weiter wissen, was Eure Anregungen für das Engagement der LINKEN für einen gerechten Frieden in Nahost sind. Mit solidarischen Grüßen, Nicole Gohlke und Christine Buchholz.“

 

35 Ver Bruno Engelin: Linkspartei - Einstimmig mit Abweichlern. Bundestagsfraktion streitet über Antisemitismusbeschluss, 16.06.2011, http://www.juedische-allgemeine.de/article/view/id/10595

 

36 Nicole Gohlke: Palästina-Solidarität heute; em: Der Israel / Palästina-Konflikt als Thema der politischen Bildung - Beiträge einer Arbeitstagung des Kurt-Eisner-Vereins - rls em Bayern, Studienreihe Zivilgesellschaftliche Bewegungen - Institutionalisierte Politik Nr.10 / 2009, p.16. Original em alemão: „Wenn Staatenlösungen für Israel und Palästina diskutiert werden, wenn ein Zwei-Staaten-Konzept als wünschenswert konzipiert wird, bleibt immer zu fragen: Ist Israel bereit seine Grenzen zu definieren? Ist Israel bereit, auf eine weitere Expansion zu verzichten? Então, sehr eine faire und gleichberechtigte Zwei-Staaten-Lösung zu begrüßen ist, sind Zweifel an diesen Punkten bezüglich der israelischen Haltung angebracht.“

 

37 Ver Nicole Gohlke: Persönliches Statement von Nicole Gohlke zur Nominierung ins LINKE Spitzenteam zur Bundestagswahl, 23.1.2013, http://www.nicole-gohlke.de/index.php/politik/die-linke/404-persoenliches-statement- von-nicole-gohlke-zur-nominierung-ins-linke-spitzenteam-zur-bundestagswahl

 

38 Leon Trotsky: Resolução sobre o Congresso Anti-guerra do Bureau de Londres (1936), em: Documents of the Fourth International, New York 1973, p. 100

 

39 Peter Taaffe: Afeganistão, Islã e Esquerda Revolucionária (2002), http://www.socialistworld.net/pubs/afghanistan/afghanchp1.html

 

40 Ver: CIT: Mali: intervenção do exército francês vai amplificar o caos, 17/01/2013, http://www.socialistworld.net/doc/6116

 

41 V. I. Lenin: Relatório da Comissão sobre as Questões Nacional e Colonial (no Segundo Congresso da Internacional Comunista em 1920); em: LCW 31, p. 240

 

42 Ver, por exemplo, Liga Comunista de Ação (TMI, Marrocos): Por que os marxistas não podem apoiar o fundamentalismo islâmico - o caso do Hamas, 2.10.2007 http://www.socialist.net/marxists-cannot-support-islamic-fundamentalism-hamas- 2.htm ; Walter Leon (TMI): PareM o massacre de Israel em Gaza! 31.12.2008, http://www.marxist.com/stop-israels-massacre-in-gaza.htm ; Apelo Socialista (TMI): Pare o massacre de Israel em Gaza! http://www.marxist.com/pdf/gaza_leaflet_sa_jan09.pdf ; La Riposte (França, Tmi): Intervenção imperialista no Mali, 24.1.2013, http://www.marxist.com/imperialist-intervention-in-mali.htm ; Roberto Sarti (TMI): Mali: As perigosas aventuras de Hollande, 25.1.2013 http://www.marxist.com/mali-the-dangerous-adventures-of-hollande.htm

 

43 Leon Trotsky: Petty-Bourgeois Democrats and Moralizers (1938-39); em: Writings of Leon Trotsky, Supplement 1934-40, p. 866

 

44 Nova onda de terrorismo israelense contra Gaza: Apoie a resistência palestina! Derrotem a máquina de matar sionista! Declaração da Tendência Comunista Revolucionária Internacional (RCIT), 15.11.2012 , www.thecommunists.net/worldwide/africa/defend-gaza

 

45 Leo Trotzki: Was Num? Schicksalsfragen des deutschen Proletariats (1932); em: Schriften über Deutschland, pp. 246-247; em inglês: Leon Trotsky: What Next? Perguntas vitais para o proletariado alemão, http://www.marxists.org/archive/trotsky/germany/1932-ger/next02.htm

 

46 CIT: A crise do capitalismo e o papel cru do imperialismo são claramente manifestados no Oriente Médio. Documento No. 3, CWI 10º Congresso Mundial, 28.12.2010 http://www.socialistworld.net/doc/4736

 

47 Sobre o número de refugiados palestinos, consulte Yasser Shalabi: Palestinian Population, Movement and Statistics. Birzeit University Working Paper 2011/6, Position Papers Module (2011)

 

48 Peter Taaffe: Marxismus heute. Antworten auf Krieg, Kapitalismus und Umweltzerstörung (2006), p. 40; Estamos citando e traduzindo da tradução alemã, uma vez que não possuímos o original em inglês de „ Marxism in today World “.

 

49 CIT: Relações mundiais. Documento No. 1, CWI 10º Congresso Mundial, 26.12.2010 http://www.socialistworld.net/doc/4735

 

50 Peter Taaffe: Um mundo socialista é possível - a história do CIT, 31.08.2004 http://www.socialistworld.net/doc/4779

 

51 V.I.Lenin: O Proletariado Revolucionário e o Direito das Nações à Autodeterminação, in: LCW 21, p. 409

 

52 V.I.Lenin: A Revolução Socialista e o Direito das Nações à Autodeterminação, in: LCW 22, p. 146

 

53 Leon Trotsky: Declaração ao Congresso Anti-guerra em Amsterdã (1932), em: Escritos 1932, p. 153 (ênfase no original)

 

54 Partido Socialista (CIT): Guerra das Malvinas: que lições para o movimento trabalhista? In: Socialism Today, No 108, abril de 2007, http://www.socialismtoday.org/108/falklands.html

 

55 Alan Woods: Marxism and the State, International Marxist Tendency, dezembro de 2008, http://www.marxist.com/marxism-and-the-state-part-one.htm

 

56 V.I. Lenin: Notas sobre as tarefas de nossa delegação em Haia (1922); em: LCW 33, pág. 447

 

57 Leon Trotsky: A agonia de morte do capitalismo e as tarefas da Quarta Internacional. O Programa de Transição (1938); in: Documents of the Fourth International, New York 1973, p. 200

 

58 V.I. Lenin: Notas sobre as tarefas de nossa delegação em Haia (1922); em: LCW 33, pág. 448

 

59 Leon Trotsky: A Agonia de Morte do Capitalismo e as Tarefas da Quarta Internacional, p. 200 (enfatizar no original)

 

60 Ver sobre isso as observações de Lenin em uma reunião após o III. Congresso do Comintern em 1921: Delegação Reden auf der Beratung der Mitglieder der deutschen, polnischen, tschechoslowakischen, ungarischen und italienischen, em: LW Ergänzungsband 1917-23, p. 333

 

61 V.I. Lenin: A Guerra e a Social-democracia Russa (1914); em: LCW 21, pp. 32-34

 

62 Peter Taaffe: The Rise of Militant, Londres 1995, Capítulo 20 “The Falklands / Malvinas War”, http://socialistalternative.org/literature/militant/

 

63 Alexander Shlyapnikov: On the Eve of 1917 (1923), http://www.marxists.org/archive/shliapnikov/1923/eve1917/index.html

 

64 Ver as notas históricas em W.I. Lenin: Sämtliche Werke Banda XVIII, Wien-Berlin 1929, S. 493. Este folheto também é mencionado nas recordações de Shlyapnikov .

 

65 V.I. Lenin: O que foi revelado pelo Julgamento do Grupo da Duma Trabalhista Social-Democrata da Rússia (1915); em: LCW 21, p. 176

 

66 Partido Socialista (CIT): Guerra das Malvinas: que lições para o movimento trabalhista? In: Socialism Today, No 108, abril de 2007, http://www.socialismtoday.org/108/falklands.html

 

67 Veja nisto, por exemplo, Michael Pröbsting: Cinco dias que abalaram a Grã-Bretanha, mas não acordaram a esquerda. A falência da esquerda durante a revolta dos oprimidos de agosto na Grã-Bretanha: suas características, suas raízes e o caminho a seguir , in: Revolutionary Communism No. 1, pp. 30-31 (setembro de 2011), http: //www.thecommunists .net / teoria / britain-left-and-the-uprising / sp-and-Committee-for-a-workers-international

 

68 Maziar Razi e Morad Shirin (TMRI): Dominação imperialista moderna e fundamentalismo islâmico; http://marxist.cloudaccess.net/impire/115-modern-imperialist-domination-and-islamic-fundamentalism.html# . (ênfase minha)

 

69 Maziar Razi e Morad Shirin (TMRI): Qual é a nossa posição se os EUA-Israel atacarem o Irã? 25 de janeiro de 2012, em: Marxist Revival No. 12, dezembro de 2011 / janeiro de 2012, p. 2, http://marxist.cloudaccess.net/mideast/233-where-should-we-stand-if-us-israel-attack-iran.html

 

70 Maziar Razi e Morad Shirin (TMRI): Onde deveríamos estar se os EUA-Israel atacassem o Irã ?, p. 2

 

71 Maziar Razi e Morad Shirin (IRMT): Onde deveríamos estar se os EUA-Israel atacassem o Irã ?, p. 3

 

72 V.I.Lenin: Conspectus of Hegel's Science of Logic (1914); in: Collected Works Vol. 38, pág. 220

 

73 V. I. Lenin: The Discussion on Self-Determination Summed Up (1916) ; em: LCW Vol. 22, pág. 338

 

74 V.I. Lenin / G. Zinoviev: Socialism and War (1915); em: LCW 21, p. 313

 

75 Sean Matgamna: E se Israel bombardear o Irã? in: Solidarity & Workers 'Liberty, vol. 3, No. 136, 24.7.2008, p. 6

 

 

 

14. Algumas observações finais sobre as perspectivas para a luta de classes

 

 

Neste capítulo queremos explicar várias conclusões de nossa análise para os desenvolvimentos futuros nas relações entre os senhores imperialistas e o mundo semicolonial e para a luta de classes. Para nós, a análise sobre a super-exploração imperialista contra os povos oprimidos não é um fim em si mesma. Em vez disso, fornecerá aos marxistas autênticos tanto a base para as conclusões programáticas como uma diretriz para a prática revolucionária. Lênin gostava de se referir à afirmação de Engels de que o marxismo "não é um dogma, mas um guia de ação" 1 Na verdade, não pode ser de outra forma: a teoria revolucionária e a prática revolucionária são uma condição sine qua non um para o outro. Nosso Weltanschauung (visão de mundo marxista) e a dialética materialista como seu método são caracterizados pela "metodologia do conhecimento com base na ação e na metodologia de ação com base no conhecimento" como o filósofo soviético Ivan K. Luppol colocou tão bem em seu livro sobre a filosofia de Lênin em 1928. 2 No entanto, dado o caráter do nosso livro, temos de nos limitar a delinear uma série de fatores em perspectivas, bem como as consequências para o programa e a prática marxistas. Para um exame mais detalhado, encaminhamos os leitores ao programa da CCRI e a inúmeros outros escritos sobre a estratégia e tática revolucionária que publicamos nas últimas décadas.

 

Os possíveis desenvolvimentos nas relações entre os mestres imperialistas e o mundo semicolonial e para a luta de classes não podem ser compreendidos corretamente sem vê-los em contexto com o caráter geral da dinâmica do capitalismo no atual período histórico. Nos últimos vinte anos defendi uma compreensão dos desenvolvimentos políticos e econômicos mundiais que se concentraram em avaliar a "verdadeira essência" da totalidade das contradições de classe do capitalismo em seu desenvolvimento. Por isso, na década de 1990 me coloquei em aposição aos camaradas da nossa organização antecessora que pensavam naquela época que vivíamos em um período revolucionário. Pensei (e ainda penso assim) que o período após 1991 – quando a revolução política nos Estados estalinistas foi derrotada e transformada em contrarrevoluções democráticas e a restauração do capitalismo – havia um caráter bastante transitório, não revolucionário. No ano de 2000, argumentei que as contradições do capitalismo (excesso de acumulação de capital, tendência da taxa de lucro a cair, declínio da hegemonia dos EUA, etc.) estão se aguçando e, portanto, previ que em algum momento no final dos anos 2000 essas contradições levarão a um "período de crise revolucionária". Após o 11 de Setembro de 2001, cheguei à conclusão de que um período pré-revolucionário começou, caracterizado pelas guerras imperialistas, enormes ataques neoliberais e consequentes lutas de classes. Este período se transformou em um período revolucionário histórico mundial em 2008, quando a Grande Recessão em 2008 levou a uma explosão das contradições acumuladas. Cheguei a esta avaliação no final de 2008 e defendi esta análise desde então junto com meus companheiros na nossa organização CCRI/RCIT. 3

 

 

 

i) Um período revolucionário mundial histórico

 

 

 

Uma vez que o foco deste livro não é uma discussão geral sobre a situação mundial, só vou resumir aqui por que falaremos, em nossa opinião, de um período revolucionário histórico mundial. Consideramos o período atual como uma crise histórica do sistema capitalista. É um período em que as contradições internas desse sistema são colocadas de forma tão acentuada que inevitavelmente provocam situações pré-revolucionárias e revolucionárias, bem como situações contrarrevolucionárias. Em outras palavras, o agravamento das contradições de classe colocará a questão do poder – que governa a classe na sociedade – com mais frequência do que nos períodos anteriores. O presente período é, portanto, aquele em que a destruição do capitalismo e o salto histórico em direção ao socialismo estão na ordem do dia.

 

Quando Trotsky caracterizou a dinâmica da luta de classes no período entre guerras, ele identificou mudanças tão abruptas como sendo o fundamento para o caráter revolucionário da época em que vivia:

 

"O caráter revolucionário da época não consiste em permitir que a revolução aconteça, ou seja, tomar o poder a cada momento, mas em suas oscilações profundas e abruptas, em suas transições frequentes e brutais que a fazem partir de uma situação diretamente revolucionária, que o partido comunista pode reivindicar a tomada do poder, com a vitória da contra-revolução fascista ou semifascista, desta para o regime provisório de meia direita (bloco de esquerda na França, entrada do social democracia na coalizão na Alemanha, chegando ao partido de MacDonald's na Inglaterra, etc.) para posteriormente retrabalhar as contradições afiadas e colocar claramente o problema do poder." 4

 

Nesse período, a tendência dominante das forças produtivas pode ser caracterizada como uma "curva de declínio" – usar uma categoria do conceito de Trotsky de "curvas do desenvolvimento capitalista" que ele elaborou em um profundo artigo pensativo em 1923. 5 No capítulo 3 já demonstramos como, nas últimas décadas, a crise da economia mundial capitalista se aprofundou e levou a uma estagnação das forças produtivas nos anos 2000.

 

Isso, é claro, não significa que a economia esteja em declínio em todas as partes do mundo. Isso seria uma maneira não dialética de pensar. De fato, a lei do desenvolvimento desigual e combinado é válida também neste campo. Temos visto um crescimento significativo em partes do mundo semicolonial e até mesmo um crescimento febril como acontece na China. No entanto, isso foi resultado do processo de estagnação do acúmulo de capital nas regiões dominantes da economia mundial – os centros imperialistas – que levou o capital monopolista a transferir o investimento para o mundo semicolonial. No caso da China é preciso acrescentar, que aqui o acúmulo primitivo de capital após a restauração do capitalismo no início dos anos 1990 também desempenhou um papel muito significativo – como delineamos no capítulo 10.

 

Tal desenvolvimento desigual e combinado da economia mundial não é de forma alguma excepcional, mas bastante característico nas épocas da história da humanidade. Em seu livro sobre imperialismo, Lênin observou uma irregularidade semelhante em seu tempo:

 

"Por mais forte que seja o processo de nivelamento do mundo, de nivelar as condições econômicas e de vida em diferentes países, pode ter sido nas últimas décadas como resultado da pressão da indústria, do câmbio e do capital financeiro em larga escala, ainda permanecem diferenças consideráveis; e entre os seis países mencionados vemos, em primeiro lugar, jovens países capitalistas (América, Alemanha, Japão) cujo progresso tem sido extraordinariamente rápido; em segundo lugar, países com um velho desenvolvimento capitalista (França e Grã-Bretanha), cujo progresso ultimamente tem sido muito mais lento do que o dos países mencionados anteriormente, e, em terceiro lugar, um país mais atrasado economicamente (Rússia), onde o imperialismo capitalista moderno está envolto, por assim dizer, em uma rede particularmente próxima de relações pré-capitalistas." 6

 

No entanto, a desigualdade não significa indeterminação na direção geral do desdobramento das contradições capitalistas. Na verdade, é uma fraqueza geral que se pode se observar muitas vezes entre intelectuais socialistas, que a desigualdade em um determinado processo os torna cegos para reconhecer sua direção. Eles têm medo de tirar conclusões claras que implicam consequências e preferem descrever uma contradição de uma forma formal e superficial ("Por um lado, há...., um dos outros, há ..."). Esquecem que – como disse Abram Deborin – "o marxista deve, acima de tudo, avaliar a direção geral do desenvolvimento". 7

 

Assim, em toda a desigualdade do desenvolvimento capitalista, são claramente as economias e estados imperialistas que – na época do imperialismo – dominam e dão ao desenvolvimento econômico geral seu caráter. Da mesma forma, em uma determinada sociedade é a classe dominante e não a oprimida que determina a linha geral de desenvolvimento. Isso foi claramente demonstrado nos últimos anos. É a crise e a depressão nos antigos centros imperialistas que causam recessões mundiais e quedas no mercado de ações e não é a dinâmica de crescimento dos países semicoloniais ou da China imperialista emergente que colocou sua marca na economia mundial.

 

Quando falamos do declínio das forças produtivas da humanidade, não queremos dizer apenas o desenvolvimento da produção econômica. Também temos em mente a regressão social que vemos em todas as partes do mundo: setores crescentes da população estão empobrecidos ou até mesmo estão permanentemente excluídos da participação regular na produção econômica. Há regiões do mundo semicolonial onde até vemos um retorno às condições bárbaras. Já há cerca de 100 mil pessoas que morrem de fome todos os dias! É preciso adicionar a todos esses sintomas de declínio a horrenda destruição dos recursos naturais e do ambiente em que a humanidade está vivendo. Essa destruição leva aos fenômenos amplamente conhecidos das mudanças climáticas, ao aumento do número de desastres "naturais", etc. 8

 

Vários críticos do Império dos EUA compararam seu declínio com o período final do Império Romano no século IV e V. Embora essa analogia seja certamente válida, é preciso entendê-la em um contexto mais amplo: é o declínio final de todo o sistema mundial capitalista que é semelhante ao Império Romano!

 

Para os marxistas, isso não é um desenvolvimento inesperado. Na verdade, é o resultado do desdobramento das leis históricas do capitalismo e sua tendência à quebra, como Karl Marx apontou repetidamente. Assim ele escreveu em O Capital:

 

" Essa expropriação se consuma por meio do jogo das leis imanentes da própria produção capitalista, por meio da centralização dos capitais. Cada capitalista liquida muitos outros. Paralelamente a essa centralização, ou à expropriação de muitos capitalistas por poucos, desenvolve-se a forma cooperativa do processo de trabalho em escala cada vez maior, a aplicação técnica consciente da ciência, a exploração planejada da terra, a transformação dos meios de trabalho em meios de trabalho que só podem ser utilizados coletivamente, a economia de todos os meios de produção graças a seu uso como meios de produção do trabalho social e combinado, o entrelaçamento de todos os povos na rede do mercado mundial e, com isso, o caráter internacional do regime capitalista. Com a diminuição constante do número de magnatas do capital, que usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação,

 

aumenta a massa da miséria, da opressão, da servidão, da degeneração, da exploração, mas também a revolta da classe trabalhadora, que, cada vez mais numerosa, é instruída, unida e organizada pelo próprio mecanismo do processo de produção capitalista. O monopólio do capital se converte num entrave para o modo de produção que floresceu com ele e sob ele. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho atingem um grau em que se tornam incompatíveis com seu invólucro capitalista. O entrave é arrebentado. S oa a hora derradeira da propriedade privada capitalista, e os expropriadores são expropriados.9

 

Como é sabido, este prognóstico histórico foi negado por Bernstein e mais tarde pela maioria dos teóricos social-democratas. Da mesma forma, observamos nas últimas décadas um exército inteiro de acadêmicos "marxistas" pequeno-burgueses que alegaram ter descoberto novas leis que supostamente mostraram que o capitalismo não tende a quebrar. Vários acadêmicos "marxistas" como Ben Fine e Lawrence Harris "melhoraram" a lei de Marx sobre a tendência da taxa de lucro cair e argumentaram que não há declínio a longo prazo da taxa de lucro. Por isso, preferem falar sobre "a lei da tendência da taxa de lucro a cair e suas tendências de contrapeso".

 

Apenas alguns anos atrás, em 2005/06, o autor deste livro teve que argumentar contra uma facção dentro de nossa organização antecessora que alegou que a economia mundial entrou em uma longa onda de ascensão, que deveria durar até 2015. Eles acusaram o autor deste livro e outros apoiadores de nossa posição como "catastróficos". 10 A história raramente tem sido mais cruel com tal previsão de um agrupamento quando, em 2007/08, a economia mundial enfrentou sua pior recessão desde 1929.

 

No plano teórico, os erros dessas críticas revisionistas residem no seguinte. Em primeiro lugar, não é na visão marxista que há um declínio linear constante. Este não é nem o caso com a tendência da taxa de lucro cair nem com o declínio geral do capitalismo. Existem – como Marx apontou (veja nossa referência a isso no início do capítulo 5) – várias tendências em contrapeso. A questão é, no entanto, que essas medidas de contrapeso só podem parar ou retardar esse declínio temporariamente. Por quê? Por causa do desdobramento interno do acúmulo de capital. Como Marx escreveu: "A taxa de lucro não afunda porque o trabalhador é explorado menos, mas porque geralmente menos mão-de-obra é empregada proporcionalmente ao capital empregado". 11

 

Em segundo lugar, os marxistas não devem sequer excluir a possibilidade teórica de que o capitalismo poderia reverter – em condições excepcionais e apenas por um período limitado – sua tendência histórica de declínio. De fato, isso aconteceu no período do "Longo Boom" nas décadas de 1950 e 1960. Mas é preciso ver que esse período foi uma exceção na época imperialista, resultado de circunstâncias históricas extraordinárias (destruição maciça do capital em duas Guerras Mundiais antes, fascismo, derrotas históricas da classe trabalhadora, estabelecimento dos EUA com hegemonia absoluta no campo imperialista, o fortalecimento da burocracia estalinista que fez acordo com o imperialismo na construção de uma ordem mundial – o acordo de Yalta – e traiu as revoluções que ocorreram em 1943-45 e outras que ocorreram depois. Não era uma "longa onda de ascensão" que deveria alternar regularmente com uma "longa onda de recessão". 12

 

Para isto tem-se que acrescentar as enormes diferenças entre as condições naquele momento e hoje. Há alguns anos, discuti esta questão e cheguei à conclusão de que uma repetição de um período tão longo de ascensão é improvável pelas seguintes razões:

 

"Isso significa que as forças produtivas estagnam constantemente na época imperialista? Não, isso seria uma interpretação esquemática e não dialética. O imperialismo é uma época de confrontos ferozes das contradições fundamentais do capitalismo. Em um certo ponto, tais confrontos necessariamente e inescapavelmente levam a explosões abertas como guerras e revoluções. Se, no entanto, a liderança da classe trabalhadora não estar em condições de explorar esse período de crises agudas do capitalismo monopolista para provocar uma revolução socialista vitoriosa, a possibilidade se abre para a burguesia forçar as contradições, mantê-las sob controle por um período limitado de tempo. Mas a pré-condição para isso é:

 

* Que a classe dominante inflija derrotas históricas à classe trabalhadora e por isso reduz o preço do trabalho de commodities para um nível qualitativo mais baixo,

 

* Que uma enorme massa de capital supérfluo seja destruído (através de guerras ou catástrofes semelhantes) e

 

* Que uma nova ordem mundial capitalista sob a hegemonia indiscutível de um poder imperialista seja formada (no século XIX esta foi a Grã-Bretanha, a partir de 1945 foram os EUA)

 

O boom pós-guerra de 1948 - 1973 foi um tal período. Durante este tempo, as forças produtivas de forma alguma estagnaram, mas houve uma tremenda ascensão. As inovações tecnológicas levaram ao progresso social global e cresceram os padrões de vida da maioria da classe trabalhadora.

 

Mas um período como esse foi excepcional na época imperialista. Representaria uma ruptura com o método marxista, considerar tal período não como uma exceção, mas tão normal, como uma das duas possibilidades - primeiro uma reviravolta, depois uma recessão - como a teoria das ondas longas faz.

 

O imperialismo, então, é uma época em que o declínio capitalista, a estagnação das forças produtivas representa a "essência" - a essência geral como se diz - da época. Mas essa generalidade não é permanente (contínua) e não concretamente da mesma forma ou intensidade. Vários fatores políticos - sobretudo a traição das lideranças oficiais das organizações dos trabalhadores - podem dar à burguesia um espaço de respiração, um adiamento da execução para o capitalismo. Após a classe dominante obter tal adiamento no período pós-guerra, o capitalismo mundial reentrou em um período de crise no final da década de 1960/início da década de 1970, quando as contradições se intensificaram e a tendência à estagnação se reafirmou.

 

Poderíamos experimentar outro longo boom (grande crescimento econômico) no futuro, semelhante ao dos anos 50 e 60? Do ponto de vista marxista, seria errado excluir tal possibilidade. Mas seria igualmente errado imaginar tal possibilidade como uma simples repetição dos eventos que levaram a essa reviravolta. O capitalismo monopolista do século 21 não é o mesmo dos anos 50 e 60. As forças produtivas desenvolveram-se enormemente desde então, e com elas também as forças destrutivas. Uma guerra mundial hoje teria consequências incomensuravelmente piores para a humanidade do que a Segunda Guerra Mundial (incluindo a eliminação de parte da humanidade e a destruição da civilização). A fina interconexão da economia mundial globalizada significa que qualquer grave perturbação regional – seja econômica, política ou militar – envolveria todo o planeta. A probabilidade de uma diminuição temporária das contradições imperialistas e de uma nova longa reviravolta é, portanto, muito menor do que durante meados do século XX. A alternativa, "socialismo ou barbárie", por outro lado, surge mais nítida do que nunca no século XXI." 13

 

Quanto mais o imperialismo decai em sua senilidade, mais explosivas suas contradições se tornam. As pré-condições para evitar de forma temporária seu declínio e outro período de boom seriam uma enorme destruição sem precedentes do capital, enormes derrotas históricas para a classe trabalhadora e uma guerra entre as Grandes Potências para que um poder imperialista líder pudesse estabilizar a situação mundial como uma hegemonia absoluta. Em outras palavras, o capitalismo exigiria métodos tão bárbaros que colocariam em questão a sobrevivência da humanidade.

 

Devemos acrescentar a isso que, na década de 1940, a burocracia estalinista dominante avançou na Europa Oriental e na China. Além disso, o estalinismo teve um papel de liderança no movimento operário em vários países. Como resultado, pôde desempenhar um papel contrarrevolucionário decisivo na contenção da luta de classes revolucionária na fase após a Segunda Guerra Mundial. 14 O estalinismo, no entanto, não possui qualquer influência semelhante hoje e não há nenhuma força reformista alternativa dentro da classe trabalhadora com um poder de Estado por trás disso.

 

E terceiro, os marxistas não dizem que o socialismo inevitavelmente seguirá após o capitalismo. Como Rosa Luxemburgo a formulou tão famosamente em seu rascunho de programa de para a Liga Espartaquista, a humanidade é bastante confrontada com a alternativa "Socialismo ou Barbárie". 15 E só se a classe trabalhadora intervir conscientemente com um partido de massa revolucionário em sua liderança, que o socialismo pode substituir o capitalismo.

 

Trotsky rejeitou as teorias revisionistas de um possível abrandamento das contradições dos capitalismos e defendeu a teoria marxista do colapso. Sua resposta, escrita em 1939 como parte de uma introdução ao popular resumo de Otto Rühle sobre o Capital de Marx, ainda é válida:

 

"As mentes e corações dos intelectuais de classe média e dos burocratas sindicais ficaram quase completamente encantados com as conquistas do capitalismo entre a época da morte de Marx e o início da Guerra Mundial. A ideia de progresso gradual ("evolução") parecia ter sido garantida para todos os tempos, enquanto a ideia de revolução era considerada uma mera relíquia da barbárie. O prognóstico de Marx sobre a crescente concentração de capital, sobre o agravamento das contradições de classe, sobre o aprofundamento das crises e sobre o colapso catastrófico do capitalismo não foi alterado corrigindo-o parcialmente e tornando-o mais preciso, mas foi contrariado com o prognóstico qualitativamente contrário sobre a distribuição mais equilibrada da renda nacional, sobre o abrandamento das contradições de classe e sobre a reforma gradual da sociedade capitalista. Jean Jaurès, o mais talentoso dos social-democratas daquela época clássica, esperava gradualmente encher a democracia política com conteúdo social. Nesse estava a essência do reformismo. Esse era o prognóstico alternativo. O que sobrou dele?

 

A vida do capitalismo monopolista em nosso tempo é uma cadeia de crises. Cada crise é uma catástrofe. A necessidade de salvação dessas catástrofes parciais por meio de muros tarifários, inflação, aumento de gastos e dívidas do governo abrem caminho para crises adicionais, mais profundas e mais difundidas. A luta pelos mercados, pela matéria-prima, pelas colônias torna as catástrofes militares inevitáveis. Em suma, preparam catástrofes revolucionárias. Na verdade, não é fácil concordar com Sombart que o envelhecimento do capitalismo se torna cada vez mais "calmo, sedado e razoável. "Seria mais apto dizer que está perdendo seus últimos vestígios de razão. De qualquer forma, não há dúvida de que a "teoria do colapso" triunfou sobre a teoria do desenvolvimento pacífico." 16

 

O que vimos nos últimos anos foi exatamente um desdobramento da cadeia de contradições internas e suas contradições. A classe dominante tentou conter sua crise aumentando substancialmente a exploração da classe trabalhadora e a super-exploração do mundo semicolonial. Eles aumentaram enormemente o nível da dívida pública e privada. Os EUA – com poder hegemônico mundial – tentaram impedir seu declínio travando uma onda de guerras imperialistas após o 11 de Setembro de 2001. Como resultado, as contradições do mundo de hoje podem ser camufladas inchando as contradições do mundo de amanhã. A taxa de lucro pode ser estabilizada superficialmente por algum tempo. Mas em certo momento toda essa estabilização artificial teve que explodir inevitavelmente como pudemos ver em 2008/09. 17

 

Na verdade, a burguesia imperialista travou uma enorme ofensiva por mais de três décadas. Desde o início da década de 1980 eles lançaram enormes ataques que foram chamados de "neoliberalismo" e "globalização". Mostramos neste livro o sucesso que eles tiveram em seus esforços para elevar o valor excedente retirados da classe trabalhadora. Mas essas medidas só puderam retardar temporariamente a tendência inerente do capitalismo à estagnação e declínio, uma vez que leis econômicas mais fundamentais se mostraram mais fortes (por exemplo, a crescente composição orgânica do capital, o aumento das contradições entre estados nacionais e forças produtivas de atuação global etc.). E, ao mesmo tempo, as mesmas medidas, que temporariamente retardaram o declínio do capitalismo, prepararam inevitáveis novas contradições econômicas, políticas e explosões sociais.

 

Vemos, portanto, uma economia mundial capitalista que sendo corroída pelo excesso de acumulação de capital e a tendência da taxa de lucro cair. Não surpreende que os principais estrategistas da burguesia imperialista sejam eles mesmos pessimistas sobre suas perspectivas, apesar de seu habitual otimismo profissional. Daí que o relatório de 2012 do Conselho Nacional de Inteligência – o think tank (laboratório de ideias) dos serviços secretos dos EUA – sobre as Tendências Globais até 2030, prevê um quadro sombrio:

 

"A maioria dos principais países ocidentais poderia, portanto, sofrer as consequências do baixo crescimento econômico que dura mais de uma década." 18

 

A enorme crise da dívida pública e privada é apenas uma expressão acentuada disso. A necessidade desesperada de reduzir o enorme nível de dívida irá constantemente corroer a estabilidade econômica e social das sociedades imperialistas. No entanto, de acordo com o McKinsey Global Institute, a desalavancagem nem sequer começou na maioria dos estados imperialistas.

 

"Nas dez maiores economias, a dívida do setor privado — definida como a dívida das famílias, corporações e instituições financeiras — caiu Us$ 1,5 trilhão, ou 2%, em relação ao pico de 2008. Mas, como é típico após crises financeiras, a dívida pública continuou a crescer — em US$ 7,8 trilhões, ou 26%, desde 2008. Como resultado, a dívida total de cada um desses países aumentou e a relação entre a dívida global e o PIB aumentou em sete desses dez países. Os índices de endividamento caíram em apenas três dessas nações: Estados Unidos, Coreia do Sul e Austrália" 19

 

As regiões com maior dinâmica de crescimento – como a China e outras – não podem alterar decisivamente a "curva do declínio capitalista" porque seu peso na economia mundial não é suficiente para isso. Além disso, o período de rápido crescimento da China – baseado em um vigoroso acúmulo primitivo de capital – já está desenvolvendo suas próprias contradições internas que mais cedo ou mais tarde explodirão e abrirão uma crise revolucionária.

 

O imperialismo dos EUA está inexoravelmente em declínio, pois os próprios estrategistas líderes dos EUA estão cientes: "O declínio econômico relativo dos Estados Unidos em relação aos Estados em ascensão é inevitável e já está ocorrendo, mas seu papel futuro no sistema internacional é muito mais difícil de avaliar. (...) Embora os EUA continuarão a ser a principal potência militar em 2030, a diferença com outros diminuirá e sua capacidade de depender de suas parcerias históricas de aliança diminuirá ainda mais." 20

 

Ao mesmo tempo, não há uma potência imperialista alternativa que possa substituir os Estados Unidos como hegemonia mundial, a fim de estabilizar a situação política mundial. A União Europeia não é forte nem unida o suficiente. O Japão está preso em um período de estagnação há duas décadas. A China está crescendo, mas é um imperialismo emergente, longe de governar o mundo. Na verdade, haverá uma rivalidade crescente das potências imperialistas sem ninguém forte o suficiente para subjugar as outras potências. Militarismo e armamento são as consequências inevitáveis disso, bem como cada vez mais intervenções militares em países estrangeiros. Para citar novamente o Conselho Nacional de Inteligência dos EUA:

 

"No entanto, nós e outros especialistas acreditamos que os riscos de conflitos Estados nacionais estão aumentando devido às mudanças no sistema internacional. Os fundamentos do atual equilíbrio pós-Guerra Fria estão começando a mudar. Se os Estados Unidos não quiserem ou serem menos capazes de servir como provedor de segurança global até 2030, o mundo estará menos estável. Se o sistema internacional se tornar mais fragmentado e as formas de cooperação existentes não forem mais vistas como vantajosas para muitos dos principais atores globais, o potencial de concorrência e conflito também aumentará. Além disso, as chances são crescentes de que os conflitos regionais - particularmente no Oriente Médio e no Sul da Ásia - respinguem e desencadeiem uma conflagração mais ampla." 21

 

O que os estrategistas burgueses não preveem hoje é o fato de que a crescente rivalidade entre as Grandes Potências irá e deve se intensificar no próximo período de declínio econômico, de instabilidade política e crise social. Eles só tocam no assunto e estão inconscientes das consequências de suas próprias percepções:

 

"A questão-chave é se as divergências e o aumento da volatilidade resultarão em uma quebra global e colapso ou se o desenvolvimento de múltiplos centros de crescimento levará à retomada. A ausência de um claro poder econômico hegemônico poderia aumentar a volatilidade. Alguns especialistas compararam o declínio relativo do peso econômico dos EUA ao final do século XIX, quando o domínio econômico de um jogador — a Grã-Bretanha — recuou para a multipolaridade." 22

 

Os estrategistas burgueses não se atrevem a pensar no desenvolvimento histórico do declínio da Grã-Bretanha. No entanto, como sabemos, a perda de hegemonia absoluta da Grã-Bretanha no final do século XIX abriu uma rivalidade crescente que levou à Primeira Guerra Mundial em 1914. Da mesma forma hoje, a Terceira Guerra Mundial com consequências indescritíveis para a humanidade é quase inevitável, desde que a classe trabalhadora não derrube a burguesia a tempo.

 

Dado esse contexto de declínio crescente, as classes dominantes são forçadas a atacar a classe trabalhadora e os povos oprimidos mais e mais e, pela mesma razão, aumentar a rivalidade entre si. A desestabilização política da situação mundial e cada vez mais situações pré-revolucionárias e revolucionárias, bem como ameaças contrarrevolucionárias, são os resultados. É por isso que falamos de um período revolucionário histórico mundial, um período de "realidade da revolução" – para emprestar uma famosa frase do filósofo marxista húngaro Georg Lukács. 23

 

Em seus trabalhos de estratégia – escritos para seus círculos íntimos – a classe dominante fala abertamente sobre a "realidade da revolução". O Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, por exemplo, afirma em um grande estudo de estratégia que o mundo se tornou "uma aldeia global, mas é uma vila à beira da revolução":

 

"As falhas políticas que geram grandes confrontos violentos estão se afastando da competição horizontal de pares de ontem entre estados de elite e para as tensões verticais entre diferentes estratos socioeconômicos globais. A tecnologia está encolhendo o mundo em uma vila global, mas é uma vila à beira da revolução. Embora tenhamos uma comunidade de elite cada vez mais integrada, também enfrentamos tensões cada vez mais explosivas dos estratos mais pobres abaixo." 24

 

E também não é acidental que os estrategistas do Conselho Nacional de Inteligência abram seu último relatório com a seguinte declaração que compara o período atual com o período da Revolução Francesa de 1789:

 

"O pano de fundo de 'Um Conto de Duas Cidades' foi a Revolução Francesa e o início da Era Industrial. Estamos vivendo um período transformador semelhante em que a amplitude e o escopo de possíveis desenvolvimentos — bons e ruins — são iguais, se não maiores do que as consequências das revoluções políticas e econômicas do final do século XVIII." 25

 

 

 

ii) O atual período histórico e suas consequências para o mundo semicolonial

 

 

 

Mostramos nos capítulos anteriores deste livro que o declínio do capitalismo inevitavelmente empurra o capital monopolista e seus estados imperialistas a intensificar a super-exploração do mundo semicolonial, importar migrantes como forças de trabalho baratas em número crescente e aumentar suas intervenções políticas e militares. Mostramos que tanto a produção de valor capitalista quanto o peso central da classe trabalhadora mundial mudaram para o Sul. Uma vez que esses desenvolvimentos são o resultado do desdobramento das contradições internas do capitalismo em sua era imperialista tardia, temos todas as razões para assumir que essas tendências continuarão e se intensificarão.

 

 

 

A Mudança para o Sul

 

 

 

A produção de valor capitalista e a classe trabalhadora crescerão em um futuro previsível, em vez do Norte será ao Sul . De acordo com um recente Hays/Oxford Economics Report, a força de trabalho global deve crescer em 932 milhões de trabalhadores entre 2010 e 2030. Enquanto a força de trabalho nos antigos países imperialistas estagnará, espera-se que todo o crescimento da força de trabalho venha do Sul. Curiosamente, a China não desempenhará um papel significativo neste crescimento, mas sim será em outros países do Sul. Os dez países, nos quais o maior aumento de trabalhadores está previsto, são Índia (aumento de 241 milhões), Paquistão (aumento de 62 milhões), Nigéria (aumento de 54 milhões), Bangladesh e Etiópia (cada um até 35 milhões), Indonésia (até 32 milhões), Congo (aumento de 29 milhões), Filipinas (até 24 milhões), Egito (aumento de 21 milhões) e Tanzânia (até 20 milhões). 26

 

Isso significa que o peso central da classe trabalhadora será deslocado ainda mais para o Sul do que já é. Um relatório do Banco Mundial de 2007 prevê que até 2030 de a força de trabalho global de 4,144 milhões, 3.684 milhões (ou 88,9%) funcionará no Sul e apenas 459 milhões (ou 11,1%) nos velhos países imperialistas. 27 Em outras palavras, nove décimos da força de trabalho global estará localizado fora dos antigos países imperialistas.

 

Como já sugerimos anteriormente, a aristocracia trabalhista só formará uma pequena parte entre a classe trabalhadora mundial. De acordo com o mesmo Relatório do Banco Mundial, em 2030 cerca de 85,6% das forças de trabalho globais estão previstas para serem não qualificadas. Se tivermos em mente que a aristocracia trabalhista é novamente apenas uma minoria entre os trabalhadores qualificados, torna-se óbvio que esta camada subornada e privilegiada será apenas uma minoria muito pequena entre o futuro proletariado. No entanto, enquanto a vanguarda dos trabalhadores revolucionários não conseguir afastar a burocracia e os elementos aristocráticos, a aristocracia trabalhista ainda terá influência substancial dentro do movimento oficial dos trabalhadores.

 

Como resultado desse crescimento dos produtores de valor no Sul, a produção capitalista de valor também mudará para o Sul. Não pensamos apenas na China, mas também em outros países como Índia, Brasil e aquelas semicolônias capitalistas que o Goldman Sachs chama de "Próximos Onze": Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Coreia do Sul, Turquia e Vietnã. 28 A previsão do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA é sombria:

 

"A difusão do poder entre os países terá um impacto dramático até 2030. A Ásia terá superado a América do Norte e a Europa combinadas em termos de poder global, com base no PIB, tamanho da população, gastos militares e investimento tecnológico. Só a China provavelmente terá a maior economia, superando a dos Estados Unidos alguns anos antes de 2030. Em uma mudança tectônica, a saúde da economia global estará cada vez mais ligada ao quão bem o mundo em desenvolvimento faz — mais do que o Ocidente tradicional. Além da China, Índia e Brasil, atores regionais como Colômbia, Indonésia, Nigéria, África do Sul e Turquia se tornarão especialmente importantes para a economia global. Enquanto isso, as economias da Europa, Japão e Rússia provavelmente continuarão seus lentos declínios relativos." 29

 

Diante dessa nova mudança dos produtores de valor capitalista e da produção de valor para o Sul, os monopólios imperialistas – as corporações multinacionais, as instituições financeiras, etc. – tornar-se-ão ainda mais dependentes da apropriação de uma parcela substancial do excedente do mundo semicolonial. Em outras palavras, para conter a tendência de queda da taxa de lucro, os monopólios devem aumentar a super exploração do Sul.

 

 

 

A mudança para a Ásia

 

 

 

A região mais importante do mundo que ganhará importância é a Ásia. Este não é apenas pelo fato óbvio de que é o continente mais populoso, mas também porque é o continente com o crescimento mais significativo na produção de valor capitalista, bem como das forças de trabalho. Um reflexo desse desenvolvimento é o fato de que 25% da tonelagem mercante do mundo e metade do mundo passam atualmente pelas águas do Mar do Sul da China. 30 Além disso, é o continente que viu o surgimento de uma nova potência imperialista – a China.

 

Portanto, as antigas potências imperialistas concentram cada vez mais sua atenção para fortalecer sua influência na Ásia e combater a ascensão da China. 31 O imperialismo japonês aumentará seus gastos militares no futuro, a fim de parar o crescimento da China como potência e derrotar estados relativamente independentes como a Coreia do Norte.

 

Os líderes do imperialismo americano estão absolutamente conscientes desta mudança para a Ásia. Eles falam sobre "nossa volta estratégica para a região Ásia-Pacífico" (como a ex-secretária de Relações Exteriores Hillary Clinton a formulou) 32 e suas consequências para a ainda maior Grande Potência. William J. Burns, vice-secretário de Estado dos EUA, expressou explicitamente o foco da política externa dos EUA: "Para resumir, para liderar no século XXI, a América deve pensar estrategicamente como o centro econômico e estratégico de gravidade do mundo muda inexoravelmente em direção ao Pacífico." 33

 

Os líderes dos EUA estão bastante abertos sobre a estreita relação de interesses econômicos, influência política e política militar. Em um discurso de estratégia, Hillary Clinton, afirmou: "Nossa recuperação econômica em casa dependerá das exportações e da capacidade das empresas americanas de explorar a vasta e crescente base de consumidores da Ásia. Estrategicamente, manter a paz e a segurança em toda a Ásia-Pacífico é cada vez mais crucial para o progresso global, seja através da defesa da liberdade de navegação no Mar do Sul da China, contra os esforços de proliferação da Coreia do Norte ou da garantia da transparência nas atividades militares dos principais atores da região." 34

 

No capítulo 10 sobre a China, delineamos com mais detalhes os numerosos conflitos no leste da Ásia que levarão a guerras mais cedo ou mais tarde. Os líderes imperialistas estão cientes de que tais conflitos terão consequências enormes para toda a economia mundial: "Uma Ásia Oriental cheia de conflitos constituiria uma ameaça global chave e causaria danos em larga escala à economia global". 35

 

A Ásia também desempenhará um papel fundamental para o proletariado mundial e sua luta pela libertação. 60% do proletariado industrial global vive neste continente. Cria uma parcela crescente do valor capitalista global, mas enfrenta super-exploração e opressão política ao mesmo tempo. Como mostramos no capítulo 10, a classe operária da China já está se rebelando contra a ditadura estalinista-capitalista. Outros seguirão como no Vietnã. Os trabalhadores, camponeses e pobres da Tailândia já mostraram na forma do movimento camisa vermelha que – apesar da liderança burguesa – estão preparados para lutar contra a monarquia reacionária do rei Bhumibol Adulyadej. Na Índia, a força crescente da classe trabalhadora levou em fevereiro de 2012 – como sinal de coisas futuras que virão – à maior greve geral da história, com mais de 100 milhões de trabalhadores.

 

Some-se a isso rebelião dos camponeses pobres na Índia liderada por maoístas, bem como os protestos em massa no Nepal. Finalmente, a região testemunha um número crescente de lutas anti-imperialistas vistas no Afeganistão e paquistão, bem como lutas de nações oprimidas como no Baluchistão, Caxemira, no sul da Tailândia, Tibete e Leste-Turquestão, os tâmils no Sri Lanka, as várias minorias nacionais na Índia, etc.

 

A segunda região importante – e próximo do Leste e do Sul da Ásia – é o Oriente Médio e o Norte da África. As principais razões são, por um lado, que esta região abriga 3/5 das reservas mundiais de petróleo e mais de 2/5 das reservas mundiais de gás. Além disso, 4 dos 6 maiores exportadores de petróleo são dessa região. Naturalmente, nem as reservas da região nem os desejos imperialistas de ter acesso a elas mudarão no futuro previsível.

 

Por outro lado, a região também abriga um proletariado crescente e jovem que iniciou a Revolução Árabe na primavera de 2011. 36 Apesar do caráter inacabado da revolução e dos diversos retrocessos, a classe trabalhadora e os pobres já experimentaram seu poder de derrubar ditaduras dominantes. Esta é uma experiência que ninguém pode roubar deles e sobre a qual eles construirão para suas futuras lutas.

 

Finalmente, este capítulo seria muito incompleto sem se referir ao futuro papel do povo africano subsaariano e do proletariado latino-americano. A classe trabalhadora da América Latina é o proletariado mais desenvolvido e politicamente experiente do Sul e tem demonstrado isso novamente na última década com várias revoltas revolucionárias (Argentina 2001/02, Venezuela 2002, Bolívia 2003-05 etc.). E a heroica greve dos mineiros em Marikana (África do Sul), bem como os protestos em massa contra o regime de Mugabe no Zimbábue também mostraram a prontidão de combate da classe trabalhadora africana.

 

 

 

Aumento da migração e internacionalização da classe trabalhadora no Norte

 

 

 

Já mostramos a crescente importância dos trabalhadores migrantes super explorados para as economias imperialistas na Europa Ocidental, América do Norte e Austrália. Dada a estagnação do acúmulo de capital nesses países, bem como o envelhecimento da população nativa, a única possibilidade de os capitalistas monopolistas obterem novas forças trabalhistas jovens e baratas são as importações adicionais de migrantes. Não surpreende que a OCDE espere uma continuação, se não a intensificação das tendências passadas: "Em todo o mundo, é muito provável que os fluxos migratórios aumentem ou pelo menos permaneçam constantes nos próximos 20 anos ou mais, muito em linha – em conjunto – com tendências dos últimos 30 anos". 37

 

Os estrategistas dos EUA formulam o desejo da classe dominante por trabalhadores migrantes super explorados da seguinte maneira: "Cada vez mais, as elites dos países desenvolvidos provavelmente considerarão a política migratória como parte de uma estratégia de crescimento econômico, particularmente à medida que a concorrência cresce com funcionários altamente qualificados". 38

 

Na Europa, isso não só levará a um aumento enorme de migrantes entre a classe trabalhadora, mas também a um crescimento substancial da população muçulmana. O Pew Research Center relata que a população muçulmana da Europa cresceu de 4,1% da população total da Europa (1990) para 6% hoje. Ele prevê um crescimento adicional de 8% até 2030. Em alguns países, a participação deve ser ainda maior: França (10,3%), Bélgica (10,2%), Suécia (9,9%) e Áustria (9,3%). 39

 

As consequências desses desenvolvimentos serão uma crescente composição multinacional da classe trabalhadora nos países imperialistas e uma influência crescente das camadas não aristocráticas que vêm do Sul e enfrentam uma opressão adicional. As manifestações em massa de trabalhadores migrantes latinos no Dia de Maio nos EUA e o papel proeminente dos trabalhadores migrantes e da juventude nas mobilizações antiguerra na Europa são uma indicação para o futuro importante e progressista papel dos trabalhadores migrantes na luta de classes.

 

Ao mesmo tempo, também temos que esperar tendências racistas e social-chauvinistas crescentes pelas forças burguesas nos países imperialistas – inclusive pela burocracia trabalhista e sua base aristocrática encolhida dentro do movimento operário. Essas formas de chauvinismo incluem, naturalmente, o racismo reacionário aberto de direita que elogia a superioridade de sua própria nação ou da "raça branca". Inclui também as formas finamente tecidas de chauvinismo liberal que louvam a superioridade da civilização aristocrática imperialista "democrática" e os valores liberais que devem ser ensinados aos migrantes "atrasados" "no interesse de sua própria iluminação". A islamofobia é um dos resultados dessa corrente burguesa-liberal. O aumento dos apelos pelo controle da imigração e pela discriminação dos migrantes no mercado de trabalho doméstico será outro resultado.

 

O programa dos bolcheviques-comunistas – luta pela completa igualdade e autodeterminação em todos os níveis, contra quaisquer privilégios e aristocratismo no movimento operário, pela integração revolucionária – se tornará, portanto, ainda mais importante no próximo período.

 

 

 

A Rivalidade das Grandes Potências e a crescente influência imperialista e guerras de agressão contra as semicolônias

 

 

 

Resumindo, a economia mundial capitalista está em declínio, a produção de valor muda cada vez mais para o Sul e, portanto, as Grandes Potências imperialistas não só intensificam sua rivalidade, mas também se fazem depender cada vez mais da produção capitalista e das matérias-primas do Sul. A única conclusão possível disso é uma intensificação das tendências que já vimos na última década: mais intervenções imperialistas e guerras no Sul, bem como uma rivalidade crescente entre as Grandes Potências levando a mais armamento.

 

Na verdade, essas duas tendências estão relacionadas uma com a outra. Diante de seu declínio, cada Grande Potência imperialista – EUA, Alemanha/França/UE, China, Rússia e Japão – tem que lutar mais para aumentar ou mesmo manter sua participação no mercado mundial, bem como seu lugar na hierarquia política mundial. É por isso que são forçados a serem ainda mais agressivos uns contra os outros e contra os países semicoloniais. É por isso que a "guerra contra o terror" – ou seja lá o que for o codinome da agressão imperialista – continuará. No entanto, continuará não apenas do lado dos EUA, mas cada vez mais também pelas outras Grandes Potências, como demonstra a intervenção militar da França e da UE no Mali desde janeiro de 2013.

 

Pelas razões mencionadas acima, o foco para as intervenções militares imperialistas provavelmente será o Leste e o Sul da Ásia, bem como o Oriente Médio. O relatório do Conselho Nacional de Inteligência reflete a perspectiva dos imperialistas: "A dinâmica regional em vários teatros diferentes durante as próximas duas décadas terá o potencial de transbordar e criar insegurança global. O Oriente Médio e o Sul da Ásia são as duas regiões mais propensas a desencadear uma instabilidade mais ampla. O número de potenciais conflitos nessas duas regiões está aumentando." 40

 

A luta anti-imperialista consistente – apoiando uma vitória militar do país semicolonial e pedindo a derrota da potência imperialista com base em um programa socialista de independência de classe – será de importância decisiva no próximo período.

 

Em conflitos entre potências imperialistas – como vemos no leste da Ásia entre o Japão e a China (e em algum momento inevitável também os EUA) – os bolcheviques-comunistas defenderão o derrotismo revolucionário de ambos os lados, ou seja, apelar para a derrota de ambos os lados e para a transformação da guerra imperialista em uma guerra civil. Isso provavelmente será muito controverso no movimento operário, já que muitos estalinistas, bolivarianos e centristas olham para a China imperialista como uma alternativa progressista ao imperialismo ocidental e o apoiarão em tais conflitos.

 

A crescente rivalidade entre as Grandes Potências também tem importantes consequências para conflitos e guerras entre países semicoloniais. No período da Guerra Fria (1948-1991) era geralmente (embora nem sempre) o caso de que o campo imperialista – liderado pela potência hegemônica absoluta dos EUA – apoiava um lado e o campo estalinista – liderado pela URSS – apoiava o outro lado. Depois de 1991, os diferentes estados imperialistas eram geralmente mais ou menos unidos atrás dos EUA quando ele estava intervindo ou contendo esta ou aquela luta ou guerra no mundo semicolonial.

 

Isso mudou agora devido ao declínio dramático dos EUA, à ascensão da China (e até certo ponto com relação à Rússia) e à forte vontade (e menor capacidade unificada) da União Europeia de desempenhar um papel global crescente. O resultado será mais conflitos e guerras no mundo semicolonial onde as Grandes Potências apoiam – de forma velada ou abertamente – diferentes lados. Embora tais conflitos possam se degenerar em guerras por procuração, isso muitas vezes não será o caso. As guerras civis revolucionárias das massas populares líbias e sírias desde 2011 contra ditaduras reacionárias são exemplos de conflitos onde as potências imperialistas apoiaram diferentes lados (ou mesmo tiveram uma intervenção militar limitada como na Líbia 2011). Isso, como mostramos no capítulo 12, no entanto, não tirou dessas rebeliões seu caráter como autênticas revoluções democráticas. Será uma tarefa importante para os revolucionários analisarem cada um desses conflitos concretamente e intervirem com uma tática revolucionária correta. A dupla tática militar em casos de intervenções imperialistas limitadas – onde os revolucionários continuam a apoiar o lado progressista em uma determinada guerra, mas se opõem fortemente à intervenção de potências imperialistas – será um instrumento importante nesses casos.

 

O aumento dos casos de guerras coloniais imperialistas desencadeará protestos em massa como já vimos nos anos 2000 durante as guerras de agressão nos EUA e israelenses no Oriente Médio. Eles fortalecerão o anti-imperialismo mundialmente entre as massas populares e aumentarão a desmoralização nos próprios países imperialistas quando as potências coloniais sofrerem pesadas perdas entre seus soldados e, finalmente, sofrerem derrotas.

 

 

 

Tendência ao colonialismo ou mais espaço de manobra para a burguesia semicolonial?

 

 

 

Vejamos agora novamente a dinâmica futura entre as potências imperialistas e os países semicoloniais. Temos apontado as crescentes contradições do capitalismo em declínio e explicamos que - dada a mudança da produção de valor capitalista para o Sul - os monopólios imperialistas se tornarão cada vez mais dependentes de espremer lucros da super exploração do Sul. Isso, naturalmente, não só resultará em condições econômicas mais duras, mas também em intervenções políticas e militares mais frequentes.

 

No entanto, é necessário compreender plenamente a natureza contraditória desses desenvolvimentos. A mudança da produção capitalista mundial para o Sul força os imperialistas a aumentar seu impulso reacionário a subjugar os países semicoloniais. É por isso que podemos falar sobre uma tendência à colonialização. Para estabilizar a exploração econômica em um período de crescente instabilidade, os imperialistas devem impor seu controle através de meios políticos e militares. Eles necessitam colocar a arma na cabeça das semicolônias. As guerras de ocupação dos EUA no Afeganistão e no Iraque ou a vontade da UE de travar uma guerra na África Ocidental têm sido expressões dessa tendência. Podemos aguardar por um número crescente de guerras coloniais, bem como intervenções veladas enviando destacamentos do exército como "conselheiros militares" etc. De fato, a tendência à coloniazação se tornará uma característica importante do próximo período.

 

No entanto, ao mesmo tempo, há também outra tendência, contrária. A combinação da mudança da produção capitalista para o Sul e a crescente rivalidade entre as Grandes Potências têm o efeito de que podem permitir que a burguesia nos países semicoloniais às vezes um certo espaço para manobrar. A burguesia de um determinado país semicolonial pode procurar apoio da Grande Potência B, se a Grande Potência A colocar mais pressão sobre essa burguesia. Já vimos nos últimos anos que vários países latino-americanos e africanos têm procurado cada vez mais acordos comerciais e investimentos estrangeiros diretos da China para combater a pressão dos EUA.

 

Nossa tese pode parecer para alguns leitores como uma contradição formal. Por um lado, falamos de uma subjugação crescente das semicolônias ao imperialismo. E do outro lado falamos de um espaço crescente da possibilidade de manobras das semicolônias. Mas, na realidade, é uma contradição dialética, nascida da essência das contradições no próprio capitalismo imperialista. Eles são apenas dois lados da mesma moeda. Os imperialistas são forçados – por causa da mudança econômica para o Sul e da crescente rivalidade entre si – a aumentar suas tentativas de mais subjugação das semicolônias. Mas a mesma mudança leva a uma dinâmica contrária – mais espaço para de manobras para a burguesia semicolonial.

 

De fato, essa situação contraditória tem certas semelhanças com o estado da relação das semicolônias latino-americanas durante a década de 1930 em que Leon Trotsky escreveu: "Este é o período em que a burguesia nacional busca um pouco mais de independência dos imperialistas estrangeiros". 41

 

Para concluir, essas tendências contraditórias levarão a mais ziguezagues, curvas acentuadas e enormes instabilidades na relação entre os países imperialistas e semicoloniais.

 

 

 

Globalização, regionalização e protecionismo

 

 

 

Neste livro, delineamos o processo de globalização e introduzimos a fórmula "Globalização = Internacionalização + Monopolização". Explicamos que a enorme quantidade de capital acumulado, o desenvolvimento das forças produtivas etc. requer um mercado mundial. Um recuo ao isolamento relativo – como havia tal tendência entre a classe dominante dos EUA nas classes 1920 e 1930 – é impossível hoje.

 

No entanto, também delineamos que o mesmo processo de globalização que cria melhores condições para lucros e extra-lucros, também cria enormes contradições e crises ao mesmo tempo. Além disso, o capitalismo repousa – e descansará enquanto existir – sobre os Estados nacionais. Sem eles, as classes dominantes capitalistas não podem organizar sua base doméstica para exploração nem possui um braço forte de apoio no mercado mundial.

 

No entanto, a crescente rivalidade entre as Grandes Potências está minando essa globalização. Os monopólios precisam de um mercado tão grande quanto possível. Mas, ao mesmo tempo, eles precisam de domínio absoluto, acesso irrestrito para si mesmos, mas máxima restrição possível para seus concorrentes. Como resultado, haverá uma tendência para formas de protecionismo e regionalização. Cada Grande Poder tentará formar um bloco regional em torno dele e restringir o acesso aos outros Poderes. Por definição, isso deve resultar em numerosos conflitos e eventuais guerras.

 

Referimos acima que a burguesia semicolonial terá, até certo ponto, mais espaço para manobras. Tal espaço de manobra também poderia levar a situações em que a classe dominante de um determinado país semicolonial restringe as importações ou o investimento estrangeiro deste ou daquele país imperialista. A nacionalização de empresas da multinacional espanhola de petróleo Repsol na Argentina sob o governo peronista burguês da presidente da Argentina Cristina Fernandez de Kirchner em 2012 é um exemplo disso.

 

Como elaboramos neste livro, marxistas revolucionários diferenciam entre o caráter de classe dos países imperialistas e semicoloniais e, portanto, entre a burguesia imperialista e a burguesia semicolonial. Isso tem consequências importantes para os marxistas no caso de conflitos, incluindo guerras entre os dois, como demonstramos. Tal diferenciação também é necessária no caso de medidas protecionistas. Os bolcheviques-comunistas se opõem fortemente a qualquer forma de medidas protecionistas (inclusive com relação às forças de trabalho dos migrantes!) pela classe dominante imperialista. Isso é particularmente verdadeiro com relação às enormes restrições de importação de mercadorias de países semicoloniais (por exemplo, no setor agrícola). Por outro lado, apoiamos o controle de importação das mercadorias e a nacionalização das empresas imperialistas pela classe dominante dos países semicoloniais. É claro que esse apoio do movimento operário deve ser crítico por duas razões: primeiro, a burguesia semicolonial tentará utilizar tais medidas tanto quanto possível para seus próprios interesses e não para a classe trabalhadora. Em segundo lugar, rejeitamos veementemente as ilusões burguesas-reformistas de que um país semicolonial capitalista poderia prosperar por muito tempo fora do mercado mundial.

 

No entanto, apoiamos tais passos porque, em primeiro lugar, enfraquecem o principal inimigo dos povos oprimidos – as potências imperialistas. Isso, por sua vez, não é apenas importante para o proletariado no Sul, mas também para os próprios trabalhadores dos próprios países imperialistas. E, segundo, implicam o potencial de lutas contra o imperialismo que a classe trabalhadora nas semicolônias pode utilizar para fortalecer suas organizações independentes, seus laços com classes e camadas pequeno-burguesas aliadas e finalmente transformar em uma posição melhor e mais poderosa contra sua própria burguesia doméstica.

 

 

 

As Perspectivas da revolução e a crise da liderança da classe trabalhadora

 

 

 

Como explicamos acima, o atual período histórico é uma das crises históricas do capitalismo, período que contém as condições objetivas da revolução socialista. O declínio da economia mundial, as mudanças bruscas e abruptas, a crise política e militar etc. – tudo isso inevitavelmente provocará enormes lutas de classes em escala global.

 

As condições objetivas globais que levam a uma intensificação da luta de classes se assemelham à situação que Trotsky falou no Terceiro Congresso da Comintern em 1921:

 

"As classes da Alemanha, o número de trabalhadores e sua concentração, a concentração de capital e sua forma organizacional, tudo isso tomou forma antes da guerra, e em particular como resultado das duas últimas décadas de prosperidade (1894-1913). E mais tarde, tudo isso se tornou ainda mais agravado: durante a guerra — com a ajuda da intervenção estatal; após a guerra - através da febre da especulação e da crescente concentração de capital. Temos, assim, dois processos de desenvolvimento. A riqueza nacional e a renda nacional continuam caindo, mas o desenvolvimento das classes continua lá, sem regredir, mas para progredir. Cada vez mais pessoas estão se tornando proletarizadas, o capital está se concentrando em cada vez menos mãos, os bancos continuam se fundindo, as empresas industriais se concentram em trusts (fusão de várias empresas de modo a formar um monopólio . Como resultado, a luta de classes inevitavelmente se torna mais acentuada com base em uma renda nacional em declínio. Aqui está toda a essência do assunto. Quanto mais restrito se torna a base material sob seus pés, mais ferozmente devem as classes e grupos lutarem por sua parte dessa renda nacional. Não podemos perder de vista esta circunstância por um único momento. Embora a Europa tenha regredido 30 anos no que diz respeito à sua riqueza nacional, isso não significa que ela tenha se tornado 30 anos mais jovem. Não, no sentido de classe, ela se tornou trinta anos mais velha. 42

 

Tanto nos antigos países imperialistas como no Sul há uma enorme recomposição da classe trabalhadora em curso. Nos antigos países imperialistas, o proletariado se expande apenas pouco ou nada. Mas está recompondo- se no momento em que seu componente de trabalhadores migrantes provenientes das semicolônias está em constante crescimento. Tal internacionalização do proletariado nas antigas metrópoles imperialistas e uma influência crescente dos trabalhadores que não vêm do meio aristocrático corruptor das antigas Grandes Potências é, sem dúvida, um desenvolvimento saudável. Ajudará a classe trabalhadora a desenvolver uma consciência de classe mais radical e facilitar a formação de um partido revolucionário dos trabalhadores.

 

O proletariado do Sul, por outro lado, está se expandindo substancialmente como mostramos. Milhões e milhões de pessoas se reunirão do campo para os centros urbanos e fábricas. Tal processo implica várias consequências. Fortalece o proletariado e enfraquece o peso dos pequenos camponeses burgueses. Tira milhões de pessoas do isolamento rural e as apresenta ao mundo moderno. Beverly J. Silver, uma socióloga progressista dos EUA, publicou há alguns anos um livro sobre o movimento internacional dos trabalhadores e apontou para a "combinação das graves queixas e significativo poder dos trabalhadores no mundo pós-colonial que cria as condições para uma crise social permanente". 43

 

É preciso também ver as dificuldades relacionadas com esses desenvolvimentos. Naturalmente, um fluxo crescente de novos trabalhadores aumenta a concorrência no mercado de trabalho e, portanto, reduz os salários. Além disso, muitos trabalhadores, que recém-chegados de suas regiões rurais, terão muitos preconceitos retrógrados inicialmente. Combinado com a traição histórica das lideranças tradicionais do movimento operário – em particular o estalinismo – este é um fator importante que ajuda a explicar a força atual de várias formas de populismo pequeno-burguês na classe trabalhadora no Sul (como bolivarianismo, islamismo etc.).

 

No entanto, a enorme militância dos trabalhadores têxteis do Egito em Mahalla e outras cidades demonstram que a jovem classe trabalhadora do Sul pode e desenvolverá sua consciência de classe. O exemplo da Rússia no início do século XX mostra que uma jovem classe trabalhadora com muitos recém-chegados do campo tem um enorme potencial revolucionário. E, de fato, o desenvolvimento da classe trabalhadora no Sul se assemelha, em muitos aspectos, à Rússia antes de 1917 – mas em escala global! A Revolução Árabe, iniciada em 2011, foi uma confirmação histórica do potencial revolucionário da classe trabalhadora do Sul.

 

No entanto, seria um grande erro imaginar que a classe trabalhadora chegará espontaneamente a uma consciência revolucionária. Os maiores obstáculos de todos são as corruptas burocracias trabalhistas, os líderes clericais reacionários e os partidos burgueses-populistas. Além disso, a vanguarda da classe trabalhadora se depara com várias formas de conceitos revisionistas que soam revolucionários, mas, na realidade, são apenas distorções centristas do marxismo autêntico. Neste contexto, a aplicação da tática da frente única, incluindo a tática da frente única anti-imperialista, em relação a essas múltiplas lideranças burguesas e pequeno-burguesas será de importância central os trabalhadores romperem com essas lideranças.

 

É muito provável, dada a crise histórica do capitalismo, que mais cedo ou mais tarde as ideologias socialistas ganharão novamente influência de massa. Já vemos repetidas referências a Marx e sua análise do capitalismo cheio de crises até mesmo em jornais burgueses. Não é acidental que até mesmo os estrategistas do serviço secreto dos EUA falem em suas "Tendências Globais 2030" sobre um novo aumento para o marxismo. 44 No entanto, os revolucionários não devem se tornar complacentes. A questão decisiva será qual marxismo se tornará popular entre a classe trabalhadora? Será outra forma degenerada, pacificada e anti-revolucionária de "marxismo" (na verdade pseudo-marxismo) que levaria a classe trabalhadora à derrota e desmoralização? Ou será a versão revolucionária, militante, bolchevique do marxismo – em outras palavras, o autêntico marxismo? Este é o desafio e a tarefa com a qual os bolcheviques-comunistas serão enfrentados.

 

Para transmitir o programa revolucionário para a classe trabalhadora e lutar contra as traiçoeiras lideranças, uma organização de combate comunista é a pré-condição necessária. Tal organização comunista é o coletivo de trabalhadores revolucionários e aqueles provenientes de outras classes, mas que rompem com suas origens de classe e se dedicam completamente à luta pela libertação da classe trabalhadora. É entender que a luta revolucionária tem que ser travada ininterruptamente contra a classe dominante e seus lacaios dentro da classe trabalhadora, ou seja, que – para usar as palavras de Trotsky – "O leninismo é bélico da cabeça aos pés" 45

 

A CCRI se dedica à construção de uma Internacional revolucionária que compreenda as lições programáticas e práticas do novo período histórico. Tal nova Internacional deve lutar por um Programa transitório que combine as demandas econômicas cotidianas, as questões de libertação democrática e nacional com a estratégia de poder da classe trabalhadora. 46

 

Dado o aumento das contradições de classe, a mudança para o Sul e a crescente agressão imperialista, podemos aguardar que questões de lutas democráticas, libertação nacional e anti-imperialismo ganhem substancialmente em importância. Da mesma forma, a luta contra a super-exploração e as demandas mínimas econômicas será uma questão central. A tarefa dos revolucionários será explicar aos trabalhadores que uma solução consistente para todas essas demandas só é possível se a classe trabalhadora se organizar em um partido revolucionário e derrubar a classe capitalista para que possa construir sua ditadura do proletariado como um passo em direção a uma sociedade sem classe sem exploração e opressão.

 

Dada a enorme mudança do proletariado mundial para o Sul, é importante traduzir essa análise em conclusões práticas. A CCRI resumiu as consequências dessas importantes mudanças na composição da classe trabalhadora mundial em seu programa "O Manifesto Comunista Revolucionário". Nós, bolcheviques-comunistas, enfatizamos que as organizações internacionais de trabalhadores devem prestar especial atenção ao Sul. O enorme peso do proletariado sulista deve ser refletido em sua enorme participação não só nas organizações internacionais de trabalhadores, mas também em suas lideranças. As questões de particular importância para a classe trabalhadora ao Sul – a super-exploração, as lutas de libertação nacional contra o imperialismo etc. – devem tomar um lugar central no trabalho propagandístico e prático das organizações.

 

Segue-se que a luta pela independência política e organizacional da classe trabalhadora se concentra particularmente na ampla massa da classe trabalhadora – ou seja, suas camadas inferiores e médias. Isso significa que as organizações de trabalhadores - sindicatos, organizações de jovens e mulheres e, em particular, a organização internacional revolucionária - devem refletir a mudança na composição do proletariado. Em outras palavras, para atender à crescente importância dos proletários dos países mais pobres, das mulheres, dos migrantes, etc. eles devem se esforçar para atraí-los e organizá-los e também representá-los em suas próprias fileiras e estruturas de liderança.

 

Leon Trotsky afirmou uma vez, fazendo um balanço das lições da bem sucedida Revolução de Outubro de 1917 pelo Partido Bolchevique que a própria essência do bolchevismo reside em sua orientação para os estratos inferiores da classe trabalhadora e dos oprimidos e não para a aristocracia trabalhista:

 

"A força e o significado do bolchevismo consistem no fato de que ele apela para massas oprimidas e exploradas e não para os estratos superiores da classe trabalhadora." 47

 

Isso é ainda mais verdadeiro hoje. Ou futuro partido comunista revolucionário do mundo tem, portanto, um forte rosto semicolonial, jovem, feminino, migrante ou falha em sua tarefa.

 

O sucesso ou o fracasso em construir um grupo de combate revolucionário decidirá o destino da humanidade. Terminemos este capítulo com o seguinte parágrafo do nosso programa:

 

"A provável natureza extensiva do período histórico atual também vem disso. Devido à falta de um partido revolucionário de combate com base em um programa bolchevique, o proletariado e as massas sofrerão experiências dolorosas e derrotas amargas. A tarefa é tirar as lições necessárias desta experiência e forjar tal partido no fogo das batalhas.

 

As massas ficam exaustas a longo prazo e perdem a fé na possibilidade de vitória. Ao mesmo tempo, a classe dominante atualiza seu arsenal para um contra-ataque decisivo e prepara a criação de ditaduras abertas ou semiabertas. No contexto de uma profunda crise econômica e social no caso de um fracasso contínuo do movimento dos trabalhadores, o fortalecimento do nacionalismo raivoso e do fascismo é inevitável. A principal questão da luta de classes no período revolucionário é: esmagar ou ser esmagado. Somente a oportuna construção de um partido revolucionário dos trabalhadores baseado em um programa bolchevique, portanto um programa consistentemente revolucionário, pode garantir que a luta resoluta das massas termine com uma vitória - ou seja, a tomada do poder pelo proletariado - e não com uma grande derrota" 48

 

 

 

1 V.I. Lenin: Certas Características do Desenvolvimento Histórico do Marxismo (1910); in: LCW 17, p. 39

 

2 Iwan K. Luppol: Lenin und die Philosophie. Zur Frage des Verhältnisses der Philosophie zur Revolution (1928), p. 115 (nossa tradução). Em outro ensaio, ele também afirmou corretamente que o partidarismo na ciência e o partidarismo na prática passam necessariamente de mãos dadas. (Iwan K. Luppol: Die materialistische Dialektik und die Arbeiterbewegung (1928); in: Unter dem Banner des Marxismus, II. Jahrgang (1928), p. 231)

 

3 Em uma reunião internacional da liderança da nossa organização antecessora, a LFI, em janeiro de 2009, propus a seguinte resolução sobre a volta na situação mundial:

 

"O novo período é caracterizado por uma crise histórica do capitalismo. É um período não de anos, mas tem um caráter mais longo. É um período em que a "curva do desenvolvimento capitalista" (Trotsky) está apontando para baixo e onde as forças produtivas e o desenvolvimento social estão a recuar em vez de avançar. É um período em que os booms de curto prazo não são excluídos, mas onde o caráter depressivo e cheio de crises da economia mundial é o aspecto dominante. A política mundial será caracterizada pelo aumento da instabilidade e da rivalidade como resultado da hegemonia imperialista – os Estados Unidos da América – não é mais capaz de dominar o mundo. Diante da crise, a burguesia imperialista lançará enormes ataques à classe trabalhadora e ao povo oprimido e, como resultado, veremos um aumento acentuado da luta de classes. É por isso que este período será marcado por uma série de guerras, situações pré-revolucionárias, revolucionárias e contrarrevolucionárias. É por isso que o novo período é um período revolucionário.

 

A classe trabalhadora entra nesse novo período com uma profunda crise de liderança. As lideranças oficiais estão muito intimamente integradas ao aparato e gestão do Estado burguês. As forças revolucionárias, por outro lado, são extremamente fracas. Mas, ao mesmo tempo, a classe trabalhadora e os oprimidos formarão novas forças de luta e novas vanguardas. Os elementos de vanguarda existentes – sob liderança reformista no momento – questionarão suas lideranças e entrarão em conflito com eles. Nesse contexto, a tarefa dos revolucionários marxistas é abordar esses elementos militantes e de vanguarda por meio da propaganda e agitação, juntando-se a eles na luta e esforçando-se para dar uma liderança, colocando reivindicações sobre a liderança existente e aplicando a tática da frente única. Nossa tarefa é ganhar os melhores elementos da vanguarda para o bolchevismo e recrutá-los. A tarefa estratégica no novo período é construir o partido revolucionário em escala nacional e internacional." Nossa posição do "período revolucionário" foi derrotada por pouco tanto nesta reunião quanto no Congresso da LFI em junho de 2010.

 

4 Leon Trotsky: A Terceira Internacional Depois de Lênin, Nova Iorque 1970, pp. 81-82

 

5 Leon Trotsky: A curva capitalista do desenvolvimento (1923), em: Leon Trotsky: Problemas da Vida Cotidiana, Nova York, 1994, pp. 273-280

 

6 V. I. Lenin: Imperialismo. Fase Superior do Capitalismo (1916); in: LCW Vol. 22, p. 259

 

7 Abram Deborin: Lenin als revolutionärer Dialektiker (1925); in: Unter dem Banner des Marxismus, 1. Jahrgang (1925-26), p. 224 (nossa tradução)

 

8 Sem apoiar todas as posições políticas dos autores, queremos encaminhar os leitores ao site Clima & Capitalismo, http://climateandcapitalism.com, como fonte útil para informações sobre os resultados destrutivos do capitalismo para o meio ambiente.

 

9 Karl Marx: Kapital Band I, MEW 23, pp. 790-791; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. Eu; Capítulo 32

 

10 Esta facção mais tarde se tornou o grupo britânico "Revolução Permanente". Eles desistiram de qualquer tentativa de construção internacional de partidos e pouco depois desistiu construção de um próprio partido. Está agora em um processo de dissolução em uma rede pseudo-marxista libertária chamada Iniciativa Anticapitalista. Suas opiniões sobre a economia mundial e suas polêmicas contra nós e outros podem ser encontradas, por exemplo, em Keith Harvey: Mito ou realidade: debatendo longas ondas: Revisão de "Richard Brenner e Michael Pröbsting: The Credit Crunch – a marxista analysis" (2008), http://www.permanentrevolution.net/entry/2452; Bill Jefferies: A economia do SWP: Uma imagem distorcida do capitalismo britânico e global (2007), http://www.permanentrevolution.net/files/pr5/41-47%20Harman.pdf; Bill Jefferies: A longa reviravolta do capitalismo (2006), http://www.permanentrevolution.net/files/pr2/36-45%20Economy.pdf; Bill J: Perspectivas e Período - uma resposta a Dave S (junho de 2006), http://www.permanentrevolution.net/entry/334

 

11 Karl Marx: Das Kapital III, MEW 25, p. 256; em inglês: Karl Marx: Capital, Vol. III; Capítulo 15

 

12 Uma crítica útil da Teoria das Ondas Longas pode ser lida em Richard Brenner: Globalização e o Mito da Nova Onda Longa, em: Richard Brenner, Michael Pröbsting, Keith Spencer: The Credit Crunch - A Marxist Analysis (2008), http://www.fifthinternational.org/content/globalisation-and-myth-new-long-wave

 

13 Michael Pröbsting: Imperialismo-Teoria e Economia Mundial hoje. Um exame da economia mundial capitalista à luz da Teoria do Imperialismo Marxista (2007). Esta foi uma seção do rascunho do nosso livro "Credit Crunch – uma análise marxista" (ver acima) que infelizmente foi excluído da versão publicada porque a maioria da liderança em nossa organização antecessora se opôs à nossa posição devido às suas vacilações teóricas.

 

14 Veja neste nosso livro sobre estalinismo: O Poder dos Trabalhadores: A Revolução Degenerada. As origens e natureza dos estados estalinistas, Londres 1982

 

15 Rosa Luxemburgo: Was will der Spartakusbund? (1918), em: Gesammelte Werke, Banda 4, p. 441; em inglês: O que a Liga Spartacus quer? (1918), http://www.marxists.org/archive/luxemburg/1918/12/14.htm

 

16 Leo Trotzki: Marximus em unserer Zeit (1939), Wien 1987, pp. 10-11; em inglês: Leon Trotsky: Marxismo Em Nosso Tempo, http://www.marxists.org/archive/trotsky/1939/04/marxism.htm

 

17 Discutimos o desenvolvimento e as contradições internas do capitalismo mundial em Michael Pröbsting: Vor einem neuen Wirtschaftsaufschwung? Thesen zum marxistischen Konzept des Zyklus, dem Verhältnis des gegenwärtigen Zyklus zur Periode der Globalisierung sowie den Aussichten und Widersprüchen der künftigen Entwicklung der Weltwirtschaft (2010), em: Revolutionärer Marxismus 41, Februar 2010, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm41/wirtschaftsaufschwung.htm; Michael Pröbsting: Economia mundial – rumo a uma nova ascensão? (2009), em: Quinto Vol Internacional 3, Nº 3, http://www.fifthinternational.org/content/world-economy-%E2%80%93-heading-new-upswing; Michael Pröbsting: Imperialismus, Globalisierung und der Niedergang des Kapitalismus (2009), em: Revolutionärer Marxismus 39, http://www.arbeitermacht.de/rm/rm39/rm39imperialismus.htm; Michael Pröbsting: Imperialismo e o Declínio do Capitalismo (2008), http://www.fifthinternational.org/content/imperialism-and-decline-capitalism

 

18 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 40

 

19 McKinsey Global Institute: Dívida e desalavancagem: Progresso desigual no caminho para o crescimento (2012), p. 12

 

20 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 99

 

21 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 61

 

22 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. vi

 

23 Georg Lukacs: Lênin: Um Estudo sobre a Unidade de seu Pensamento (1924), http://www.marxists.org/archive/lukacs/works/1924/lenin/index.htm

 

24 Tomas Ries: The globalising security environment and the EU, in: European Union Institute for Security Studies: What ambitions for European defence in 2020? (2009), pp. 67-6825 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 1

 

25 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 1

 

26 Hays/Oxford Economics: Criando Empregos em uma Economia Global 2011-2030: O relatório global Hays/Oxford Economics (2011), p. 5

 

27 Banco Mundial: Perspectivas Econômicas Globais 2007. Gerenciando a próxima onda de globalização, p. 110

 

28 Veja sobre isto, por exemplo, Goldman Sachs: BRICs and Beyond (2007), pp. 129-182

 

29 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. iv

 

30 Peter Lee: Talvez essa guerra com a China não esteja tão longe, Asia Times Online 22.12.2011, http://www.atimes.com/atimes/China/ML22Ad05.html

 

31 Veja, por exemplo, Michael Klare: OS EUA retornam com força ao Pacífico. O poder marítimo da América, Le Monde diplomatique, março de 2012, http://mondediplo.com/2012/03/06uspacific

 

32 Hillary Clinton (Vice-Secretária de Estado): Século da América no Pacífico. O futuro da política será decidido na Ásia, não no Afeganistão ou no Iraque, e os Estados Unidos estarão no centro da ação, política externa novembro de 2011, http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/10/11/americas_pacific_century

 

33 William J. Burns (Vice-Secretário de Estado): Ásia, Américas e Estratégia dos EUA para um Novo Século. Observações na Conferência Nacional dos Conselhos Mundiais de Assuntos da América, Washington, DC, 4 de novembro de 2011, http://www.state.gov/s/d/2011/176667.htm

 

34 Hillary Clinton: O Século da América no Pacífico

 

35 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 62

 

36 Analisamos a Revolução Árabe em um livro em língua alemã: Michael Pröbsting: Die halbe Revolution. Lehren und Perspektiven des arabischen Aufstandes (A Meia Revolução. Lições e perspectivas da Revolta Árabe, em: Der Weg des Revolutionären Kommunismus, Theoretisches Journal der Revolutionär-Kommunistischen Organization zur Befreiung, RKOB), Nr. 8 (2011), http://www.thecommunists.net/publications/werk-8

 

37 OCDE: O Futuro das Migrações Internacionais para países da OCDE (2009), p. 43

 

38 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 25

 

39 Pew Research Center: A futura população muçulmana global. Projeções para 2010-2030 (2011), p. 124

 

40 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), p. 70

 

41 Leon Trotsky: Problemas Latino-Americanos: a Transcrição (1938), em Escritos de Leon Trotsky Supplement (1934-40), p. 784

 

42 Leon Trotsky: Relatório sobre a Crise Econômica Mundial e As Novas Tarefas da Internacional Comunista (1921), em: Os Primeiros Cinco Anos do Vol. 1 Internacional Comunista, pp. 264-65, http://www.marxists.org/archive/trotsky/works/1924/ffyci-1/ch19.htm

 

43 Beverly J. Silver: Arbeiterbewegungen und Globalisierung seit 1870, Berlim 2005, p. 214. Esta é a tradução alemã do original "Forças do Trabalho: Movimentos operários e Globalização desde 1870", Cambridge 2003. Como o autor não possui o original em inglês, a citação é nossa tradução.

 

44 National Intelligence Council: Global Trends 2030: Alternative Worlds (2012), pp. 119-125

 

45 Leon Trotsky: O Novo Curso (1923), em: O Desafio da Oposição de Esquerda (1923-25), S. 99

 

46 Veja em Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI): O Manifesto Comunista Revolucionário, publicado em 2012; online no site da CCRI em www.thecommunists.net/rcit-manifesto

 

47 Leon Trotsky: Perspectivas e Tarefas no Oriente. Discurso no terceiro aniversário da Universidade Comunista para os Toilers do Oriente (21). Abril de 1924); in: Leon Trotsky Speaks, Pathfinder 1972, p. 205

 

48 Veja em CCRI: O Manifesto Comunista Revolucionário (2012), p. 14

 

 

 

15. Resumo

 

 

Neste capítulo final queremos resumir os principais resultados do nosso estudo. Para enfatizar mais claramente as conclusões mais importantes, estruturaremos este resumo sob a forma de tese.

 

1. O marxismo é a doutrina científica da classe trabalhadora para guiá-los para alcançar a libertação da exploração e da opressão. Por isso, é tarefa dos marxistas estudar e internalizar o método e doutrinas fundamentais do marxismo como foi elaborado pelo movimento operário revolucionário e seus teóricos mais marcantes, incluindo Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Além disso, o método marxista torna-se uma doutrina morta se não for constantemente enriquecido estudando novos desenvolvimentos na sociedade de classe e se não for continuamente desenvolvido com base no método genuíno da dialética materialista. Finalmente, o marxismo existe e respira como a unidade da teoria e da prática, do conhecimento e da ação. O objetivo do avanço da teoria marxista é servir como guia de ação. Para essa teoria marxista ser alcançada deve fundir-se com o movimento revolucionário da classe trabalhadora. A personificação de tal unidade de teoria e prática é e só pode ser o coletivo de homens e mulheres comunistas que fundem o conhecimento e a ação marxistas em um programa político e coletivo – ou seja, na formação do partido operário revolucionário e suas formações pré-partidárias. A Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI) é dedicada à tarefa de construir tal partido.

 

2. Uma questão importante para o avanço do movimento da classe trabalhadora revolucionária e da teoria marxista é a questão da relação entre os países imperialistas e o mundo semicolonial. A razão para isso é que houve mudanças importantes nessa relação nas últimas décadas. Nunca antes uma parcela tão grande do valor capitalista mundial foi produzida no Sul. Nunca antes os monopólios imperialistas foram tão dependentes da super-exploração do mundo semicolonial. Nunca antes o trabalho migrante do mundo semicolonial desempenhou um papel tão significativo para a produção de valor capitalista nos países imperialistas. Nunca antes uma grande maioria da classe trabalhadora mundial viveu no Sul – fora das antigas metrópoles imperialistas. Portanto, uma compreensão correta da natureza do imperialismo, bem como do programa de revolução permanente, que inclui as táticas do anti-imperialismo consistente, é essencial para qualquer organização revolucionária hoje. Uma compreensão correta das consequências da mudança do proletariado mundial em direção ao Sul também é muito importante para a construção do partido revolucionário e da nova classe trabalhadora Internacional.

 

3. A teoria do imperialismo de Lênin é essencial para entender o mundo de hoje. Lênin enfatizou que a época do imperialismo é caracterizada como a época do capitalismo em declínio. Caracteriza-se pelo crescente domínio mundial da economia e política por monopólios por algumas Grandes Potências. Como resultado disso, o mundo está dividido entre nações opressoras de um lado e oprimidas de outro lado. A super-exploração dos países oprimidos pelos monopólios imperialistas é uma característica essencial do imperialismo. Da mesma forma, é o suborno dos estratos superiores do proletariado nos países imperialistas pelos monopólios dos lucros extras desta super-exploração. Trotsky e a Quarta Internacional defenderam completamente a teoria do imperialismo de Lênin.

 

4. A essência da teoria de Lênin sobre a relação entre os países imperialistas e os oprimidos ainda é válida, apesar do fato de que hoje quase todos os países do Sul são formalmente independentes. São – o que Lênin chamou – de "semi-colônias", ou seja, países formalmente independentes, mas que são, no entanto, nacionalmente oprimidos e super-explorados pelos monopólios e poderes imperialistas. Essas semicolônias ocupam uma posição subordinada na economia mundial e na política. Para caracterizar politicamente um país específico no mundo, portanto, não basta declarar que é capitalista e governado por uma classe capitalista. Também não é suficiente descrever o regime político específico do determinado país (ditadura, teocracia, democracia burguesa, bonapartismo de esquerda etc.). Deve-se sim começar com a caracterização de classe e isso inclui sua posição na ordem mundial imperialista, ou seja, é um imperialista-capitalista ou um país capitalista semicolonial. A burguesia nacional semicolonial, portanto, é – como trotsky disse – apenas até certo ponto uma classe dominante. Ao mesmo tempo, essa classe dominante num país semicolonial é um certo grau também uma classe oprimida.

 

5. Várias correntes centristas como o Partido dos Trabalhadores Socialistas- PTS da organização internacional Tendência Socialista Internacional-TSI (em inglês- SWP/IST) e o Comitê Por uma Internacional de trabalhadores-CIT (em inglês CWI) veem o imperialismo como uma política agressiva e expansionista. Isso significa que eles se divorciam de uma forma específica da política da base econômica do imperialismo– o capital monopolista. Isso sempre foi um erro. É, no entanto, particularmente errado no presente período de globalização onde o domínio global dos monopólios está crescendo maciçamente. ("Globalização=Monopolização+ Internacionalização"). Hoje, as 147 maiores corporações controlam 40% da economia mundial. Esses monopólios estão intimamente ligados aos Estados imperialistas, o que lhes dá o peso político e militar necessário para fazer valer seus interesses em todo o mundo.

 

6. Ao contrário das afirmações de vários revisionistas que pensavam que o capitalismo estava em uma fase de ascensão econômica nas décadas de 1990 e 2000, na realidade foi o contrário. O capitalismo vem tendendo à estagnação desde o início da década de 1970 e isso se transformou em um período de declínio desde 2007/08. O pano de fundo para isso é o aumento do excesso de acumulação estrutural de capital e a tendência relacionada da taxa de lucro cair. É cada vez mais difícil para os capitalistas investirem seu capital de forma lucrativa para que eles movam cada vez mais seu capital para a esfera da especulação, etc. Como resultado, a taxa de acumulação de capital produtivo está diminuindo cada vez mais.

 

7. É claro que essa tendência à estagnação e ao declínio não deve ser entendida como um processo gradual e de mão-única. Trata-se de um processo dialético, uma vez que a economia capitalista prossegue seus ciclos econômicos. Além disso, até a época do imperialismo conhece fases mais longas de ascensão. Mas, em todo e em longo prazo, o capitalismo está em declínio e a taxa média de lucro tende a cair – fato que também se torna evidente se olharmos para o desenvolvimento do capitalismo mundial nas últimas quatro décadas.

 

8. Diante desse contexto de declínio e cada vez mais parasita do capitalismo, os monopólios estão fazendo tudo ao seu alcance para aumentar seus lucros. Eles usam seu poder para modificar os efeitos da lei de valor e para se apropriar de uma parcela maior do valor excedente ao custo dos capitalistas que não obtêm posições de monopólio. Eles aguçam a rivalidade uns contra os outros. Mas, mais importante, os monopólios aumentam a exploração da classe trabalhadora e a super-exploração dos países semicoloniais.

 

9. Esse impulso do capital monopolista para aumentar a superexploração do mundo semicolonial levou a uma exportação massiva de capital que criou um deslocamento da produção e, portanto, da classe trabalhadora para o Sul. Como resultado, a produção de valores capitalistas veio cada vez mais do Sul. Essa mudança é uma confirmação da compreensão de Lenin e Trotsky do imperialismo.

 

10. O grau dessa mudança da produção de valor capitalista para o Sul é maciçamente distorcido e subestimado nas cifras oficiais produzidas pelos economistas burgueses. Existem algumas razões para isso. Primeiro, a categoria “Produto Interno Bruto” (PIB) confunde valores reais e fictícios. Dado que o setor financeiro, que não cria valor, se baseia principalmente nos países imperialistas ricos, os números do PIB do Norte são artificialmente inflados e, portanto, inferiores à participação do Sul no PIB mundial nas estatísticas oficiais. Em segundo lugar, há uma grande fraude contida nos números do PIB, uma vez que uma parte substancial do valor criado no Sul é apropriada no Norte por meio do preço de mercado no qual a mercadoria é vendida no Norte. Portanto, uma parte substancial do valor criado no Sul aparece nos números oficiais do PIB como criado no Norte. Terceiro, temos a superexploração massiva dos trabalhadores no Sul e a apropriação de lucros extras pelos capitalistas monopolistas do Norte. Novamente, esses lucros são frequentemente contabilizados como parte do PIB do Norte, mas na realidade são produzidos pelos trabalhadores do Sul.

 

11. Este crescimento massivo da classe trabalhadora global deveu-se principalmente ao crescimento do proletariado fora das velhas metrópoles imperialistas. O processo de industrialização levou necessariamente a uma mudança massiva do peso do proletariado das metrópoles imperialistas para os países mais pobres. Cem anos atrás - na época de Lenin e Trotsky - o proletariado no mundo colonial e semicolonial ainda era muito pequeno. Isso mudou dramaticamente nas últimas décadas. Como resultado, a grande maioria da classe trabalhadora mundial vive hoje fora das velhas metrópoles imperialistas. ¾ dos trabalhadores assalariados e 83,5% de todos os trabalhadores industriais vivem e trabalham nos países semicoloniais e na emergente China imperialista . (No ano de 1950, apenas 34% dos trabalhadores industriais globais viviam no Sul e em 1980 essa parcela era de cerca de 50%.)

 

12. Na realidade, a mudança real do proletariado para os países semicoloniais e imperialistas emergentes é ainda maior do que indicam as estatísticas oficiais. Isso ocorre por vários motivos:

 

i) A categoria burguesa "assalariados" não inclui apenas os trabalhadores. Geralmente, pode-se dizer que nos países imperialistas ricos uma minoria considerável de assalariados não faz parte da classe trabalhadora, mas sim da classe média assalariada (supervisores, polícia, gerentes de nível inferior, etc.). Nos países mais pobres, a classe média assalariada é muito menor.

 

ii) Além disso, temos que levar em consideração a aristocracia operária. Esta parte superior da classe trabalhadora, que é subornada pela burguesia com vários privilégios, representa um setor muito maior da classe trabalhadora nos países imperialistas do que no proletariado semicolonial.

 

iii) Além disso, o proletariado nos países mais pobres é maior em tamanho do que indicam os números reais nas estatísticas oficiais. Uma parte considerável dos trabalhadores nesses países são formalmente contabilizados não como assalariados, mas como autônomos, devido ao grande setor informal. Porém, na verdade, eles fazem parte da classe trabalhadora.

 

Em suma, a proporção de países semicoloniais e da China imperialista emergente na classe trabalhadora mundial pode chegar a 80%. Podemos, portanto, concluir que hoje o coração do proletariado mundial está no Sul e em particular na Ásia (onde vive 60% da força de trabalho industrial global).

 

13. Uma consequência importante disso é que o processo da Revolução Mundial não é aquele em que a primeira linha é focada e decidida nos antigos países imperialistas. Em vez disso, o proletariado no mundo semicolonial e a emergente China imperialista desempenharão um papel decisivo. A revolução árabe sublinha nossa tese da crescente importância do proletariado semicolonial.

 

14. A CCRI conclui a partir disso que as organizações internacionais de trabalhadores devem prestar especial atenção ao Sul. O enorme peso do proletariado sulista deve ser refletido em sua participação maciça não só nas organizações internacionais de trabalhadores, mas também em suas lideranças. As questões de particular importância para a classe trabalhadora do Sul – a super-exploração, as lutas de libertação nacional contra o imperialismo, etc. – devem tomar um lugar central no trabalho propagandístico e prático das organizações. Segue-se que a luta pela independência política e organizacional da classe trabalhadora se concentra particularmente na ampla massa da classe trabalhadora – ou seja, suas camadas inferiores e médias. Deve refletir a crescente importância dos proletários dos países mais pobres, das mulheres, dos migrantes, etc. Eles devem se esforçar para atraí-los e organizá-los e também representá-los em suas próprias fileiras e estruturas de liderança. O futuro partido comunista revolucionário, portanto, ou tem um forte rosto semicolonial, jovem, feminino, migrante, ou falha em sua tarefa.

 

15. Diante da estagnação e declínio do capitalismo, os capitalistas travaram uma ofensiva cruel contra a classe trabalhadora global em todos os continentes nas últimas décadas. Tanto nos países ricos, imperialistas quanto nos países semicoloniais mais pobres, os capitalistas aumentaram a taxa de exploração – isso significa que obtiveram um lucro maior aumentando a taxa de valor excedente (ou seja, a proporção de tempo de trabalho não remunerado apropriado pelo capitalista em relação ao tempo de trabalho remunerado recebido pelos trabalhadores na forma de salários). Os capitalistas conseguiram isso não só aumentando a produtividade dos trabalhadores, mas também e cada vez mais, prolongando o dia de trabalho e deprimindo os salários. Este método posterior – deprimindo os salários abaixo do valor do poder do trabalho – foi mencionado por Marx, mas tem sido largamente ignorado pelos marxistas desde então. O aumento da taxa de exploração ocorreu nas últimas décadas em todas as regiões, mas, particularmente no mundo semicolonial e na China. Afetou particularmente os estratos inferiores e médios do proletariado. Esses desenvolvimentos se refletem na diminuição da participação salarial, na crescente precarização do trabalho e no aumento do desemprego e na crescente pobreza e desigualdade de renda.

 

16. Uma das formas mais importantes para os monopólios conter suas taxas de lucro em declínio é a super exploração nos países capitalistas menos desenvolvidos. Esses mercados estrangeiros fornecem capital monopólio com:

 

i) Exploração de mão-de-obra mais barata através da exportação de capital,

 

ii) Mercados adicionais para suas commodities e

 

iii) Acesso à matéria-prima.

 

17. Os mercados colonial e semicolonial oferecem ao capital monopolista várias maneiras nos quais pode obter um lucro extra. Elas são principalmente:

 

i) Exportação de capital como investimento produtivo

 

ii) Exportação de capital como capital (empréstimos, reservas cambiais, especulação etc.)

 

iii) Transferência de valor via câmbio desigual

 

iv) Transferência de valor via migração

 

18. O valor excedente é a parte do valor cambial capitalista que não é pago pelos capitalistas por salários ou por máquinas, matérias-primas, etc. mas que eles se apropriam. Se os monopólios exportarem capital e investirem em fábricas nos países semicoloniais, eles podem extrair um lucro extra. Eles podem empregar forças de trabalho mais baratas, mas ainda vendem as mercadorias pelo preço médio de mercado nos países imperialistas. Ou vendem as mercadorias a um preço de mercado abaixo do preço médio nos países semicoloniais. Os monopólios imperialistas repatriam a maior parte desses lucros extras das semicolônias para sua empresa-matriz. Segundo o Banco Mundial, as corporações transnacionais repatriaram entre 2/3 e 4/5 de seus lucros nos anos de 1990 a 2006.

 

19. A exportação de capital torna-se cada vez mais importante para os países imperialistas. Entre 1/7 e 1/5 de seu capital acumulado se muda para outros países em seu desejo de maiores lucros. Como resultado, a participação do capital estrangeiro no capital social total nas regiões semicoloniais aumentou drasticamente nas últimas duas décadas. O capital imperialista é agora responsável diretamente entre 1/10 e 1/8 de acumulação de capital na Ásia semicolonial, 1/6 e 1/4 na África e América Latina e 1/9 e 1/5 na Europa Oriental e na antiga União Soviética.

 

20. Marx se referiu ao comércio exterior como uma importante fonte de capital para neutralizar a tendência de queda da taxa de lucro. A base para isso é que, dado o menor nível de desenvolvimento das forças produtivas, o capital nos países semicoloniais tem uma composição orgânica maior, ou seja, a participação do trabalho humano é maior em relação ao capital constante. Como consequência, produzem um valor relativamente maior e, portanto, uma taxa média de lucro mais alta. No entanto, quando as mercadorias dos países (imperialistas) mais desenvolvidos e as mercadorias dos países (semicoloniais) menos desenvolvidos são trocadas no mercado mundial, a lei de valor permite que o capital imperialista obtenha um lucro extra com uma troca desigual. São commodities mais baratas (por causa da maior produtividade) batem as mercadorias mais caras dos países semicoloniais, forçam este último a vender suas mercadorias abaixo de seu valor, etc. Portanto, o capital mais forte (imperialista) pode vender suas commodities acima de seu preço de produção e ainda permanecer mais barato no mercado mundial do que o capital menos competitivo (semicolonial). Este último é forçado a vender suas commodities abaixo de seu preço de produção e muitas vezes ainda permanece mais caro no mercado mundial do que seus rivais imperialistas. Como resultado, o capital mais forte (imperialista) se apropria com sucesso de uma parte do valor excedente que é criado pelo capital mais fraco (semicolonial). Isso significa que o intercâmbio desigual fornece uma base importante para uma transferência maciça de valor do capitalista menos desenvolvidos para os países capitalistas mais desenvolvidos.

 

21. Os monopólios podem se apropriar de um lucro extra via exportação de capital como capital (empréstimos, reservas cambiais, especulação, etc.) Esta forma de super-exploração ganhou enormes proporções nas últimas décadas. Entre 1980 e 2002, os países semicoloniais pagaram oito vezes o que deviam em 1980! No entanto, em 2002, seu montante de dívidas ainda existentes aumentou para US $ 2.400 bilhões, mais de quatro vezes o que eles deviam em 1980! As semicolônias perderam – pagando as dívidas aos tubarões imperialistas – cerca de 1/27 de seu produto nacional anual na década de 1980 e essa perda subiu para 1/16 de sua produção anual no período 1997-2006.

 

22. Além disso, o mundo semicolonial perde com a deterioração dos termos de comércio, ou seja, os preços das commodities que exportam em relação aos preços das commodities que importam. No período 1957-2000, os termos de comércio pioraram para os países em desenvolvimento não produtores de petróleo em mais de um terço. Segundo Augustín Papic, uma transferência invisível dos países semicoloniais para os países imperialistas devido ao desenvolvimento negativo (para o Sul) dos termos de comércio ocorreu na década de 1990, o que resultou em uma perda de cerca de 200 bilhões de dólares por ano. Ao mesmo tempo, os países imperialistas tornam-se cada vez mais dependentes do chamado Terceiro Mundo na agricultura e nas matérias-primas.

 

23. Assim como o capital monopolista extrai lucros excedentes do mundo semicolonial, há também uma apropriação de lucros extras através da migração. O capital imperialista obtém o lucro pagando aos trabalhadores migrantes abaixo do valor de sua força de trabalho de várias maneiras:

 

i) Os capitalistas podem explorar os migrantes muitas vezes sem custos limitados ou apenas limitados para sua educação, uma vez que os migrantes são muitas vezes educados em seu país de origem.

 

ii) Os capitalistas muitas vezes têm que pagar ou não ou apenas custos reduzidos para a pensão e a seguridade social dos migrantes, uma vez que eles têm acesso limitado aos serviços sociais e quando envelhecem eles muitas vezes voltam para o seu país de origem.

 

iii) Os capitalistas geralmente pagam aos migrantes um salário substancialmente menor do que o salário dos trabalhadores da nação governante. Para isso, utilizam várias formas de opressão nacional (falta de direitos se não forem cidadãos do país imperialista, discriminação da língua materna do migrante, várias formas de discriminação social, etc.). Essas formas de opressão não são válidas apenas para migrantes de primeira geração, mas também para migrantes da segunda e terceira geração.

 

Por essas razões, a CCRI define os migrantes em sua enorme maioria como "uma camada nacionalmente oprimida de força de trabalho super-explorada".

 

24. É muito difícil calcular toda a extensão do saque imperialista do mundo semicolonial. Economistas da Alemanha Oriental e da ONU estimaram no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 que o mundo semicolonial foi roubado por cerca de 20-25% de sua produção anual. Com toda a probabilidade, essa participação é maior hoje, como mostra uma estimativa muito provisória e aproximada.

 

i) As transferências líquidas de recursos financeiros dos países semicoloniais para o Norte foram de cerca de US $ 1 trilhão, o que equivale a 5% desses países o PIB anual em 2010.

 

ii) Há fluxos ilícitos saindo para fora dos Países em Desenvolvimento de cerca de US$ 1 trilhão anualmente.

 

iii) Consideramos a estimativa de uma perda de cerca de US$ 200 bilhões por ano pela "transferência invisível" para a década de 1990, que era uma parte do PIB semicolonial de cerca de 3,3%. Calculamos uma parcela semelhante por enquanto porque não temos avaliações mais reais. Mas notamos brevemente que esta é certamente uma subestimação séria porque desde a década de 1990 o papel das cadeias produtivas globalizadas de corporações multinacionais aumentou significativamente e, portanto, suas oportunidades de manipular a definição de preços e escondendo a verdadeira transferência de valor do Sul.

 

iv) No que diz respeito à perda para os países semicoloniais pela migração, tomamos a mesma proporção de sua perda total que a ONU fez no seu cálculo de 1992. Foram US$ 250 bilhões em 1990, o que equivaleu a cerca de 10 a 12% da renda nacional anual dos países em desenvolvimento. Estimamos a mesma proporção para hoje. Mais uma vez, esta é certamente uma subestimação dado o enorme aumento da migração desde então.

 

v) Adicionaremos também as várias outras formas de valores transferidos aos monopólios imperialistas, que são mencionados acima (perda por câmbio, royalties por patentes etc.), que são algumas centenas adicionais de bilhões de dólares americanos.

 

Se somarmos esses vários dados, podemos calcular que o roubo imperialista contra o mundo semicolonial certamente aumentou desde o início dos anos 1990. Estima-se que a transferência de valor do mundo semicolonial para o Norte seja de pelo menos cerca de 30% do PIB anual semicolonial, se não um pouco mais.

 

E este cálculo não está completo desde que:

 

i) Não adicionamos os enormes lucros que os capitalistas fazem com o trabalho dos imigrantes nos próprios países imperialistas.

 

ii) Não adicionamos os lucros extras que estão escondidos através de preços através dos quais os lucros aparecem como sendo criados no Norte enquanto o valor excedente é de fato produzido através da super-exploração no Sul.

 

iii) E não adicionamos os lucros dos monopólios imperialistas apropriados no exterior que não são transferidos de volta.

 

Apesar da falta de cálculos precisos, podemos definitivamente dizer que o saque imperialista das semicolônias desempenha um papel muito importante em desvantagem do chamado Terceiro Mundo e em benefício dos monopólios imperialistas.

 

25. Embora, naturalmente, pré-condições específicas que facilitassem o desenvolvimento do capitalismo já existiam na Europa Ocidental, o saque sistemático das colônias do século XVI ao XVIII desempenhou um papel enorme para a formação do capitalismo – a fase da acumulação primitiva. Foi o surgimento do imperialismo e a exploração sistemática do Sul que impediu este último de desenvolver suas forças produtivas de forma semelhante à que aconteceu na Europa Ocidental e nos EUA. Esse domínio imperialista levou a um desenvolvimento econômico distorcido do mundo colonial.

 

26. Várias correntes centristas rejeitam abertamente ou por implicação a Teoria Leninista do Imperialismo. O que essas críticas centristas têm em comum é que negam implicitamente ou explicitamente as contradições fundamentais da época imperialista da qual a super-exploração do mundo semicolonial pelo capital monopolista é uma das principais características. Relacionado a isso está sua ignorância aberta ou implícita da existência da aristocracia trabalhista como uma camada superior do proletariado que é subornado pelos monopólios. O centrismo nega ou ignora essas características essenciais do imperialismo porque o reconhecimento claro destes os obrigaria a lutar abertamente contra todas as correntes políticas, ideológicas e organizacionais relacionadas à aristocracia trabalhista. Também os obrigaria a lutar abertamente contra suas próprias potências imperialistas com todas as consequências, incluindo defender todas as semicolônias atacadas por sua potência imperialista e pedir a derrota deste último. O centrismo não é capaz de uma posição internacionalista tão consistente. A razão é que reflete de uma ou de outra forma um ponto de vista de classe pequeno-burguesa, ou mais precisamente, a pressão da burocracia trabalhista e da aristocracia trabalhista, bem como a intelectualidade progressista que se adapta à classe capitalista e ao seu Estado. Portanto, eles geralmente ignoram os estratos inferiores e oprimidos do proletariado. Pela mesma razão, eles geralmente negam aberta ou secretamente a necessidade de esmagar o Estado capitalista e o caráter violento necessário da revolta armada e da revolução socialista em geral. É por isso que o Partido Bolchevique escreveu em seu Programa de 1919 que "o movimento 'centrista' é também uma distorção burguesa do socialismo".

 

27. Um dos pilares essenciais da rejeição revisionista da Teoria Leninista do Imperialismo é a sua recusa em compreender os chamados países do Terceiro Mundo como nações semicoloniais dependentes. Organizações como os citados acima SWP/IST, o Comitê por uma Internacional de Trabalhadores-CIT/CWI, a Tendência Marxista Internacional-TMI ou o Comitê para o Renascimento Marxista-CMR/TIMR se recusam a caracterizar os países ao Sul como “semicolônias”. Eles argumentam que a relação entre os estados imperialistas e o Sul mudou fundamentalmente desde os tempos de Lenin e Trotsky, de modo que seu modelo teórico não é mais aplicável hoje em dia. Alguns afirmam que Lenin e Trotsky lidaram apenas com colônias, mas não com semicolônias formalmente independentes. No entanto, os fundadores da Terceira e da Quarta Internacionais não apenas escreveram extensivamente sobre os países semicoloniais, mas também enfatizaram que as semicolônias, em essência, são igualmente exploradas e oprimidas pelo imperialismo como são as colônias. Certamente, a forma de superexploração mudou, mas não a essência. De fato, dada a industrialização capitalista do Sul, a participação global das semicolônias na produção de valor capitalista está crescendo e sua superexploração pelos imperialistas está aumentando.

 

28. Centristas como o CWI, TMI ou o SWP/IST afirmam que países como Argentina ou Iraque não são semicolônias, mas “países capitalistas semi-industrializados” ou mesmo alguma diferenciada forma de país imperialista. Outra categoria usada por centristas para países ao Sul como Turquia, Brasil, Irã e outros é “sub-imperialista”. Todos esses conceitos são distorções revisionistas da ideia central do conceito da Terceira e da Quarta Internacionais de entender o mundo imperialista como dividido em nações opressoras e oprimidas com base em uma relação de superexploração. Eles ignoram que os chamados países “sub-imperialistas” são super-explorados pelo capital monopolista. Eles ignoram que a desigualdade econômica entre os países imperialistas e semicoloniais, assim como a superexploração, é hoje maior do que em qualquer momento anterior. Relacionado a isso, esses centristas ignoram a ainda existente questão nacional dos países semicoloniais causada pela subjugação imperialista.

 

29. Muitos grupos centristas como o CWI, IMT ou o SWP/IST rejeitam abertamente ou ignoram implicitamente a concepção leninista da Aristocracia Trabalhista. Este é um grande fracasso porque a aristocracia operária é um dos mais importantes pilares sociais do capital monopolista nos países imperialistas. É a principal base social do reformismo e da burocracia trabalhista. Lenin, Trotsky e a Internacional Comunista eram de opinião que a base econômica da aristocracia operária é a superexploração dessas nações oprimidas pelos monopólios imperialistas e os lucros extras que o capital monopolista pode adquirir com isso. Desses lucros extras, os monopólios conseguem subornar os setores aristocráticos superiores da classe trabalhadora e, particularmente, a burocracia trabalhista nos países imperialistas. Essa ignorância dos centristas costuma ser combinada com um exagero oportunista do suposto caráter progressista da aristocracia operária.

 

30. Tais tendências também são frequentemente combinadas com uma subestimação da importância dos estratos médios e inferiores da classe trabalhadora e das camadas nacionalmente oprimidas. Chamamos essa abordagem de "aristocrata". Pode levar a uma negação da natureza sistemática da opressão nacional e da super-exploração econômica dos migrantes nos países imperialistas (como é o caso da LFI esquerda-centrista). Uma conclusão muito mais reacionária, que resultou de uma compreensão errada das questões da aristocracia trabalhista e do caráter da opressão dos migrantes, foi o vergonhoso apoio de muitos esquerdistas e centristas britânicos – como o Partido Comunista da Bretanha-PCB estalinista, a CWI, o IMT etc. – para a greve com reivindicação chauvinista "Empregos Britânicos para trabalhadores britânicos" em 2009. Naquela época, os trabalhadores britânicos na Refinaria de Petróleo Lindsey queriam impedir a contratação de trabalhadores migrantes – uma campanha social-chauvinista que os revolucionários marxistas firmemente e corretamente condenaram.

 

31. Uma das questões mais importantes hoje é o surgimento da China como uma nova potência imperialista no final dos anos 2000. As principais razões para o sucesso da China em se tornar uma potência imperialista foram:

 

i) A existência contínua de uma forte burocracia estalinista centralizada que conseguiu reprimir a classe trabalhadora e garantir a super-exploração.

 

ii) A derrota histórica da classe trabalhadora chinesa em 1989, quando a burocracia esmagou sangrentamente a revolta em massa na Praça Tiananmen e em todo o país.

 

iii) O declínio do imperialismo dos EUA que abriu espaço para novas potências.

 

32. Esta existência contínua de uma forte burocracia estalinista centralizada e a derrota histórica da classe trabalhadora chinesa em 1989 permitiram que a nova classe dominante capitalista subjugasse a maioria do proletariado massivamente crescente à super-exploração. Com base nisso, os capitalistas – tanto chineses quanto estrangeiros – poderiam extrair um enorme valor excedente para a acumulação de capital. Enquanto monopólios imperialistas estrangeiros lucraram com essa super-exploração da classe trabalhadora, foi a burguesia chinesa que foi a principal beneficiária. Como resultado, o capital chinês desenvolveu monopólios que desempenham um papel importante não só no mercado interno, mas cada vez mais no mercado mundial. Hoje, os monopólios da China estão entre os mais importantes exportadores de capital. A China não é apenas uma potência econômica emergente, mas também uma potência política e militar. Já tem o segundo maior orçamento militar. Além disso, é a quinta maior potência nuclear e o sexto maior país exportador de armas.

 

33. Não deve haver ilusões sobre uma solução pacífica da rivalidade interna-imperialista das Grandes Potências. Uma guerra imperialista entre as grandes potências EUA (e/ou Japão) e China está se tornando cada vez mais inevitável na próxima década. Ambas as potências precisam de controle sobre o leste da Ásia, que é central para a produção de valor capitalista mundial, bem como para o comércio. Por essa razão, é quase inevitável que as potências imperialistas tentem influenciar e explorar conflitos e guerras (por exemplo, conflitos no Mar do Sul da China (ou Leste), Líbia, Síria, Irã).

 

34. A CCRI considera os EUA, bem como a China, como potências imperialistas. Em um conflito militar entre os dois (ou entre o Japão e a China), nós bolcheviques-comunistas rejeitaremos tomar o lado de uma das duas potências imperialistas rivais. Seria uma guerra das respectivas classes dominantes aumentar sua hegemonia e super-exploração dos países semicoloniais. A tática correta em tal conflito, portanto, é o derrotismo revolucionário onde os trabalhadores em ambos os campos levantam o slogan "O principal inimigo está em casa" e se esforçam para transformar a guerra imperialista em uma guerra civil contra sua própria classe dominante.

 

35. Em um conflito entre uma potência imperialista e um país semicolonial no Mar do Sul da China (ou Leste), os marxistas têm que analisar cada guerra concretamente. Eles têm que descobrir se o impulso imperialista para subjugar uma determinada nação semicolonial é o aspecto dominante na guerra ou se uma luta de defesa nacional está subordinada a uma guerra por procuração por uma potência imperialista. A partir disso, se os bolcheviques-comunistas tomarem uma posição revolucionária derrotista, ou revolucionária defensista sobre a luta da (semi-)nação colonial.

 

36. O conceito de Revolução Permanente de Trotsky baseia-se no conceito dialético de que a revolução não pode ser dividida esquematicamente em etapas separadas umas das outras. Isso não significa que não haja diferentes estágios no desenvolvimento da revolução. Este é, é claro, o caso. Mas em todas as fases da revolução é a mesma classe que deve liderar a luta para conquistar os objetivos democráticos e econômicos da revolução: a classe trabalhadora. Naturalmente, a classe trabalhadora deve buscar aliados entre os camponeses e a burguesia urbana. Mas é o proletariado e apenas o proletariado que pode levar a luta à vitória. A partir disso, em todas as etapas da revolução o objetivo estratégico é estabelecer a ditadura do proletariado e nenhum poder para qualquer outra classe. Embora blocos temporários com setores da burguesia não possam ser excluídos, seria criminoso para a classe trabalhadora subordinar seus objetivos e interesses a esses setores, a fim de não destruir um potencial aliança com tais forças burguesas. Seria ainda mais criminoso apoiar a tomada do poder pelas forças burguesas. Todos os setores da burguesia semicolonial irão buscar um acordo com o imperialismo e trairão a classe trabalhadora e as massas populares. A teoria da revolução permanente pressupõe que se a revolução não continuar até a tomada socialista do poder, inevitavelmente terminará com a uma contrarrevolução e vitória da classe dominante. Da mesma forma, a teoria da Revolução Permanente considera que a revolução não pode durar vitoriosamente em um único país (como Stalin alegou), mas deve ser difundida internacionalmente. A economia moderna, especialmente na era do capitalismo global, torna todos os países dependentes do intercâmbio internacional de bens, tecnologia e conhecimento. Além disso, cedo ou tarde, as potências imperialistas não vão tolerar uma revolução vitoriosa em um único país. Os marxistas, portanto, apoiam a estratégia de revolução permanente não porque ela seja mais radical ou "emocionante", mas porque representa a única maneira realista de superar o sistema capitalista e estabelecer uma sociedade verdadeiramente socialista. O Programa de Revolução Permanente nos países semicoloniais contém numerosas reivindicações sociais, democráticas e anti-imperialistas e as combina com a questão do poder. Isso pode ser visto no Programa da CCRI.

 

37. A época do imperialismo é uma época de enorme agudização de contradições entre as classes e os estados. É por isso que é uma época marcada por conflitos – incluindo guerras – entre potências imperialistas e países semicoloniais e também entre potências imperialistas rivais. No entanto, os marxistas não colocam todas as guerras no mesmo saco. Há guerras e guerras. Há guerras entre opressores rivais e há guerras entre opressores e oprimidos. Portanto, há guerras reacionárias, injustas e progressistas, guerras justas.

 

38. Em princípio, os marxistas nunca são contra a guerra, mas distinguem entre guerras que servem aos interesses das classes oprimidas e aquelas que servem apenas as classes dominantes. Guerras entre classes imperialistas ou entre classes reacionárias perseguindo seus interesses antipopulares são guerras reacionárias e injustas. A classe trabalhadora deve se opor aos dois campos e lutar pela transformação da guerra imperialista em uma guerra civil revolucionária contra as classes dominantes. Em guerras entre classes imperialistas e povos semicoloniais ou entre classes reacionárias contra classes ou nacionalidades oprimidas, tais guerras são injustas do ponto de vista dos imperialistas/reacionários, mas do ponto de vista dos povos semicoloniais e oprimidos são guerras absolutamente justas.

 

39. Com base nesses princípios, os marxistas tomaram uma posição derrotista na Primeira Guerra Mundial em ambos os campos imperialistas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os marxistas – na pessoa de Trotsky e da Quarta Internacional – tomaram uma posição semelhante na guerra entre a Alemanha imperialista e o Japão, por um lado, e a Grã-Bretanha imperialista, França e EUA, por outro. (Em relação à guerra entre a Alemanha imperialista e o Estado operário degenerado, a URSS, bem como a guerra chinesa contra o Japão ou a Revolta na Índia contra o imperialismo britânico, a Quarta Internacional pediu a defesa do campo não imperialista.) Da mesma forma, os marxistas tomariam tal posição de derrotismo revolucionário de ambos os lados se houvesse uma guerra entre o Japão imperialista e/ou os EUA de um lado e a China imperialista do outro lado.

 

40. O movimento operário revolucionário tem uma forte tradição anti-imperialista. Por exemplo, a Internacional Comunista e o Partido Comunista Francês reuniram suas forças na década de 1920 em apoio à luta dos Riffians até que "o solo marroquino foi completamente libertado" dos imperialistas espanhóis e franceses. Leon Trotsky e a Quarta Internacional deram continuidade a este anti-imperialismo revolucionário. Eles apoiaram a luta do povo chinês contra o imperialismo japonês entre 1930 e 1940, apesar do fato de ter sido liderado pelo reacionário general Chiang Kai-shek. Nas últimas décadas, os revolucionários continuaram a defender esse anti-imperialismo marxista de forma consistente. Na guerra entre a Argentina semicolonial e o imperialismo britânico nas ilhas Malvinas em 1982, chamamos pela derrota do imperialismo britânico e a vitória da Argentina, sem dar qualquer apoio político à reacionária ditadura militar em Buenos Aires. Nas Guerras do Golfo em 1991 e 2003, nós, bolcheviques-comunistas, chamamos pela defesa do Iraque contra o ataque imperialista sem dar qualquer apoio político ao regime de Saddam Hussein. Da mesma forma, estamos do lado da resistência afegã contra os ocupantes imperialistas desde 2001, apesar de serem liderados pelas forças reacionárias do Talibã. Da mesma forma, apoiamos a resistência liderada pelo Hezbollah no Líbano em 2006 e a resistência liderada pelo Hamas em Gaza em 2008/09 e 2012 contra Israel. Também chamamos pela derrota das forças militares francesas e da UE no Mali e pela vitória militar dos rebeldes islâmicos.

 

41. Rejeitamos a existência de um Estado judeu na Palestina porque ele só consegue existir enquanto se mantém a expulsão dos palestinos. Por isso, rejeitamos uma "solução de dois estados". Isso negaria aos palestinos o direito de voltar à sua terra natal. Da mesma forma, um Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza seria reduzido a um Bantustão, uma colônia de fato dependente de um Israel muito mais rico e poderoso. O Estado de Israel precisa ser destruído e substituído por uma república secular, de trabalhadores e camponeses em toda a Palestina – do rio ao mar. Neste estado, os palestinos e todos os judeus, que aceitam o fim de seus privilégios que atualmente usufruem no estado do apartheid de Israel, poderiam viver juntos igualitariamente e pacificamente.

 

42. A base do anti-imperialismo revolucionário é a luta pela independência de classe do proletariado e contra toda a influência e dominação burguesa e pequeno-burguesa. Para isso é necessário lutar com as massas contra todos os seus líderes atuais que servem a classe dominante de uma forma ou de outra. Esses enganadores vêm a ser os fantoches da burguesia dentro das fileiras do movimento operário – ou seja, a burocracia reformista nos sindicatos, nos partidos social-democratas, estalinistas e ex-estalinistas. No mundo semicolonial, esses enganadores são muitas vezes forças burguesas ou pequeno-burguesas (nacionalistas, islamistas etc.). Tal luta pela independência de classes inclui a aplicação da tática da frente única. Os revolucionários levam em conta que as massas ainda têm ilusões em tais forças não revolucionárias. Quando os revolucionários defendem o avanço da luta de classes – com a formação de conselhos de ação, manifestações em massa, ocupações, greves, greves gerais etc. – eles direcionam esses apelos não só para as massas amplas dos trabalhadores, mas também para as organizações de massa da classe (incluindo suas lideranças). A liderança dessas organizações deve ser ativamente tratada para ações conjuntas. Devido à situação extrema de que as forças revolucionárias são minoritárias, elas devem procurar participar em lutas em massa lideradas por reformistas e intervir nessas lutas com iniciativas práticas, um afiado e independente perfil de propaganda, incluindo explicar e alertar sobre o papel traiçoeiro das lideranças não revolucionárias e colocando exigências sobre essas lideranças. Ao fazer isso, os revolucionários não devem dar a impressão de que eles próprios acreditam nas boas intenções dos líderes reformistas, mas que querem ajudar as massas a fazer sua própria experiência. O objetivo de tal tática de frente única, como foi desenvolvida pela Internacional Comunista sob Lênin e Trotsky, é quebrar a influência das forças não revolucionárias entre as massas e reuni-las sob a liderança de um partido bolchevique.

 

43. Nos países semicoloniais esta abordagem também inclui a tática anti-imperialista da frente única. Essa tática geralmente se concentra no terreno de demandas mínimas ou democráticas – como a luta contra a dominação imperialista, pela independência e unidade nacionais, pela democracia e pelos direitos democráticos, contra a dominação das indústrias e mercados nacionais por monopólios imperialistas, etc. Os revolucionários buscam atrair tal frente única não só para as organizações dos trabalhadores, mas também as da pequena-burguesia (os camponeses, os pequenos proprietários de propriedades urbanas, os profissionais etc.) e até mesmo seções da própria burguesia nacional, quando estes últimos são obrigados a resistir ao imperialismo pela pressão das massas. Não temos, no entanto, ilusões de que tais setores da burguesia lutarão consistentemente por quaisquer objetivos democráticos – da mesma forma que a burocracia trabalhista não lutará consistentemente por qualquer demanda da classe trabalhadora.

 

44. Acontece repetidamente que as potências imperialistas tentam interferir nas lutas de libertação nacional ou democrática no mundo semicolonial. Enquanto os "anti-imperialistas" sectários mecanicamente sempre fazem um menos onde a burguesia em seu país faz um mais, os marxistas abordam tais guerras e revoltas de uma perspectiva internacionalista e independente da classe trabalhadora. Apoiamos essas revoltas e guerras civis favoráveis ao avanço da luta da classe trabalhadora, das organizações e da consciência. Lutamos contra essas forças cujo triunfo é uma ameaça direta e imediata para a luta da classe trabalhadora. Pela mesma razão, nos opomos a todas as formas de ataque imperialista, uma vez que o fortalecimento do imperialismo significa automaticamente uma desvantagem para a classe trabalhadora. Isso leva necessariamente à aplicação de uma abordagem combinada e dialética de táticas militares. Na Segunda Guerra Mundial já podíamos ver isso quando a Quarta Internacional teve que combinar táticas defensistas e derrotistas. Tais táticas militares combinadas também tiveram que ser aplicadas na Guerra da Bósnia 1992-95 ou na Guerra de Kosova de 1999. É ainda mais importante hoje (Líbia 2011, Síria) e será assim no futuro. Dada a crescente rivalidade interna-imperialista – particularmente se levarmos em conta a ascensão do imperialismo chinês emergente – veremos cada vez mais casos em que as forças imperialistas tentam interferir e explorar guerras civis no mundo semicolonial.

 

45. Os partidos estalinistas e ex-estalinistas na Europa – a maioria deles unidos no Partido da Esquerda Europeia (PEE) – desempenharam um papel duplo nas guerras imperialistas nas últimas décadas. Por um lado, participaram do movimento antiguerra, a fim de elevar seu perfil, mas também para espalhar ideias pacifistas e conter vozes anti-imperialistas. No entanto, enquanto muitos membros desses partidos participaram honestamente dessas atividades antiguerra, os líderes dos Partidos Comunistas tiveram um cálculo diferente e cínico. Para eles, as atividades antiguerra eram manobras para aumentar seu peso no sistema político burguês. Onde eles poderiam entrar no governo capitalista, eles se tornaram apoiadores ativos da guerra imperialista contra o terror. Por exemplo, o Parti Communiste Français (PCF) fez parte do governo Jospin na França 1997-2002, que participou ativamente das guerras da OTAN contra a Sérvia em 1999 e o Afeganistão em 2001. Na Itália, o Partito della Rifondazione Comunista de Fausto Bertinotti juntou-se ao governo neoliberal de Prodi e apoiou a participação italiana na ocupação imperialista do Afeganistão. Essa é a "oposição de princípios" dos Partidos "Comunistas" contra guerras e ocupações imperialistas. É lógico que eles colaboraram e elogiaram o Partido Comunista Iraquiano, que apoiou a ocupação dos EUA no Iraque. Também não é por acaso que o PCF e a Frente de Gauche de Jean-Luc Mélenchon apoiam a intervenção militar francesa no Mali desde janeiro de 2013.

 

46. Outro exemplo da política social-imperialista do Partido Europeu de Esquerda é sua posição sobre o Estado Sionista do Apartheid Israel. Em suas declarações oficiais, eles naturalmente se opõem à guerra e à ocupação. Mas eles apoiam – na tradição estalinista clássica – a existência do estado colonizador colonial Israel e endossam um Estado palestino apenas na Cisjordânia e em Gaza ao lado do Israel muito mais poderoso e rico. O reconhecimento do PEE do "direito de existir" do Estado do Apartheid de Israel leva-o a uma recusa em apoiar a resistência palestina. Pior, partidos importantes da PEE, como o LINKE alemão, afirmam repetidamente que estão em "Solidariedade com Israel". Eles proíbem seus membros do parlamento de apoiar uma campanha de boicote contra Israel ou de participar da Flotilha da Liberdade de Gaza.

 

47. O que quase todos os centristas dos países imperialistas têm em comum é um "Anti-Imperialismo" platônico. Isso se traduz em uma capitulação social-pacifista ou mesmo social-imperialista à pressão de sua burguesia imperialista transmitida através da burocracia trabalhista e da intelectualidade de esquerda-liberal – disfarçada por uma oposição formal ao imperialismo e guerras em palavras. Eles se adaptam à pressão imperialista de sua própria burguesia ao não chamar e trabalhar para a derrota de sua própria classe dominante, ao não chamar e trabalhar para a vitória do povo oprimido no mundo semicolonial contra seu próprio imperialismo.

 

48. Normalmente, o centrista justifica seu fracasso com relação à defesa do povo semicolonial, referindo-se à natureza burguesa, reacionária ou mesmo ditatorial do regime nesses países, respectivamente, a liderança de tais movimentos de resistência (por exemplo, islamistas). Assim, ignoram que a atitude dos revolucionários marxistas em relação a uma guerra não deve ser derivada de aparições superficiais no nível da superestrutura política, mas deve, em vez disso, focar-se no caráter objetivo das classes envolvidas. É importante, mas não decisivo para a formulação da tática revolucionária correta, se um determinado regime tem um caráter mais democrático ou mais fascista, se é religioso ou secular, se usa uma retórica mais progressista ou não – o que é decisivo é o seu caráter de classe, ou seja, quais classes o fazem repousa e quais classes fazem sua ação servem e, respectivamente, atacam.

 

49. A Guerra das Malvinas em 1982 entre o imperialismo britânico e a Argentina semicolonial mostrou a incapacidade das principais forças do centrismo na Grã-Bretanha (como a CWI ou o SWP/IST) de chamar pela derrota de sua própria classe dominante e pela vitória militar da Argentina. Em vez disso, eles tomaram uma posição neutra ou mesmo apoiaram o "direito de autodeterminação nacional" dos 1.800 colonos coloniais britânicos nas Malvinas. Da mesma forma, essas organizações tomaram uma posição neutra e social-pacifista durante o ataque imperialista ao Iraque em 1991. A CWI continuou abertamente como uma posição social-pacifista desde o início da imperialista "Guerra ao Terror". Seus líderes rejeitaram explicitamente qualquer apoio à luta militar do povo no Afeganistão, Iraque, Líbano, Palestina e Mali sob a liderança de forças islâmicas mesquinhas burguesas. Sua adaptação política à burocracia trabalhista nos corações imperialistas chega ao ponto de anunciar um programa de "sionismo socialista": eles se recusam a pedir a destruição do Estado colonizador israelense e, em vez disso, pedem "um lado socialista palestino lado a lado com um Israel socialista".

 

50. O oportunismo do SWP/IST expressou-se em sua combinação de um anti-imperialismo platônico (ou seja, um meio-termo se opondo à guerra imperialista sem pedir a vitória da resistência militar do povo oprimido) com uma aliança popular-frontista com a pequena burguesia muçulmana na Grã-Bretanha, onde formaram o partido RESPECT durante os anos 2000. Na Alemanha, seu oportunismo chega a tão longe que eles se integraram à burocracia partidária LINKE. Eles têm uma série de posições na liderança regional e central e no aparato parlamentar, bem como dois deputados no parlamento federal – Christine Buchholz e Nicole Gohlke. Esses deputados se subordinam às decisões pró-sionistas da liderança do LINKE mencionadas acima e nem sequer se atrevem a votar contra eles dentro da liderança do partido.

 

51. O grupo CRM/TIMR apoia uma versão formalmente "de esquerda" de um tal anti-imperialismo platônico tão centrista. Eles afirmam que os conflitos entre o imperialismo e as semicolônias são sobre uma "questão abstrata de integridade territorial". Eles negam que existe uma questão nacional. Eles erroneamente dividem questões de classe e questões democráticas como se a classe operária não tivesse interesse em lidar com as questões democráticas! Com base na negação de uma relação exploratória e opressiva entre os países imperialistas e semicoloniais, o CRM/TIMR justifica sua recusa em defender os países semicoloniais contra ataques imperialistas. Não surpreende que colaborem estreitamente com forças centristas de extrema direita como a Aliança Pela Liberdade dos Trabalhadores-ALL (em inglês Alliance for Workers' Liberty-AWL) britânica cujo líder histórico, Sean Matgamna, declarou publicamente que dificilmente se poderia criticar o arqui-reacionário Estado do Apartheid sionista Israel se atacasse o Irã!

 

52. As perspectivas da subjugação imperialista do mundo semicolonial e da luta de classes devem ser vistas no contexto do período histórico mundial em que estamos. No início da década de 1990, a classe dominante conseguia encobrir a suscetibilidade da crise de seu sistema em função das derrotas históricas do proletariado: as revoluções políticas nos Estados estalinistas foram derrotadas e transformadas em contrarrevoluções democráticas e na restauração do capitalismo. Mas já no início dos anos 2000, as contradições da globalização capitalista e da guerra imperialista contra o terror levaram a uma crescente desestabilização política global. Houve um desenvolvimento pré-revolucionário que eventualmente se transformou no final dos anos 2000 em um novo período revolucionário histórico mundial. A crise atual não é, portanto, uma coincidência, mas uma necessidade legal do condenado capitalismo. A vulnerabilidade do capitalismo à crise tornou-se um aberto declínio.

 

53. Consideramos o período atual como uma crise histórica do sistema capitalista. É um período em que as contradições internas desse sistema são colocadas de forma tão acentuada que inevitavelmente provocam situações pré-revolucionárias e revolucionárias, bem como situações contrarrevolucionárias. Em outras palavras, o agravamento das contradições de classe colocará a questão do poder – qual classe governa na sociedade – com mais frequência do que nos períodos anteriores. O presente período é, portanto, aquele em que a destruição do capitalismo e o salto histórico em direção ao socialismo estão na ordem do dia. Mesmo estrategistas burgueses preveem um mundo cada vez mais instável no qual as contradições econômicas se agudizam, em que a hegemonia dos EUA diminui enquanto a China imperialista está crescendo e onde, portanto, o conflito político e militar aumenta (Veja, por exemplo, o relatório recente do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA "Tendências Globais 2030: Mundos Alternativos".)

 

54. Nas próximas décadas, a produção capitalista de valor e a classe trabalhadora crescerão bastante no Sul do que no Norte. De acordo com um recente Hays/Oxford Economics Report, a força de trabalho global deve crescer em 932 milhões de trabalhadores entre 2010 e 2030. Enquanto a força de trabalho nos antigos países imperialistas estagnará, espera-se que todo o crescimento da força de trabalho venha do Sul. Curiosamente, a China não desempenhará um papel significativo neste crescimento, mas sim acontecerá em outros países do Sul. Os dez países em que o maior aumento de trabalhadores é previsto são: Índia, Paquistão, Nigéria, Bangladesh, Etiópia, Indonésia, Congo, Filipinas, Egito e Tanzânia. Isso significa que o peso central da classe trabalhadora será deslocado ainda mais para o Sul do que já é. Um relatório do Banco Mundial de 2007 prevê que até 2030 de uma força de trabalho global de 4,144 milhões, 3,684 milhões (ou 88,9%) funcionarão no Sul e apenas 459 milhões (ou 11,1%) nos velhos países imperialistas. A aristocracia trabalhista só será uma pequena parcela entre a classe trabalhadora mundial. Em 2030, cerca de 85,6% das forças de trabalho globais estão previstas para serem não qualificadas. Se tivermos em mente que a aristocracia trabalhista é novamente apenas uma minoria entre os trabalhadores qualificados, torna-se óbvio que esta camada subornada e privilegiada será apenas uma minoria muito pequena entre o futuro proletariado. No entanto, enquanto a vanguarda dos trabalhadores revolucionários não conseguir afastar a burocracia e os elementos aristocráticos, a aristocracia trabalhista ainda terá influência substancial dentro do movimento oficial dos trabalhadores.

 

55. Como resultado desse crescimento dos produtores de valor no Sul, a produção de valor capitalista também mudará para o Sul. Não pensamos apenas na China, mas também em outros países como Índia, Brasil e aquelas semicolônias capitalistas que o Goldman Sachs chama de "Próximos Onze": Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Coreia do Sul, Turquia e Vietnã.

 

56. Diante dessa nova mudança dos produtores de valor capitalista e da produção de valor para o Sul, os monopólios imperialistas – as corporações multinacionais, as instituições financeiras etc. – tornar-se-ão ainda mais dependentes da apropriação de uma parcela substancial do excedente do mundo semicolonial. Em outras palavras, para conter a tendência de queda da taxa de lucro, os monopólios devem aumentar sua super exploração do Sul.

 

57. A região mais importante do mundo que ganhará importância é a Ásia. Este não é apenas pelo fato óbvio de que é o continente mais populoso, mas também porque é o continente com o crescimento mais significativo na produção de valor capitalista, bem como forças trabalhistas. Um reflexo desse desenvolvimento é o fato de que 25% da tonelagem mercante do mundo e metade do mundo passam atualmente pelas águas do Mar do Sul da China. Além disso, é o continente que viu o surgimento de uma nova potência imperialista – a China. Portanto, as antigas potências imperialistas concentram cada vez mais sua atenção para aumentar sua influência na Ásia e para combater a ascensão da China. O imperialismo japonês aumentará seus gastos militares no futuro, a fim de conter o crescimento da China como potência e derrotar estados relativamente independentes como a Coreia do Norte.

 

58. A segunda região mais importante é o Oriente Médio e o Norte da África. As principais razões são, por um lado, que esta região abriga 3/5 das reservas mundiais de petróleo e mais de 2/5 das reservas mundiais de gás. Além disso, 4 dos 6 maiores exportadores de petróleo são dessa região. Naturalmente, nem as reservas da região nem os imperialistas desejosos ter acesso a elas mudarão no futuro previsível. Ao mesmo tempo, a região também abriga um proletariado crescente e jovem que iniciou a Revolução Árabe na primavera de 2011. Apesar do caráter inacabado da revolução e dos vários retrocessos, a classe trabalhadora e os pobres já experimentaram seu potencial de derrubar ditaduras dominantes. Esta é uma experiência que ninguém pode lhes roubar e sobre a qual eles construirão para suas futuras lutas.

 

59. Outra característica importante será a crescente importância dos trabalhadores migrantes super-explorados para as economias imperialistas na Europa Ocidental, América do Norte e Austrália. Devido à estagnação do acúmulo de capital nesses países, bem como o aumento do número de idosos da população nativa, a única possibilidade dos capitalistas monopolistas obterem novas forças de trabalho jovens e baratas são as adicionais importações de migrantes. As consequências desses desenvolvimentos serão uma crescente composição multinacional da classe trabalhadora nos países imperialistas e uma influência crescente de camadas não aristocráticas que vêm do Sul e que enfrentam opressão adicional. As manifestações em massa de trabalhadores migrantes latinos no Dia de Maio nos EUA e o papel proeminente dos trabalhadores migrantes e da juventude nas mobilizações antiguerra na Europa são uma indicação do futuro importante e progressista papel dos trabalhadores migrantes na luta de classes.

 

60. Ao mesmo tempo, também temos que antever tendências racistas e social-chauvinistas crescentes por parte das forças burguesas nos países imperialistas – inclusive por parte da burocracia trabalhista e seu encolhimento da base aristocrática dentro do movimento operário. Essas formas de chauvinismo incluem, naturalmente, o racismo reacionário aberto de direita que elogia a superioridade de sua própria nação ou da "raça branca". Inclui também as formas finamente tecidas de chauvinismo liberal que louvam a superioridade da civilização aristocrática imperialista "democrática" e os valores liberais que devem ser ensinados aos migrantes "atrasados" "no interesse de sua própria iluminação". A islamofobia é um dos resultados dessa corrente burguesa-liberal. O aumento dos chamados pelo controle da imigração e pela discriminação dos migrantes no mercado de trabalho interno será outro resultado. O programa dos bolcheviques-comunistas – luta pela completa igualdade e autodeterminação em todos os níveis, contra quaisquer privilégios e aristocrata no movimento operário doméstico, pela integração revolucionária dos migrantes – se tornará, portanto, ainda mais importante no próximo período.

 

61. Qual será o resultado dos desenvolvimentos em que a economia mundial capitalista está em declínio, a produção de valor muda cada vez mais para o Sul e, portanto, as Grandes Potências imperialistas não só aumentam sua rivalidade, mas também se tornam cada vez mais dependentes da produção capitalista e das matérias-primas do Sul? A única conclusão possível disso é uma intensificação das tendências que já vimos na última década: mais intervenções imperialistas e guerras no Sul, bem como uma rivalidade crescente entre as Grandes Potências levando a mais armamento. Essas duas tendências estão relacionadas uma com a outra. Diante de seu declínio, cada Grande Potência imperialista – EUA, Alemanha/França/UE, China, Rússia e Japão – tem que lutar mais para aumentar ou mesmo apenas manter sua participação no mercado mundial, bem como seu lugar na hierarquia política mundial. É por isso que são forçados a serem ainda mais agressivos uns contra os outros e contra os países semicoloniais. É por isso que a "guerra contra o terror" – ou seja lá o que for o codinome da agressão imperialista – continuará. No entanto, continuará não por parte dos EUA, mas cada vez mais também pelas outras Grandes Potências.

 

62. A consistente luta anti-imperialista – apoiando uma vitória militar do país semicolonial e pedindo a derrota da potência imperialista com base em um programa socialista de independência de classe – será de importância decisiva no próximo período. Em conflitos entre potências imperialistas – como vemos no leste da Ásia entre o Japão e a China (e em algum momento inevitavelmente também os EUA) – os bolcheviques-comunistas defenderão o derrotismo revolucionário de ambos os lados, ou seja, chamar pela derrota de ambos os lados e para a transformação da guerra imperialista em uma guerra civil. Isso provavelmente será muito controverso no movimento operário, já que muitos estalinistas, bolivarianos e centristas olham para a China imperialista como uma alternativa progressista ao imperialismo ocidental e o apoiarão em tais conflitos.

 

63. Dado o declínio dramático dos EUA, a ascensão da China (e até certo ponto da Rússia) e a forte vontade (e menor capacidade unificada) da União Europeia de desempenhar um papel global crescente, haverá mais conflitos e guerras no mundo semicolonial onde as Grandes Potências apoiam – de forma velada ou abertamente – lados diferentes. Embora tais conflitos possam se degenerar em guerras por procuração, isso muitas vezes não será o caso. As guerras civis revolucionárias das massas populares líbias e sírias desde 2011 contra ditaduras reacionárias são exemplos de conflitos onde as potências imperialistas apoiaram diferentes lados (ou mesmo tiveram uma intervenção militar limitada como na Líbia 2011). Isso, no entanto, não retira das rebeliões seu caráter como autênticas revoluções democráticas. Será uma tarefa importante para os revolucionários analisarem cada um desses conflitos concretamente e intervirem com uma tática revolucionária correta. A dupla tática militar em casos de intervenções imperialistas limitadas – onde os revolucionários continuam a apoiar o lado progressista em uma determinada guerra, mas se opõem fortemente à intervenção de potências imperialistas ao seu lado – será um instrumento importante nesses casos.

 

64. No entanto, é necessário compreender plenamente a natureza contraditória desses desenvolvimentos. A mudança da produção capitalista mundial para o Sul força os imperialistas a aumentar seu impulso reacionário a subjugar os países semicoloniais. É por isso que podemos falar sobre uma tendência à colonialização. Para estabilizar a exploração econômica em um período de crescente instabilidade, os imperialistas precisam impor seu controle sobre as semicolônias por meios políticos e militares. Eles precisam colocar a arma na cabeça das semicolônias. (por exemplo, as guerras de ocupação dos EUA no Afeganistão e no Iraque). No entanto, ao mesmo tempo, há também outra tendência, contrária: a combinação da mudança da produção capitalista para o Sul e a crescente rivalidade entre as Grandes Potências tem o efeito de permitir que a burguesia nos países semicoloniais tenham uma certa margem de manobra. A burguesia de um determinado país semicolonial pode procurar apoio da Grande Potência B se a Grande Potência A colocar mais pressão sobre ela. Já vimos nos últimos anos que vários países latino-americanos e africanos têm procurado cada vez mais acordos comerciais e investimentos estrangeiros diretos da China para combater a pressão dos EUA. Essas duas tendências podem parecer para alguns como uma contradição formal. Mas, na realidade, é uma contradição dialética, nascida da essência das contradições no próprio capitalismo imperialista. Elas são apenas dois lados da mesma moeda. Os imperialistas são forçados – por causa da mudança econômica para o Sul e da crescente rivalidade entre si – a aumentar suas tentativas de mais subjugação das semicolônias. Mas a mesma mudança leva a uma dinâmica contrária – mais espaço de manobras da burguesia semicolonial. Essas tendências contraditórias levarão a mais ziguezagues, curvas acentuadas e enorme instabilidade na relação entre os países imperialistas e semicoloniais.

 

65. Delineamos que a enorme quantidade de capital acumulado, o desenvolvimento das forças produtivas, etc. requer um mercado mundial, que é a razão da globalização. Um recuo ao isolamento relativo – como houve tal tendência entre a classe dominante dos EUA nas entre 1920 e 1930 – é impossível hoje. No entanto, o mesmo processo de globalização que cria melhores condições para lucros e lucros extras também cria ao mesmo tempo enormes contradições e crises. Além disso, o capitalismo se sustenta – e se sustentará enquanto existir – sobre os Estados nacionais. Sem eles, as classes dominantes capitalistas não podem organizar sua base doméstica para exploração nem possui um braço forte de apoio no mercado mundial. A crescente rivalidade entre as Grandes Potências está minando essa globalização. Os monopólios precisam de um mercado tão grande quanto possível. Mas, ao mesmo tempo, eles precisam de domínio absoluto, acesso irrestrito para si mesmos, a ao mesmo tempo máxima restrição possível contra seus concorrentes. Como resultado, haverá uma tendência para formas de protecionismo e regionalização. Cada Grande Potência tentará formar um bloco regional em torno dela e irá restringir o acesso aos outras Potências. Por definição, isso deve resultar em numerosos conflitos e eventuais guerras.

 

66. No mundo semicolonial, esses desenvolvimentos globais poderiam levar a situações em que a classe dominante de um determinado país semicolonial restrinja as importações ou o investimento estrangeiro deste ou daquele país imperialista. A nacionalização de empresas da multinacional espanhola de petróleo Repsol na Argentina sob o governo peronista burguês da presidente Argentina Cristina Fernandez de Kirchner em 2012 é um exemplo disso. Marxistas revolucionários diferenciam entre o caráter de classe dos países imperialistas e semicoloniais e, portanto, entre o imperialista e a burguesia semicolonial. Isso tem consequências importantes para os marxistas no caso de conflitos, incluindo guerras entre os dois, como demonstramos. Tal diferenciação também é necessária no caso de medidas protecionistas. Os bolcheviques-comunistas se opõem fortemente a qualquer forma de medidas protecionistas (inclusive contra as forças de trabalho de migrantes!) pela classe dominante imperialista. Isso é particularmente verdadeiro para as maciças restrições de importação de mercadorias de países semicoloniais (por exemplo, no setor agrícola). Por outro lado, apoiamos o controle de importação de mercadorias e a nacionalização de empresas imperialistas por parte da classe dominante dos países semicoloniais. É claro que esse apoio do movimento operário deve ser crítico por duas razões: primeiro, a burguesia semicolonial tentará utilizar tais medidas tanto quanto possível para seus próprios interesses e não para a classe trabalhadora. E, em segundo lugar, rejeitamos veementemente as ilusões burguesas-reformistas de que um país semicolonial capitalista poderia prosperar por mais tempo fora do mercado mundial.

 

67. No entanto, apoiamos tais passos porque, em primeiro lugar, enfraquecem o principal inimigo do povo oprimido – as potências imperialistas. Tal coisa, por sua vez, não é apenas importante para o proletariado no Sul, mas também para os próprios trabalhadores dos países imperialistas. E, em segundo lugar, implicam o potencial de lutas contra o imperialismo que a classe trabalhadora nas semicolônias pode utilizar para fortalecer suas organizações independentes, fortalecer seus laços com classes e camadas pequeno-burguesas aliadas e, finalmente, instaurar uma posição melhor e mais poderosa contra sua própria burguesia doméstica.

 

68. O declínio da economia mundial, as mudanças bruscas e abruptas, a crise política e militar, etc. – tudo isso inevitavelmente provocará enormes lutas de classes em escala global. No entanto, essas lutas só podem levar a uma solução duradoura se culminarem em uma revolução socialista mundial. A classe trabalhadora aprenderá nas próximas lutas e ganhará enormes experiências. No entanto, há enormes obstáculos a enfrentar na luta da classe trabalhadora. Os maiores obstáculos de todos são as burocracias das direções corruptas, além dos reacionários líderes clericais e os partidos burgueses-populistas. Além disso, a vanguarda da classe trabalhadora se depara com várias formas de conceitos revisionistas que soam revolucionários, mas, na realidade, são apenas distorções centristas do autêntico marxismo. Neste contexto, a aplicação da tática da frente única, incluindo a tática anti-imperialista da frente única, em relação a essas múltiplas lideranças burguesas e pequeno-burguesas será de importância central para fazer com que os trabalhadores rompam com essas lideranças.

 

69. A classe trabalhadora não pode chegar espontaneamente a uma consciência revolucionária. Para transmitir o programa revolucionário para a classe trabalhadora e lutar contra as lideranças traiçoeiras, uma organização comunista é a pré-condição necessária. Tal organização de combate comunista é o coletivo de trabalhadores revolucionários e aqueles provenientes de outras classes, mas que rompem com suas origens de classe e se dedicam completamente à luta pela libertação da classe trabalhadora. A CCRI se dedica à construção de uma Internacional revolucionária que compreendam as lições programáticas e práticas do novo período histórico. Tal nova Internacional deve lutar por um Programa de Transição que combine as demandas econômicas diárias e as questões de libertação democrática e nacional com a estratégia de poder da classe trabalhadora.

 

70. A CCRI resumiu as lições das lutas de classes e os desenvolvimentos políticos das últimas décadas em seu programa "O Manifesto Comunista Revolucionário(2012)". Com base neste programa estamos lutando pela formação de uma revolucionária Quinta Operário Internacional. Sabemos que o sucesso ou o fracasso em construir um grupo de combate revolucionário decidirá o destino da humanidade. Queremos lutar juntos por esse objetivo com todos os trabalhadores e ativistas revolucionários. Junte-se a nós nesta luta! Junte-se à CCRI!